A Noite dos Mortos-Vivos (1968)

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A Noite dos Mortos-Vivos
Night of the Living Dead
A Noite dos Mortos-Vivos (1968)
 Estados Unidos
1968 •  p&b •  96 min 
Género terror
Direção George A. Romero
Produção Russell Streiner
Karl Hardman
Roteiro John A. Russo
George A. Romero
Elenco Duane Jones
Judith O'Dea
Karl Hardman
Marilyn Eastman
Keith Wayne
Judith Ridley
Kyra Schon
Música Música de estoque
Edição George A. Romero
John A. Russo
Distribuição The Walter Reade Organization
Lançamento Estados Unidos 1 de outubro de 1968
Idioma inglês
Orçamento US$ 114 000 – US$ 125 000[1][2]
Receita US$ 30 236 452[1]
Cronologia
Dawn of the Dead

A Noite dos Mortos-Vivos[3][4] (em inglês: Night of the Living Dead), dirigido por George Romero, é um filme de terror independente de 1968 em preto-e-branco. Ben (Duane Jones) e Barbra (Judith O'Dea) são os protagonistas de uma história sobre a reanimação misteriosa de indivíduos recentemente mortos, e seus esforços, junto de outras cinco pessoas, para sobreviverem a noite enquanto presos em uma casa de fazenda na região rural da Pensilvânia.

George Romero produziu o filme com um orçamento de 114 000 de dólares, e após uma década de relançamentos cinematográficos, faturou cerca de $ 12 milhões domesticamente e US$ 30 milhões internacionalmente.[5][6] Em seu lançamento em 1968, Night of the Living Dead foi fortemente criticado por seu conteúdo explícito. Em 1999, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos o registrou ao seu Registro Nacional de Filmes como um filme considerado "historicamente, culturalmente ou esteticamente importante".[7]

Night of the Living Dead teve um grande impacto sobre a cultura estadunidense da era da Guerra do Vietnã, por ser carregado de críticas à sociedade do final dos anos 1960; um historiador o descreveu como "subversivo em diversos níveis".[8] Apesar de não ser o primeiro filme de zumbi, Night of the Living Dead é o progenitor de um subgênero contemporâneo de filmes de terror chamado "apocalipse zumbi", e influenciou o arquétipo moderno do zumbi na cultura popular.[9] Night of the Living Dead (1968), é o primeiro de cinco filmes Dead dirigidos por George Romero, e foi refeito em duas ocasiões, como Night of the Living Dead (1990), dirigido por Tom Savini, e como Night of the Living Dead 3D (2006).

No Brasil, a edição definitiva do filme em blu-ray foi lançada em 2021 pela Versátil Home Vídeo na loja virtual Versátil HV junto com a refilmagem de 1990 de Tom Savini.[10]

História[editar | editar código-fonte]

Em 1968, o cineasta George Andrew Romero presenteou os apreciadores do cinema fantástico com aquele que seria um dos maiores clássicos do horror de todos os tempos, influenciando grandes massas, grande parte do cinema fantástico, e até mesmo a indústria cultural. Com um orçamento apertado e utilizando durante o filme pouquíssimos cenários, o filme virou polêmica na época de seu lançamento por suas cenas de violência e pelo final apocalítico, chamado de satanista e "contra os valores religiosos". Antes do lançamento oficial do filme, os realizadores deparavam-se com um grande problema na distribuição do filme. As produtoras puritanas da época só distribuiriam Night of the Flesh Eaters (nome original do projeto) com cortes nas cenas sangrentas e ou um final mais otimista, o que era completamente contra a ideologia dos responsáveis pelo filme.

Produção[editar | editar código-fonte]

Cemitério de Evans City em 2007.

Enquanto cursava a Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, George A. Romero embarcou em sua carreira na indústria cinematográfica. Nos anos 1960, dirigiu e produziu comerciais para a televisão, e filmes industriais para The Latent Image, uma empresa que ele havia cofundado com os amigos John Russo e Russell Streiner. Durante esse período, o trio ficou cansado de produzir comerciais e queriam fazer um filme de terror. Segundo Romero, eles queriam capitalizar através da "sede pelo bizarro" da indústria do cinema.[11] Ele e Streiner contataram Karl Hardman e Marilyn Eastman, presidente e vice-preisdente, respectivamente, de uma firma de filmes industriais de Pittsburgh, chamada Hardman Associates, Inc., e apresentaram sua ideia para o até então filme de terror sem título.[11] Convencidos por Romero, uma empresa de produção chamada Image Ten foi formada, incluindo Romero, Russo, Streiner, Hardman e Eastman. Image Ten levantou aproximadamente $ 114 000 para o orçamento.[11][12]

