Maomé I de Granada

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Maomé I de Granada
Emir ou rei de Granada

Brasão do Reino de Granada
Reinado 12381273
Sucessor(a) Maomé II al-Faqih
Nascimento 1194
  Arjona
Morte 20 de janeiro de 1273 (79 anos)
  Granada
Nome completo  
محمد بن نصر, Abu `Abd Allah “al-'Ahmar” Mohammed ben Yusuf ben Nasr
Dinastia Nacéridas
Título(s) Sultão de Arjona
Filho(s) Muhammad II al-Faqih

Muhammad ibn Nasr (em árabe: محمد بن نصر; Arjona, 1194Granada, 20 de janeiro de 1273). Foi o primeiro rei de Granada e fundador da dinastia epônima dos nasridas. Tendo-se autoproclamado emir em Arjona em 1232, governou o reino de Granada entre 1238 e 1273 com o título de Maomé I. Foi cognominado de al-Galib bi-llah ("o vitorioso por Deus"), embora fosse mais conhecido como al-Ahmar ("o Ruivo"), pela coloração ruiva da sua barba. O seu nome completo era Abu `Abd Allah Mohammed ben Yusuf ben Nasr, sendo também conhecido como Muhammad I ibn al-Ahmar, Muhammed ben Nazar e Muhammed I de Granada. Foi sucedido por seu filho primogênito Abu Abd Allah Muhammad, conhecido pelo cognome de al-Faqih ("o jurisconsulto"), que subiu ao trono com o nome de Maomé II.

Origens

Membro dos Banu Nasr, família que afirmava proceder de um dos Sahaba (companheiros do profeta Maomé durante a Hégira) que se instalou na Taifa de Saragoça onde permaneceu até 1118, quando aquele reino muçulmano foi conquistado pelo rei Afonso I de Aragão. Os Banu Nasr foram então obrigados a se mudarem para Qal'at Aryuna (atualmente Arjona, na Andaluzia) onde, em 1194, nasceria o futuro Maomé I.

Sultão de Arjona

Em 1212, na sequência da batalha das Navas de Tolosa, o poder dos Almóadas começa a declinar dando origem aos chamados terceiros reinos de taifas, entre os quais destacaria a Taifa de Múrcia criada em 1228 e que, sob o mandato de Ibn Hud, estenderia o seu domínio sob todo o al-Andalus, à exceção das taifas de Valência e de Niebla.

Muhammad ibn Nasr, embora dedicado à agricultura (Ibn al-Khatib relata que herdou de seus pais extensos domínios "que cultivava com as suas próprias mãos"), alcançou reconhecimento e prestígio na sua cidade natal ao encabeçar operações militares de defesa da fronteira perante as incursões cristãs.

Estas incursões cristãs e as contínuas derrotas que sofrem as tropas de Ibn Hud provocam o mal-estar da população contra este e são aproveitadas por Muhammad ibn Nasr para, com o apoio da sua família encabeçada pelo seu tio Yahya ibn Nasr e dos Banu Asquilula com os que se tinha aparentado por matrimônio, rebelou-se a 16 de julho de 1232 contra o rei da Taifa de Múrcia e proclamou-se sultão da Taifa de Arjona, que seria o gérmen do futuro reino nasrida de Granada.

Imediatamente inicia a expansão territorial tomando Guadix, Baza e Jerez. As conquistas continuam em 1233 com a tomada de Úbeda, Porcuna, Córdova e Jaén, cidade esta aonde transladará a sua capital.

Seu objetivo seguinte foi tomar a Taifa de Sevilha, para o que assina uma aliança com o seu rei Muhammad al-Bayi, que tomou o poder após destronar o irmão de Ibn Hud, e a quem conseguem derrotar na sua tentativa por reconquistar a cidade. Após fazer assassinar o monarca sevilhano, Muhammad ibn Nasr nomeia governante de Sevilha o seu parente Ali ben Asquilula, que após somente um mês no poder ver-se-á obrigado a fugir quando os sevilhanos optam por reconhecer como rei Ibn Hud. Entretanto, este conseguira ser reconhecido como governante de todo o al-Andalus por Al-Mustansir I, o califa abássida de Bagdá, em 1234 e no ano seguinte tinha reconquistado Córdova.

As perdas territoriais e o apoio político conseguido pelo seu rival ao ser reconhecido como o governador de al-Andalus obrigam a Muhammad ibn Nasr a render homenagem a Ibn Hud reconhecendo-o como emir e prestando-lhe vassalagem em troca de ser reconhecido como senhor de Arjona, Jaén e Porcuna.

