João Maria Pereira de Amaral e Pimentel

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João Maria Pereira de Amaral e Pimentel
João Maria Pereira de Amaral e Pimentel
Nascimento 21 de julho de 1815
Oleiros
Morte 27 de janeiro de 1889
Angra do Heroísmo
Cidadania Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação padre, bispo católico
Religião Igreja Católica

João Maria Pereira de Amaral e Pimentel (Oleiros, 21 de Julho de 1815Angra do Heroísmo, 27 de Janeiro de 1889), 28.º bispo de Angra, que governou a diocese entre 1872 e 1889, homem sensível e culto, dedicado às belas artes e à jardinagem, a quem a Diocese de Angra deve ter iniciado a publicação do Boletim Eclesiástico dos Açores, o qual, com mais de 130 anos de publicação ininterrupta, é hoje a mais antiga publicação periódica dos Açores.

Biografia[editar | editar código-fonte]

D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel nasceu na Vila de Oleiros a 21 de Julho de 1815, filho de Francisco António Pereira Barata e de sua mulher Maria Eugénia Marques de Amaral e Pimentel, família antiga e conhecida de Oleiros, embora de fracos recursos económicos, o que cedo o obrigaria a trabalhar para granjear o seu sustento.

Formação[editar | editar código-fonte]

Aparentemente por influência dum seu tio-avô, Frei Simão José Botelho Dourado, que era vigário de Oleiros e professor na Ordem de Malta, enveredou pela vida eclesiástica, ingressando no seminário lazarista de Cernache do Bonjardim.

Quando o Seminário das Missões de Cernache do Bonjardim fechou portas, por expulsão do seu corpo docente, foi obrigado a trabalhar para sustento da mãe e irmãs, sendo sucessivamente secretário do vigário capitular de Leiria, recebedor do concelho de Oleiros, escrivão da Câmara e advogado.

Ingressou no curso de direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, obtendo o bacharelato em 1849. Durante este período foi funcionário do Governo Civil do Distrito de Coimbra, para além de litografar sebentas e de exercer outras ocupações com as quais se sustentou.

Carreira eclesiástica[editar | editar código-fonte]

Obtidas as ordens menores, passou a secretariar o bispo de Bragança, sendo ordenado presbítero em 1850, sendo logo nomeado vigário geral, chantre e vigário capitular daquela diocese.

Transferido para a diocese de Leiria, foi em 1854 nomeado deão, vigário geral e provisor da diocese. Neste ano foi agraciado com a comenda da Real Ordem Militar de Cristo.

Em 1865-1866 foi eleito e confirmado bispo de Macau, mas a nomeação não foi aceite pelo governo português, dada que a confirmação pontifícia restringia a sua jurisdição única e exclusivamente à cidade de Macau, contrariando as pretensões de jurisdição que Portugal mantinha sobre o governo espiritual dos católicos chineses.

Esta recusa levou a que retornasse ao seminário de Cernache do Bonjardim, nas funções de orientador do Colégio das Missões, a cujas actividades deixou ligado o seu nome.

Acção na Diocese de Angra[editar | editar código-fonte]

Em Junho de 1871, o governo português apresentou-o à Santa Sé para bispo de Angra, sendo confirmado em consistório realizado em 22 de Dezembro de 1871 e nomeado pelo papa Pio IX.

O novo bispo de Angra nomeou seu procurador o Dr. Ferreira de Sousa que, em seu nome, tomou posse do bispado. Deu entrada na Diocese a 21 de Agosto de 1872, sendo recebido com as honras habituais, que incluíram Te Deum na catedral, onde deu anel a beijar ao clero, autoridades e pessoas de representação, seguindo-se, durante três noites, concerto pela Banda Militar dos Açores no salão de entrada do Paço Episcopal.

Governou com senso, fazendo numerosas visitas pastorais, publicando um acervo doutrinário cobrindo os temas e preocupações da época, com destaque para a Bula da Santa Cruzada, os tempos quaresmais, os excessos de emigração, e a posição do sacerdócio católico, com as suas prerrogativas e obrigações.

Entre a sua actividade normativa, destaca-se a regulamentação da jurisdição dos párocos, coadjutores e capelães e das oferendas às igrejas ou imagens, cruzes, altares e capelas.

Por provisão de 7 de Outubro de 1873 transferiu a paróquia das Furnas, até então pertencente à jurisdição da Ribeira Grande, para a ouvidoria de Vila Franca do Campo. Na ilha de São Jorge, por provisão de 4 de Junho de 1878, na sequência da extinção do concelho do Topo, extinguiu a respectiva ouvidoria, integrando a paróquia da Vila do Topo e o curato de Santo Antão na ouvidoria da Calheta.

