Galego-português

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Galego-português
Falado(a) em:
Região:
Total de falantes:
Família: Indo-europeia
 Itálica
  Românica
   Ocidental
    Galo-ibérica
     Ibero-românica
      Ibero-ocidental
       Galego-português
Escrita: Alfabeto latino
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---

O galego-português (também chamado de galaico-português, proto-galego-português, português antigo, português arcaico, galego antigo, galego arcaico) foi a língua falada durante a Idade Média nas regiões de Portugal e da Galiza; dela descendem as atuais línguas portuguesa e galega. Assim, o galego-português é o idioma ancestral comum às línguas galaico-portuguesas.

A língua considera-se formada no século VIII, principalmente como desenvolvimento do latim vulgar falado pelos conquistadores romanos a partir do século II d.C. No seu momento, foi língua culta fora dos reinos da Galiza e de Portugal, nos reinos vizinhos de Leão e Castela. Assim, o rei castelhano Afonso X o Sábio escreveu as suas Cantigas de Santa Maria em galego-português. A sua importância foi tal que é considerada a segunda literatura mais importante durante a Idade Média europeia, só perdendo para o occitano.

O documento da lírica galego-portuguesa mais antigo parece ser a cantiga satírica "Ora faz ost'o senhor de Navarra" de João Soares de Paiva, datado de 1196 por alguns.

As recompilações líricas medievais galego-portuguesas mais importantes são:

Documentos mais antigos em galego-português

Embora os documentos escritos em latim no noroeste da península Ibérica, como é exemplo a "Carta de Fundação da Igreja de Lardosa" (882 a.D), anunciem já formas da língua vulgar falada na região[1], o galego-português surge apenas entre os anos de 1170 e 1255, sobretudo em documentos de menor importância com palavras ou frases em romance inseridas num latim de pouca qualidade[2] (com a notável exceção do Testamento de Afonso II). Este conjunto de escassos documentos recebe o nome de "Produção Primitiva"[2]:

Nome Datação Título Descrição
"Doação à Igreja de Souselo" 870 d.C.[3] O mais antigo texto latino-português[carece de fontes?] Cópia do séc. XI escrita em letra visigótica de transição[carece de fontes?]
"Carta de Fundação da Igreja de Lardosa"[1] 882 d.C.[1] O mais antigo documento original latino-português[1] Escrita em letra visigótica cursiva
"A Notícia de fiadores" 1175[4] Possivelmente o mais antigo documento escrito em galego-português[5] Pequena lista de nomes que termina com uma frase que apresenta sintaxe e morfologia portuguesas: "Istos fiadores atan .v. annos que se partia de isto male que li avem."[6]
"Pacto dos irmãos Pais" c. 1175[7] Possivelmente o mais antigo documento escrito em galego-português[7][5] É apenas datável criticamente[8][7]
"Ora faz host'o senhor de Navarra" c. 1196[9] O mais antigo texto lírico escrito em galego-português que é possível datar[9] Presente nos Cancioneiro da Biblioteca Nacional e da Vaticana[9]
"Testamento de Afonso II" 1214[10] O mais antigo documento régio em galego-português[11] Frequentemente celebrado como o primeiro documento escrito em português[11] [sic]
"Notícia de Torto" 1214-1216[12] O mais antigo documento notarial particular escrito em galego-português[12] Longa narrativa dos agravos que Lourenço Fernandes da Cunha sofreu às mãos de outros senhores[12]
"Foro do bõ burgo de Castro Caldelas" 1228[2] O mais antigo documento em galego-português escrito na Galiza[2] Outorgado por Afonso IX em abril de 1228 ao município de Alhariz (Galiza, Espanha)[2]
Mapa cronológico mostrando o desenvolvimento das línguas do sudoeste da Europa entre as quais o galego-português.

Todos os documentos referidos estão conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa, com excepção do testemunho toledano do testamento régio de 1214, conservado no Arquivo da Sé de Toledo e do "Foro do bõ burgo de Castro Caldelas" no Arquivo dos Duques de Alba.

O polémico título de documento mais antigo em galego-português é disputado na atualidade pela "Notícia de Fiadores" (1175) e pelo "Pacto dos irmãos Pais" (possivelmente anterior a 1175)[5].

