Patuá macaense

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Patuá macaense

Doçi Papiaçam di Macau

Falado(a) em: Macau e regiões/países com migrantes macaenses, como por exemplo Hong Kong, Canadá, E.U.A. (Califórnia), Portugal, Austrália, Brasil e Peru.
Região: Sudeste Asiático (Macau)
Total de falantes: centenas ou até mais de mil pessoas (a grande maioria são bilingues)
Família: Crioulo de base portuguesa
 Crioulos Sino-portugueses
  'Patuá macaense'
Estatuto oficial
Língua oficial de: nenhum(a) região/país
Regulado por: sem regulação oficial
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: cpp
ISO 639-3: mzs
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Patuá macaense, também chamada Crioulo macaense, Patuá di Macau, Papia Cristam di Macau, Doci Papiaçam di Macau ou ainda de Macaista Chapado, é uma língua crioula de base portuguesa formada em Macau a partir do século XVI, influenciada pelas línguas chinesas, malaias e cingalesas. Sofre também de alguma influência do inglês, do tailandês, do japonês e de algumas línguas da Índia.

Actualmente continua a ser ainda falado por um pequeno número de macaenses que vivem em Macau ou no estrangeiro, na sua maioria já com uma idade avançada.

História e evolução[editar | editar código-fonte]

Este crioulo foi originalmente desenvolvido pelos macaenses e, ao longo dos séculos, sofreu muitas mudanças na sua gramática, fonética e vocabulário para responder à evolução da demografia e da cultura de Macau. Alguns estudiosos dividem o patuá em dois tipos: o arcaico, falado até século XIX, e o moderno, desenvolvido e falado a partir do século XIX e muito influenciado pelo cantonês.

O Patuá era dominado e falado por um grande número de macaenses e por alguns chineses de Macau, principalmente as esposas chinesas de portugueses. Para eles, o patuá é mais fácil de aprender e pronunciar visto que este crioulo tem influências chinesas. Até ao séc. XIX, ele tornou-se numa língua importante de comunicação entre os macaenses, os chineses e os portugueses, e contribuiu bastante para o desenvolvimento sócio-económico da Cidade. Mas, mesmo durante o seu apogeu, o número de falantes deste crioulo era relativamente baixa, não ultrapassando as dezenas de milhares.

Durante todo o séc. XIX, muitos macaenses (um grupo deles já emigraram para a recém-formada colónia britânica de Hong-Kong durante o séc. XIX) continuaram a falar o Patuá em oposição ao Português-padrão (falado em Portugal) usado pelas autoridades portuguesas de Macau, embora este crioulo não gozasse de nenhum estatuto oficial ou especial. Muitos deles usavam o Patuá como um meio para criticar satiricamente as autoridades. José dos Santos Ferreira é um dos poucos escritores e poetas de Macau que utilizam este crioulo nas suas obras.

Nos finais do séc. XIX, a importância e o uso do Patuá diminuiu drasticamente porque o Governo Central de Lisboa começou a efectuar uma série de reformas educativas para implementar o Português de Portugal em todas as colónias portuguesas, tornando-o numa língua-padrão de comunicação dentro do Império Português. Macaenses de alta estirpe social gradualmente deixaram de usar o Patuá e a adoptarem o Português-padrão ensinado nas escolas, tendo passado a encarar este crioulo como uma língua mais apropriada para as classes baixas, considerando-o um tipo de "Português primitivo". As reformas educativas foram um sucesso, com o número de falantes do Patuá a continuar a descer drasticamente porque este crioulo perdeu a sua importância de ser uma língua de comunicação entre os chineses, os macaenses e os portugueses.

Esta diminuição do uso do Patuá foi tão forte que, actualmente, ele está em via de extinção, com cada vez menos macaenses que dominam este crioulo. O português, bem como o inglês e o cantonês (cada vez mais portugueses dominam este dialecto), tornaram-se nas novas línguas de comunicação entre eles. Em Macau, existem várias instituições culturais, tais como o famoso "Grupo de Teatro Dóci Papiáçam di Macau", e grupos de macaenses que querem salvar e divulgar este crioulo, uma língua única e histórica de Macau. Esforçaram-se para proteger este crioulo, fazendo muitas peças teatrais e música em Patuá e também publicando um Dicionário Português-Patuá, em 2001. Eles pretendiam também incluir o Patuá no Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade da UNESCO.

Apesar deste esforço e do carácter único do Patuá, este crioulo recebeu muita pouca atenção dos estudiosos de línguas e da comunidade internacional, constituindo um facto lamentável.

Vocabulário[editar | editar código-fonte]

A maioria do vocabulário do Patuá é derivado do português e também do malaio e de crioulos de base portuguesa formados na Península Malaia (nomeadamente o Kristang), da língua sinhala, de crioulos Indo-Portugueses e do Cantonês. Exemplos de palavras de origem portuguesa: Macau, casa (casa), mae (mãe) e filho (filho); de origem malaia: sapeca (moeda) e copo-copo (borboleta); de origem cingalesa e indiana: fula (flor) e lacassa ("vermicelli"); e de origem cantonensa: amui (rapariga) e laissi (os chamados "pacotes vermelhos").

Gramática e ortografia[editar | editar código-fonte]

Tal como muitas línguas asiáticas, o Patuá tem falta de artigos definidos, de pronomes pessoais (ex: io que significa "Eu" e "meu") e as suas formas verbais não mudam com as pessoas gramaticais (ex: io sam significa "Eu sou" e ele sam significa "Ele é").

Os verbos que transmitem acções contínuas são compostos, além do verbo em si, pela partícula ta (derivado do verbo português "está"), e aqueles que transmitem acções já completas (acções do passado) são compostos, além do verbo em si, pela partícula ja (derivado do advérbio português "já").

O Patuá tem uma maneira muito especial, também utilizada na gramática malaia, para fazer o plural das palavras que consiste em duplicar a própria palavra, como a malaia (exs: casa-casa = "casas"; china-china = "pessoas ou coisas chinesas"; cedo-cedo = "muito cedo").

Este crioulo não tem um padrão na ortografia e na escrita.

Exemplos[editar | editar código-fonte]

Exemplo de um poema em patuá:

Patuá Tradução para português
Nhonha na jinela A moça na janela
Co fula mogarim Com uma flor de jasmim
Sua mae tancarera     Sua mãe é uma Chinesa pescadora
Seu pai canarim Seu pai é um Indiano Português

Exemplo de um outro poema:

Patuá Tradução para português
Língu di gente antigo di Macau     A língua da gente antiga de Macau
Lô disparecê tamên. Qui saiám!     Vai desaparecer também. Que pena!
Nga dia, mas quanto áno,     Um dia daqui a alguns anos
Quiança lô priguntá co pai-mai     A criança perguntará aos pais
Qui cuza sä afinal O que é afinal
Dóci papiaçam di Macau? A "língua doce" de Macau?

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]