Golfinho-do-ganges

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaGolfinho-de-rio-do-sul-da-ásia
Golfinho-do-Ganges pulando para fora da água.
Golfinho-do-Ganges pulando para fora da água.
Comparação de tamanho com um humano médio
Comparação de tamanho com um humano médio
Estado de conservação
Espécie em perigo
Em perigo [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Cetacea
Subordem: Odontoceti
Família: Platanistidae
Gray, 1846
Género: Platanista
Wagler, 1830
Espécie: P. gangetica
Nome binomial
Platanista gangetica
Lebeck, 1801; Roxburgh, 1801
Distribuição geográfica
Em azul-escuro, o gangetica e, em azul-claro, o minor.
Em azul-escuro, o gangetica e, em azul-claro, o minor.
Subespécies
  • Platanista gangetica gangetica
  • Platanista gangetica minor

O golfinho-de-rio-do-sul-da-ásia (Platanista gangetica) é uma espécie de golfinho de água doce encontrado no subcontinente indiano. Conta com duas subespéciesː o golfinho-do-ganges (P. g. gangetica), com 1 200-1 800 indivíduos, habita as águas do rio Ganges na Índia; e o golfinho-do-indo (P. g. minor) habita o rio Indo, no Paquistão.[2][3] Mead e Bronwell (2005) consideram as subespécies como espécies distintas. P. g. gangetica habita sobretudo os rios Ganges e Bramaputra e seus afluentes em Bangladesh, Índia e Nepal. P. g. minor habita o rio Indo no Paquistão e seus afluentes Beás e Sutle.

Da década de 1970 até 1998, foram consideradas espécies separadas. Nesse ano, passaram a ser consideradas subespécies da mesma espécie. P. g. gangetica foi reconhecido pelo governo da Índia como "animal aquático nacional".[4] P. g. minor foi nomeado o mamífero nacional do Paquistão.[5] P. g. gangetica também é o animal oficial da cidade indiana de Guwahati.[6]

Em 2021, pesquisadores propuseram que as duas subespécies do golfinho do rio sul asiático (Platanista gangetica) - o golfinho do rio Indus (Platanista gangetica minor) e o golfinho do rio Ganges (Platanista gangetica gangetica) - deveriam ser reconhecidas como espécies completas distintas.[7]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

A espécie foi descrita por dois autores separadamente, Lebeck e Roxburgh, em 1801. Não se pode afirmar qual dos dois autores descreveu primeiro a espécie.[8] Até a década de 1970, havia uma única espécie. As duas subespécies são isoladas geograficamente e não cruzaram entre si por séculos, talvez por milhares de anos. Baseados em diferenças na estrutura do crânio, vértebras e composição lipídica, cientistas declararam, no início da década de 1970, que as duas populações eram espécies separadas.[9]

Em 1998, os resultados desses estudos foram questionados e a classificação foi revertida para o consenso pré-1970 de uma única espécie com duas subespécies, até que a taxonomia fosse definida com técnicas modernas como o sequenciamento de DNA. As mais recentes análises de DNA mitocondrial das duas populações não mostraram a variação necessária para justificar a classificação como espécies separadas.[10] Consequentemente, atualmente reconhece-se uma única espécie com duas subespécies no gênero Platanistaː P. g. gangetica (golfinho-do-ganges) e P. g. minor (golfinho-do-indo).

Descrição[editar | editar código-fonte]

O golfinho-de-rio-do-sul-da-ásia tem o bico longo e pontudo característico de todos os golfinhos de rio. Seus dentes são visíveis tanto na mandíbula superior quanto na mandíbula inferior, mesmo com a boca fechada. Os dentes dos indivíduos mais jovens têm o comprimento de quase uma polegada, e são finos e curvos. Conforme os indivíduos envelhecem, os dentes sofrem consideráveis mudanças e, em indivíduos maduros, se tornam discos achatados, ossudos e quadrados. O focinho se engrossa conforme avança para a ponta. A espécie não tem cristalino, o que a torna efetivamente cega, embora ainda seja capaz de detectar a direção e a intensidade da luz. A navegação e a caça são efetuadas através de ecolocalização.[11] São os únicos cetáceos que nadam de lado.[12]

O corpo é acastanhado e atarracado no meio. A espécie tem uma única e pequena protuberância triangular no lugar da barbatana dorsal. As nadadeiras e cauda são finas e largas em relação ao tamanho do corpo, que mede de 2 a 2,2 metros nos machos e de 2,4 a 2,6 metros nas fêmeas. O mais velho animal registrado foi um macho de 28 anos de idade, com comprimento de 199 centímetros.[13] Fêmeas maduras são maiores do que machos. Dimorfismo sexual é expresso depois que fêmeas alcançam 150 centímetros. O rostro das fêmeas continua a crescer depois que o rostro dos machos para de crescer, eventualmente se tornando vinte centímetros maior.

