Politicamente correto

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O politicamente correto (ou correção política) se refere a uma suposta política que consiste em tornar a linguagem neutra em termos de discriminação e evitar que possa ser ofensiva para certas pessoas ou grupos sociais, como a linguagem e o imaginário racista ou sexista. O politicamente incorreto, por outro lado, é uma forma de expressão que procura externalizar, muitas vezes com o intuito de criticar à cultura vigente ou à própria "chatice" do politicamente correto, os preconceitos existentes na sociedade sem receios de nenhuma ordem[1]. Normalmente associado a um tipo de humor que envolve o que certos grupos mais à direita consideram como um atentando à moral e aos bons costumes, e que certos grupos mais à esquerda do espectro político consideram anti-semitismo[2], homofobia, estupro[3], racismo[4], machismo, e outras formas de supostas opressões sistemáticas. A expressão "politicamente correto" costuma aparecer em contextos editoriais e satíricos, e dessa forma, é usada de forma pejorativa por grupos políticos de diversas ideologias, muitos dos quais se auto-denominam "politicamente incorretos" (o que não ocorre inversamente), em especial para atacar àqueles que problematizam coisas que consideram não gerar prejuízos claros e objetivos à sociedade.

Características

Segundo aqueles que se autodenominam "politicamente incorretos", os defensores do "politicamente correcto" têm como objectivo tornar a linguagem mais neutra, ou seja, querem estabelecer regras a serem obedecidas por todos. Para isso censuram os "politicamente incorretos" como preconceituosos e/ou imorais. Em diversas áreas é típica a utilização de termos neutros para situações que se aplicam tanto a homens como mulheres. Um exemplo do politicamente correto[carece de fontes?] é a substituição do comum "Tribunal Europeu dos Direitos do Homem" pela frase neutra em termos de género de "Tribunal Europeu dos Direitos Humanos" (como acontece em inglês, por exemplo). O conceito filosófico do politicamente correcto é que ao evitar a utilização destes termos supostamente discriminatórios se estaria trabalhando para uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

Apesar de alguns conservadores católicos brasileiros e portugueses criticarem o uso do termo na atualidade, o fato é que ele tem a sua origem na religião, mais especificamente na religião católica. Um dos critérios para inclusão no Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica era o de “incorrecção política”. A diferença é que, no caso católico, “incorrecção política” significa estar em desacordo com as ideias políticas da Igreja Católica, já no presente caso, “politicamente incorrecto” é aquilo que gera exclusão. O primeiro, representa uma ideia de sociedade fechada; o segundo, uma ideia de sociedade aberta. E, justamente por se tratar de uma sociedade aberta, o conteúdo do que é “politicamente correcto” está sujeito a mudanças por meios democráticos. Já no caso católico, a mudança só pode ocorrer por meio do Vaticano.[5]

Conforme Gilberto Freyre no seu livroOrdem e Progresso”, não é senão à presença de padres na tribuna parlamentar, nas universidades, na imprensa, na literatura, durante o império, que se deve atribuir a sobrevivência no Brasil contemporâneo de formas demasiadamente oratórias ou excessivamente clássicas de expressão, quer parlamentar, quer literária, com todas as vantagens e, sobretudo, desvantagens decorrentes de tais excessos.[6]

Politicamente incorreto

Ver artigo principal: Discurso politicamente incorreto

O discurso politicamente incorreto é, em oposição ao chamado politicamente correto, uma forma de expressão que procura banalizar sutilezas tomadas por alguns como preconceitos sociais sem receios de nenhuma ordem.[1] O "politicamente incorreto" é liberal quanto ao julgamento e classificação de indivíduos ou grupos. Segundo os que aderem a este estilo, os indivíduos devem ter o direito de expressar livremente sentenças de amor ou ódio sem perturbação alheia. Os que são ofendidos por essa frente devem apenas aceitar uma opinião sem manifestar tendências contra ela.

Características

Segundo os defensores do politicamente incorreto, a existência do politicamente correto impede um exercício efetivo da liberdade de expressão.[7] Seus críticos dizem que "politicamente incorreto" é apenas um sinônimo para fascismo e que tais preconceitos são oriundos de discriminações atávicas contra minorias. Além disso, indicam que não há real patrulhamento dessas opiniões, que são amplamente reproduzidas nas sociedades contemporâneas.[8] Tais críticos alegam que, como qualquer coisa que eles consideram discurso de ódio, o humor politicamente incorreto não deve necessariamente ser entendido como compatível com os direitos do homem.[9] O discurso politicamente incorreto é tido, também, eventualmente, como uma forma de vigiar e controlar a liberdade de expressão de grupos não conservadores ou libertários.[10]

A expressão também foi utilizada no Brasil e no resto do mundo, embora não apenas para isso, por grupos conservadores para se referir a um suposto patrulhamento ideológico por parte de liberais e marxistas. Nos Estados Unidos, a expressão foi empregada na publicação do Guia Politicamente Incorreto, de matriz conservadora[11]. No Brasil, duas publicações de título semelhante foram divulgados recentemente: o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, e o Guia Politicamente Incorreto da História da América Latina. Em um desses livros alega-se que Evita Perón detinham bens roubados pelos nazistas.[12] Segundo resenhas do O Estado de S. Paulo e da Folha de S.Paulo, os guias buscam denegrir a imagem de figuras liberais e da esquerda, pois acreditam que toda a história anterior é uma invenção de marxistas politicamente comprometidos, e reproduzem dados que não são precisos em sua tentativa de deslegitimar a historiografia acadêmica.[13][14]

Ver também

Referências

  1. a b John K. Wilson. «The myth of political correctness: the conservative attack on higher education» 
  2. «Piada de Danilo Gentili sobre judeus de Higienópolis causa reação» 
  3. «Rafinha Bastos pode ser investigado por piada sobre estupro». Folha de S.Paulo 
  4. «Danilo Gentili chama negro de macaco» 
  5. HAGSTROM, Aurelie. The Catholic Church and Censorship in Literature, Books, Drama, and Film. In: Analytic Teaching, vol. 23, n. 2.
    2. Cultural Sensitivity and Political Correctness: The Linguistic Problem of Naming, Edna Andrews, American Speech, Vol. 71, No. 4 (Winter, 1996), pp.389-404.
    3. Ruth Perry, (1992), “A short history of the term ‘politically correct’ ”, in Beyond PC: Toward a Politics of Understanding, by Patricia Aufderheide, 1992
    4. Chang-tu Hu, International Review of Education / Internationale Zeitschrift für Erziehungswissenschaft / Revue Internationale de l'Education, Vol. 10, No. 1. (1964), pp.12–21.
    5. Kahneman, D. and Amos Tversky. 1981. “The Framing of Decisions and the Psychology of Choice”. Science, 211, pp.453-8
  6. FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. 6ª ed. São Paulo: Global, 2004, p. 780.
  7. Richard Feldstein. «Political correctness: a response from the cultural Left» 
  8. «Politicamente fascista». Conteúdo Livre 
  9. Joseph Paul Cortese. «Opposing Hate-Speech» 
  10. John K. Wilson. «Patriotic Correctness» 
  11. «The politically incorrect guide to American history» 
  12. El Clarín. «Un libro brasileño sostiene que Evita tenía bienes robados por los nazis a los judíos» 
  13. Maria L. Prado. «Lombroso oculto Livro sobre 'falsos heróis latino-americanos' usa simplificações oportunas, omissões e interpretações discutíveis, avalia professora». Estadão 
  14. Sylvia Colombo. «Livro reflete ignorância brasileira sobre a América Latina» 

Ligações externas