Johannes Junius

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Johannes Junius
Nascimento 1573
Nieder-Weisel
Morte 6 de agosto de 1628 (54–55 anos)
Bamberga
Cidadania Alemanha
Ocupação servidor público
Causa da morte morte na fogueira

Johannes Junius (Niederwehbach, 1573Bamberg, agosto de 1628) foi um burgomestre e suposto bruxo alemão que foi burgomestre de Bamberg em 1614, 1617, 1621 e entre 1624 e 1628, além de presidente do conselho entre 1608 e 1613, em 1615, 1616, 1618, 1619, 1620, 1622 e 1623.

Junius foi levado a mártir após sua execução por bruxaria através de falsos testemunhos obtidos sob tortura. Sua fama póstuma como mártir deve-se principalmente à tocante carta que escreveu da prisão para sua filha Veronika, transcrita abaixo.

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

O bispado de Bamberg experimentou o auge da caça às bruxas sob a égide do príncipe-bispo Johann Georg II Fuchs de Dornheim: entre 1626 e 1631 centenas de homens e mulheres foram queimados na fogueira. A caçada implacável desses anos caracterizou-se por procedimentos de inquisição meticulosos. Johann Georg "der Hexenbrenner" (literalmente o queima-bruxas) mandou erigir em Bamberg em 1627 a prisão para bruxas "Drudenhaus" (literalmente, casa das bruxas) e no ano seguinte contratou o comissário de Eichstätt Dr. Johann Schwarzkronz. Os nomes de outros bruxos eram assim arrancados através de torturas refinadas além das habituais denúncias. Nesse período de caças às bruxas, personalidades da vida pública como Johannes Junius, vítimas de intrigas e que criticaram os processos de bruxaria, também começaram a ser acusadas, presas e torturadas. Além de Junius o chanceler Georg Haan também foi vitimado pela caça às bruxas - que só viriam a ter um fim em 1683 com a aproximação das tropas suecas.

Acusação e sentença[editar | editar código-fonte]

Em 1608 Johannes Junius assumiu pela primeira vez sua função pública e até 1628 sua imagem parecia não há registros que comprometam sua imagem. Mas para sua desgraça seu colega Georg Haan, preso e torturado por bruxaria, foi coagido a citar seu nome como "bruxo chefe" e Junius foi levado à "justiça".

Junius foi acusado das práticas clássicas e habituais de bruxaria, como renegar o nome de Deus e participar e presidir Sabás. Como Johannes Junius negou veementemente todas as acusações foi entregue ao carrasco torturador. De acordo com as transcrições do processo a aplicação do "esmagador de polegares" e da "bota espanhola" não mostraram-se suficiente para arrancar confissões de Junius - o que só aconteceu após a aplicação da "Estrapada" (ou Polé) (Uma tortura fundamental, que consistia na deslocação dos ombros, pelo movimento de içar violentamente a vítima, com os braços atados às costas, com o corpo suspenso)- como ele viria a descrever à sua filha na carta transcrita abaixo.

Com a eficácia da tortura, Junius veio a confessar que negara a Deus depois de ter sido seduzido pelo diabo na forma de uma sedutora mulher, ter tido uma súcubo chamada Raposa, profanado a hóstia e ter voado num cão negro para sabás de bruxas. Raposa o teria ordenado a matar seus filhos com um pó negro mas ele, tendo negado-se a fazê-lo, teve de sacrificar um cavalo no lugar das crianças. Além disso acabou por citar vários outros nomes de supostos cúmplices, que também viriam a ser torturados.

O tribunal aceitou a confissão e Johannes Junius foi por fim executado na fogueira em 1628. De acordo com outras fontes ele teria sido decapitado com a espada antes de seu corpo ser queimado.

