Julgamento de Jesus no Sinédrio

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Julgamento de Jesus.
Séc. XIII. Por Giotto, na Capela Scrovegni, em Pádua, na Itália.

Julgamento de Jesus no Sinédrio é um episódio da vida de Jesus que segundo a Bíblia Judaica e o historiador Flávio Josefo, ocorre logo após a sua prisão em Jerusalém e antes do julgamento de Pilatos. O evento está relatado nos quatro evangelhos canônicos, embora o Evangelho de João não faça uma menção específica ao Sinédrio neste contexto. Os relatos estão em Marcos 14:53–65, Mateus 26:57–68, Lucas 22:63–71 e João 18:12–24.

Uma harmonia evangélica retrata Jesus e seus apóstolos celebrando a Páscoa judaica na forma da Última Ceia, Jesus sendo traído por Judas Iscariotes e sendo preso no Getsêmani. Jesus então é levado à casa do sumo-sacerdote, onde ele é zombado e surrado. Ele permanece quieto no geral, sem apresentar uma defesa e raramente respondendo às acusações, terminando condenado pelas autoridades judaicas quando ele se recusa a negar ser o Filho de Deus. Os líderes judeus então o levam para Pôncio Pilatos, o governador da província romana da Judeia, e pedem-lhe que decrete a pena de morte sobre Jesus sob a alegação de que ele seria o rei dos judeus.

O julgamento provavelmente ocorreu de maneira informal, numa quinta à noite e, novamente, na sexta de manhã, provavelmente no ano 33 d.C.[1][2][3][4][5][6]

Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]

Na narrativa dos evangelhos canônicos, após sua prisão, Jesus é levado ao Sinédrio, uma instituição judicial judaica. Do ponto de vista histórico, na época da história, esta instituição tomava a forma de uma reunião ad hoc (formada por ocasião de um evento) ao invés de uma "corte" fixa.[7]

Anás e Caifás.
1475-1525. Seguidores do Mestre da Fonte da Vida, atualmente no Museu Boijmans Van Beuningen, em Roterdã.

Eventos antes do julgamento[editar | editar código-fonte]

Nos quatro evangelhos, Jesus é julgado e condenado pelo Sinédrio, é zombado e surrado e é condenado por alegar ser o Filho de Deus.[8][9][10] Mesmo que os evangelhos variem entre si a respeito dos detalhes, eles concordam de maneira geral sobre o caráter e a estrutura deste julgamento.[11]

Mateus 26:57 afirma que Jesus foi levado para a casa de Caifás, o sumo-sacerdote, onde os escribas e anciãos estava reunidos e, em Mateus 27:1, o evangelista acrescenta uma outra reunião entre os sacerdotes na manhã seguinte. Marcos 14:53 afirma que Jesus foi levado naquela noite até o "sumo-sacerdote" (sem especificar o nome), onde os demais sacerdotes e anciãos estavam reunidos, e, em Marcos 15:1, o autor acrescenta que outra reunião foi realizada pela manhã. Lucas 22:54 afirma que Jesus foi levado à "casa do sumo-sacerdote" (sem também nomeá-lo), onde ele foi zombado e surrado naquela noite e, em Lucas 22:66, acrescenta que "logo que amanheceu", os principais sacerdotes e escribas se reuniram e apresentaram Jesus perante o conselho.[8][9][10]

Em João 18:12–14, porém, Jesus é primeiro levado até Anás, o sogro de Caifás, que era o então sumo-sacerdote. Acredita-se que Anás já tinha sido também sumo-sacerdote e parece que Caifás buscou dele uma confirmação de seus atos. Em João 18:24, Jesus é levado de Anás para Caifás e João 18:28 afirma que, pela manhã, Jesus foi levado de Caifás para Pilatos, no Pretório.[8][9][10]

Zombaria com Jesus.
Séc. XVII. Autor desconhecido, atualmente no Louvre, em Paris.

