Licínio Azevedo

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Licínio Azevedo
Licínio Azevedo
Licínio Azevedo
Nascimento 1951 (73 anos)
Nova Hamburgo
Brasil
Ocupação Realizador, escritor

Licínio Azevedo (Novo Hamburgo, 27 de maio de 1951) é um jornalista, cineastra e escritor brasileiro-moçambicano, cujos filmes foram premiados em diversos festivais.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Novo Hamburgo, em 27 de maio de 1951. Por parte da família paterna descende de uma importante família fazendeira gaúcha, e por parte de mãe, de uma tradicional linhagem militar, desde da Guerra do Paraguai. Mudou-se ainda criança para Porto Alegre, estudando no Colégio Militar Júlio de Castilhos. Era o sonho de sua mãe que fosse militar, sonho não correspondido por Azevedo.[1] Formado na educação básica ingressou no curso de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mudando, um ano depois, para o Jornalismo. Bacharelou-se jornalista em 1975.[2]

Carreira no jornalismo[editar | editar código-fonte]

Nos tempos de faculdade começou a trabalhar com reportagens policiais para o Zero Hora. Depois de formado foi repórter da Folha da Manhã, sendo editor de polícia.[3] Investigou o delegado Pedro Selling, titular do DOPS, acusando-o de tortura e homicídios. Por sua denuncia foi perseguido pela Ditadura Militar, tendo que fugir do Brasil. Radicou-se inicialmente na Argentina.[2]

Residiu em diversos paises latino-americanos, cobrindo movimentos de libertação popular, viveu no Peru, Bolívia, Guatemala, Nicaraguá, Uruguai, e México.[4][3] Retornou para São Paulo, publicando no Jornal da Tarde uma reportagem sobre o terremoto da Guatemala, que avassalou o país em 4 de fevereiro de 1976. Continuou criticando o regime militar, atuando na imprensa alternativa: Versus, Movimento, Repórtes, Opinião, Coojornal, entre outros. A partir de 1975 começou a trabalhar como jornalista no exterior, inicialmente em Portugal. Tentou ir para Angola, não conseguindo visto.[4] Foi para Guiné Bissau trabalhando no jornal Nô Pintcha, acompanhando Luiz Cabral em suas visitas ao interior do país.[2][3]

Moçambique[editar | editar código-fonte]

Em 1978 radicou-se em Moçambique. Havia chegado a capital Maputo a convide de Rui Guerra. Junto a outros cineastras, como o próprio Rui Guerra, além de Jean Rouch, Jean-Luc Godard, José Celso Martinez Correa, Murilo Salles, Guel Arraes, Santiago Alvarez, colaborou para a criação do Instituto Nacional de Cinema de Moçambique, iniciativa do primeiro presidente Samora Machel.[5] Um ano depois, em 1979, já trabalhava como roterista, tendo escrito o documentário Mueda – Memória e Massacre, dirigido pelo Rui Guerra.[2]

Fundou a produtora Ébano Multimídia, pioneira no cinema moçambicano, tendo realizado mais de 50 produções cinematográficas.[2][4] A partir do cinema busca contribuir com a revolução moçambicana, criando, atráves da setima arte, uma sociedade nova, mais igualitária. As narrativas principais de sua produção versão sobre o pós-revolução, e sobre a guerra civil que assolou o país entre 1977 e 1992.[6]

Obra[editar | editar código-fonte]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Ano Filme
1988 A Colheita Do Diabo
1990 Marracuene
1992 Adeus RDA
1994 A Árvore dos Antepassados
1996 A Guerra da Água
1997 Tchuma Tchato
1998 Massassane
1999 A Última Prostituta
2000 Histórias Comunitárias
2001 A Ponte
2002 Eclipse
2002 Desobediência
2003 Mãos de Barro
2005 Acampamento de Desminagem
2006 O Grande Bazar
2007 Hóspedes da Noite
2010 A Ilha dos Espíritos
2012 Virgem Margarida
2016 Comboio de Sal e Açúcar

