Línguas celtas

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Línguas celtas descendem do proto-celta, ou "celta comum", um ramo da superfamília das línguas indo-europeias. O termo "celta" foi usado para descrever esse grupo de línguas por Edward Lhuyd em 1707, tendo sido usado muito antes por escritores gregos e romanos para descrever algumas tribos da Gália central e da península Ibérica. Durante o primeiro milênio a.C., essas línguas eram faladas na Europa, do golfo da Biscaia e do mar do Norte, na região do Reno e do Danúbio até o mar Negro e a península Balcânica Superior, chegando até a Ásia Menor (Galácia). Atualmente, as línguas celtas estão limitadas a algumas áreas na Grã-Bretanha, Ilha de Man, Irlanda, Ilha Cape Breton, Patagônia e na península da Bretanha na França. A difusão para a Ilha Cape Breton e a Patagônia ocorreu nos tempos modernos. Em todas essas áreas, as línguas celtas são faladas agora apenas por minorias.

Divisões

O proto-celta aparentemente se dividia em seis subfamílias:

  • O lusitano, também um idioma celta, está extinto. O foco linguístico do português provém do latim vulgar, e as línguas celtas galaico e lusitano, com pequenas influências árabes e outros. Isso explica a fonética e a pronunciação "diferenciadas" do português perante as outras línguas românicas.

O tratamento acadêmico das línguas celtas tem sido bastante argumentativo devido à falta de muitos dados de fontes primárias. Alguns estudiosos distinguem o celta continental e o celta insular, argumentando que as diferenças entre as línguas goidélicas e britônicas surgiram depois que essas se separaram das línguas celtas continentais. Outros estudiosos distinguem o celta-P do celta-Q, colocando a maioria das línguas celtas continentais no primeiro grupo (exceto pela celtibérica, que é celta-Q).

A língua bretã é britônica, não gaulesa, embora possa haver influência desta. Quando os anglo-saxões chegaram na Grã-Bretanha, várias ondas dos bretões ou galeses cruzaram o Canal da Mancha e desembarcaram na Bretanha. Eles levaram consigo sua língua britônica, que evoluiu para o bretão – que ainda é parcialmente inteligível com o galês moderno e o córnico.

No sistema de classificação P/Q, a primeira língua a se separar do proto-celta foi a gaélica. Ela possui características que alguns estudiosos vêem como arcaicas, mas outros também a vêem como pertencente às línguas britônicas (ver Schmidt). Com o sistema de classificação insulares/continentais, a divisão da primeira em gaélicas e britônicas é vista como sendo posterior.

A distinção do celta nessas quatro subfamílias ocorreu muito provavelmente por volta de 900 a.C., de acordo com Gray e Atkinson, mas, por causa de incertezas de estimativas, poderia ser qualquer época entre 1200 e 800 a.C. Contudo, eles levaram em consideração apenas a gaélica e a britônica. O artigo controverso de Forster e Toth incluiu a gaulesa e estabeleceu a ruptura muito antes, em 3200 a.C. Eles apóiam a hipótese celta insular. Os primeiros celtas geralmente eram associados arqueologicamente com a cultura dos Campos de Urnas, a cultura de Hallstatt e a cultura de La Tène, embora a antiga suposição de associação entre língua e cultura seja agora considerada menos forte.

Classificações

As nações celtas nas quais a maioria dos falantes de línguas celtas se concentram atualmente.

Há dois sistemas concorrentes principais de categorização. O sistema mais antigo, sustentado por Schmidt (1988), entre outros, liga a gaulesa com a britônica em um nó celta-P, originalmente deixando apenas a goidélica como celta-Q. A diferença entre línguas P e Q é o tratamento do *kw proto-celta, que se tornou *p nas línguas celtas-P mas *k nas goidélicas. Um exemplo é a raiz verbal proto-celta *kwrin- "comprar", que se tornou pryn- em galês, mas cren- em irlandês antigo. Entretanto, uma classificação baseada em uma única característica é vista como arriscadas por seus críticos, particularmente porque a mudança sonora ocorre em outros grupos lingüísticos (osco e grego).

