Mário Sacramento

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Mário Sacramento
Mário Sacramento
Nascimento 7 de julho de 1920
Ílhavo
Morte 27 de março de 1969
Porto
Cidadania Portugal
Alma mater
Ocupação médico, escritor

Mário Emílio de Morais Sacramento GCL (Ílhavo, 7 de julho de 1920Porto, 27 de março de 1969) foi um médico, escritor neorrealista, ensaísta e político antifascista revolucionário comunista português que se destacou como uma importante figura do movimento de oposição democrática ao regime do Estado Novo.[1][2]

A família[editar | editar código-fonte]

Mário Sacramento nasceu em Ílhavo, cidade do distrito de Aveiro, filho de Rita de Morais Sarmento e Sacramento e do seu marido Artur Rasoilo Sacramento.[1][2][3]

Formação académica e profissional[editar | editar código-fonte]

Realizou os seus estudos secundários no Liceu de Aveiro, onde foi um ativista estudantil, razão pela qual chegou a estar preso.

Matriculou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, mas apenas concluiu os seus estudos após ter frequentado as escolas médicas do Porto e de Lisboa (onde se licenciou em 1946).

Obteve em Paris uma especialização em gastrenterologia (1961).[1][2][3]

A escrita[editar | editar código-fonte]

Desde muito cedo interessou-se pela escrita, colaborando em diversos periódicos entre os quais O Diabo, o Sol Nascente, Vértice, Diário de Lisboa e Mundo Literário[4]

Observador interessado do panorama literário português, Mário Sacramento publicou diversos ensaios sobre a obra de escritores como Eça de Queiroz, Moniz Barreto, Cesário Verde, Fernando Namora e Fernando Pessoa. A qualidade dos seus ensaios granjeou-lhe a admiração da intelectualidade portuguesa do tempo.[1][2][3]

A atividade política[editar | editar código-fonte]

Ainda estudante, Mário Sacramento integrou-se na tradição do republicanismo democrático português, aderindo ao movimento de resistência democrática ao regime do Estado Novo.

Nesse contexto de resistência à ditadura, militou no Partido Comunista Português, ao tempo o melhor estruturado dos movimentos oposicionistas em Portugal.[5]

Foi membro da comissão central da organização de juventude do Movimento de Unidade Democrática (o MUD Juvenil), o único movimento oposicionista tolerado, durante algum tempo, pelo regime, no qual se congregavam todas as correntes da oposição democrática. Nessas funções ganhou grande notoriedade, transformando-se numas das figuras de referência da resistência ao Estado Novo.

Foi secretário-geral, e principal obreiro, da comissão promotora do Primeiro Congresso Republicano, um fórum da oposição democrática que se reuniu em Aveiro no ano de 1957 e liderou a organização do Segundo Congresso Republicano[nota 1] embora tenha falecido pouco antes da sua realização em 1969.

Mário Sacramento foi por cinco vezes detido pela PIDE, a polícia política do salazarismo, a primeira das quais em 1938, quando era membro da associação de estudantes do Liceu de Aveiro, e a última em 1962.[1][2][3]

O crítico literário e ensaísta[editar | editar código-fonte]

A sua atividade de crítica literária guindou-o ao papel de teorizador do movimento neorrealista em Portugal.

Participou em múltiplas conferências sobre literatura e publicou uma extensa obra de crítica e de análise literária, que inclui ensaios marcantes, entre os quais Eça de Queirós, uma Estética da Ironia (1945, Prémio Oliveira Martins), Fernando Pessoa, Poeta da Hora Absurda (1959), Fernando Namora, a Obra e o Homem (1967) e Há uma Estética Neo-Realista? (1968).

Uma parte importante da sua obra de ensaio literário está reunida nos três volumes, parcialmente póstumos, de Ensaios de Domingo (1959, 1974 e 1990).

Uma parte importante do seu pensamento político e filosófico está reunido no volume Frátria, Diálogo com os Católicos (1971), obra que reuniu o debate que travou entre 1967 e 1969 com Mário da Rocha sobre o papel dos católicos e do movimento eclesial na evolução política portuguesa.[1][2][3][6]

"Façam o mundo melhor, ouviram? Não me obriguem a voltar cá!"

