Mulheres da Beira

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As Mulheres da Beira - Funesta Ambição
Mulheres da Beira (PRT)
Mulheres da Beira
Portugal Portugal
1921 •  p&b •  74 min 
Gênero drama, tragédia
Direção Rino Lupo
Produção Alfredo Nunes de Mattos
Produção executiva Henrique Alegria
Alfredo Nunes de Mattos
Roteiro Rino Lupo
Abel Botelho
Baseado em A Frecha de Mizarela, de Abel Botelho
Elenco Brunilde Júdice
António Pinheiro
Mário Santos
Rafael Marques
Maria Júdice da Costa
Música Nicholas McNair
Cinematografia Artur Costa de Macedo
Diretor de fotografia Artur Costa de Macedo
Direção de arte Henrique Alegria
Edição Mme Meunier
Georges Pallu
Companhia(s) produtora(s) Invicta Film
Distribuição Raul Lopes Freire
Lançamento
  • 2 de abril de 1923 (1923-04-02) (Portugal)
Idioma mudo (intertítulos em português)

Mulheres da Beira é um filme mudo português de ficção e drama trágico, com intertítulos, realizado por Rino Lupo em 1921. A longa-metragem, também conhecida pelo nome de As Mulheres da Beira - Funesta Ambição, é uma adaptação do conto "A Frecha de Mizarela" da colectânea "Mulheres da Beira" (1898) de Abel Botelho. Devido a vários desentendimentos durante o processo de produção e montagem, entre o produtor, o realizador e o director criativo, o filme apenas estreou em 1923.[1][2]

Produção[editar | editar código-fonte]

Formações rochosas na Serra da Freita

Produzido após os filmes Os Fidalgos da Casa Mourisca (1920), Barbanegra (1920) e Amor Fatal (1920) da produtora portuense Invicta Film, apesar destes terem sido todos bem recebidos pela crítica e público, para além de terem sido distribuídos e exibidos além fronteiras, nomeadamente no Brasil, onde Os Fidalgos da Casa Mourisca teve bastante sucesso, a companhia cinematográfica gerida por Alfredo Nunes de Mattos encontrava-se numa difícil situação financeira devido aos gastos que ultrapassavam o orçamento original das suas produções, criando fortes crispações entre o produtor e o director criativo Henrique Alegria, que tinha uma visão bastante diferente do que deveria ser o cinema português. Optando por cortar com os gastos das filmagens nos estúdios e utilizar os cenários e paisagens naturais como um convite ou postal turístico da beleza natural e rústica de Portugal, não só para os espectadores nacionais como de outros países, onde o filme fosse posteriormente distribuído e exibido, o director criativo, ao tomar conhecimento sobre o novo projecto As Mulheres da Beira, optou por ambientar quase todas as cenas do filme em décors exteriores.[3] Simultaneamente, o realizador francês Georges Pallu, que até então era o realizador "de serviço" da produtora, não se sentindo confortável com as filmagens no exterior, recusou fazer o filme, dando o seu posto ao estreante Rino Lupo.[4][5] Como forma de tranquilizar o produtor Alfredo Nunes de Mattos, Georges Pallu assumiu então o cargo de director de montagem, ao lado da Madame Meunier.[6]

Filmado na cidade do Porto e na vila de Arouca, assim como na Serra da Freita e na localidade de Nespereira, em Cinfães, entre setembro e novembro de 1921, sendo este o primeiro filme realizado por Rino Lupo, devido à sua inexperiência e falta de disciplina de produção, mesmo com a escolha de não se gastar tanto dinheiro nas filmagens interiores, sendo estas muito poucas e realizadas em Lisboa, uma vez mais o orçamento foi excedido devido aos atrasos e custos de deslocação, estadia e alimentação de toda a equipa e elenco nas várias localidades onde se realizou o filme. Após a conclusão das filmagens, Henrique Alegria e Rino Lupo saíram da Invicta Film e criaram a produtora Ibéria Film, colaborando no ano seguinte no filme Os Lobos.[7]

Lançamento[editar | editar código-fonte]

