Lorna Wing

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Lorna Wing
Nascimento 7 de outubro de 1928
Morte 6 de junho de 2014
Nacionalidade Reino Unido britânica
Ocupação médica psiquiatra

Lorna Wing OBE FRCPsych (7 de outubro de 1928 - 6 de junho de 2014)foi um psiquiatra inglês. Ela foi uma pioneira no campo dos transtornos do desenvolvimento infantil, que avançou a compreensão do autismo em todo o mundo, introduziu o termo síndrome de Asperger em 1976[1] e esteve envolvida na fundação da National Autistic Society (NAS) no Reino Unido.

Pesquisas[editar | editar código-fonte]

Como consequência de ter uma filha autista, a Drª Wing envolveu-se em pesquisas sobre distúrbios do desenvolvimento, particularmente as relacionados às condições do espectro autista. Junto a outros pais de crianças autistas, fundou a National Autistic Society (NAS) no Reino Unido, em 1962.[2]

Quando sua filha nasceu, na década de 50, a visão dominante sobre o problema do autismo era sob o prisma psicanalítico, o que envolvia a análise primacial do tratamento dado pelos pais à criança. Essa visão costuma ser tributada aos estudos feitos por Leo Kanner, pois em seus textos sobre 11 crianças autistas ele chega a questionar o papel dos pais na produção do quadro evasivo no desenvolvimento daqueles pacientes, mas foi apenas com os escritos trabalhos de Bruno Bettelheim que a ideia das "mães geladairas" teve infeliz aceitação. Mais tarde, essa visão foi sendo transformada, passando a sugerir influência da genética no desenvolvimento do cérebro. Foi então que a Drª Wing juntou-se a Judith Gould e ambas fizeram um estudo no bairro londrino de Camberwell. Nesse estudo, descobriram que as crianças analisadas possuíam elementos comuns nos vários distúrbios, e um deles era a dificuldade de relacionamento social. Segundo Wing, o autista carece da capacidade imaginativa, que é aquela que nos permite enfrentar as situações da vida. E, ainda, a presença de grande dificuldade de comunicação – caracteres que ela denominou de tríade.[2]

No diagnóstico dos casos de autismo usa-se da análise dos três déficits existentes, conhecidos por “Tríade de Wing”, em homenagem à sua proponente, que dizem respeito às dificuldades que os autistas têm nas áreas de imaginação, socialização e de comunicação. Por esse prisma, o número de crianças diagnosticadas com autismo, que no Reino Unido é de 4 ou 5 por 10 mil, passa a ser de 15 a 20, quando relacionado à tríade. Também concluiu que a condição ocorre quatro vezes mais em meninos que em meninas e que nestas o quadro tende a ser mais severo.[3]

Embora bastante embasado e influente, a própria autora acautelou, em seu trabalho de 1981, que: "(...)deve ser mostrado que todas as pessoas descritas pelo autor citado possuíam problemas de ajustamento ou tiveram desajustes psiquiátricos severos posteriores suficientes que levaram à indicação de tratamento psiquiátrico... (e) os casos descritos aqui são provavelmente parciais nestes casos mais severos."[4]

Graças aos seus estudos, criou parâmetros para a diagnose do autismo, com a proposição de 6 pontos básicos:

  1. Verbalização correta, mas estereotipada e pedante;
  2. Comunicação não-verbal caracterizada por gestos socialmente convencionados como inadequados, voz sem entonação e poucas expressões faciais;
  3. Ausência de manifestações convencionais de empatia;
  4. Prefere a repetição, aversão às mudanças;
  5. Deficiências de coordenação motora, como postura e movimentos;
  6. Boa memória mecânica e limitados interesses especiais.[5]

Morando em Sussex, após sua aposentadoria oficial, trabalhou meio expediente como consultora psiquiátrica no Centro para Transtornos Sociais e Comunicativos (Centre for Social and Communication Disorders) no Elliot House, da NAS.[6]

A entidade batizou o centro de autismo com o nome da Drª Wing - NAS Lorna Wing Centre for Autism, que é o primeiro no Reino Unido a tratar do diagnóstico, avaliação e serviço de aconselhamento para crianças, adolescentes e adultos autistas.[7]

Estudos publicados[editar | editar código-fonte]

