Panfília

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Mapa da Anatólia mostrando a região da Panfília na região sul, na costa do Mediterrâneo

Panfília (em latim: Pamphylia) era uma região no sul da antiga Ásia Menor (Anatólia), entre a Lícia e a Cilícia, estendendo-se do Mediterrâneo até os montes Tauro, um território que corresponde ao da moderna província de Antalya, na Turquia. Ele fazia fronteira ao norte com a Pisídia. Durante o período romano, o termo passou a designar também uma região maior, que incluía a Pisídia e todo o território que ia até as fronteiras da Frígia e da Licônia. Neste sentido mais amplo é que o termo foi utilizado por Ptolemeu.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome Pamphylia (de onde deriva o termo "Panfília" em língua portuguesa) deriva do grego Παμφυλία[1], que é derivado, por sua vez, de πάμφυλος (pamphylos), literalmente "de tribos ou raças misturadas"[2], uma composição de πᾶν (pan), forma neutra de πᾶς (pas) "todos"[3] com φυλή (phylē), "raça, tribo"[4]. Heródoto deriva sua etimologia de uma tribo dória, os pamphyloi (Πάμφυλοι), que ele diz terem sido os colonizadores da região[5]. Esta tribo, por sua vez, ele diz ter sido batizada em homenagem a Pânfilo (Pamphylos - Πάμφυλος), filho de Aigimios[6][7].

Origens dos panfílios[editar | editar código-fonte]

Posição de Panfília no Império Romano

Os panfílios eram uma mistura de habitantes autóctones com imigrantes cilícios e gregos.[8] que se mudaram para lá vindos da Arcádia e do Peloponeso no século XII a.C.[9]. A importância da contribuição grega para a origem dos panfílios pode ser comprovada tanto pela tradição quanto pela arqueologia[10] e a Panfília pode ser considerada uma região grega desde o início da Idade do Ferro até a Alta Idade Média[11].

Diversos estudiosos já distinguiram no dialeto panfílio importantes isoglossas tanto com o arcadiano quanto com o cipriota (grego arcadocipriota), o que permite que ambas as línguas possam ser estudadas juntamente com um grupo de dialetos por vezes chamado de aqueus, uma vez que ele era utilizado não só por tribos da Acaia mas também por colonos de outras regiões falantes do grego, como os dórios e os eólios[12]

História[editar | editar código-fonte]

Em cores mais claras, os territórios perdidos pelo Império Selêucida depois da Guerra Romano-Síria em 190 a.C. A Panfília está entre eles (em azul claro)

Período pré-romano[editar | editar código-fonte]

A primeira menção história dos "panfílios" aparece em meio a um grupo de nações subjugadas pelos reis da Lídia da dinastia Mermnad. Eles próprios foram depois subjugados pelos monarcas persas do Império Aquemênida e gregos do Império Selêucida.

Província romana[editar | editar código-fonte]

Fusão com a Galácia[editar | editar código-fonte]

Depois da derrota de Antíoco III, o Grande, em 190 a.C., a Panfília estava entre as províncias anexadas pelos romanos aos domínios de seu aliado Eumenes, do Reino de Pérgamo. Algum tempo depois, os panfílios se juntaram aos pisídios e cilícios em atividades de pirataria e Sida tornou-se a principal cidade, sendo do mais próspero mercado de escravos da região. A Panfília foi também incluída por um breve período nos domínios de Amintas, o rei da Galácia, mas, depois de sua morte, a região foi transformada na província romana da Galácia.

Viagens de Paulo[editar | editar código-fonte]

Evidentemente, havia judeus ou prosélitos naquela região, pois no Pentecostes de 33, pessoas da Panfília se achavam em Jerusalém e ficaram surpresas de ouvir os discípulos falarem em seu "próprio idioma"[13]. A região foi visitada pelo apóstolo Paulo em sua primeira viagem missionária. De Pafos, no Chipre, ele, Barnabé e João Marcos navegaram para o noroeste cruzando o mar "e chegaram a Perge, na Panfília". Não se sabe com certeza se eles desembarcaram em Ataleia e viajaram por terra os poucos quilômetros até Perge ou se navegaram direto para lá; relata-se que, em tempos antigos, o rio Cestro era navegável pelo menos até Perge. Nesse ponto, João Marcos separou-se dos outros e retornou a Jerusalém, mas Paulo e Barnabé seguiram para o norte através das montanhas até Antioquia da Pisídia, na província romana da Galácia[14]. Essa rota era notória por causa dos bandidos que havia ali[15]. Na viagem de retorno, os dois viajaram através da Panfília a Perge e pregaram ali. A seguir foram para o porto de Ataleia e navegaram dali até a cidade de Antioquia, na Síria[16].

Província da Lícia e Panfília[editar | editar código-fonte]

Lycia et Pamphylia
Província da Lícia e Panfília
Província do(a) Império Romano
 
 
 
74325


Província da Lícia e Panfília (c. 120)
Capital Ataleia

Período Antiguidade Clássica
25 a.C. Incorporada à província da Galácia depois da morte de Amintas
74 Separada da Galácia e fundida com a Lícia por Vespasiano
325 Reforma de Diocleciano

A província da Lícia e Panfília (em latim: Lycia et Pamphylia) foi criada pelo imperador romano Vespasiano (r. 69–79), que fundiu a Lícia, que havia sido criada como província em 43 d.C. por Cláudio, com a Panfília, que era parte da província da Galácia desde a morte de Amintas[17][18], e a porção sul da Pisídia.