Estreando a 2 de abril de 1923 no Salão Central de Lisboa, e a 5 de junho de 1923, no Cinema Olympia do Porto, com seis partes, Mulheres da Beira tornou-se num dos mais aclamados filmes do ano,[8] sendo ainda hoje considerado um dos mais marcantes filmes do cinema português da década de 1920 e o primeiro filme a introduzir o verismo no cinema português.[9] Devido ao seu sucesso, a 30 de julho de 1934 o filme teve uma reposição comercial nos cinemas Odéon e Palácio, ambos de Lisboa.[10]

Estética[editar | editar código-fonte]

De acordo com Inês Fernandes, Mestre em Cinema na Universidade da Beira Interior, a obra, seguindo a norma da época, recorria à tintagem, com a presença das seguintes cores:[11]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Anninhas (Brunilde Júdice) é uma jovem e bela camponesa de uma pequena aldeia, perto da Serra do Gamarrão e de Arouca, que por sonhos de riqueza e um fascínio amoroso por outro homem, repele o afecto de André (Mário Santos), um pastor da mesma localidade que se perde de amores por ela. Envolta numa funesta teia de sedução e ilusão, Anninhas deixa-se encantar e conquistar pelo Fidalgo da Mó (Rafael Marques) que, uma vez entediado e com uma nova amante, acaba por desprezá-la e abandoná-la à sua sorte. Rejeitada pela família e pelas madres do convento, toldada pelo desgosto e a vergonha, a camponesa parte para a Cascata da Frecha da Mizarela onde espera encontrar o perdão de Deus ou a morte.[12]

Elenco[editar | editar código-fonte]

Restauro e Festivais[editar | editar código-fonte]

Fruto de um intenso trabalho de recuperação e preservação da memória cinematográfica portuguesa do início do século XX, em 2007, a Cinemateca Portuguesa organizou várias sessões de cinema onde exibiu alguns dos mais conhecidos trabalhos de Rino Lupo. Impulsionados pela curiosidade de muitos espectadores e após a descoberta de algumas cópias originais, dez anos depois, os filmes Mulheres da Beira e Os Lobos foram tratados e restaurados, recebendo um novo lançamento em DVD, com a música original de António Tomás de Lima e Nicholas McNair.[14][15]

Filme Mulheres da Beira reeditado e restaurado, com nova banda sonora, para o Festival Internacional de Cinema de Arouca em 2017.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Sight and Sound (em inglês). [S.l.]: British Film Institute. 1948 
  2. Brunetta, Gian Piero (2000). Storia del cinema mondiale (em italiano). [S.l.]: Einaudi 
  3. Ribeiro, M. Felix (1983). Filmes, figuras e factos da história do cinema português, 1896-1949. [S.l.]: Cinemateca Portuguesa 
  4. Pina, Luís de (1977). A aventura do cinema português. [S.l.]: Vega 
  5. Pacheco, Helder (1988). Porto. [S.l.]: Editorial Presença 
  6. Bernardo, Luís Miguel. Histórias da Luz e das Cores, volume 2. [S.l.]: Universidade do Porto 
  7. Silva, Manuel Costa e (1996). Do animatógrafo lusitano ao cinema português. [S.l.]: Caminho 
  8. Portugal -, RTP, Rádio e Televisão de. «MULHERES DA BEIRA de Rino Lupo - Animatographo, RTP Memoria - Canais TV - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 6 de setembro de 2022 
  9. Cruz, José de Matos (1998). Cinema português: o dia do século. [S.l.]: Grifo 
  10. Baptista, Tiago (1 de maio de 2007). «Cinemas de estreia e cinemas de bairro em Lisboa (1924-1932)». Ler História (52): 29–56. ISSN 0870-6182. doi:10.4000/lerhistoria.2516 
  11. Fernandes, Inês (Dezembro de 2020). «Cores e Emoções em As Mulheres da Beira e Os Lobos de Rino Lupo» (PDF). Federação Portuguesa de Cineclubes. Cinema (47): 36-43. Consultado em 5 de setembro de 2022 
  12. Nascimento, Guilherme; Oliveira, Marco; Lopes, Frederico. «Mulheres da Beira». CinePT | Cinema Português 
  13. Vasques, Eugénia. António Pinheiro. [S.l.]: Leya 
  14. N. Lourenço, Inês (26 de setembro de 2019). «Resgatar o cinema mudo de Rino Lupo». Diário de Notícias 
  15. Lusa, Agência (28 de novembro de 2007). «Cinemateca dedica ciclo "Um país, um género" de Dezembro ao cinema nacional». Público 
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