Carcará

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaCarcará

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Falconiformes
Família: Falconidae
Género: Caracara
Espécie: C. plancus
Nome binomial
Caracara plancus
Miller, 1777
Distribuição geográfica
Área de ocorrência do carcará.
Área de ocorrência do carcará.

O carcará (nome científico: Caracara plancus) [2] é uma espécie de ave de rapina da Ordem Falconiformes, Família Falconidae. Mede cerca de 50 a 60 cm de comprimento (da cabeça à cauda) e sua envergadura varia em torno de 123 cm. Habita o centro e o sul da América do Sul. Também é conhecido pelos nomes: caracará, carancho, caranjo, caracaraí e gavião-de-queimada[3] Taxonomicamente, o carcará não é uma águia, mas um parente distante dos falcões.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Caracará e carcará vêm do tupi karaka'rá - onomatopeia para o som que emite.[carece de fontes?] eliminada Carancho vem do tupi ka'rãi, "arranhar, rasgar com as unhas".[4]

Nome científico[editar | editar código-fonte]

Seu nome científico Caracara plancus significa: do tupi caracará = onomatopeia para o som emitido por esta ave; e do latim plancus, plangos = águia. Ou seja, Águia que emite o som “cará, cará”.

Descrição[editar | editar código-fonte]

O carcará é facilmente reconhecível, quando pousado, pelo fato de ter um penacho preto sobre a cabeça parecido com um solidéu, assim como o bico adunco e alto, que se assemelha à lâmina de um cutelo; a face, chamada de cera, varia do vermelho ou laranja quando está calmo, ao amarelo quando está irritado, disputando território ou alimento.[5][6]

Tem as costas recobertas de preto e, no peito, apresenta uma combinação de marrom claro com riscas pretas, de tipo carijó ou pedrês; suas patas são compridas e amarelas; em voo, assemelha-se a um urubu, mas é reconhecível porque sua cauda é mais longa e as asas são mais estreitas, com duas manchas de cor clara nas extremidades.

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Não é um predador especializado e sim um generalista e oportunista. Onívoro, alimenta-se de quase tudo que acha, de animais vivos ou mortos até o lixo humano, tanto nas áreas rurais como urbanas. Suas estratégias para obtenção de alimento são variadas: caça pequenos vertebrados como sapos e serpentes, e invertebrados, como insetos e aracnídeos; rouba filhotes de outras aves; arranha o solo com os pés em busca de amendoim e feijão; apanha frutos de dendê; acompanha tratores a arar a terra, para capturar minhocas e outros invertebrados. Pode ser visto coexistindo com urubus, compartilhando carniças. É comum ser avistado ao longo das rodovias para alimentar-se dos animais atropelados. Na maré baixa, caça crustáceos nos manguezais; pratica pirataria, quando persegue gaivotas para forçá-las a deixar cair suas presas.

Hábitos[editar | editar código-fonte]

Carcará em voo livre

Vive solitário, aos pares ou em grupos, beneficiando-se da conversão de florestas em áreas de pastagem. Pousa em árvores ou cercas, sendo frequentemente observado no chão, junto a queimadas e ao longo de estradas. Passa muito tempo no chão, ajudado pelas suas longas patas adaptadas à marcha, mas é também um excelente voador e planador, costuma acompanhar as correntes de ar ascendentes. Durante a noite ou nas horas mais quentes do dia, costuma ficar pousado nos galhos mais altos, sob a copa de árvores isoladas ou nas matas ribeirinhas. É visto com frequência em áreas urbanas.

Carcarás foram descritos coexistindo com urubus-de-cabeça-preta em áreas rurais e urbanas, em especial na interface entre os dois ambientes. Interações agonísticas são observadas, mas também atitudes ameaçadoras. Comportamento social interespecífico, interspecific allopreening, com interações pacíficas entre indivíduos das duas espécies, é observado e provavelmente ocorre como modo de aproximação entre caracarás e urubus na formação de um bando misto, que parece ser favorecido pela vigilância dos caracarás e seu grito de alerta.[7]

Para demarcar território ou para comunicação entre o casal, possui um chamado que origina o seu nome comum, “carcará”. Nesse chamado, dobra o pescoço para trás e mantém a cabeça sobre as costas, enquanto emite o som.

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Constrói um ninho com galhos em árvores, podendo usar as bainhas de folhas de palmeiras. Usa o ninho de outras aves também. A postura do carcará é composta de dois ou três ovos, raramente, quatro. A coloração dos ovos é entre branco e castanho avermelhado, podendo variar nas tonalidades existentes entre estas cores. Os ovos possuem manchas castanhas ou vermelhas e medem cerca de 56 a 61 mm de comprimento por 44 a 47 mm de largura. A incubação dura em média 28 dias e é feita por ambos os pais. Os filhotes saem do ninho por volta do terceiro mês de vida, mas continuam sendo cuidado pelos pais.

