Língua enoquiana

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Enoquiano é um nome relacionado a língua angélica, tendo sido criado por John Dee e seu assistente Edward Kelley no final do século XVI. Segundo Dee, essa língua teria sido revelada por anjos. Alguns praticantes conteporâneos de magia, como Aleister Crowley consideram o enoquiano uma língua útil para ser usado em rituais mágicos, enquanto outros afirmam ser ela apenas mais uma língua artificial, pobre imitação de línguas antigas com semelhanças com a gramática inglesa.

John Dee.

A língua angélica revelada para Dee e Kelley é limitada por pequenos fragmentos de textos, alguns deles com traduções para o Inglês. Entrementes, alguns linguistas, como Donald Laycock, estudaram enoquiano, e afirmaram que não existe nada de excepcional em sua construção.

As anotações de Dee não descreviam a língua como "Enochian", tendo preferido usar "Angelical", "Celestial Speech", "Language of Angels", "First Language of God-Christ", "Holy Language", ou "Adamic language" pois, de acordo com os anjos que visitaram Dee, essa língua foi usada por Adão no paraíso para nomear as coisas. O termo "Enochian" advém da notação de Dee que o patriarca bíblico Enoque, ancestral de Noé foi o último humano antes dele (Dee e Kelley) à conhecer a língua. [carece de fontes?]

Anjos

De acordo com Tobias Churton em seu livro The Golden Builders,[1] o conceito de uma língua angélica era comum na época de Dee. Acreditava-se que se alguém pudesse interagir com anjos, falaria em uma língua divina.

Em 1581, Dee mencionou em seus diários que Deus havia enviado "anjos bons" para se comunicarem diretamente com profetas.Em 1582, Dee se juntou com o vidente Edward Kelley, embora tenha se juntado com muitos anteriormente.[2] Com a ajuda de Kelley como paranormal, Dee começou a tentar estabelecer contato com os anjos, que resultou, entre outras coisas, no desenvolvimento da língua angélica ou enoquiana.

Edward Kelley.

Em suas anotações,[3] Dee dizia que a língua era angelical pois teria sido através dela que Deus teria criado o mundo, língua essa que depois teria sido usado por Adão para se comunicar com o criador.

Apos sua expulsão do paraíso, Adão teria perdido a linguagem tendo construído uma língua básica, um proto- hebreu, sendo sua gramática uma vaga lembrança da língua santa. Esse proto-hebreu, depois se tornou a língua universal, até que as línguas se separaram na Torre de Babel.

Após isso, diversas línguas humanas se desenvolveram, incluindo uma versão avançada do hebreu (no caso, o “hebreu bíblico"). Do período de Adão para Dee e Kelley, a língua teria sido escondida dos homens, tendo sua única exceção o patriarca Enoque que, de acordo com os anjos, teria escrito o "Book of Loagaeth" (Discurso de Deus) para a humanidade. O livro teria se perdido no grande dilúvio de Noé.

Lista simplificada do alfabeto Enochiano.

A recepção da língua enoquiana teria se iniciado em 26 de março de 1583, quando Kelley relatou visões em objetos mágicos de 21 letras do alfabeto de uma língua.

Alguns dias depois, Kelley começou a receber o que se tornaram os primeiros textos escritos na língua. Isso resultou no Liber Loagaeth (“Livro [ou] Fala de Deus”).[4]

Os outros textos da língua foram recebidos por Kelley cerca de um ano depois, na Cracóvia. Esses foram os mais importantes desde que os dois começaram a traduzir para o inglês, pois proveram a base do vocabulário enoquiano. Os textos se organizavam em 48 versos poéticos, que Dee chama em seus diários de “Claves Angelicae”, ou “Angelic Keys” (Chaves Angélicas). Essas chaves estão relacionadas com o sistema mágico. Dee aparentemente as estava usando para "abrir os 49 Portões do conhecimento /Entendimento" representado pelos 49 quadrados mágicos no Liber Loagaeth'‘.[5]

Embora estes textos contenham a maior parte do vocabulário, dezenas de palavras novas são encontradas escondidas em periódicos de Dee, e milhares de palavras indefinidas estão contidos no ‘’Loagaeth Liber’’. Foram marcadas diversas diferenças estilísticas entre as palavras de Loagaeth e nas chaves originais, o que levou utilizadores atuais da língua acreditarem na existência de “dialetos” enoquianos. [carece de fontes?].

Críticas

Muitos investigadores científicos têm apontado diversas discrepâncias entre os dois textos revelados à Dee, afirmando que a língua enoquiana não é uma língua muito consistente.[6] Desde o inicio foi notado, especialmente pelo linguista australiano Donald Laycock, que os textos no Loagaeth apresentam características fonéticas que não aparecem em línguas naturais.[7] Em vez disso, os vocabulários apresentam casos geralmente encontrados em glossolalias, sugerindo que Kelley tenha produzido o vocabulário "falando em línguas."

