Leçon sur la leçon

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Lições da aula (fr. Leçon sur la leçon) é o título do livro em que foi publicado o texto da aula inaugural proferida pelo sociólogo e antropólogo Pierre Bourdieu no Collège de France, em 23 de Abril de 1982. Nesta aula, Bourdieu reflete sobre o discurso. É uma "discussão sobre o discurso": ele toma como exemplo a aula inaugural naquela prestigiosa instituição. O discurso "na sua capacidade de refletir-se sobre si mesmo, é instrumento e estratégia de que o intelectual pode se a capacidade de ser instrumento e estratégia de que um intelectual se vale para fazer face às armadilhas do objetivismo - que trata a sociedade como coisa -, quanto do subjetivismo idealista - que a reduz a uma projeção dos poderes do indivíduo"[1].

Resumo do texto[editar | editar código-fonte]

Partindo de uma discussão acerca do significado que a aula inaugural detinha no processo de "consagração" do intelectual, quando diante dos grandes eruditos do meio acadêmico, o novo membro tornaria-se universalemente aceito, Bourdieu pensa este momento como um ritual, repleto de símbolos e significados.

Em seguida se debruça sobre a Sociologia, disciplina que o consagrou, para discutir não somente seu papel diante da sociedade, mas também seu papel diante de si mesma. "A Sociologia deve tomar como objeto, ao invés de deixar-se tomar por ela, a luta pelo monopólio da representação legítima do mundo social" afirmou ele, desejando para a prática sociológica e antropológica que ultrapasse o mero relato de censor, de enumerador do mundo social, para discutir as demandas desta enumeração, ou seja, para pensar de que forma, a seviço de quem e com qual interesse o mundo social é classificado, lido, elaborado. Para Bourdieu interessa mais as lutas que determinam as regras de apreensão da realidade social que o mero classificar ou descrever deste mundo. A seguir discute o tema do desencantamento do mundo, tão caro a Sociologia desde o início, atribuindo a esta ciência social o ato de desvelar a mentira para si mesmo construída coletivamente, empreendida e encorajada pelo mundo social, associando esta mentira a ideia de "religião secular" proposta por Raymond Aron, e segundo ele, amalgamada ao discurso nacionalista. Sobre este último, Bourdieu afirma ser o centro do totalitarismo, da violência racista e do culto moderno à arte e ciência, muitas vezes utilizados, segundo o autor para legitimar e reproduzir a ordem social fundada numa distribuição desigual e injusta de cultura.

Finalmente Bourdieu associa esta discussão acerca do papel da prática sociológica a sua própria teoria do mundo social, discutindo que esta forma de reprodução estaria vinculada aos sistemas de disposições por ele conceituado em habitus. É por meio do habitus que os indivíduos incorporariam as regras, valores e lugares do mundo social, conforme afirma o sociólogo: "o corpo está dentro do mundo social, mas o mundo social está dentro do corpo". Recusando-se a retórica moderna de biologizar para naturalizar as diferenças sociais, Bourdieu encerra sua primeira aula no Collège de France propondo um retorno a esta sociologia reflexiva, disposta se posicionar como uma ciência de pensar os saberes e os sujeitos sociais como detentores dos poderes simbólicos capazes de criar e recriar seu mundo.

Notas[editar | editar código-fonte]

  • Lições da aula. Nota de apresentação editorial da tradução portuguesa: Ed. Ática, 1988.
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