Mutirão Reflorestamento

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O Programa Mutirão Reflorestamento[necessário esclarecer] busca o reflorestamento das encostas e dos manguezais no município do Rio de Janeiro. Criado pela Prefeitura do Rio em 1987, o programa trabalha com equipes de campo locais e contribui para a recomposição da cobertura florestal e para a restauração da Mata Atlântica, sendo reconhecido com homenagens e premiações de agências da ONU, do Ministério do Meio Ambiente e de fundações particulares.[1]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 1984, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social do município do Rio de Janeiro criou o Projeto Mutirão Reflorestamento, cujo objetivo era a implantação de rede de esgoto e pavimentação em comunidades de baixa renda, com o apoio de mão-de-obra local e voluntária. Com a percepção de que seria necessário mais tempo para realizar um trabalho de qualidade, a prefeitura adotou o "mutirão remunerado", com trabalhadores contratados pela prefeitura e remunerados de acordo com tarefas executadas. A partir de novembro de 1986, as equipes começaram a trabalhar na recuperação de áreas de encostas desmatadas, com o intuito de evitar deslizamentos.[1]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Em 1987, foram plantadas 14.725 mudas no projeto-piloto do Morro São José Operário, na Praça Seca.[2] Em 1994, convertido em programa contínuo de reflorestamento, o Programa Mutirão Reflorestamento foi transferido para a recém-criada Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Entre as intervenções mais antigas, incluem-se o Morro Dois Irmãos, no Leblon, a Pedra do Padre e o Morro da Helena, em Curicica.[1]

Reflorestamento[editar | editar código-fonte]

O reflorestamento é realizado em uma sequência de etapas, que se inicia com a seleção da área a ser recuperada. Em seguida, ocorre a articulação comunitária, com a seleção das equipes de campo. Essas equipes são responsáveis por limpeza de aceiros, roçada, replantio, adubação de cobertura, combate às pragas, desbastes e podas.[1]

Para o reflorestamento, são empregadas cerca de 200 espécies arbóreas,[3] das quais são escolhidas as 36 mais importantes para o plantio intensivo. As sementes são coletadas a partir de 1.400 árvores matrizes cadastradas tendo em vista a manutenção da diversidade biológica. Em 2007, o Programa contava com quatro viveiros florestais: os de Campo Grande e do Parque Vila Isabel, com produção mensal de cerca de 25 mil mudas; o de Guaratiba, produzindo cerca de 45 mil mudas; e o do Grumari, com cerca de 15 mil mudas.[1] Em 2013, havia cinco viveiros com produção anual de 1 milhão de mudas,[3] ao passo que em 2019 eram seis viveiros e capacidade semelhante.[2]

Após o preparo do terreno, é realizada a cobertura do solo, com plantas que toleram um ambiente menos parecido com o bioma. Quando estas plantas se estabelecem, são inseridas espécies que dependem delas para sobrevivência, recriando ambiente semelhante ao da floresta original. Em 2013, o Programa estava empenhado em atrair aves e abelhas nativas da Mata Atlântica, que atuam como polinizadores e espalhadores de sementes.[3]

De acordo com o coordenador de recuperação ambiental da Prefeitura do Rio de Janeiro, o engenheiro ambiental Marcelo Hudson de Souza, "a região plana do Rio de Janeiro praticamente não tem mais vegetação original," a qual se encontra "nas áreas de encosta, maciços e morros da cidade".[3] Até 2007, havia prioridade para espaços desmatados em encostas próximas a comunidades de baixa renda, com alto risco de ocupação irregular ou que compõem bacias hidrográficas sujeitas a enchentes, assoreamento de rios e canais de drenagem.[1] Desde pelo menos 2005,[4] o Programa define as áreas de atuação por meio de estudos técnicos do IBAMA e de universidades do Rio de Janeiro.[3]