A carta[editar | editar código-fonte]

Inocente vim para a prisão, inocente fui martirizado, inocente devo morrer. Pois quem vem a esta casa tem de ser um bruxo ou então é por tão longo martirizado até que invente alguma coisa de sua cabeça... Eu pedi aos senhores (à comissão de exame) que pelo amor de Deus, eles ouviram, se tratavam de testemunhos totalmente falsos e que deveriam ser examinados mais cautelosamente e sob juramento; isto porém não foi concedido e eles disseram que eu deveria confessar de bom grado ou o carrasco me coagiria. Eu respondi: Eu jamais reneguei a Deus e jamais virei a fazê-lo, que Deus me livre disso. Eu preferiria aguentar o que fosse.
Então para o meu pesar veio o carrasco, que Deus do Céu tenha piedade, e me pôs o esmagador de polegares, com ambas as mãos amarradas fazendo sair o sangue pelas minhas unhas de modo que eu não pude utilizar as mãos por quatro semanas, como podes ver pela minha escrita. Eu então me entreguei a Deus em suas cinco santas feridas e disse: "Já que isto diz respeito à honra e ao nome de Deus, que eu não reneguei, eu quero então depositar todo este meu martírio e dor em suas cinco feridas; ele aliviará minhas dores de modo que possa superá-las." Depois disso me despiram, amarraram-me as mãos nas costas e assim me suspenderam com torturas. Nisto pensei que o Céu e a Terra se acabavam; eles me suspenderam e me deixaram cair oito vezes, me fazendo sentir dores desgraçadas. E tudo isso deu-se comigo nu, pois eles me despiram por completo. Quando então Deus nosso Senhor me ajudou eu pude dizê-los: "Que Deus os perdoe por atacar um homem honesto e inocente; vocês não só o querem privar de seu corpo e alma como também de suas posses." Então o Doutor Braun disse: "Tu és um malandro. " Eu disse: "Eu não sou malandro nem nada do tipo e sou tão honesto quanto vós sois. Apenas se isto continuar assim nenhum homem honesto de Bamberg estará a salvo. Nem eu, nem vós, nem qualquer outro." Então o Doutor disse que não seria atacado pelo Diabo, eu disse: "Eu também não, mas vossas falsas testemunhas e vosso severo martírio, estes são o diabo. Pois vós não deixardes nenhum caminho embora todo o martírio seja suportado...
...amada criança, mantenha esta carta escondida para que não se torne pública; senão eu serei tão martirizado que serei digno de pena, e os guardas do calabouço seriam decapitados... Eu escrevi esta carta em alguns dias; minhas mãos estão lerdas, minha condição está mesmo péssima...
... amada criança, seis pessoas me delataram simultaneamente, tudo mentira, conseguidas à força... E antes de serem executados eles me pediram perdão graças a Deus. Eles na verdade só sabiam coisas boas e amáveis a meu respeito. Eles foram obrigados a dizê-lo, como eu próprio ainda haveria de ver...
... quando então o carrasco me levou de volta à prisão ele me disse: "Senhor, eu lhe peço pelo amor de Deus, confesse alguma coisa, seja ela verdade ou não. Invente algo pois não poderás suportar o martírio que lhe é infligido e mesmo que venhas a superá-los não serás liberto... mesmo se fosses um conde; mas depois de todo martírio um novo se inicia, até que digas que és um bruxo; diga isso antes que nunca mais o deixem em paz...
...criança do meu coração, se tiver que lhe dar um conselho então tu deves pegar o que possuas de cartas e dinheiro e lançar-se em peregrinação por meio ano ou para onde puderes ir por um tempo... até ver como tudo terminará...
...esta é a situação de muitos, e será de muitos mais se Deus não enviar algum remédio... reze por mim, teu pai, depois de minha morte, que Anna Maria também reze por mim, tu deves jurar veementemente que eu não sou bruxo mas sim um mártir, e eu morro assim contido. Boa noite, pois teu pai Johanes Junius nunca mais irá te ver

24 de julho do ano 1628

Bibliografia[editar | editar código-fonte]