O outro sistema, defendido, por exemplo, por McCone (1996), liga a goidélica e a britônica como um ramo celta insular, enquanto a gaulesa e a celtibérica são referidas como celtas continentais. De acordo com essa teoria, a mudança sonora "celta-P" de [kʷ] para [p] ocorreu de maneira independente ou arealmente. Os defensores da hipótese celta insular apontam para outra inovações compartilhadas entre as línguas celtas insulares, incluindo preposições não-flexionadas, ordem sintática VSO e a lenição de [m] intervocálico para [β̃], uma fricativa bilabial sonora nasalizada (um som extremamente raro). Porém, não se supõe que as línguas celtas continentais descendam de uma ancestral "proto-celta continental" comum. O sistema insular/continental, por sua vez, geralmente considera o celtibérico como o primeiro ramo a se separar do proto-celta, e o grupo restante posterioramente teria se dividido em gaulês e celta insular.

Há argumentos acadêmicos legítimos em favor tanto da hipótese celta insular como da hipótese celta-P/celta-Q. Os defensores de cada sistema contestam a precisão e a utilidade das categorias do outro. Porém, desde a década de 1970 a divisão em celta insular e continental se tornou a mais amplamente aceita (Cowgill 1975; McCone 1991, 1992; Schrijver 1995).

Ao se fazer menção apenas às línguas celtas modernas, visto que nenhuma língua celta continental possui descendentes vivas, "celta-Q" é equivalente a "goidélica" e "celta-P" é equivalente a "britônica".

Dentro da família indo-européia, as línguas celtas algumas vezes foram colocadas com as línguas itálicas em uma subfamília ítalo-celta comum, uma hipótese que agora é amplamente rejeitada em favor da suposição do contato lingüístico entre as comunidades pré-celtas e pré-itálicas.

O modo como a árvore genealógica das línguas celtas é organizada depende de qual hipótese é usada -

Notas

  1. Mapa etnográfico da Ibéria pré-romana (cerca de 200 a.C.)
  2. Kenneth Jackson propôs uma língua picta não-indo-européia existindo junto com uma língua pretênica. Isso não é mais aceito por alguns estudiosos. Vide "Language in Pictland : the case against 'non-Indo-European Pictish'" Etext PDF (27.8 MiB), de Katherine Forsyth. Vide também a introdução de James e Taylor em "Index of Celtic and Other Elements in W.J.Watson's 'The History of the Celtic Place-names of Scotland'" Etext PDF (172 KiB). Compare também o tratamento de Price do picto em The Languages of Britain (1984) com seu Languages in Britain & Ireland (2000).

Bibliografia

  • Cowgill, Warren (1975). "The origins of the Insular Celtic conjunct and absolute verbal endings", in H. Rix (ed.): Flexion und Wortbildung: Akten der V. Fachtagung der Indogermanischen Gesellschaft, Regensburg, 9.–14. September 1973. Wiesbaden: Reichert, 40–70. ISBN 3-920153-40-5.
  • Forster, Peter and Toth, Alfred. Towards a phylogenetic chronology of ancient Gaulish, Celtic and Indo-European. PNAS Vol 100/13, July 22, 2003.
  • Gray, Russell and Atkinson, Quintin. Language-tree divergence times support the Anatolian theory of Indo-European origin. Nature Vol 426, 27 nov 2003.
  • McCone, Kim (1991). "The PIE stops and syllabic nasals in Celtic". Studia Celtica Japonica 4: 37–69.
  • McCone, Kim (1992). "Relative Chronologie: Keltisch", in R. Beekes, A. Lubotsky, and J. Weitenberg (eds.): Rekonstruktion und relative Chronologie: Akten Der VIII. Fachtagung Der Indogermanischen Gesellschaft, Leiden, 31. August–4. September 1987. Institut für Sprachwissenschaft der Universität Innsbruck, 12–39. ISBN 3-85124-613-6.
  • McCone, K. (1996). Towards a Relative Chronology of Ancient and Medieval Celtic Sound Change. Maynooth: Department of Old and Middle Irish, St. Patrick's College. ISBN 0-901519-40-5.
  • Schmidt, K. H. (1988). "On the reconstruction of Proto-Celtic", in G. W. MacLennan: Proceedings of the First North American Congress of Celtic Studies, Ottawa 1986. Ottawa: Chair of Celtic Studies, 231–48. ISBN 0-09-693260-0.
  • Schrijver, Peter (1995). Studies in British Celtic historical phonology. Amsterdam: Rodopi. ISBN 90-5183-820-4.

Ligações externas

Veja também