Referências culturais[editar | editar código-fonte]

Commons
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O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Carcará

A espécie inspirou, em 1965, a canção "Carcará", de João do Vale, que foi interpretada por Maria Bethânia no espetáculo Opinião.[8] Há menção à ave na música Caça e Caçador, da banda Angra.[9] O carcará esteve presente na telenovela da Rede Globo Roque Santeiro, de 1985. O apelido do protagonista Roque Santeiro dado pelo seu adversário Sinhozinho Malta era Carcará Sanguinolento.[10]

Além disso, Carcará é o nome do personagem líder do bando de cangaceiros no livro da pernambucana Frances Peebles que virou filme e foi transformado em minissérie, Entre Irmãs. A alcunha lhe foi dada por ter "arrancado os olhos" de um de seus inimigos, por vingança.[11]

A espécie foi adotada no ano de 2006 para representar a Agência Brasileira de Inteligência no lugar do seu símbolo anterior, a araponga.[12] A ave também é o mascote do Núcleo de Operações Aéreas da Polícia Civil de Minas Gerais - NOA, que batizou suas aeronaves como Carcará 01 e Carcará 02, helicópteros modelo esquilo e Carcará 03, um avião Embraer Sertanejo.[13] O Grupo de Busca e Reconhecimento da Força Aérea Brasileira é batizado como Esquadrão Carcará.[14]

A equipe de basquete da Associação de Basquete Cearense, participante do NBB (Novo Basquete Brasil), a liga de basquetebol Brasileira, tem o Carcará como seu mascote, que anima a torcida nos jogos.[15]

Clubes de futebol do Nordeste, como o Alagoinhas Atlético Clube, de Alagoinhas, Bahia; o Salgueiro Atlético Clube, de Salgueiro, Pernambuco,[16] o Mossoró Esporte Clube, de Mossoró, Rio Grande do Norte[17] têm como mascote o carcará, exibindo a ave nos seus escudos.[18] Na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais o time de Futebol Americano da Universidade Federal de Ouro Preto se chama Ouro Preto Carcarás.[19]

Referências

  1. «IUCN red list Caracara plancus». Lista vermelha da IUCN. Consultado em 19 de abril de 2022 
  2. Avibase. The world bird database. «Caracara Carancho Caracara [plancus or cheriway] (= Caracara plancus) (Miller, JF, 1777)». Consultado em 15 de junho de 2017 
  3. Voitina, Cristiano. «Aves Catarinenses - Caracará». Aves Catarineneses. Consultado em 4 de agosto de 2021 
  4. BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, AURÉLIO (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa Segunda ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 346 
  5. Menq, William (22 de agosto de 2017). «Aves de rapina Brasil blog». Consultado em 5 de agosto de 2021 
  6. «Você conhece o carcará? Veja cinco características curiosas da ave». Campinas: G1. EPTV. 10 de agosto de 2020. Consultado em 4 de agosto de 2021 
  7. SOUTO, Henrique Nazareth (2008). Ecology of interactions between Coragyps atratus (Bechstein, 1793) and Caracara plancus (Miller,JF, 1777) in regions of Uberlândia - MG. (Dissertação) (em inglês). Uberlândia, Minas Gerais: Universidade Federal de Uberlândia. Consultado em 4 de agosto de 2021 
  8. Marlon de Souza Silva (n.d.). «O Povo na Obra de Maria Bethânia: uma Análise do Espetáculo Opinião» (pdf). ISBN 978-85-65957-10-6. Consultado em 4 de agosto de 2021 
  9. «Caça e Caçador». Consultado em 5 de agosto de 2021. 'Vai como um rei - (carcará) - Voa na presa...' 
  10. Mara Narciso (16 de janeiro de 2017). «Caderno de descobertas». Consultado em 5 de agosto de 2021. '...eu tentava me lembrar dos três apelidos que o personagem Sinhozinho Malta dizia, quando se referia ao seu arquirrival Roque: – Carcará Sanguinolento...' 
  11. Breno Pessoa (20 de outubro de 2017). «Livro de pernambucana que inspirou filme Entre Irmãs ganha nova edição no Brasil». Consultado em 5 de agosto de 2021 
  12. CANTANHÊDE, Eliane; VALENTE, Rubens (3 de janeiro de 2006). «Abin aposenta "araponga" e adota "carcará"». Consultado em 4 de agosto de 2021 
  13. «34°BPM - PROERD: alunos visitam Hangar da PCMG». 25 de abril de 2017. Consultado em 5 de agosto de 2021 
  14. «Força Aérea Brasilra - 1º/6º GAV - ESQUADRÃO CARCARÁ». Consultado em 5 de agosto de 2021 
  15. «Torcida organizada do Basquete Cearense desaprova parceria com Fortaleza: "nós somos carcarás"». 22 de setembro de 2020. Consultado em 4 de agosto de 2021 
  16. «Salgueiro Atlético Clube». Consultado em 4 de agosto de 2021 
  17. Sérgio Oliveira (29 de junho de 2021). «Toque Esportivo: Trabalhando com Sonhos». Mossoró, Rio Grande do Norte. Consultado em 5 de agosto de 2021 
  18. https://bonifacio.net.br/carcara/
  19. «Carcaras Ouro Preto». Consultado em 5 de agosto de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]