Por sua iniciativa realizou-se a 30 de Abril de 1876 a primeira festividade de Pontifical em honra do beato João Baptista Machado, mártir terceirense da missionação do Japão. A cerimónia realizou-se na igreja do Colégio dos Jesuítas de Angra, sendo nesse dia benzida uma imagem por ele oferecida, proclamando aquele beato patrono da cidade de Angra do Heroísmo, da ilha Terceira e da diocese de Angra.

Quando o Papa Leão XIII publicou a encíclica Humanum genus, condenando a Maçonaria, mandou-a divulgar e comentou-a sem que ela tivesse o beneplácito régio em Portugal. Tal atitude corajosa, que foi acompanhada por poucos prelados portugueses, foi oficialmente censurada pelo Secretário de Estado da Justiça e Cultos, Lopo Vaz de Sampaio e Melo.

Por aquela razão, uma comissão, presidida pelo Dr. Diogo de Barcelos, ofereceu ao bispo uma cruz sobreposta de outra cravejada de vinte e três brilhantes com oito cabeças de anjos nas extremidades, dando assim execução a uma sugestão publicada por um periódico de Braga que sugeriu a cotização dos católicos para que a cada um dos prelados que publicaram a encíclica fosse oferecida uma cruz peitoral.

Com espírito disciplinador, recordou a existência das antigas Missas Pro-Infantado e repreendeu o Cabido pelas faltas que os seus membros davam na Sé, proibindo ao clero a aceitação, sem sua licença, de empregos seculares, nomeadamente na docência.

Este prelado, por alvará de 19 de Junho de 1880, autorizou a demolição e reconstrução da ermida de Nossa Senhora da Saúde, na Praça Velha da cidade de Angra. A nova ermida e a imagem, restaurada, foram benzidas pelo bispo a 9 de Novembro de 1884.

Este bispo atravessou uma época difícil, com múltiplas discórdias, a que não eram alheias as facções políticas existentes na ilha e as tensões existentes entre a Igreja Católica Romana e o Estado. Para cúmulo, o relacionamento com o seu coadjutor com direito a sucessão, D. Francisco Maria do Prado Lacerda, o futuro 29.º bispo de Angra, estava longe de ser amistoso, havendo voz pública de graves questões e desentendimentos.

Falecimento[editar | editar código-fonte]

D. João Maria faleceu a 27 de Janeiro de 1889 na Quinta da Estrela, no Caminho de Baixo de São Carlos, arredores da cidade de Angra do Heroísmo.

Homem de profunda sabedoria e delicado espírito científico, era um grande apreciador das belas artes e passava o seu tempo livre cultivando flores.

Em 1881 publicou a valiosa monografia Memórias da Vila de Oleiros e do seu Concelho como tributo à terra natal e às suas gentes, por quem sempre conservou o maior afecto e dedicação. Fazê-la conhecida aos estranhos e lembrar as suas glórias aos dela naturais, foi o objectivo inscrito na introdução da sua obra, na qual, citando Virgílio na Eneida, diz: É provável que nos tempos vindouros seja agradável recordar estas coisas.

Deve-lhe a Diocese algumas iniciativas importantes, entre as quais a criação do Boletim Eclesiástico dos Açores, órgão oficial diocesano e primeiro do género no país, publicado pela primeira vez em Setembro de 1872, hoje o mais antigo periódico com publicação ininterrupta nos Açores.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • Memorias da villa de Oleiros e do seu concelho, pelo Bispo d'Angra D. João Maria Pereira d'Amaral e Pimentel, Angra do Heroismo, Typ. da Virgem Immaculada, 1881, 358 p..
  • Discurso que na inauguração da estatua do conselheiro José Silvestre Ribeiro na villa da Praia da Victoria, que recitou o Bispo da Diocese D. João Maria Pereira d'Amaral e Pimentel', Angra do Heroismo, Typ. da Virgem Immaculada, 1879, 16 p..
  • Discurso pastoral do Exmo. e Rvmo. Sr. Bispo da Diocese d'Angra D. João Maria Pereira d'Amaral e Pimentel, s. d., Angra do Heroísmo.
  • Carta Pastoral sôbre o protestantismo, Angra do Heroismo, Tipografia da Virgem Imaculada, 1883.
  • Pastoral do Exmo . e Rev. Sr. D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel Bispo d'Angra do Heroismo, de 27 de Setembro de 1876, Analysando, Refutando e Condemnando o Opusculo Intitulado os Lazaristas nos Açores, Lisboa, Typ. do Jornal a Nação, 1877, 31 p..
  • Primeiras tres Pastoraes do Exmo. e Rvmo Sr. D. João Maria Pereira d'Amaral e Pimentel, Bispo d'Angra do Heroismo, Aos Seus Diocesanos, Angra do Heroísmo, Typ. da Virgem Immaculada, 1876, 8 p..
  • Instrução pastoral, s.l., 187-, 15 p..
  • O culto catholico, Angra do Heroismo, Typ. Virgem Immaculada, 1885.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]