Mico-leão-preto

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Fêmea fotografada no Pontal do Paranapanema.
Fêmea fotografada no Pontal do Paranapanema.
Estado de conservação
Espécie em perigo
Em perigo (IUCN 3.1) [3]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Primates
Subordem: Haplorrhini
Infraordem: Simiiformes
Parvordem: Platyrrhini
Família: Cebidae
Subfamília: Callitrichinae
Género: Leontopithecus
Espécie: L. chrysopygus
Nome binomial
Leontopithecus chrysopygus
(Mikan, 1823)
Distribuição geográfica
Distribuição geográfica do mico-leão-preto.
Distribuição geográfica do mico-leão-preto.
Sinónimos
  • ater Lesson, 1840

O mico-leão-preto (nome científico: Leontopithecus chrysopygus) é um Macaco do Novo Mundo, da família Cebidae e subfamília Callitrichinae. É uma das duas espécies de mico-leão que ocorre no estado de São Paulo, e historicamente ocorreu em quase toda a extensão entre o rio Paranapanema e o rio Tietê, em áreas de floresta estacional semidecidual. Atualmente, encontra-se apenas em nove localidades do estado de São Paulo, sendo o Parque Estadual Morro do Diabo a única em que é possível ter uma população viável a longo prazo. Já foi considerado uma subespécie do mico-leão-dourado, mas hoje é considerado espécie plena.

Taxonomia e Evolução[editar | editar código-fonte]

O mico-leão-preto pertence ao gênero Leontopithecus, família Cebidae e subfamília Callitrichinae.[2] Foi descoberto por Johann Natterer, em 1822, onde hoje se encontra a Floresta Nacional de Ipanema, próximo a Sorocaba e em Vargem Grande, mas só foi formalmente descrito por Johann Christian Mikan, em 1823.[4][1] O gênero Leontopithecus foi revalidado por Hershkovitz (1977), que considerou-o monotípico, sendo Leontopithecus rosalia a única espécie: o mico-leão-preto era uma subespécie (L. r. chrysopygus), junto com o mico-leão-dourado (L. r. rosalia) e mico-leão-de-cara-dourada (L. r. chrysomelas).[2][5] Essa classificação foi revisada, e atualmente, é considerado, junto com as outras espécies de micos-leões, uma espécie propriamente dita.[1][2][3][6]

Evidências genéticas apontam para um período muito recente de diversificação dos micos-leões, a partir de refúgios de floresta no Pleistoceno.[7] A espécie mais aparentada ao mico-leão-preto é o mico-leão-dourado, que provavelmente compartilhou um ancestral que possuía pelagem escura.[8][9][10][11]

Não foi encontrado nenhum fóssil da linhagem do mico-leão-preto.[12]

Distribuição geográfica e habitat[editar | editar código-fonte]

Originalmente, o mico-leão-preto era encontrado por todo do estado de São Paulo ao longo da margem direita do rio Paranapanema e da margem esquerda do rio Tietê.[13] Coimbra-Filho (1973) cita que ele pode ter existido na bacia do rio Ivinhema, no Mato Grosso do Sul, mas essa ocorrência nunca foi confirmada.[13]

As regiões em que habitam o mico-leão-preto estão em áreas com até 2.000 mm de precipitação anuais, sendo a estação chuvosa em janeiro, e seguindo a classificação climática de Köppen-Geiger o clima ao longo de sua distribuição é dos tipos Cfa, Cfb, Cwa e Aw.[13] No Pontal do Paranapanema, onde ocorre a maior população vivente, o clima é mais seco.[13] É encontrado na floresta estacional semidecidual até 300 m de altitude, principalmente em florestas ripárias e com árvores de grande porte, ocupando estratos mais altos da floresta, entre seis e dez metros de altura.[13]

A ocorrência atual está reduzida a poucos fragmentos florestais totalizando 440 km², sendo a maior parte no Parque Estadual Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio.[14][15] Existem outras populações no município de Gália, na Estação Ecológica dos Caetetus, e em Buri.[14] Outras unidades de conservação que ele ocorre são a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto, localizada no Pontal do Paranapanema com cerca de 5.500 hectares, a Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) Reserva Natural Olavo Egydio Setúbal, RPPN Mosquito, e a Estação Ecológica de Angatuba.[15] O restante dos micos-leões-preto estão em propriedades particulares na parte oeste de sua distribuição geográfica.[14][15]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Mico-leão-preto no Zoológico de Bristol.