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Diário da libertação (1977). Tratando da guerra anti-colonial em Guiné-Bissau, coescrito com Maria da Paz Rodrigues.[7][3]
  • Moçambique - com os mirages sul-africanos a quatro minutos (1980), que serviu de base para diversos documentários.[3]
  • Relatos de um povo armado (1982), abordando episódios da guerra pela independência de Moçambique, servindo de base para o roteiro de O tempo dos leopardos (1985), primeiro longa-metragem de ficção moçambicano, dirigido pelo iugoslavo Zdravko Velimirovic.[7][3]
  • Coração Forte (1995), livro de contos.[8]
  • Comboio de sal e açúcar (1997), romance que tornou filme gravado por ele mesmo. O filme tornou-se a primeira produção moçambicana indicada ao oscar.[9]

Prêmios e honrarias[editar | editar código-fonte]

Foi um dos ganhadores do prêmio brasileiro Wladimir Herzog, para obras relacionadas com os Direitos Humanos, em 1980, com a reportagem “Valeu a pena voltar?”, publicada no Coojornal, de Porto Alegre.[2][4]

Em 1999, recebeu o prêmio da FUNDAC (Fundo para o Desenvolvimento da Arte e Comunicação) pelo conjunto de sua obra. Licínio é o único cineasta vencedor por três vezes do FIPA (Festival Internacional de Produções Audiovisuais), de Biarritz, o mais importante evento europeu de obras para televisão: duas vezes o troféu de prata para filmes de ficção e uma vez o de ouro para grandes reportagens.[2]

Em 2015, foi homenageado pela cinemateca portuguesa com o ciclo O Espírito do lugar: Licínio Azevedo, cineasta de Moçambique. Também recebeu uma incensada retrospectiva do seu trabalho na Alemanha, no 39 Französiche Filmtage.[2] Em 2022 foi novamente homenageado, desta vez em uma cinemataca patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, a Licínio Azevedo - Um Gaúcho em Moçambique.[10]

Seu longa Comboio de sal e açúcar foi escolhido para representar Moçambique na categoria de melhor filme estrangeiro para a cerimônia do Oscar de 2018, sendo a primeira vez que um filme moçambicano foi submetido ao Academy Award.[2][9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Licínio Azevedo: "Eu não faço filmes políticos. Não tenho culpa se tudo é político"». Diário de Notícias. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  2. a b c d e f g h i «Licínio Azevedo, um gaúcho filmando na África - Entrevista». Matinal. 26 de novembro de 2022. Consultado em 14 de fevereiro de 2024 
  3. a b c d e f França, Alex Santana (10 de março de 2020). «"Voltam os que não morreram, vão embora os que aqui ficaram. Ai, esta dança, minha mãe, até as crianças dançam?": experiências migratórias e diaspóricas na trajetória pessoal e na obra de Licínio Azevedo». Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  4. a b c d França, Alex Santana (21 de dezembro de 2017). «A Produção Documentarista de Licínio Azevedo: Imagens, Discursos e Narrativas Moçambicanas do Pós-independência». Revista Mulemba (17): 99–111. ISSN 2176-381X. doi:10.35520/mulemba.2017.v9n17a14600. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  5. «Reportagem - Licínio Azevedo, o realizador que coloca Moçambique nos ecrãs do Mundo». RFI. 4 de novembro de 2022. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  6. Pereira, Ana Cristina; Cabecinhas, Rosa (24 de novembro de 2016). «"Um país sem imagem é um país sem memória…" – Entrevista com Licinio Azevedo». Estudos Ibero-Americanos (3). 1026 páginas. ISSN 1980-864X. doi:10.15448/1980-864x.2016.3.22989. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  7. a b Queiroz, Ruben Caixeta de (25 de outubro de 1999). «Licínio Azevedo: a fantástica realidade africana». Sinopse (São Paulo) (3): 40–41. ISSN 1807-8907. doi:10.11606/issn.1807-8907.v1i3p40-41. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  8. «Coração Forte - Licínio Azevedo - Traça Livraria e Sebo». www.traca.com.br. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  9. a b «Licínio Azevedo: "Eu não faço filmes políticos. Não tenho culpa se tudo é político"». Diário de Notícias. Consultado em 15 de fevereiro de 2024 
  10. «Cinemateca Paulo Amorim apresenta a mostra». Secretaria da Cultura. 29 de novembro de 2022. Consultado em 15 de fevereiro de 2024