Orpheus (Liszt)

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Orpheus S.98 (Orfeu) é um poema sinfónico composto por Franz Liszt entre 1853 e 1854. É o número 4 do seu ciclo de treze Poemas sinfónicos escritos durante o período de Weimar. Foi representado pela primeira vez em 16 de fevereiro de 1854, dirigido pelo próprio compositor, como introdução à ópera de Christoph Willibald Gluck Orfeu e Eurídice.[1] O motivo da representação foi a celebração do aniversário da grã-duquesa Maria Pavlovna Romanova, que era uma música aficionada e mecenas do compositor em Weimar.[2]

Programa[editar | editar código-fonte]

Músico etrusco do «Túmulo do Triclinio», em Tarquinia.

Orpheus é um dos quatro poemas sinfónicos de Liszt como peças de carácter sobre homens de génio criativo, heroísmo ou lenda (os outros três poemas são Tasso, Lamento e Trionfo, Prometheus e Mazeppa).[3] No seu prefácio, Liszt descreve um jarrão etrusco que representa Orfeu e alude ao efeito civilizador na humanidade. Esta referência ao efeito nobilizante de Orfeu e à sua arte pode ter vindo do Orfeu representado na obra de 1829 Orphée, do filósofo de Lyon Pierre-Simon Ballanche. Para introduzir as leis da civilização, na obra de nove volumes Orfeu lidera a humanidade para a idade moderna; Ballanche fê-lo para promover uma nova filosofia para toda a Europa. Liszt era um conhecido seguidor de Ballanche e o entusiasmo do compositor foi partilhado por membros dos salões franceses durante a década de 1830, especialmente por George Sand.[2]

Instrumentação[editar | editar código-fonte]

A instrumentação desta obra é especialmente notável, e inclui duas harpas; ambas representam a lira de Orfeu e centram a atenção do espectador imediatamente em si. A harpista Jeanne Pohl, uma dos novos intérpretes virtuosos que foi chamada por Liszt a Weimar para ampliar a orquestra da corte, inspirou o compositor a escrever estes efeitos.[4]

Estrutura[editar | editar código-fonte]

Orpheus não é uma obra longa e tem forma de um crescendo gradual seguido de um final tranquilo que volta ao estado de ânimo da abertura.[1] Ao contrário de muitos outros poemas sinfónicos de Liszt, a música deste permanece em grande parte contemplativa. Por essa razão, converteu-se na peça favorita do genro de Liszt, o compositor Richard Wagner.[5]

Formalmente, Orpheusé uma forma sonata modificada com uma parte em clave secundária que contém dois temas. O segundo deles carece da energia do primeiro, permanecendo em leitmotiv que oscila entre harmonias maiores e menores. Contém, porém, uma qualidade especialmente comovedora. Este tema é apresentado por vários instrumentos solistas com uma harpa em acompanhamento. Tanto a orquestração como o estilo sugerem a interpretação deste tema como a voz de Orfeu.[5]

A etérea escala cromática ascendente nos últimos pentagramas atenua qualquer fecho decisivo que se pudesse esperar numa resolução harmónica convencional. Combinado com o tema de fecho do segundo grupo, este termina como uma visão secreta que recorda os momentos finais da história de Ballanche. Aí o narrador da história, Thamyris, é testemunha do desaparecimento de Orfeu entre as nuvens, deixando à humanidade a tarefa de desenvolver o seu legado de civilização.[5]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Searle, Humphrey (1970). «The Orchestral Works». In: Alan Walker. Franz Liszt: The Man and His Music. Nueva York: Taplinger Publishing Company. ISBN 8008-2990-5 Verifique |isbn= (ajuda) 
  • Shulstad, Reeves (2005). «Liszt's symphonic poems and symphonies». In: Kenneth Hamilton. The Cambridge Companion to Liszt. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-64462-3 
  • Walker, Alan (1989). Franz Liszt. 2: The Weimar Years, 1848–1861. Nova Iorque: Alfred A Knopf. ISBN 0-394-52540-X 

Referências

  1. a b Searle, p. 291.
  2. a b Shulstad, p. 208.
  3. Shulstad, p. 207.
  4. Shulstad, pp. 208-209.
  5. a b c Shulstad, p. 209.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]