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

O golfinho-de-rio-do-sul-da-ásia é nativo das bacias hidrográficas do Nepal, Índia, Bangladesh e Paquistão.[14] É encontrado mais comumente em águas com abundância de presas e reduzido fluxo de água.[11]

A subespécie do Ganges (P. g. gangetica) pode ser encontrada nos sistemas hidrográficos Ganges-Bramaputra-Meghna e Karnafuli-Sangu da Índia e Bangladesh. Antigamente, sua área de ocorrência abrangia o Nepal.[11] Uma pequena subpopulação ainda pode ser encontrada no rio Gagara e, possivelmente, no rio Sapta Kosi. A maior parte da subespécie do Indo (P. g. minor) se localiza entre as barragens de Sucur e Guddu, na província do Sind, no Paquistão.[11] Duas subpopulações menores também foram registradas nas províncias do Punjab e Khyber Pakhtunkhwa. Como estes dois sistemas hídricos (Indo e Ganges) não têm qualquer ligação, é um mistério como essas duas subespécies acabaram se localizando neles. É improvável que a subespécie de um rio tenha chegado ao outro através do oceano, pois seus estuários são bem distantes entre si. De acordo com o livro "Terra dos sete riosː uma breve história da geografia da Índia", de Sanjeev Sanyal, uma explicação provável é que vários rios do norte da Índia, como o Sutle e o Yamuna, alteraram seus cursos em tempos antigos e levaram os golfinhos com eles.[15]

Biologia[editar | editar código-fonte]

Os nascimentos ocorrem no ano inteiro, mas parecem se concentrar entre dezembro e janeiro e entre março e maio.[16] Acredita-se que a gestação dura de nove a dez meses. Depois de aproximadamente um ano, os jovens desmamam. Eles alcançam maturidade sexual com aproximadamente dez anos de idade.[17] Durante a monção, os golfinhos-de-rio-do-sul-da-ásia tendem a migrar para os afluentes dos principais sistemas hídricos.[16] Ocasionalmente, indivíduos nadam deixando seus bicos emersos, podendo, ainda, saltar completa ou parcialmente fora da água e pousar de lado.[18] Se alimentam de vários tipos de peixes e camarões, incluindo carpas e bagres. São usualmente encontrados sozinhos ou em grupos frouxos, pois não formam grupos coesos.

Conservação[editar | editar código-fonte]

O comércio internacional da espécie é proibido segundo o apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção.[19] A espécie é protegida pelo Ato da Vida Selvagem Indiana, embora a legislação necessite de uma execução mais estrita.[20]

Ambas as subespécies são listadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza como "em perigo" na sua Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.[21] O golfinho-do-indo é listado como "em perigo" pelo Serviço Nacional de Pesca Marinha do Governo dos Estados Unidos, de acordo com o Ato das Espécies em Perigo. Em compensação, em anos recentes, a população de golfinhos-do-indo cegos no Paquistão aumentou.[22]

O perigo imediato para a população residente de P. gangetica no Santuário Nacional do Chambal é a diminuição da profundidade do rio Chambal e o surgimento de bancos de areia que dividem o rio em segmentos menores.[23] As medidas propostas de conservação incluem tanto a criação de santuários para a espécie como a criação de habitat adicional.

O ministro do meio ambiente e floresta declarou o golfinho-do-ganges como o animal aquático nacional da Índia. Um trecho do rio Ganges entre Sultanganj e Kahlgaon, em Bihar, foi declarado santuário da espécie com o nome de Santuário Vikramshila do Golfinho-do-ganges. É o primeiro santuário criado para a espécie.

A espécie está listada nos apêndices I e II da Convenção de Bona. Está listada no apêndice I como espécie em perigo de extinção em toda ou em significativa parte de sua área de ocorrência. O apêndice ainda declara que os signatários da convenção almejam a proteção da espécie, conservando ou restaurando os locais onde ela vive, diminuindo os obstáculos a sua migração e controlando outros fatores que poderiam ameaçá-la. Está listada no apêndice II com um status desfavorável de conservação, ou que poderia se beneficiar de cooperação internacional através de acordos.

O governo de Uttar Pradesh está divulgando antigos textos hindus com a esperança de aumentar o apoio da comunidade à salvação da espécie de seu desaparecimento. Um verso de um desses textos, o Ramáiana, enfatiza a força com que o rio Ganges teria emergido dos cachos do cabelo de Xiva, levando, junto, vários animais, entre eles o Shishumaar (golfinho-do-ganges).[24]

Interação com o homem[editar | editar código-fonte]

Ambas as subespécies vêm sendo gravemente afetadas pelo uso humano dos rios do subcontinente indiano. Muitos golfinhos ficam presos nas redes de pesca. Alguns são capturados e têm sua carne e óleo usados como linimento, afrodisíaco ou isca para bagre.