Um estudo de 2006 da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) demonstrou que o reflorestamento realizado na Serra da Posse apresentava uma estrutura diamétrica compatível com uma floresta nativa jovem, com desenvolvimento satisfatório.[5] Em 2008, outra pesquisa da UFRRJ destacou o trabalho do Programa Mutirão Reflorestamento na marcação e no registro de 1250 árvores matrizes de 141 espécies diferentes para a produção de mudas florestais.[6] Um terceiro estudo da mesma universidade, de 2009, estabeleceu uma metodologia para o monitoramento do Programa.[7]

Em 2015, a pesquisa de Ana Carmo, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, tendo como base o Parque Natural Municipal do Penhasco Dois Irmãos revelou que as áreas reflorestadas pelo Programa apresentavam "alta frequência de indivíduos nas primeiras classes de diâmetro, fator importante e indicador de regeneração da floresta", ressalvando a necessidade de ações de enriquecimento para aumentar o número de espécies e melhorar a resiliência da área.[8] Em 2016, levantamento realizado no âmbito da PUC-Rio indicou que o Programa teve eficiência no reflorestamento em todas as suas obras na comparação da cobertura florestal entre 1999 e 2008.[9]

Outros biomas[editar | editar código-fonte]

A partir do projeto Eco Orla, o Programa começou a produzir mudas de restingas, recuperando áreas da Praia da Reserva, entre a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes. Com o sucesso dessa vertente, o plantio de restingas foi ampliado para Grumari.[2] O programa também promoveu a recuperação de mangues, como no Jequiá, na Ilha do Governador.[10]

Realizações[editar | editar código-fonte]

Em 2007, na celebração de 20 anos de programa, o Mutirão Reflorestamento contabilizava o plantio de 4 milhões de árvores no município do Rio de Janeiro.[1] Em 2013, o Programa havia alcançado 3 mil hectares de floresta em 150 pontos do Rio de Janeiro,[3] contando com 800 trabalhadores e somando mais de 6 milhões de mudas plantadas.[11] Em 2019, a prefeitura celebrou o plantio de 10 milhões de mudas e 3,4 mil hectares.[2] Em 2021, a prefeitura do Rio computou 3.460 hectares recuperados.[10]

Entre 1987 e 2019, 15 mil moradores de comunidades participaram do Programa, recebendo uma bolsa-auxílio que representava a única fonte de renda para 60% das famílias.[2] Em 2019, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente editou o livro "33 Anos Plantando Florestas no Rio de Janeiro", com imagens antes e depois dos plantios em cada um dos morros e encostas restaurados com o projeto.[2]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Em 1990, o Programa Mutirão Reflorestamento foi selecionado pelo "Projeto Megacidades", da ONU, integrando a publicação Environmental Innovation for Sustainable Mega-Cities: sharing approaches that work. Em 1997, o programa foi escolhido como uma das "100 Experiências Brasileiras de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21" pelo Ministério do Meio Ambiente, sendo ainda selecionado como um dos 20 melhores projetos no Concurso Gestão Pública e Cidadania, realizado em conjunto pela Fundação Getúlio Vargas e pela Fundação Ford.[1]

No ano seguinte, o programa foi indicado para integrar o banco de dados mundial Best Practices and Local Leadership Programme, do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), quando também recebeu o Prêmio CREA-RJ de Meio Ambiente. Em 1999, o programa foi agraciado com o Prêmio Projeto Modelo, da Society for Ecological Restoration, e recebeu uma menção honrosa na edição de 2002 do Metropolis Awards.[1]

Críticas[editar | editar código-fonte]

Já em 1989, alguns estudiosos apresentavam questionamentos a respeito dos propósitos e da estrutura do Programa Mutirão Reflorestamento. Fontes e Coelho destacam que o projeto surgiu na sequência de outros que buscavam combater as favelas sem considerar os aspectos sociais que levaram à ocupação desses espaços urbanos.[12] Além disso, artigo elaborado por pesquisadores da UNIRIO em 2017 ressalta que os "mutirantes", membros das equipes locais do programa, representam mão-de-obra em condições precárias, sem direitos trabalhistas.[13]

