Matriarcado

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Matriarcado (do grego antigo μητέρος, translit. metéros: "mãe"; e ἀρχή, translit. arché: "origem", ou "regra") é uma forma de organização social em que a mulher-mãe tem uma posição dominante na família e na comunidade. Há um termo diferente para 'governo ou domínio da mulher' - ginecocracia (em grego, γυναικοκρατία), algumas vezes citado como 'ginocracia'.

Em algumas culturas, a mulher é líder da família, e a transmissão de bens, assim como do poder tribal, se faz através dos membros do sexo feminino do grupo.[1] Na dimensão religiosa, muitas vezes o matriarcado tem sido associado à adoração de divindades femininas da fertilidade e da maternidade (ver Deusa Mãe).

James Frazer, J. J. Bachofen, Walter Burkert, Robert Graves, James Mellaart e Marija Gimbutas desenvolveram a teoria segundo a qual todas as divindades da Europa e da bacia do Mar Egeu são oriundas de uma deusa matriarca pré-indo-europeia ou proto-indo-europeia (Neolítico). Segundo esses estudiosos, a religião da Deusa mãe era a base de toda a Pré-história e das civilizações antigas, e a Deusa seria o fundamento sócio-religioso do matriarcado.

Na mitologia nórdica existem referências às sociedades matriarcais, como as Elvens e povos pré-históricos que habitaram as regiões da Escandinávia. Estudos pré-históricos dos povos nórdicos, especialmente da Suécia são escassos e dificultam a identificação de uma sociedade matriarcal comprovada cientificamente. Algumas teorias dizem que o uso de armas duplas (dual wield) foram desenvolvidos especialmente para mulheres, pela dificuldade de carregar escudos muito pesados.

Definição[editar | editar código-fonte]

Matriarcado seria um sistema social no qual a mãe ou a mulher exerce autoridade absoluta sobre a família ou um grupo; por extensão, matriarcado, também pode ocorrer quando uma ou mais mulheres (como num conselho) exercem poder sobre uma comunidade.[2] Não é o mesmo que matrilinearidade, onde as crianças são identificadas em função das mães em vez dos pais, e famílias estendidas e alianças tribais formam linhas consanguíneas femininas conjuntas. Por exemplo, na tradição judaica Halakha, somente uma pessoa nascida de mãe judia é automaticamente considerada judia. Portanto, a herança judaica é passada de mãe para filho. É também diferente de matrifocalidade, que alguns antropólogos usam para descrever sociedades onde a autoridade materna é proeminente nas relações domésticas, devendo o marido juntar-se à família da esposa, em vez de a esposa mudar-se para a vila ou tribo do marido.

Assim, matriarcado seria uma combinação de múltiplos fatores. Inclui matrilinearidade e matrifocalidade, porém o mais importante é que as mulheres seriam encarregadas da distribuição de bens do clã e, especialmente, das fontes de sustento - dos campos e dos alimentos -, o que tornaria dependente cada membro do clã e garantiria às mulheres uma posição tão forte nestas sociedades, que elas seriam consideradas matriarcas.

A discussão recente sobre sociedades matriarcais[editar | editar código-fonte]

Intelectuais feministas ligadas aos estudos das formas do matriarcado moderno consideram qualquer forma de sociedade não patriarcal, matrilinear, matrilocal e avuncular como parte do objeto de investigação. Durante congressos mundiais de estudos sobre o matriarcado.

O primeiro teve lugar em Luxemburgo, em 2003, e foi patrocinado pela ministra dos Assuntos da Mulher de Luxemburgo, Marie-Josée Jacobs, tendo sido organizado e dirigido por Heide Göttner-Abendroth, fundadora da Hagia - International Academy for Modern Matriarchal Studies and Matriarchal Spirituality, criada em 1986, na Alemanha.[3][4] O segundo ocorreu em 2005, em San Marcos, Texas.[5] O evento foi patrocinado por Genevieve Vaughan e novamente dirigido por Heide Goettner-Abendroth. Uma conferência internacional está programada para 2011, em St. Gallen, na Suíça [6]

Contudo todo este tema é muito controverso. Inclusive há um questionamento sobre sua veracidade, como por exemplo no livro "The Myth of Matriarchal Prehistory" (O Mito da Pré-História Matriarcal) da antropóloga Cynthia Eller.

A maioria dos antropólogos afirma que não existem sociedades conhecidas que sejam inequivocamente matriarcais.[7][8][9] De acordo com J. M. Adovasio, Olga Soffer e Jake Page, não se conhece de fato nenhum matriarcado verdadeiro que tenha existido.[10] A antropóloga Joan Bamberger argumentou que o registro histórico não contém fontes primárias sobre qualquer sociedade dominada por mulheres.[11] A lista human cultural universals, do antropólogo Donald Brown, (a saber, características compartilhadas por quase todas as sociedades humanas atuais) inclui os homens como sendo o "elemento dominante" nos assuntos políticos públicos,[12] que ele afirma ser a opinião contemporânea da antropologia dominante. Existem algumas divergências e possíveis exceções. A crença de que um governo das mulheres precedeu o governo dos homens foi, de acordo com Haviland, "sustentada por muitos intelectuais do século XIX".[13] A hipótese sobreviveu até o século 20 e foi notavelmente duradoura no contexto do feminismo e, especialmente, do feminismo de segunda onda, mas a hipótese está em grande parte desacreditada hoje, a maioria dos especialistas concordando que ela nunca foi verdadeira.[14]

Matriarcas, de acordo com Peoples e Bailey, existem: "matriarcas individuais em algumas famílias e grupos de parentesco".[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Khasi. Enciclopédia Universalis.
  2. Enciclopédia Britânica
  3. Matriarchal Society: Definition and Theory Arquivado em 19 de dezembro de 2009, no Wayback Machine., por Heide Göttner-Abendroth
  4. 1st. World Congress on Matriarchal Studies, 2003.
  5. 2nd. World Congress on Matriarchal Studies, 2005
  6. Website da conferência de 2011.
  7. Goldberg, Steven, The Inevitability of Patriarchy (William Morrow & Co., 1973).[falta página]
  8. (Eller 2000) [falta página]
  9. Encyclopædia Britannica describes this view as "consensus", listing matriarchy as a hypothetical social system: Encyclopædia Britannica (2007), entry Matriarchy.
  10. Adovasio, JM, The invisible sex: uncovering the true roles of women in prehistory (Routledge, 2016), pp251-255-255.
  11. Bamberger, Joan, The Myth of Matriarchy: Why Men Rule in Primitive Society, in M. Rosaldo & L. Lamphere, Women, Culture, and Society (Stanford, Calif.: Stanford University Press, 1974), p. 263.
  12. Brown, Donald E., Human Universals (Philadelphia: Temple University Press, 1991), p. 137.
  13. Haviland, William A., Anthropology (Ft. Worth: Harcourt Brace College Publishers, 8th ed. 1997 (ISBN 0-15-503578-9)), p. 579.
  14. "A visão de que o matriarcado tenha constituído um estágio de desenvolvimento cultural universal está atualmente desacreditada. Além disso, o consenso na antropologia e sociologia moderna é de que sociedades estritamente matriarcais nunca existiram" Encyclopædia Britannica (2007), entry Matriarchy.
  15. Peoples, James; Bailey, Garrick (2012). Humanity: An Introduction to Cultural Anthropology (9th ed. Australia: Wadsworth. ISBN 978-1-111-30152-1.)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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