Foi autora de muitos livros e trabalhos acadêmicos, dos quais se destaca o Asperger's Syndrome: a Clinical Account, estudo publicado em 1981 que popularizou as pesquisas feitas por Hans Asperger e introduziu o termo Síndrome de Asperger no vocabulário médico.[5][8]

Todos os trabalhos em inglês:

  • Wing, L. & Gould, J. (1979), "Severe Impairments of Social Interaction and Associated Abnormalities in Children: Epidemiology and Classification", Journal of Autism and Developmental Disorders, 9, pp. 11–29.
  • Wing, L. (1980). "Childhood Autism and Social Class: a Question of Selection?", British Journal of Psychiatry, 137, pp. 410–417.
  • Wing L (1981). «Asperger syndrome: a clinical account». Psychol Med. 11 (1): 115–29. PMID 7208735. Consultado em 29 de dezembro de 2007 
  • Burgoine, E. & Wing, L. (1983), "Identical triplets with Asperger's Syndrome", British Journal of Psychiatry, 143, pp. 261–265.
  • Wing, L. and Attwood, A. (1987), "Syndromes of Autism and Atypical Development", in Cohen, D. & Donnellan, A. (eds.), Handbook of Autism and Pervasive Disorders, New York, John Wiley & Sons.
  • Wing, L. (1991), "The Relationship Between Asperger's Syndrome and Kanner's Autism", in Frith, U. (ed.), Autism and Asperger Syndrome, Cambridge, Cambridge University Press.
  • Wing, L. (1992), "Manifestations of Social Problems in High Functioning Autistic People", in Schopler, E. & Mesibov, G. (eds.), High Functioning Individuals with Autism, New York, Plenum Press.
  • Wing L, Potter D (2002). «The epidemiology of autistic spectrum disorders: is the prevalence rising?». Ment Retard Dev Disabil Res Rev. 8 (3): 151–61. PMID 12216059. doi:10.1002/mrdd.10029 

Livros[editar | editar código-fonte]

  • 1964, Autistic Children
  • 1966, Physiological Measures, Sedative Drugs and Morbid Anxiety, com M.H. Lader
  • 1969, Children Apart: Autistic Children and Their Families
  • 1969, Teaching Autitistic Children: Guidelines for Teachers
  • 1971, Autistic Children: a Guide for Parents
  • 1975, Early Childhood Autism: Clinical, Educational and Social Aspects (editora)
  • 1975, What is Operant Conditioning?
  • 1988, Aspects of Autism: Biological Research (editora)
  • 1989, Hospital Closure and the Resettlement of Residents: Case of Darenth Park Mental Handicap Hospital
  • 1995, Autistic Spectrum Disorders: an Aid to Diagnosis
  • 1996, The Autistic Spectrum: a Guide for Parents and Professionals (ISBN 978 1 84119 674 9)
  • 2002, Smiling at Shadows: a Mother's Journey Raising an Autistic Child (com Junee Waites, Helen Swinbourne).

Notas e referências

  1. Cole, Carolyn (24 de janeiro de 2018). «What is Asperger's Syndrome». Guiding Pathways (em inglês). Consultado em 21 de setembro de 2023 
  2. a b Entrevista Arquivado em 20 de janeiro de 2009, no Wayback Machine., página acessada em novembro de 2008 (em inglês)
  3. Um Olhar para o Autismo[ligação inativa], FREITAS, Thaís Gil de. ZULLAN, Maria Aparecida R. (página acessada em dezembro de 2008)
  4. Livre tradução para: "It must be pointed out that the people described by the present author all had problems of adjustment or superimposed psychiatric illnesses severe enough to necessitate referral to a psychiatric clinic ... (and) the series described here is probably biased towards those with more severe handicaps."
  5. a b Federação Portuguesa de Autismo Arquivado em 4 de dezembro de 2008, no Wayback Machine., página acessada em dezembro de 2008
  6. Institucional, resumo biográfico; sítio oficial da NAS (acessado em dezembro de 2008)(em inglês)
  7. Institucional, Centro Lorna Wing de Autismo da NAS, página oficial (acesso em dezembro de 2008) (em inglês)
  8. Estudios de la Sindrome Asperger, página acessada em dezembro de 2008 (em castelhano)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]