A irrigação diminuiu o nível da água nas regiões ocupadas pela espécie. A poluição das águas causada pela indústria e pela agricultura também pode ter contribuído para o declínio da população da espécie. Talvez a principal causa, porém, tenha sido a construção de mais de cinquenta represas, que causaram a segregação de populações e a diminuição do fundo genético. Atualmente, três subpopulações de golfinho-do-indo são consideradas capazes de sobrevivência a longo prazo se protegidas.[25]

Personalidade não humana[editar | editar código-fonte]

Em 20 de maio de 2013, o ministro do meio ambiente e florestas da Índia declarou que os golfinhos eram "pessoas não humanas" e, como tal, passava a ser proibido o seu cativeiro com a finalidade de entretenimento.[26] Alguns cientistas defendem que golfinhos e baleias são suficientemente inteligentes para merecerem o mesmo tratamento ético que os seres humanos recebem.[27] Consequentemente, para se manter um golfinho em cativeiro, deveria ser necessária uma justificativa legal.

Referências

  1. Smith, B.D. & Braulik, G.T. (2012). Platanista gangetica (em inglês). IUCN 2012. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2012. Página visitada em 16-11-2012..
  2. «Cego, golfinho considerado raro é levado para rio no Paquistão». G1. 7 de setembro de 2011. Consultado em 16 de novembro de 2012 
  3. A. Rus Hoelzel. Marine mammal biology: an evolutionary approach. Wiley-Blackwell, 2002. p. 8.
  4. Government of India. Disponível em http://www.moef.nic.in/sites/default/files/dolphin-eng_0.pdf. Acesso em 17 de março de 2018.
  5. Official gateway. Disponível em https://web.archive.org/web/20161128073024/http://www.pakistan.gov.pk/national_symbols.html. Acesso em 18 de março de 2018.
  6. The Times of India. Disponível em https://timesofindia.indiatimes.com/home/environment/flora-fauna/Gangetic-river-dolphin-to-be-city-animal-of-Guwahati/articleshow/52623206.cms. Acesso em 18 de março de 2018.
  7. «Indus and Ganges River Dolphins are Separate Species, New Study Shows | Biology | Sci-News.com». Breaking Science News | Sci-News.com (em inglês). Consultado em 31 de março de 2021 
  8. Rehabilitation. Disponível em http://www.repository.naturalis.nl/document/44083. Acesso em 18 de março de 2018.
  9. Pilleri, G.; G. Marcuzzi & O. Pilleri (1982). "Speciation in the Platanistoidea, systematic, zoogeographical and ecological observations on recent species". Investigations on Cetacea. 14: 15–46.
  10. ResearchGate. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/262524058_One_Species_or_Two_Vicariance_Lineage_Divergence_and_Low_mtDNA_Diversity_in_Geographically_Isolated_Populations_of_South_Asian_River_Dolphin. Acesso em 19 de março de 2018.
  11. a b c d Edge. Disponível em http://www.edgeofexistence.org/species/ganges-river-dolphin/. Acesso em 19 de março de 2018.
  12. University of Nebraska. Disponível em https://digitalcommons.unl.edu/usdeptcommercepub/138/. Acesso em 19 de março de 2018.
  13. Kasuya, T., 1972. Some information on the growth of the Ganges dolphin with a comment on the Indus dolphin. Sci. Rep. Whales Res. Inst., 24: 87-108
  14. Red list. Disponível em http://apiv3.iucnredlist.org/api/v3/website/Platanista%20gangetica Acesso em 19 de março de 2018.
  15. Sanyal, Sanjeev (2012). Land of the Seven Rivers: A Brief History of India's Geography. Penguin.
  16. a b CMS. Disponível em https://web.archive.org/web/20110611110231/http://www.cms.int/reports/small_cetaceans/data/P_gangetica/p_gangetica.htm. Acesso em 21 de março de 2018.
  17. ADW. Disponível em http://animaldiversity.org/site/accounts/information/Platanista_gangetica.html. Acesso em 21 de março de 2018.
  18. WDC. Disponível em http://ar.whales.org/guia-de-especies/delfin-del-ganges. Acesso em 21 de março de 2018.
  19. Cites. Disponível em https://www.cites.org/. Acesso em 25 de março de 2018.
  20. CMS. Disponível em https://web.archive.org/web/20110611110231/http://www.cms.int/reports/small_cetaceans/data/P_gangetica/p_gangetica.htm. Acesso em 25 de março de 2018.
  21. Red List. Disponível em http://apiv3.iucnredlist.org/api/v3/website/Platanista%20gangetica Acesso em 25 de março de 2018.
  22. Dawn. Disponível em https://www.dawn.com/news/622216/blind-indus-dolphins-population-increasin. Acesso em 25 de março de 2018.
  23. Gangetic dolphin. Disponível em file:///C:/Users/ERICO/Downloads/ch_dol.PDF. Acesso em 25 de março de 2018.
  24. The Chakra. Disponível em http://www.chakranews.com/how-hinduism-continues-to-save-dolphins-in-india/964. Acesso em 27 de março de 2018.
  25. Braulik, G. T. (2006). "Status assessment of the Indus river dolphin, Platanista minor minor, March–April 2001". Biological Conservation. 129: 579–590.
  26. The Hindu. Disponível em http://www.thehindu.com/features/kids/dolphins-get-their-due/article6119256.ece. Acesso em 31 de março de 2018.
  27. BBC News. Disponível em http://www.bbc.com/news/world-17116882. Acesso em 31 de março de 2018.
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