O mico-leão-preto é quase inteiramente coberto por uma densa pelagem negra e apenas a parte inferior do seu corpo é diferente, possuindo um marrom esverdeado.[16] A face do L. chrysopygus não possui pêlos, assim como as mãos e os pés, que possuem um tom cinza escuro. Os membros superiores são maiores que os inferiores e a cauda não é preênsil. Todos os dedos possuem unhas em forma de foice, que são usadas para agarrarem-se nas árvores, exceto o maior dedo que possui uma unha reta. A fórmula dental é 2/1/3/2. São animais de pequeno porte, medindo entre 20 cm a 33,5 cm, a cauda mede cerca de 31,5 cm a 40 cm e o peso varia entre 300 e 700 gramas.

Comportamento[editar | editar código-fonte]

São animais muito sociáveis e diurnos. Convivem a maior parte do tempo com seu grupo familiar. Esses grupos familiares consistem no casal reprodutor e suas últimas duas ou três ninhadas. Depois que seus filhotes machos atingem a maturidade sexual, eles geralmente abandonam o grupo em busca de uma parceira. Frequentemente, vários grupos familiares se reúnem e formam um grande grupo de micos leões pretos, permitindo que os jovens machos e as jovens fêmeas achem um parceiro sexual para formar seu próprio grupo. Dentro de cada grupo familiar, a liderança é compartilhada entre o casal principal. O casal primário é altamente territorial e lutam contra qualquer invasor. Cada território possui uma área média de 75 a 125 acres, mas com destruição de grande parte do seu habitat, hoje ocorre a interposição de territórios de grupos diferentes.

Hábitos alimentares[editar | editar código-fonte]

Se alimentam principalmente de insetos e frutas. Quando são capazes, também comem pequenos animais, como aves e lagartos, ovos de pássaro e invertebrados.

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Na maioria dos casos estudados, são animais monógamos, mas pode ocorrer a poligamia em algumas populações. Em populações onde há mais de um macho, as fêmeas podem acasalar com vários, no intuito de confundi-los sobre a paternidade, isso faz com que vários machos achem que são os verdadeiros pais da prole, fazendo com que cuidem dos filhotes.

Os micos-leões-pretos geralmente dão à luz gêmeos, embora possam nascer trigêmeos ou até quadrigêmeos. A gestação dura de 125 a 132 dias, geralmente parem na estação chuvosa, entre setembro e março.

Ambos os sexos ajudam na criação da prole; os jovens nascem com pêlos e de olhos abertos, mas são completamente dependentes dos seus pais. Nas primeiras 2 a 3 semanas os filhotes permanecem com suas mães, depois de 3 semanas, o pai carrega o filho na maior parte do dia, entregando-o à sua mãe a cada duas horas para se alimentar. As crias desmamam depois de 2 ou 3 meses,mas não deixam o grupo até atingir a maturidade sexual, o que ocorre na idade de 16 a 24 meses.

Conservação[editar | editar código-fonte]

O Parque Estadual Morro do Diabo é a maior unidade de conservação do mico-leão-preto.
PE Morro do Diabo está localizado em: São Paulo
PE Morro do Diabo
Localização do Parque Estadual Morro do Diabo, em São Paulo.
Imagem de satélite mostrando a extensão das unidades de conservação integral e a de uso sustentável do mico-leão-preto.

O mico-leão-preto é uma espécie que corre risco de extinção, sendo classificado como "em perigo" pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), apesar de já ter sido classificado na categoria "criticamente em perigo" em listas anteriores.[3] Existe considerável esforço em preservar a espécie, como a translocação de indivíduos e implantação de corredores ecológicos, o que justifica a atual classificação da IUCN.[3] O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), no Brasil, classifica a espécie como "criticamente em perigo", mas a espécie é considerada como "em perigo" na lista de espécies ameaçadas do estado de São Paulo.[17][18] Sua distribuição geográfica foi drasticamente reduzida por conta do desmatamento, e hoje o mico-leão-preto ocorre em apenas nove fragmentos de floresta, com a maior população ocorrendo no Parque Estadual Morro do Diabo.[14] A população nesta unidade de conservação é de cerca de 820 indivíduos, e é a única viável a longo prazo: na Estação Ecológica dos Caetetus, a população é de cerca de 40, e os fragmentos restantes não somam mais do que 130 indivíduos, em subpopulações que não ultrapassam 20 indivíduos.[14] Existe projetos de reprodução em cativeiro, e por conta disso, a população cativa, que era estimada em 112 indivíduos está crescendo.[14]