Kelley e Dee invocando os mortos, por Ebenezer Sibley.

Com base nas análises linguísticas de Laycock, céticos afirmam que existem diversos problemas que não tornam a língua enoquiana uma língua natural. É observado que a sintaxe da língua é quase idêntica a do Inglês.[8] Existe ainda, uma clara evidência que a conjugação dos verbos possui uma reminiscência do Inglês, assim como uma mistura de línguas semíticas como o hebreu ou a língua árabe, que Dee afirmou serem baseadas na língua angélica.[9] Essas e outras questões fazem da língua enoquiana menos misteriosa do que alguns praticantes de magia e bruxaria.

Enoquiano na cultura popular

Satanismo

Anton LaVey incluiu dezenove chaves enoquianas na tradução para o Inglês do seu The Satanic Bible, um manual para satanistas escrito em 1969.

Novelas

Cotten Stone, dos romances de mistério, escrito por Lynn Sholes e Joe Moore, podem falar em Enochian por que ela é filha de Furmiel, um anjo caído. No romance de John Connolly, The Lovers, os dois anjos maus Anmael e Semjaza, possuem uma letra em tatuagem feita à fogo nos braços, (Un para Anmael e Fam para Semjaza). Cada um deles deixa a letra no corpo ou perto de suas vitimas. Nas séries Discworld, de Terry Pratchetts, a língua enoquiana é usada como linguagem dos Golems. Nos livros da série The Laundry, de Charles Stross, a língua enoquiana é usada como invocador para magias.

Televisão

Na televisão, no episódio dos Simpsons chamado Sideshow Bob Roberts, uma festa republicana é satirizada quando os convidados se cumprimentam usando uma frase enoquiana. Na quinta temporada de Angel, o vilão Lindsey McDonald possui símbolos enoquianos tatuados em seu corpo, que o permite evitar qualquer visão de seu paradeiro sem ser por olho nu, incluindo os poderes dos Senior Partners. Na mesma temporada, sua namorada (Angel) se esconde em uma casa com os mesmos símbolos tatuados nas costas.No filme Legião (filme) lançado em 2010, as tatuagens do corpo de Michael, depois no corpo do personagem Jeep, são enoquianos.[10] Na série de TV americana Supernatural, a partir de sua quarta temporada pode-se ver várias cenas em que Lingua Enoquiana é utilizada, escrita ou falada.

Heavy metal

No terceiro álbum da banda Tool, Lateralus, a décima terceira e última música se chama "Faaip de Oiad", que significa "Voz de Deus" em enoquiano. A banda finlandesa de black metal Enochian Crescent, tem forte influência da língua angélica. A banda americana Acheron utilizou um trecho da 5ª Chave Enoquiana contida no livro The Satanic Bible, de LaVey, como letra para a música "The Enochian Key". Já a banda sueca de metal sinfônico Therion usou a palavra "dragão" em enoquiano ("Vovin") como título de seu álbum de 1998.

Therion em show realizado na Polônia.

Games

Nos jogos da Platinum Games: Bayonetta e Bayonetta 2 , invocações e as falas de anjos e demônios são reproduzidas em Linguagem Enoquiana.[11]

O jogo Uncharted 3: Drake's Deception, lançado em novembro de 2011 para a PlayStation 3, também faz referência ao enoquiano.

Ver também

Referências

  1. Churton, Tobias (2002). The Golden Builders. [S.l.]: Signal Publishing. ISBN 0-9543309-0-0 
  2. Deborah Harkness, John Dee's Conversations with Angels, 16-17.
  3. Now in various collections of the British Library. See especially Sloane MSS 3188, 3189 and 3191, and Cotton Appendix XLVI. All the above are available in digital scans at : http://www.themagickalreview.org/enochian/mss/.
  4. This book is now in the British Library, MS Sloane 3189.
  5. The angel Nalvage, cited in Casaubon ed., A True and Faithful Relation…, p. 77
  6. See Donald Laycock, "Enochian: Angelic language or mortal folly?", 19-64 in The Complete Enochian Dictionary.
  7. Laycock, "Enochian: Angelic language or mortal folly?", p.33.
  8. Laycock, p. 43.
  9. Ibid.
  10. [1]
  11. «Butmoni Coronzon (From the Mouth of the Witch) « PlatinumGames Inc». Platinumgames.com. 11 de dezembro de 2009. Consultado em 2 de agosto de 2010 

Ligações externas