Morro do Castelo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Morro do Castelo foi um acidente geográfico que existiu na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. O morro foi um dos pontos de fundação da cidade no século XVI e abrigou marcos históricos de grande importância, como fortalezas coloniais e os edifícios dos jesuítas. Apesar disso, foi destruído numa reforma urbanística em 1922.

Quadro de Vítor Meirelles (c.1885) com uma vista panorâmica do morro do Castelo.

História

Nele foi reinstalada, em 1567, a cidade inicialmente fundada por Estácio de Sá na entrada da baía da Guanabara, no sopé do morro Cara de Cão (1565), no contexto da expulsão definitiva dos franceses da região.

Ver artigo principal: Invasões francesas do Brasil

Depois de batidos os franceses e seus aliados indígenas no morro da Glória e na ilha do Governador, os portugueses, sob o comando de Mem de Sá, acharam por bem que a cidade ficasse instalada em plano elevado, num dos morros fronteiros à ilha de Villegagnon, então denominado como morro do Descanso, e que permitisse a construção de bastiões que defendessem a cidade e seu ancoradouro, a ilha, e que também vigiassem a entrada da baía da Guanabara.

Para tanto construíram uma cidadela murada e fortificada que incluiu, ao longo do tempo o fortim sob a invocação de São Tiago (ver Forte de São Tiago da Misericórdia), uma bateria sob a invocação de Sant'Ana e uma fortaleza chamada de São Januário (ver) Fortaleza de São Sebastião do Castelo, que acabaram por serem responsáveis pelas diversas denominações do morro como de São Tiago, de São Januário, de São Sebastião e finalmente do Castelo.

No local foram construídas as primitivas Casa da Câmara e a da Cadeia, a Casa do Governador, Colégio dos Jesuítas, os Armazéns, e também as Igreja dos Jesuítas e a Igreja de São Sebastião, onde foi instalada a primeira Sé Catedral da cidade, e junto à qual estava o marco de pedra da fundação da cidade, trazido do primitivo estabelecimento no sopé do morro Cara de Cão, assim como os restos mortais do fundador, Estácio de Sá. Estas relíquias encontram-se hoje na Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, na Tijuca. Ao pé, na praia, a Santa Casa de Misericórdia - primeiro hospital.

Após a ocupação do morro do Castelo, a população da cidade começou a ocupar a chamada Várzea, área plana compreendida entre os outros três morros (morro de São Bento, morro de Santo Antônio e morro da Conceição) que delimitavam, junto com o do Castelo, a cidade no período colonial.

O acesso ao morro do Castelo inicialmente era feito pela Ladeira da Misericórdia, primeira via pública da cidade. Posteriormente surgiram as Ladeira do Castelo, Ladeira do Poço do Porteiro (para a região da Cinelãndia) e a Ladeira do Seminário. Com a expansão da cidade na parte plana suas construções que incluíram também o Colégio dos Padres Jesuítas da Companhia de Jesus, posterior Hospital Militar da Corte, e Observatório Nacional

No século XVI, o Morro do Castelo estava saturado, era pequeno demais. A população foi obrigada a ocupar a várzea, que era cheia de riachos. Foi-se aterrando lagoas, charcos, derrubando matas morro acima.

Destruição

Desde o tempo de Dom João VI era considerado prejudicial à saúde dos cariocas porque dificultava a circulação dos ventos e impedia o livre escoamento das águas.[1] Ao longo dos séculos foi gradativamente considerado inviável para o progresso e urbanismo da cidade.

Foi arrasado em 1922 pelo prefeito Carlos Sampaio com a desculpa de ser um espaço proletário, repleto de velhos casarões e cortiços, no centro da cidade e necessário para a montagem da Exposição Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil.