Grande parte de seu habitat foi destruído no início do século XX, e a espécie foi considerada extinta por 65 anos, até a redescoberta de uma pequena população no Parque Estadual Morro do Diabo, por Adelmar Coimbra-Filho, em 1970.[19] A situação da espécie poderia ser menos crítica visto que na década de 1940, foi criada a Grande Reserva do Pontal do Paranapanema, o Parque Estadual Morro do Diabo e a Reserva Lagoa São Paulo, todas unidades de conservação integral que protegeriam mais de 3 000 km² de floresta na área de distribuição geográfica do mico-leão-preto: apesar disso, a região foi desmatada, restando apenas o Parque Estadual Morro do Diabo, que possui pouco menos de 350 km².[15] Após esses grandes desmatamentos, a construção da Usina Hidrelétrica de Rosana, no rio Paranapanema, inundou áreas do parque estadual que eram habitat do mico-leão, diminuindo ainda mais a área de ocorrência.[19] Em 1984, o Instituto de Pesquisas Ecológicas realizou os primeiros estudos da espécie e até hoje é responsável por projetos de manejo de metapopulação, implantação de corredores ecológicos e educação ambiental, na região do Pontal do Paranapanema.[19]

Referências

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  2. a b c d Rylands AB; Mittermeier RA (2009). «The Diversity of the New World Primates (Platyrrhini): An Annotated Taxonomy». In: Garber PA; Estrada A; Bicca-Marques JC; Heymann EW; Strier KB. South American Primates: Comparative Perspectives in the Study of Behavior, Ecology, and Conservation 3ª ed. Nova Iorque: Springer. pp. 23–54. ISBN 978-0-387-78704-6 
  3. a b c d Kierulff, M. C. M., Rylands, A. B., Mendes, S. L. & de Oliveira, M. M. (2008). Leontopithecus chrysopygus (em inglês). IUCN 2012. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2012. Página visitada em 01 de outubro de 2012..
  4. Rylands, A.B.; Mallinson, J.J.; Kleiman, D.G.; Coimbra-Filho, A.F.; Mittermeier, R.A.; Câmara, I.G.; Valladares-Pádua, C.B.; Bampi, M.I. (2008). «História da pesquisa e da conservação do mico-leão». In: Kleiman, D.G.; Rylands, A.B. Mico-leões: Biologia e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. pp. 23–69. ISBN 978-85-7300-101-2 Verifique |isbn= (ajuda) 
  5. Seuánez, H.N.; Di Fiore, A.; Moreira, M.A.; Almeida, C.A.S.; Canavez, F.C. (2008). «Genética e Evolução dos mico-leões». In: Kleiman, D.G.; Rylands, A.B. Mico-leões: Biologia e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. pp. 165–186. ISBN 978-85-7300-101-2 Verifique |isbn= (ajuda) 
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  7. Forman,L.; Kleiman, D.G.; Bush, R. M.; Dietz, J.M.; Ballou, J.D.; Phullips, L.G.; et al. (1986). «Genetic variation within and among Lion Tamarins». American Journal of Physical Anthropology. 71: 1-11. doi:10.1002/ajpa.1330710102 
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  9. Perez-Sweeney BM. 2002. The molecular systematics of Leontopithecus, population genetics of L. chrysopygus and the contribution of these two sub-fields to the conservation of L. chrysopygus. PhD Thesis, Columbia University, New York.
  10. Chaterjee, H.J.; Ho, S.Y.; Barnes, I.; Groves, C. (2009). «Estimating the phylogeny and divergence times of primates using a supermatrix approach». BMC Evolutionary Biology. 9: 1-19. doi:10.1186/1471-2148-9-259 
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  13. a b c d e Coimbra-Filho, A.C.; Mittermeier, R.A. (1973). «Distribution and Ecology of the Genus Leontopithecus Lesson, 1840 in Brazil.» (PDF). Primates. 14 (1): 47-66. Consultado em 1 de outubro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 27 de setembro de 2013 
  14. a b c d e f Rylands, A.B.; Kierulff, M.C.M.; Pinto, L.P.S. (2008). «Distribuição e status dos mico-leões». In: Kleiman, D.G.; Rylands, A.B. Mico-leões: Biologia e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. pp. 69–105. ISBN 978-85-7300-101-2 Verifique |isbn= (ajuda) 
  15. a b c d «Plano de Manejo Estação Ecológica Mico-Leão-Preto» (PDF). ICMBio. Consultado em 28 mar. 2012 
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  17. Chiarello, A.G.; Aguiar, L.M.S., Cerqueira, R.; de Melo, F.R.; Rodrigues, F.H.G.; da Silva, V.M. (2008). «Mamíferos». In: Machado, A.B.M.; Drummond, G.M.; Paglia, A.P. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção - Volume 2 (PDF). Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente. pp. 680–883. ISBN 978-85-7738-102-9 
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  19. a b c Rylands, A. & Mittermeier, R.A. (2013). «Family Callithrichidae (Marmosets and Tamarins)». In: Mittermeier, R.A.; Rylands, A.B.; Wilson, D.E. Handbook of the Mammals of the World - Volume 3. Barcelona: Lynx. pp. 262–348. ISBN 978-84-96553-89-7 

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