O baixo orçamento ditou grande parte do processo de produção. De acordo com Hardman: "nós sabíamos que não conseguiríamos levantar dinheiro suficiente para filmarmos um filme em igualdade com os filmes clássicos de terror com os quais nós havíamos crescido. O melhor que podíamos fazer era colocar nosso elenco em um local remoto e então levar o terror para visitá-los naquele local".[11] Cenas foram rodadas perto de Evans City, 30 km ao norte de Pittsburgh, no rural Condado de Butler; a sequência de abertura foi filmada no Cemitério de Evans City, na Franklin Road, ao sul do município. As cenas internas (subindo as escadas) foram rodadas numa casa no centro de Evans City, que mais tarde se tornou os escritórios de um proeminente físico local e médico (Allsop). Essa casa ainda existe na South Washington St. (localmente chamada Mars-Evans City Road), entre as ruas interseccionadas de South Jackson e Van Buren. As cenas externas e no porão foram filmadas em uma locação a nordeste de Evans City, próxima a um parque (essa casa foi desde então demolida).[13][14]

Cena do filme em que é utilizado Bosco Chocolate Syrup em Karl Hardman para um efeito especial sangrento.

Acessórios e efeitos especiais foram simples e limitados ao orçamento. O sangue, por exemplo, era Bosco Chocolate Syrup jogado sobre os corpos dos membros de elenco.[15] Carne consumida era presunto assado. O figurino consistiu de roupas de segunda mão, e cera de coveiro serviu como maquiagem para os zumbis. Marilyn Eastman supervisionou efeitos especiais, figurino e maquiagem.[11] As filmagens aconteceram entre junho e dezembro de 1967, sob o título provisório de Night of Anubis, e mais tarde Night of the Flesh Eaters.[6][16][17] O baixo orçamento levou Romero a filmar em filme 35 mm preto-e-branco. No final, o filme completo foi beneficiado por essa decisão; o historiador de filmes Joseph Maddrey descreve a filmagem em preto-e-branco como "estilo de guerrilha", lembrando "a resoluta autoridade do jornal cinematográfico na época de guerra". Maddrey adiciona, "parece muito com um documentário sobre a perda da estabilidade social como um filme de exploração".[18]

Situação dos direitos autorais[editar | editar código-fonte]

A Noite dos Mortos-Vivos

Night of the Living Dead passou para domínio público, uma vez que a distribuidora original do filme, The Walter Reade Organization, negligenciou a adição de uma indicação de direito autoral nas cópias. Em 1968, a Lei dos Direitos Autorais dos Estados Unidos exigiu uma notificação apropriada para um trabalho manter um direito autoral.[19] Image Ten apresentou tal notificação nos frames do título do filme abaixo do título original, Night of the Flesh Eaters. O distribuidor removeu a afirmação quando mudou o título.[20] Segundo George Romero, Walter Reade "nos sacaneou".[21]

Devido ao statu de domínio público, o filme é revendido em por diversos distribuidores. Até 2009, o Internet Movie Database lista 28 cópias de Night of the Living Dead sendo vendidas em DVD, e dezenove em VHS.[22] O filme original está disponível para ser visto ou baixado sem nenhum custo em sites como Internet Archive e YouTube. Até 5 de fevereiro de 2009, foi o segundo filme mais baixado do Internet Archive, com 582.049 downloads.[23]

Sequências[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Living Dead

Night of the Living Dead é o primeiro de cinco filmes Living Dead dirigidos por George Romero. Após o filme de 1968, Romero lançou Dawn of the Dead (1978), Day of the Dead (1985), Land of the Dead (2005) e Diary of the Dead (2008). Cada filme traça a evolução da epidemia dos mortos-vivos nos Estados Unidos e as tentativas desesperadas da humanidade para lidar com isso. Como em Night of the Living Dead, Romero apimentou os outros filmes na série com críticas específicas aos períodos nos quais eles foram lançados.

No mesmo ano que Day of the Dead estreou, o corroteirista de Night of the Living Dead, John Russo, lançou um filme intitulado Return of the Living Dead. O filme de Russo oferece uma continuidade alternativa ao filme original para se opor a Dawn of the Dead, mas agiu mais como uma sátira que sequência. O filme de Russo gerou quatro continuações. A última — Return of the Living Dead: Rave from the Grave — foi lançada em 2005 como um filme para televisão.