Administradores[editar | editar código-fonte]

Província da Panfília[editar | editar código-fonte]

Provincia Pamphylia
Província da Panfília
Província do(a) Império Romano e do Império Bizantino
 
325século VII


Província da Panfília num mapa da Diocese da Ásia (c. 400)
Capital Ataleia

Período Antiguidade Clássica
325 Reforma de Diocleciano
século VII Adoção dos sistema de temas
século XI Perda definitiva da região depois de Manziquerta

No final do século III, durante a reforma de Diocleciano, a província da Panfília passou a fazer parte da Diocese da Ásia, subordinada à prefeitura pretoriana do Oriente, uma situação que perdurou até o século VII, quando foi adotado o sistema de temas e a Panfília passou a compor o recém-criado Tema Cibirreota[19][20][21], a principal província marítima do Império Bizantino e base dos carabisianos[22]. Depois da desastrosa derrota na Batalha de Manziquerta (1071), a região foi perdida para os turcos seljúcidas e, apesar de uma breve recuperação durante o reinado de Manuel I Comneno (r. 1143–1180), desapareceu do registro histórico[23][24].

Sítios arqueológicos[editar | editar código-fonte]

Sés episcopais[editar | editar código-fonte]

As sés episcopais da província que aparecem no Annuario Pontificio como sés titulares são[25]:

Referências

  1. Henry George Liddell, Robert Scott. «Παμφυλία» [A Greek-English Lexicon, on Perseus] 
  2. Henry George Liddell, Robert Scott. «πάμφυλος» [A Greek-English Lexicon, on Perseus] 
  3. Henry George Liddell, Robert Scott. «πᾶς» [A Greek-English Lexicon, on Perseus] 
  4. Henry George Liddell, Robert Scott. «φυλή» [A Greek-English Lexicon, on Perseus] 
  5. HeródotoAs Histórias, 5.68
  6. William J. Slater. «Πάμφυλος» [Lexicon to Pindar, on Perseus] 
  7. George Grote : A History of Greece. p. 286; Irad Malkin : Myth and Territory in the Spartan Mediterranean. Cambridge U Pr, 2003. p. 41.
  8. «Pamphylia»  Encyclopædia Britannica
  9. Ahmad Hasan Dani, Jean-Pierre Mohen, J. L. Lorenzo, and V. M. Masson , History of Humanity-Scientific and Cultural Development: From the Third Millennium to the Seventh Century B.C (Vol II), UNESCO, 1996, p.425
  10. Arnold Hugh Martin Jones, The cities of the eastern Roman provinces, Clarendon Press, 1971, p.123
  11. John D. Grainger, The cities of Pamphylia, Oxbow Books, 2009, p.27
  12. A.-F. Christidis, A History of Ancient Greek: From the Beginnings to Late Antiquity, Cambridge University Press, 2007, p.427
  13. Atos 2:6–10
  14. Atos 13:13–14; Atos 15:38; Atos 27:5
  15. II Coríntios 11:26
  16. Atos 14:24–26
  17. Şahin, Sencer; Mustafa Adak (2007). Stadiasmus Patarensis. Itinera Romana Provinciae Lyciae. [S.l.]: Ege Yayınları. pp. 85–93 
  18. Fatih Onur (2008). «Two Procuratorian Inscriptions from Perge». Gephyra. 5: 53-66 
  19. Kazhdan 1991, p. 1127.
  20. Ahrweiler 1966, p. 80, 135.
  21. Pertusi 1952, p. 150.
  22. Pryor 2006, p. 46ff.
  23. Kazhdan 1991, p. 1127; 2048.
  24. Ahrweiler 1966, p. 273.
  25. Annuario Pontificio 2013 (Libreria Editrice Vaticana 2013 ISBN 978-88-209-9070-1), "Sedi titolari", pp. 819-1013

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ahrweiler, Hélène (1966). Byzance et la Mer: La Marine de Guerre, la Politique et les Institutiones Maritimes de Byzance aux VIIe–XVe Siècles (em francês). Paris: Presses universitaires de France 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Nesbitt, John W.; Nicolas Oikonomides (1994). Catalogue of Byzantine Seals at Dumbarton Oaks and in the Fogg Museum of Art. Volume 2: South of the Balkans, the Islands, South of Asia Minor (em inglês). Washington D. C.: Dumbarton Oaks Research Library and Collection. ISBN 0-88402-226-9 
  • Pertusi, A. (1952). Constantino Porfirogenito: De Thematibus (em italiano). Roma: Biblioteca Apostolica Vaticana 
  • Pryor, John H.; Elizabeth M. Jeffreys (2006). The Age of the ΔΡΟΜΩΝ: The Byzantine Navy ca. 500–1204 (em inglês). Leiden e Boston: Brill Academic Publishers. ISBN 978-90-04-15197-0 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]