A respeito da estrutura do programa, a pesquisadora Caroline Souza, da UERJ, ponderou que a participação do Estado no projeto, com remuneração e controle dos trabalhadores, acabou enfraquecendo o aspecto de mutirão comunitário. Com a adoção de um fator de produtividade, a partir de 1995, houve um fomento à competição entre os "mutirantes" e eventuais efeitos negativos para o próprio reflorestamento, com excesso de mudas em uma área limitada, inclusive de plantas que não são nativas da Mata Atlântica.[14]

Referências

  1. a b c d e f g h i Rodrigues, Denise (2007). «Mutirão Reflorestamento: 20 anos recuperando áreas degradadas naturais». Prefeitura do Rio de Janeiro. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  2. a b c d e f «Mutirão de Reflorestamento celebra 33 anos com mais de dez milhões de mudas plantadas em morros e encostas». Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 23 de novembro de 2019. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  3. a b c d e f «Mutirão Reflorestamento recupera Mata Atlântica no Rio de Janeiro». Rede Globo | Globo Ecologia. 17 de agosto de 2013. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  4. Gomes, João B. V.; Lumbreras, José F.; Oliveira, R. P. de; Bhering, Silvio B.; Zaroni, M. J.; Andrade, Aluisio G. de; Calderano, Sebastião B. (19 de setembro de 2005). «Aptidão para reflorestamento das sub-bacias dos canais do mangue e do Cunha, município do Rio de Janeiro». Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 29 (3): 459-466. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  5. Santos, Danielle G. dos (2006). Condições atuais do reflorestamento realizado pelo Projeto Mutirão Reflorestamento na Serra da Posse, município do Rio de Janeiro - RJ (PDF) (Monografia). Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 67 páginas 
  6. Pires, Ana C. B. (2008). A conservação genética de espécies arbóreas nativas em remanescentes de Mata Atlântica no município do Rio de Janeiro (PDF) (Monografia). Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 31 páginas 
  7. Figueirêdo, Lídia C. de O. (2009). Projeto piloto para o estabelecimento da metodologia a ser empregada no monitoramento do Programa Mutirão Reflorestamento no município do Rio de Janeiro - RJ (PDF) (Monografia). Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 38 páginas 
  8. Carmo, Ana G. O. do (2015). Avaliação da eficiência de ações de reflorestamento no Parque Natural Municipal do Penhasco Dois Irmãos, RJ (PDF) (Trabalho de Conclusão). Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 74 páginas 
  9. Teixeira, Renata F. (9 de agosto de 2016). O Projeto Mutirão de Reflorestamento e seus efeitos ambientais no município do Rio de Janeiro (PDF). PUC-Rio. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  10. a b «Programa de Reflorestamento do Rio completa 35 anos com 186 Maracanãs de área recuperada». Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 16 de novembro de 2021. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  11. «Mutirão de Reflorestamento». Veja Rio. 25 de novembro de 2013. Consultado em 14 de agosto de 2023. Arquivado do original em 25 de maio de 2014 
  12. Fontes, Ângela M. M.; Coelho, Franklin D. (1989). «Urbanização de favelas e o projeto mutirão: solução ou problema?». IBAMA. Revista de Administração Municipal (192): 40-60 
  13. Cunha, Lucas N. da; Sanchez, Celso (13 de agosto de 2017). A apropriação da educação ambiental pelo "capital verde": estudo de caso dos projetos Mutirão de Reflorestamento e Hortas Cariocas no Morro da Formiga, Rio de Janeiro, RJ (PDF). IX EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental. Universidade Federal de Juiz de Fora. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  14. Souza, Caroline dos S. (2019). Dentro da favela a floresta reaparece: a problemática da recuperação ambiental executada pelo Mutirão de Reflorestamento (1986-2009) no Rio de Janeiro (PDF) (Dissertação de Mestrado). São Gonçalo: Universidade Estadual do Rio de Janeiro. 104 páginas