Return of the Living Dead incitou uma batalha legal com Romero, que cria que Russo estava promovendo seu filme em direta competição com Day of the Dead como uma sequência ao filme original. No caso Dawn Associates v. Links (1978), Romero acusou Russo de "se apropriar de parte do título do antigo trabalho", plagiar o slogan promocional de Dawn of the Dead ("When there is no room in hell [...] the dead will walk the earth"), e copiar a fotografia do filme original de 1968. A Romero foi concedida uma ordem judicial que forçava Russo a cessar sua campanha promocional. Russo, entanto, recebeu permissão para manter o título.[24]

Referências

  1. a b Hughes, Mark (30 de outubro de 2013). «The Top Ten Best Low-Budget Horror Movies of All Time». Forbes. Consultado em 27 de dezembro de 2014. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2014 
  2. «Night of the Living Dead (1968)». AFI Catalog of Feature Films: The First 100 Years 1893–1993. American Film Institute. 21 de dezembro de 2021. Consultado em 20 de dezembro de 2021. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2021 
  3. A Noite dos Mortos-Vivos no AdoroCinema
  4. «A Noite dos Mortos-Vivos». no CineCartaz (Portugal) 
  5. «Night of the Living Dead» (em inglês). VH1.com. Consultado em 4 de fevereiro de 2009 
  6. a b Dados de negócios para o filme estão no Internet Movie Database, entretanto, coloca o faturamento de US$ 12 milhões como janeiro de 2000, não 1979. Página visitada em 4 de fevereiro de 2009.
  7. «U.S. film registry adds 25 new titles» (em inglês). CNN. 16 de novembro de 1999. Consultado em 4 de fevereiro de 2009 
  8. Adam Rockoff, Going to Pieces: The Rise and Fall of the Slasher Film, 1978–1986 (Jefferson, N.C.: McFarland, 2002), p.35, ISBN 0-7864-1227-5.
  9. "Zombie Movies" in The Encyclopedia of Fantasy, ed. John Clute and John Grant (New York: St. Martin's Press, 1999), p.1048, ISBN 0-312-19869-8
  10. «Blu-ray: A Noite dos Mortos-Vivos (1968/1990) - Edição Definitiva Com Pôsteres (Blu-ray + DVD)». Versátil HV. Consultado em 17 de novembro de 2021. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2021 
  11. a b c d e «Interview with Karl Hardman and Marilyn Eastman» (em inglês). Homepage of the Dead. Consultado em 6 de fevereiro de 2009 
  12. George A. Romero, Preface to John Russo, The Complete Night of the Living Dead Filmbook (Pittsburgh: Imagine, Inc., 1985), pp. 6–7, ISBN 0-911137-03-3 .
  13. Fawcett, Neil (11 de março de 2002). «Evans Cemetery: Then and Now» (em inglês). Homepage of the Dead. Consultado em 6 de fevereiro de 2009 
  14. Alan Jones, entretanto, erroneamente cita o Cemitério Allegheny na Butler Street em Pittsburgh como a locação para as filmagens. Alan Jones, The Rough Guide to Horror Movies (New York: Rough Guides, 2005), p. 118, ISBN 1-84353-521-1
  15. "The Filming" of Night of the Living Dead at Homepage of the Dead; last accessed June 24, 2006.
  16. Scrapbook, Special Features, Night of the Living Dead, Millennium Edition (DVD, Elite Entertainment, 2002).
  17. "Frightful Facts" at House of Horrors; last accessed June 24, 2006.
  18. Joseph Maddrey, Nightmares in Red, White and Blue: The Evolution of the American Horror Film (Jefferson, N.C.: McFarland, 2004), p. 51, ISBN 0-7864-1860-5 .
  19. «Omission of notice on certain copies and phonorecords». Copyright Law of the United States of America - Chapter 4: Copyright Notice, Deposit, and Registration (em inglês). U.S. Copyright Office, Circular 92. Consultado em 5 de fevereiro de 2009 
  20. United States Senate, Committee on the Judiciary, Subcommittee on Technology and the Law, Legal Issues that Arise when Color is Added to Films Originally Produced, Sold and Distributed in Black and White (Washington, D.C.: Government Printing Office, 1988), p. 83.
  21. Romero, George. «The Filming...». Homepage of the Dead. Consultado em 5 de fevereiro de 2009 
  22. «Merchandise for Night of the Living Dead (1968)». Internet Movie Database. Consultado em 5 de fevereiro de 2009 
  23. «Most Downloaded Items» (em inglês). Internet Archive. Consultado em 5 de fevereiro de 2009 
  24. Patrick J. Flinn, Handbook of Intellectual Property Claims and Remedies: 2004 Supplement (New York: Aspen Publishers, 1999), pp. 24–25, ISBN 0-7355-1125-X .

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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  • Lowenstein, Adam. Shocking Representation: Historical Trauma, National Cinema, and the Modern Horror Film. New York: Columbia University Press, 2005. ISBN 0-231-13246-8.
  • Moreman, Christopher M. "A Modern Meditation on Death: Identifying Buddhist Teachings in George A. Romero’s Night of the Living Dead," Contemporary Buddhism 9 (No. 2, 2008): pp. 151–165.
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  • Young, Lola. Fear of the Dark: 'Race', Gender and Sexuality in the Cinema. London: Routledge, 1996. ISBN 0-415-09709-6.

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