— Mário Sacramento, Carta Testamento.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Mário Sacramento é lembrado numa das mais importantes artérias da cidade de Aveiro[7] e em Ílhavo.[8]

Foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a 6 de julho de 2021 pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa em cerimónia restrita à família Sacramento, no Palácio de Belém.[9]

Patrono do Agrupamento de Escolas Mário Sacramento em Aveiro.[10]

Foi homenageado pelo Município de Aveiro no dia do seu centenário, 7 de julho de 2020, no edifício onde tinha o seu consultório médico na Avenida Dr. Lourenço Peixinho com a presença da família Sacramento.[11]

Principais obras[editar | editar código-fonte]

  • A Criança nas Relações com o Adulto (1943)
  • Retrato de Eça de Queirós (1944)
  • Eça de Queirós - Uma estética da Ironia (1945)
  • Fernando Pessoa, Poeta da Hora Absurda (1959)
  • Lírica e Dialéctica em Cesário Verde
  • Ensaios de Domingo - I (1959)
  • Teatro Anatómico (1959)[12]
  • Fernando Namora (1967)
  • Há uma Estética Neo-Realista? (1968)
  • O 31 de Janeiro (1.ª e 2.ª edição, 1969)
  • Fernando Pessoa, Poeta da Hora Absurda (2.ª edição, 1970)
  • Frátria, Diálogo com os Católicos (ou talvez não) (em colaboração com Mário da Rocha, 1970)
  • O Ápis (conto)
  • Carta-testamento. Porto: Inova, 1973.[13]
  • Diário (1974)
  • Ensaios de Domingo - II (1974)
  • Ensaios de Domingo - III (1990)[14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Sobre o II Congresso Republicano cf. TORGAL, Luís Reis, «Acerca do Congresso da Oposição Democrática de Aveiro de 1973».

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f QUINTAs, José Manuel. «Mário Sacramento» in, BARRETO, António; MÓNICA, Filomena (coords.). Dicionário de História de Portugal. Lisboa : Figueirinhas, 2000, vol. 9 (suplemento), p. 280.
  2. a b c d e f SERRA, João Bonifácio. «Mário Emílio de Morais Sacramento», in ROSAS, Fernando; BRITO, J. M. Brandão de (dir.). Dicionário de História do Estado Novo. Venda Nova : Bertrand Editora, 1996, vol. II, p. 860.
  3. a b c d e Mário Sacramento em Aveirenses Ilustres.
  4. ROLDÃO, Helena. Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948)
  5. Jerónimo de Sousa (4 de julho de 2020). ««Mário Sacramento foi um dos resistentes que, com mais evidência, soube aliar a militância intelectual à militância política»». pcp.pt. Consultado em 11 de agosto de 2021 
  6. Cf. Mário Sacramento foi um dos resistentes que, com mais evidência, soube aliar a militância intelectual à militância política.
  7. Cf. Rua Dr. Mário Sacramento
  8. Cf. Avenida Mário Sacramento
  9. «DESTAQUES - Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 8 de julho de 2021 
  10. Agrupamento de Escolas Mário Sacramento.
  11. «Nome de Mário Sacramento perpetuado na Avenida Lourenço Peixinho». AveiroMag. 7 de julho de 2020. Consultado em 9 de julho de 2021 
  12. Inclui as peças Teatro anatómico, Prédio de rendimento, Antígona (publicada inicialmente na revista Vértice, vol. XIX, n.º 186, 1959) e A boca e a dona.
  13. Carta-testamento deixada por Mário Sacramento num envelope com a indicação «Para ser aberto quando eu morrer», assinado e com a indicação «escrito em 7-4-67». Inclui as palavras proferidas por Óscar Lopes no funeral de Mário Sacramento, bem como textos sobre este escritos por Álvaro Salema, Fernando Namora, Ilídio Sardoeira, Mário Castrim, Urbano Tavares Rodrigues e Vergílio Ferreira.
  14. Cf. para o conjunto das obras, o catálogo geral da Biblioteca Nacional de Portugal.
  15. Consultado em 17 de fevereiro de 2019.
  16. Cf. Catálogo do Système Universitaire de Documentation. Consultado em 17 de fevereiro de 2019.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]