Nos quatro evangelhos, o relato do julgamento perante os sacerdotes e os escribas está entrelaçado com o da Negação de Pedro, onde o apóstolo Pedro, que seguira Jesus, nega conhecê-lo por três vezes.[12] Lucas 22:61 afirma que enquanto Jesus estava amarrado na casa do sumo-sacerdote, Pedro estaria no pátio. Jesus então "se virou e olhou diretamente para ele" e Pedro então se lembrou do que Jesus havia lhe dito: "Hoje antes de cantar o galo, três vezes me negarás.".[8][9][10][12]

Julgamento[editar | editar código-fonte]

Nos relatos, Jesus fala muito pouco e dá raras respostas, indiretas, para os sacerdotes, provocando um oficial a estapeá-lo. Em Mateus 26:62, a falta de resposta de Jesus provoca o sacerdote a perguntar-lhe: "Nada respondes?" Os homens que vigiam Jesus na casa do sumo-sacerdote o vendam, insultam e surram, estapeando-lhe e perguntando — zombeteiramente — quem havia lhe batido.[8][9][10]

Marcos 14:55–59 afirma que os sumo-sacerdotes procuraram testemunhas contra Jesus para poderem condená-lo à morte, mas não conseguiram encontrar nenhuma e, por isso, arranjaram falsos testemunhos que, contudo, se contradisseram. Marcos 14:61 afirma que o sumo-sacerdote então perguntou a Jesus: "És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?". A resposta foi: "Eu o sou; e vereis o Filho do homem sentado à mão direita do Todo-poderoso e vindo com as nuvens do céu." O sumo-sacerdote então rasgou suas vestes de raiva e acusou Jesus de blasfêmia. Em 26:63, o sumo-sacerdote perguntou: "Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus", ao que Jesus respondeu "Tu o disseste", provocando a sua fúria.[8][9][10]

Em Lucas 22:67, a pergunta foi: "Se tu és o Cristo, dize-nos." Respondeu-lhes: "Se eu vo-lo disser, não o crereis." Em seguida, em Lucas 22:70, quando perguntado "És tu, logo, o Filho de Deus?", Jesus respondeu-lhes: "Vós mesmos dizeis que eu sou." A condenação veio imediatamente.[8][9][10]

Posteriormente, na corte de Pilatos, os anciãos judeus pedem a Pôncio Pilatos que julgue e condene Jesus, acusando-o de alegar ser o rei dos judeus.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Caifás
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Jesus sendo zombado

Referências

  1. Isaac Newton, 1733, Of the Times of the Birth and Passion of Christ, in "Observations upon the Prophecies of Daniel and the Apocalypse of St. John" (London: J. Darby and T. Browne).
  2. Bradley Schaefer, 1990, Lunar Visibility and the Crucifixion Quarterly. Journal of the Royal Astronomical Society 31.
  3. Astronomers on the Date of the Crucifixion http://www.mirabilis.ca/archives/000736.html Arquivado em 25 de abril de 2011, no Wayback Machine.
  4. Astronomers on Date of Christ's Death http://english.pravda.ru/science/tech/16-05-2003/2819-christ-0
  5. John Pratt Newton's Date For The Crucifixion "Quarterly Journal of Royal Astronomical Society", Sept. 1991.
  6. Newton's Date For The Crucifixion http://www.johnpratt.com/items/docs/newton.html
  7. Brown, Raymond E. An Introduction to the New Testament Doubleday 1997 ISBN 0-385-24767-2, p. 146.
  8. a b c d e f g Jesus and the Gospels: An Introduction and Survey by Craig L. Blomberg 2009 ISBN 0805444823 pages 396-400
  9. a b c d e f g The Bible Knowledge Background Commentary: Matthew-Luke, Volume 1 by Craig A. Evans 2003 ISBN 0781438683 page 487-500
  10. a b c d e f g h Holman Concise Bible Dictionary 2011 ISBN 0805495487 pages 608-609
  11. The International Standard Bible Encyclopedia by Geoffrey W. Bromiley 1982 ISBN 0802837824 pages 1050-1052
  12. a b Theological dictionary of the New Testament by Gerhard Kittel, Geoffrey William Bromiley, Gerhard Friedrich 1980 ISBN 0802822487 page 105

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Brown, Raymond E. et al. The New Jerome Biblical Commentary Prentice Hall 1990 ISBN 0-13-614934-0 (em inglês)
  • Crossan, Dominic Who Killed Jesus? Exposing the Roots of Anti-Semitism in the Gospel Story of the Death of Jesus, 1995, ISBN 0-06-061480-3 (em inglês)
  • Kilgallen, John J. A Brief Commentary on the Gospel of Mark Paulist Press 1989 ISBN 0-8091-3059-9 (em inglês)
  • Miller, Robert J. Editor The Complete Gospels Polebridge Press 1994 ISBN 0-06-065587-9 (em inglês)
  • James E. Talmage "Jesus The Christ" ISBN 0875793266 (em inglês)