O galego-português, comum à Galiza e a Portugal, teve séculos de existência plena como língua nativa de uma comunidade linguística do noroeste peninsular, mas as derrotas que os nobres galegos sofreram no final do século XIV e princípios do século XV, provocaram a assimilação da nobreza galega e a dominação castelhana, levando ao desaparecimento público, oficial, literário e religioso do galego como língua de cultura até o final do século XIX. São os chamados "Séculos Escuros". O português, por seu lado desenvolveu-se livremente na sua deriva própria, pelo facto de Portugal ter sido o único território peninsular que ficou fora do domínio político do Reino de Leão e Castela e do domínio linguístico do castelhano.

Tradição oral na cultura galego-portuguesa

O património cultural imaterial galego-português está presente nas tradições orais populares e é hoje um património em perigo de extinção, o que levou à sua candidatura conjunta pelos governos de Portugal e de Espanha à "Masterpiece of Oral and Intangible Heritage of Humanity" em 2005.

O folclore galego-português é rico em tradições orais; estas incluem as “cantigas ao desafio” ou “regueifas”, mitos e lendas, cantigas, ditados e lengalengas, além dos falares que retêm uma semelhança ao nível morfológico e sintáctico, no léxico e na fonética. A tradição oral está ligada a diversas actividades tradicionais que se transmitem oralmente, como as celebrações das festas populares tais como o entrudo, o magusto, as festas da coca, o São João, as festas marítimas, romarias, música e danças populares. Nos ofícios, como as actividades piscatórias, a agricultura e o artesanato, além de serem actividades que são transmitidas de geração em geração de forma verbal, cada actividade usa de um vocabulário específico. Também nos costumes, nos falares, nos bailes, nos rituais, na medicina tradicional e na farmacêutica popular, nas artes culinárias, nas superstições e crendices, existe todo um conhecimento que é transmitido oralmente.

Imagem da árvore genealógica da língua portuguesa e da sua ramificação Galego e Português.[13]

Controvérsia

Galego-português é um termo envolvido numa controvérsia, na qual participam os círculos académicos oficiais galegos e os grupos minoritários reintegracionistas galegos, que designam aos primeiros como isolacionistas. Os reintegracionistas defendem a existência, ainda na atualidade, de uma única língua românica que, segundo eles, na península Ibérica recebe os nomes de galego ou português.

Referências

  1. a b c d António Emiliano (outubro de 1998). "O mais antigo documento latino-português (882 a. D.) - edição e estudo grafémico" (Português). Universidade Nova de Lisboa.
  2. a b c d e Henrique Monteagudo. "O Foro do Bo Burgo do Castro Caldelas, dado por Afonso IX en 1228" (pdf) (Galego). Consello da Cultura Galega.
  3. Torre do Tombo. «Carta de Doação feita por Castemiro e sua mulher Astrilli...». Projeto TT Online. Consultado em 30 de julho de 2015 
  4. Torre do Tombo. «Documentos relativos a Soeiro Pais (...) E Notícia de Fiadores». Projeto TT Online. Consultado em 30 de julho de 2015 
  5. a b c Agência Estado (29 de maio de 2002). «Professor encontra primeiro texto escrito em português». São Paulo. Estadão 
  6. Ministério da Educação (setembro de 2007). «Revisão da Terminologia linguística para os Ensinos Básico e Secundário» (PDF). Consultado em 30 de julho de 2015 
  7. a b c Queirós, Luís Miguel (maio de 2002). «Descoberto o mais antigo texto escrito em galego-português». Público 
  8. i.e., por conjectura
  9. a b c Graça Videira Lopes; Pedro Manuel Ferreira (2011-). «Ora faz host'o senhor de Navarra». Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Consultado em 30 de julho de 2015  Verifique data em: |data= (ajuda)
  10. Torre do Tombo. «Testamento de D. Afonso II». Projeto TT Online. Consultado em 30 de julho de 2015 
  11. a b José Ribeiro e Castro (2014). «Língua portuguesa: porquê 27 de Junho?». Consultado em 23 de junho de 2013 
  12. a b c Torre do Tombo. «"Notícia de Torto"». Projeto TT Online. Consultado em 30 de julho de 2015 
  13. Árvore genealógica da língua portuguesa Instituto Camões - Setembro 2011

Ver também

Ligações externas

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