Pilantragem

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Pilantragem
Pilantragem
Wilson Simonal (1972).
Origens estilísticas
Contexto cultural Final da década de 1960 no Rio de Janeiro
Popularidade Conhecido no Brasil
Outros tópicos
Samba Rock

Pilantragem foi um movimento cultural brasileiro ocorrido em fins da década de 1960 liderado por Wilson Simonal e Carlos Imperial. Mais do que um gênero musical a pilantragem foi uma espécie de ideário, uma declaração de (falta de) princípios, um elogio à esperteza, à malandragem. Em outras palavras, a pilantragem era a versão pop e musical do "jeitinho brasileiro".[1]

Características[editar | editar código-fonte]

A principal característica musical da pilantragem, definida por Imperial, era o samba tocado em compasso 4/4, inspirado no rock e no soul estadunidenses, particularmente nas gravações de Chris Montez feitas com o arranjador Herb Alpert do Tijuana Brass.[2] Propunha a liberdade de fusão de sonoridades estrangeiras (do jazz e do soul aos ritmos latinos) com as brasileiras (da bossa nova ao samba revisitado), propondo-se a modernizar a música popular. O projeto era claramente comercial, valorizava a espontaneidade e a incorporação das novidades, e propunha a aproximação com as massas.[3]

Outro elemento característico era a audience participation, a invocação à participação do espetáculo por parte da platéia. Para fazer o público cantar os artistas do movimento usavam como recursos tanto as apresentações de ordem unida dos tempos do quartel até esboçar os cantos orfeônicos do internato, além de dividir a plateia em vozes, pedir tons diferentes, contracantos e estender uma canção por nove ou dez minutos. Cantigas de roda e sucessos do momentos eram utilizados porque dispensavam o aprendizado da letra.[1]

Em termos estéticos era feito uso do escárnio, da ironia e do deboche, bem como em valores próprios da sociedade de consumo burguesa, como o exibicionismo de bens (como carros), as conquistas de mulheres e a auto propaganda. Em termos políticos eram o oposto do que propunham as canções engajadas da época, não apenas pela apologia ao consumo mas também pelo uso do pilantra como figura central, um tipo popular que se opunha à ideia de "povo", eixo do projeto nacional-popular. Além disso, debochava abertamente da "música universitária", a canção engajada que era o pilar da MPB.[3]

História[editar | editar código-fonte]

A Pilantragem nasceu como samba-jovem (já que fazia concessão ao uso da guitarra elétrica nos arranjos) num momento de grande efervescência cultural, quando a Jovem Guarda e a Tropicália agitavam a juventude brasileira. O movimento, idealizado por Carlos Imperial a pedido de Wilson Simonal, reuniu outros artistas como Cesar Camargo Mariano e Nonato Buzar. Este último formaria em 1968 o grupo conhecido como Turma da Pilantragem.

Nesta época, Simonal era o apresentador do programa "Show Em Si… monal" na TV Record (o primeiro programa de TV apresentado exclusivamente por um negro no Brasil),[4] e, segundo recorda Carlos Imperial, a palavra que mais surgia nas conversas entre eles e Cesar Camargo Mariano era "pilantragem". Decidiram então descartar a expressão "samba-jovem" e assumir a "pilantragem", a qual é oficialmente apresentada aos ouvintes na música Nem vem que não tem (letra de Imperial, arranjos de Mariano e voz de Simonal). Na abertura da mesma, o cantor declara: vamos voltar à Pilantragem.[5]

Apesar do seu sucesso a pilantragem não teve longa duração no cenário do universo cancional, decorrente do suposto alinhamento de Simonal com a ditadura militar.[3]

Artistas do Movimento[editar | editar código-fonte]

Homenagem[editar | editar código-fonte]

Em 2009, Ed Motta lançou em seu álbum Piquenique uma faixa intitulada justamente "A Turma da Pilantragem", onde homenageia o gênero musical. A música, cantada em dueto com Maria Rita, foi composta por Motta.[6]

Referências

  1. a b Alexandre, Ricardo. Nem vem que não tem: A vida e o veneno de Wilson Simonal. [S.l.]: Globo Livros. ISBN 9788525006653 
  2. Revista Época #597,26 de outubro de 2009 em artigo sobre a biografia de Simonal chamada "Nem vem que não tem - A vida e o veneno de Wilson Simonal", de Ricardo Alexandre
  3. a b c Hermeto, Miriam (23 de janeiro de 2018). Canção Popular Brasileira e Ensino de História – Palavras, sons e tantos sentidos. [S.l.]: Autêntica Editora. ISBN 9788582179529 
  4. Mônica Herculano (2004). «Wilson Simonal: o rei do Pa-tro-pi». Digestivo Cultural. Consultado em 13 de fevereiro de 2009 
  5. Hayssa Pacheco (novembro de 2006). «A "pilantragem"na música brasileira». Diário de Natal. Consultado em 13 de fevereiro de 2009 [ligação inativa]
  6. «Ed Motta de volta à pista influenciado por Rita Lee». O Estado de S. Paulo. Consultado em 6 de novembro de 2023