Suas terras foram usadas para aterrar parte da Urca, da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Jardim Botânico e outras áreas baixas ao redor da Baía da Guanabara.[1]

A lenda do morro do Castelo

A lenda do morro do Castelo refere-se a um fabuloso tesouro oculto em galerias secretas em suas entranhas pelos Jesuítas em tempos coloniais. Originada talvez à época das invasões francesas de 1710 e 1711, tal crença ganhou força a partir da expulsão da Ordem do Brasil, em 1759, por determinação do Marquês de Pombal, rezando:

"Tudo o que de dentro sair, como o que de fora se lhe introduzir, será bem revisto e nada fechado e ainda as frutas como melancia, melão, abóbora, repolho e outras quaisquer desta criação e feitio, serão abertas para que de dentro não saia ou entre carta ou escrito algum."

Em resposta, o Governador e Capitão-geral da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, informou à Metrópole:

"O dinheiro que se achou pertencente ao Colégio [dos Jesuítas] foi tão somente a quantia de quinhentos mil duzentos e vinte réis, o que é quantia diminuta à proporção do grande rendimento desta casa."

A lenda foi explorada em fins do século XIX por nomes consagrados na literatura brasileira como Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo e Lima Barreto. Este último cobriu, como repórter, para o Correio da Manhã em 1905, por ocasião das obras para a abertura da Avenida Central (atual Av. Rio Branco), a descoberta de um túnel.

Pesquisadores, atualmente, acreditam que os túneis realmente existiram, embora sem conexão com o suposto tesouro. Documentos do século XIX resgatam informações curiosas como a denúncia de um morador contra um vizinho que escavava nos fundos da casa, na esperança de encontrar algumas das moedas de ouro dos Jesuítas, ou o pedido manuscrito do bacharel mineiro Nominato de Assis, que, em 1863, tentou junto ao Marquês de Olinda, então presidente do Conselho de Ministros do Império, um emprego ou uma concessão para fazer escavações no morro. Posteriormente, em 1875, o pernambucano Trajano de Martins conseguiria licença para realizar as escavações: um dos financiadores do empreendimento foi o Barão de Drummond.

Com a descoberta de um túnel em 1905, as antigas histórias retomaram força, tendo mesmo surgido um mapa das galerias e um inventário do tesouro, que dava conta de 67 toneladas de ouro além de uma imagem em tamanho natural de Santo Inácio de Loyola, também em ouro, com olhos de brilhantes e dentes de pérolas. Seis anos mais tarde, as informações do mapa seriam confirmadas nas páginas da Revista Ilustrada, que, em Julho, publicou uma reportagem sobre os subterrâneos do morro do Castelo, visitada pelo repórter Pires do Rio em companhia de um fotógrafo, que acessaram as galerias a partir de uma cisterna do antigo Colégio dos Jesuítas, percorrendo-a até a antiga praia de Santa Luzia (atual rua de Santa Luzia).

A rede seria integrada por outros três túneis, que partiriam de um salão de pedra, popularmente referido como "Sala dos Concílios", um em direção à ladeira da Misericórdia (cujo troço inicial subsiste até hoje), outro em direção à Rua da Quitanda e o último em direção à atual Av. Rio Branco. Estas duas últimas seriam ligadas por outro túnel, totalizando assim cinco vias. O repórter de 1911 não conseguiu, entretanto, apurar nenhum vestígio do precioso ouro.

As modernas hipóteses para a finalidade dessas galerias são:

Referências

  1. a b GOMES, Laurentino. 1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p.225.

  • MACEDO, Joaquim Manuel de. Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1862.
  • LEÃO, José da Rocha (pseud. Léo Junius). Os subterrâneos do morro do Castelo : seus mistérios e tradições. Rio de Janeiro : Typogaphia de Pinheiro & Cia, 1878.[1]
  • ASSIS, Machado de. Crônica Conversa com São Pedro. Rio de Janeiro, 1893.
  • BARRETO. Lima. O subterrâneo do morro do Castelo. Rio de Janeiro, 1905.
  • KESSEL, Carlos. A vitrine e o espelho: o Rio de Janeiro de Carlos Sampaio. Rio de Janeiro: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Divisão de Pesquisa, 2001. 122p. il. ISBN 8588530023
  • MELHEM, Nubia Melhem; DUQUE-ESTRADA, Nonato.Era Uma Vez O Morro Do Castelo.

Ver também