Rei de Granada

Esta situação mudará quando em 1236 Ibn Hud entrega a cidade de Córdova ao rei Fernando III de Castela e se declara seu vassalo. Os altos tributos que se compromete a pagar ao rei castelhano provocam o descontentamento da população e levam ao seu assassinato em 1237. Maomé ibn Nasr aproveita a conjuntura para tomar sucessivamente ao longo de 1238 Almeria, Málaga e Granada onde fixará a sua nova capital proclamando-se rei com o nome de Maomé I.

Porta de Elvira, em Granada

Entrou em Granada pela Porta de Elvira proclamando «Wa lā gāliba illā-llāh» ("Não há outro vencedor que Alá"), uma frase que, além de dar origem ao seu apelido al-Galib bi-llah ("o vitorioso por Deus"), tornar-se-ia na divisa da dinastia nasrida, aparecendo repetida em todos os palácios nasridas construídos nos dois séculos posteriores, inclusive na própria Alhambra cuja construção seria iniciada por Maomé I sobre a fortificação que já dominava a cidade.

Com as conquistas de Granada, Almeria e Málaga, o reino de Granada teve a sua maior extensão territorial que alguma vez atingiria durante o reinado de Maomé I, embora tal situação só se mantivesse durante oito anos. A grande expansão territorial despertou o receio dos reinos cristãos, especialmente do rei castelhano Fernando III, que na primavera de 1244 conquista Arjona e, após sitiar sem êxito Granada durante 20 dias, cerca a cidade de Jaén até obrigar Maomé I a assinar a paz — em 1246 entrega a cidade e declara-se vassalo do rei cristão, comprometendo-se a pagar um tributo anual de 150 000 maravedis e a prestar-lhe ajuda militar em troca de uma trégua de 20 anos.

A perda territorial implicaria uma vantagem para Maomé I pois permitiu-lhe dedicar-se a fortalecer o seu reino sem a preocupação de possíveis ameaças exteriores, pois a sua vassalagem com Fernando III protegia-o não somente dos Castelhanos mas também dos Aragoneses, cujo rei Jaime I, fixou os seus objetivos expansionistas em Valência e nas ilhas Baleares.

O apoio militar a que obriga o acordo com Castela torna-se efetivo em 1248 quando o rei granadinho pôs à disposição de Fernando III um contingente de 500 ginetes que intervieram de forma decisiva na reconquista cristã de Sevilha. O acordo de paz foi renovado depois da morte de Fernando III pelo seu filho, o rei Afonso X o Sábio, que também receberá o apoio militar de Granada na conquista da Taifa de Niebla em 1262. Nesse mesmo ano, Maomé I tenta a conquista de Ceuta, mas fracassa estrepitosamente, sofrendo uma severa derrota.

O pacto com os castelhanos rompe-se em 1264 quando o Reino de Granada, após a queda da Taifa de Niebla, passa a ser o único objetivo de reconquista que resta a Afonso X. Maomé I procura novos aliados nos reis Merínidas, que desde 1258 governavam parte do território do atual Marrocos. O envio de tropas e o apoio do rei nasrida aos levantamentos Mudéjares de Jerez e Múrcia provocam que Afonso X e Jaime I reajam enviando tropas que sitiam Granada após sufocarem os rebeldes, embora terminem sofrendo uma severa derrota.

A situação foi aproveitada pelos governadores de Málaga e Guadix que, ainda sendo parentes políticos de Maomé I, que os tinha posto à frente do exército, sentem-se preteridos pela chegada dos Merínidas, e em 1266 sublevam-se e declaram-se vassalos de Afonso X. Em resposta, Maomé I sitia Málaga durante três meses e, ao não conseguir a sua conquista, chegou a um acordo com o rei castelhano-leonês pelo qual, em troca de um tributo de 250 000 maravedis anuais e à renúncia a Jerez e Múrcia, consegue que Afonso X não preste apoio algum aos sublevados.

O incumprimento do pacto por parte de Afonso X provocou que Maomé ibn Nasr apoiasse os nobres castelhanos que, encabeçados por Nuño González de Lara, se rebelaram em 1272, conseguindo em troca o apoio destes na tomada de Antequera nesse mesmo ano.

No seu aspecto religioso, e uma vez que se apropriou de Granada, abandonou as suas tendências sufis e ascéticas para apoiar a doutrina religiosa de rito maliquita, majoritária em todo o mundo muçulmano magrebino.

Sob o seu reinado foi iniciada a construção da zona palaciana da Alhambra, que até então era estritamente uma estrutura militar que defendia a cidade de Granada, ampliando para isso o sistema de condução de águas.

Morreu a 20 de janeiro de 1273 ao cair de um cavalo.

Notas e bibliografia

  • Menéndez Pidal, Historia de España (1999). Tomo VIII: 'El Reino Nazarí de Granada (1232 – 1492), p. 74–92

Precedido por
Rei de Granada
1238-1273
Sucedido por
Maomé II al-Faqih