Lacão com grelos

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Lacão com grelos
Lacão e cabeça de porco ('cachucha)

O lacão com grelos (em galego: lacón con grelos é um prato típico da cozinha galega que consiste num cozido à base de lacão, chouriço, batatas cozidas com casca (cachelos) e grelos. Por vezes o lacão é substituído ou acompanhado por orelha ou cabeça de porco (cachucha) ou costelas deste animal e ou, antes do fim do ano, em vez de grelos são usadas nabiças; pode também incluir outras verduras.[1]

É um dos pratos mais representativos da Galiza; segundo o escritor e eminente gastrónomo Álvaro Cunqueiro, é mesmo o prato maior da cozinha galega.[2][3] Para Jorge-Víctor Sueiro, o cozido e a allada (alhada) são os pratos mais "universais" da culinária da Galiza.[4]

O lacão é um derivado do porco, produzido de forma semelhante ao presunto, mas usando as patas dianteiras do animal[5] e um processo de preparação mais curto, que tipicamente dura entre 15 e 35 dias.[6] Tanto o lacão[7][8][9] como os grelos galegos estão protegidos por uma Indicação Geográfica Protegida (IGP).[10]

História, elaboração e consumo[editar | editar código-fonte]

Antigamente, o lacón con grelos comia-se sobretudo durante o Entrudo (entroido), por ser esta a melhor época para os grelos. Mais tarde o seu período de consumo estendeu-se desde o São Martinho (11 de novembro) até à terça-feira de Carnaval (também chamada "terça-feira" lardeira, pelo muito que se comia durante o Carnaval). Nos meses de inverno é comum nos restaurantes, tabernas, casas particulares e em jantares de grupos de amigos.[11]

Grelos de nabo

Com os hábitos modernos de cultivar certas plantas durante quase todo o ano e com as novas técnicas de conservação, combinando nabiças e grelos, hoje já é possível encontrar este suculento prato durante todo o ano em muitos restaurantes galegos e alguns no resto de Espanha.[4]

Os principais ingredientes são o lacão e os grelos, ou seja, rebentos de nabo floridos ou prestes florir, com a aparência é a de um caule mais ou menos grosso de onde saem algumas folhas e na ponta as flores. É acompanhado com chouriço, cachelos (batatas cozidas com casca), orelha ou cabeça de porco (cachucha) e toucinho (se o lacão não tem demasiada gordura ou é do gosto dos comensais).

A preparação começa com a dessalgação, pondo o lacão de molho em água durante dois ou três dias. O lacão é posto a cozer durante uma a duas horas, adicionando-se depois os grelos, seguidos, algum tempo depois, as batatas e o chouriço.[5] Se os grelos são de Monfero ou Lugo, convém escaldá-los antes de metê-los na panela onde se coze o lacão, para retirar o excesso de amargor; os grelos de Santiago de Compostela dispensam esta operação por não serem tão amargos.

Há quem prefira comer o lacão frio — «se possível que o sirvam assim, com puré de castanhas, mas bem espesso» — pedia Cunqueiro. O lacão se come bem frio, só ou acompanhado de grelos, estes quentes. O lacão frio também é consumido triturado, recheado ou com trufas, que é ou era uma receita comum em muitas localidades Lugo, que se encontra ou encontrava em alguns restaurantes da capital daquela província.[12]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. Jurado 2008.
  2. Cunqueiro 1973, p. 47.
  3. Casaderrey Fraga 1995, p. 23
  4. a b Sueiro 1981, p. 152.
  5. a b «Lacón con grelos». www.galiciaespallada.com.ar (em espanhol). Galicia espallada. Consultado em 26 de julho de 2013. Arquivado do original em 6 de agosto de 2013 
  6. López, Alfonso. «Lacón con grelos. Receta tradicional galega». www.recetasderechupete.com (em espanhol). Recetas de rechupete. Consultado em 26 de julho de 2013 
  7. «Conselho Regulador da IGP "Lacón gallego"». www.crlacongallego.com (em galego e espanhol e inglês). Consultado em 26 de julho de 2013 
  8. «C.R.I.X.P. "Lacón Gallego"». mediorural.xunta.es (em galego). Consellería do Medio Rural e do Mar. Junta da Galiza. Consultado em 26 de julho de 2013 
  9. «Indicación Geográfica protegida "Lacón Gallego"». www.magrama.gob.es (em espanhol). Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente. Consultado em 27 de julho de 2013 
  10. «Indicación Geográfica Protegida "Grelos de Galicia"». www.magrama.gob.es (em espanhol). Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente. Consultado em 27 de julho de 2013 
  11. Cunqueiro 1973, p. 44.
  12. Cunqueiro 1973, p. 48.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Casaderrey Fraga, Fina; García González, Mariano (1995), El libro de la empanada, ISBN 9788420607573 (em espanhol), Madrid: Alianza Editorial 
  • Sueiro, Jorge Víctor (1981), Comer en Galicia, ISBN 9788485337323, Textos lúdicos de Pantagruel (em espanhol) 2ª ed. , Madrid: Penthalon 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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