Luso (mitologia)

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2
Este que vês é Luso, donde a fama
O nosso Reino Lusitânia chama.

3
"Foi filho e companheiro do Tebano,
Que tão diversas partes conquistou;
Parece vindo ter ao ninho Hispano
Seguindo as armas, que contino usou;
Do Douro o Guadiana o campo ufano,
Já dito Elísio, tanto o contentou,
Que ali quis dar aos já cansados ossos
Eterna sepultura, e nome aos nossos.

4
"O ramo que lhe vês para divisa,
O verde tirso foi de Baco usado;
O qual à nossa idade amostra e avisa
Que foi seu companheiro e filho amado.”

Luso é o suposto filho ou companheiro de Baco, o deus romano do vinho e do furor, a quem a mitologia romana terá atribuído a fundação da Lusitânia, as actuais terras de Portugal e da Estremadura espanhola.

História[editar | editar código-fonte]

Com a conquista da Península Ibérica pelo Império Romano, a região da Lusitânia foi convertida numa província romana, correspondendo aproximadamente à área actual de Portugal a sul do rio Douro e à província espanhola da Estremadura.

Capa de Naturalis Historia de Plínio, o Velho, a obra que terá involuntariamente sido a origem do personagem mitológico Luso

No entanto, não há registros históricos do epónimo Luso ou Lusus entre os povos locais da época, celtas e iberos. O nome latino Lusitânia ter-lhe-á sido atribuído por causa dos seus habitantes, as tribos guerreiras de lusitanos (lusitani), que formavam bandos de elementos de várias tribos para resistir ao domínio romano. De entre os seus líderes destacaram-se Viriato (assassinado em 139 a.C.) e o romano Sertório (também assassinado, em 72 a.C.) sob cujo comando os lusitanos se colocaram.

Mitologia[editar | editar código-fonte]

Actualmente pensa-se que a suposta existência do personagem mitológico Luso deriva de um erro de tradução da expressão «lusum enim Liberi patris», na obra Naturalis Historia de Plínio, o Velho. O erro terá sido a interpretação da palavra lusum ou lusus como nome próprio, em vez de um simples substantivo que significa jogo.

Numa tradução livre desta obra: «M. Varro informa-nos que (...) o nome "Lusitânia" deriva dos jogos (lusus) do Padre Baco, ou da fúria (lyssa) dos seus acólitos frenéticos, e que era o governador de toda a região. Mas as tradições respeitantes a Hércules e Pirene, bem como Saturno, parecem-me absolutas fábulas.» [1]

Isto teria sido lido por André de Resende como «(...) o nome "Lusitânia" deriva de Luso do Padre (mestre ou pai) Baco (...)», e portanto foi interpretado que Luso seria um companheiro ou um filho do furioso deus. É esta a leitura que se vê na estrofe 21 do Canto III d'Os Lusíadas de Camões.

Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros.”

Segundo a mitologia romana, Baco teria sido o conquistador da região. Plutarco, segundo o 12.º livro da Iberica do autor espanhol Sóstenes[2], diz que:

«Depois de Baco ter conquistado a Ibéria, deixou a governar como seu representante, que deu o seu nome à região, chamando-a de Pania, que por corruptela se tornou em Hispânia.»

A expressão grega lyssa significará "fúria frenética" ou "loucura", típicas de Baco/Dioniso. No entanto, estas etimologias parecem ser pouco confiáveis.[1]

Existe também a probabilidade, mais plausível, de que o deus Luso seja resultado da interpretatio romana e que o verdadeiro deus venerado pelos lusitanos seria o deus celta Lugh, posteriormente transformado em Luso pelos romanos.

Luso, gravura numa edição d'Os Lusíadas de 1880.

Em Portugal[editar | editar código-fonte]

Na obra Os Lusíadas de Luís de Camões (impressa em 1572), Luso foi o progenitor da tribo dos lusitanos e o fundador da Lusitânia [3]. Os portugueses do século XVI buscaram olhar para o passado anterior ao domínio mouro e visigodo para encontrar as origens da nacionalidade. Os visigodos também não seriam os antepassados ideais, devido ao arianismo herético que professavam. Assim olhou-se para a mais alta cultura de Roma, origem de um catolicismo puro, e para o povo que habitava o território de Portugal antes e durante o domínio deste império.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências