Jarmo

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Jarmo localiza-se na zona mais ocidental do Crescente Fértil

Jarmo ou também Qala'at Jarmo, do curdo Qala'at Charmay "castelo branco" é um sítio arqueológico do período Neolítico do Oriente Próximo.

Localização[editar | editar código-fonte]

Jarmo fica no Curdistão iraquiano, perto da cidade de Suleimânia e a leste de Quircuque, nas abas ocidentais dos Montes Zagros, a uns 800 m de altitude altura acima do nível do mar.

Descoberta e escavações[editar | editar código-fonte]

O sítio foi descoberto inicialmente Direção de Antiguidades de Iraque em 1940, o que mais tarde pôs em conhecimento do arqueólogo Robert Braidwood (1907–2003), da Universidade de Chicago, quando este andava a buscar lugares propícios para pesquisar sobre a origem da Revolução neolítica. Braidwood escavou, dentro do programa Iraq-Jarmo, ao longo de três campanhas: 1948; 1950-1951 e 1954-1955; uma quarta campanha, a realizar entre 1958-59, ficou malograda por causa do começo da revolução no Iraq. Quando quis mais tarde prosseguir o seu plano de pesquisas sobre o Crescente Fértil, as dificuldades encontradas em Irã, onde escavou em Tepe Asyab, levaram-no em 1963 a Turquia.

Novos métodos arqueológicos[editar | editar código-fonte]

Durante as escavações em Jarmo, e exatamente durante a campanha de 1954-55, Braiwood implantou um sistema multidisciplinar pela primeira vez, a fim de refinar os métodos de pesquisa e obter os melhores resultados à procura das origens da domesticação de plantas e animais. O norte-americano empregou na sua equipa um geólogo (Herbert Wright), um paleo-botânico (Hans Helbaek), um especialista em cerâmica e em radiocarbono (Frederic Matson) e um zoólogo (Charles Reed), assim como vários arqueólogos. O método multidisciplinar em arqueologia seria, em diante, utilizado em qualquer escavação que se prezasse de científica[1].

Jarmo, a aldeia[editar | editar código-fonte]

Espigas de trigo emmer

As escavações puseram ao ar livre uma pequena aldeia, que cobria uma extensão dentre 12 000 e 16 000 m², e à qual as medições realizadas por carbono-14, assinam datas entre 7 090 a.C., para as etapas mais antigas e 4 950 a.C. para as mais recentes. Ao todo a jazida continha 12 níveis. Jarmo viria a ser dos assentamentos neolíticos permanentes mais antigos e, de jeito aproximado, contemporâneo de Jericó ou do horizonte neolítico de Shanidar. Sua fase álgida deveu corresponder a um período entre 6 200 e 5 800 a.C..

Esta pequena aldeia estava composta de umas vinte e cinco moradias, de paredes feitas de adobes, tijolos de barro secado ao sol, que assentavam sobre alicerces de pedra, com um plano simples e com o lar escavado sobre o mesmo chão. Estes habitáculos eram reparados e reconstruídos com freqüência. Neles viveriam ao redor de 150 pessoas[2]. Era, portanto, um assentamento permanente.

Nas fases mais antigas predominam os utensílios de pedra, sílex, seguindo pautas anteriores, e obsidiana. O uso deste último material, que era obtido das proximidades do lago Van, a uns 320 km de distância, sugestiona que estava desenrolado algum tipo de comércio organizado. No mesmo sentido se interpretam conchas decorativas que procedem do Golfo Pérsico[3]. Nos níveis mais antigos também se encontraram objetos de cestaria impermeabilizados com betume, material fácil de encontrar nas cercanias de Jarmo.

Agricultura e pecuária[editar | editar código-fonte]

A atividade agrícola é demonstrada pela utilização de foices de pedra e outras ferramentas e tigelas, também líticas, para guardar os alimentos coletados, juntos com recipientes de mármore entalhado. Em fases seguintes, reconhecem-se também instrumentos feitos de material ósseo, em especial furadores, mas também botões e colheres.

O recurso ao outro tipo de pesquisas deu ao manifesto que os moradores de Jarmo plantavam trigo de dois tipos, emmer e einkorn, um tipo de cevada primitiva e lentilhas (as histórias gerais indicam sempre a domesticação dos cereais, mas esquecem inventariar as primeiras legumes). Sua dieta, ou a dos seus animais, era ainda completada com espécies bravas de outras plantas como ervilhas, bolotas, alfarrobas, pistaches e trigo selvagem; são abundantes também as conchas de caracóis. Entre os animais domesticados os restos mostram que as testemunhas mais antigas correspondem a cabras, ovelhas e cãos[4]. Nos níveis superiores das escavações aparecem já os porcos, em paralelo às primeiras evidências de cerâmica[5] .

Cerâmica e religião[editar | editar código-fonte]

Embora Jarmo seja um dos sítios mais antigos com cerâmica, o fato de aparecer nos níveis mais recentes das escavações, obriga a datar estes nos princípios do sétimo milênio a.C.. Está feita à mão, é simples e com paredes espessas, revogada com um desengordurante vegetal. Aparecem também figurinhas de argila, zoomorfas e antropomorfas, entre as quais cumpre destacar a presença de representações femininas de mulheres grávidas, que se têm posto em relação a divindades da fecundidade precursoras da Deusa Mãe das posteriores culturas neolíticas do mesmo Oriente Próximo[6].

Notas e referências

  1. Patty Jo Watson, Robert Braidwood, edic. digital in http://www.aps-pub.com/proceedings/1492/490208.pdf
  2. Robert Braidwood, La Revolución Agrícola, in Biología y cultura: introdução a la Antropología Biológica y Social. Seleciones de Scientific American. Madrid, H. Blume Ediciones, 1979, p. 213
  3. Robert Braidwood, op. cit., p. 314
  4. Embora o cão, como animal doméstico, seja citado na lista de animais domésticos de Jarmo, Braiwood, é indicado expressamente que não encontraram evidências de ossos de cão entre os restos escavados, mas que o inclui por aparecerem figurinhas deles, cfr. Braiwood, op. cit., p. 315-316
  5. Jarmo, in The Oxford Encyclopedia of Archaelogy in the Near East, edic. digital em [1][ligação inativa]
  6. Robert Braiwood, op.cit., páx, 314 ; Luís Pericot e Juan Maluquer de Motes, La humanidad prehistórica. Madrid. Salvat-Alianza. 1969, p. 109

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]