Portulaca oleracea

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaPortulaca oleracea

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Eudicotiledôneas
Ordem: Caryophyllales
Família: Portulacaceae
Género: Portulaca
Nome binomial
Portulaca oleracea

Portulaca oleracea, comummente conhecia como beldroega[1][2] (nome genérico que partilha com outras espécies do género Portulaca), é um arbusto de folhas suculentas e flores coloridas, pertencente à família das Portulacáceas e ao tipo fisionómico dos terófitos.[3]

Nomes comuns[editar | editar código-fonte]

Além de «beldroega», esta espécie também é conhecida como beldroega-pequena[4][5], baldroega[2][3][1], beldroega-de-comer[3] e verdoega.[6]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Quanto ao nome científico desta espécie:

  • O nome genérico, Portulaca, provém do latim clássico portŭlāca[7], por alusão à espécie Portulaca oleracea.
  • O epíteto específico, oleracea, também provém do latim, neste caso do étimo ŏlĕrācĕus, que signifca «semelhante a erva; vegetal».[8]

Do que toca ao nome comum «beldroega», o substantivo «beldroega» resulta de uma deturpação moçárabe do étimo latino portŭlāca[9], para berdiláqaš (berdilacas), a qual assumiu duas variantes regionais: «berdoleca», que foi a que entrou no português arcaico e daí se converteu em «beldroega»[10]; e «berdolaca», variante que, por associação à palavra «verde» se converteu em «verdolaca»[10] e daí se transformou na actual versão espanhola da palavra, «verdolaga».[11]

O nome comum «verdoega» resulta de deturpação de «beldroega», por igual associação a «verde» [12] e/ou por possível influência do castelhano «verdolaga».[13]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie subcosmopolita, marcando ampla presença nos continentes europeu e asiático, encontrando-se naturalizada na América do Norte.[3]

Portugal[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie autóctone de Portugal Continental[1], marcando presença em todas as zonas do Noroeste, nas Terras Fria e Quente Transmontanas, no Centro Norte, em todas as zonas do Centro Leste e do Centro Sul, sendo que no Centro Oeste só se encontra no calcário e no arenoso, está ainda nas zonas do Sudeste e Sudoeste sententrional e ainda no arquipélago das Berlengas.[3] Marca presença no arquipélago dos Açores, onde é uma espécie introduzida que se naturalizou e assilvestrou.[1][14]

Em Portugal, pode encontrar-se em espaços entre os 10 e os 840 metros de altitude acima do nível do mar.[2]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie subcosmopolita, amplamente cultiva em grande parte do mundo.[5] Em todo o caso, quando não é cultivada por surgir como subespontânea courelas agricultadas e hortas[5] ou comportar-se como uma espécie ruderal[3] e despontar nas orlas de caminhos, em charnecas, nas fendas da calçada em solo de terra relvolvida,[1] ou pode ainda comportar-se como uma espécie arvense e medrar nas imediações de pinhais.[2]

Costuma privilegia solos tendencialmente argilosos e secos.[1]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma planta prostrada ou decumbente, glabra, de textura suculento-carnuda e coloração que pode alternar entre o verde e o avermelhado.[15] A beldroega é muito ramificada.[16]

As folhas são sésseis, de formato ovado-oblongo, as inferiores têm um posicionamento oposto entre si, ao passo que as superiores soem de ser alternas no seu posicionamento.[15] [16] Os pecíolos podem medir até 4 milímetros.[16]

As flores tanto podem ser solitárias, como apresentar-se em grupos de 2 ou 3.[16]

As sépalas são desiguais e aquiladas na parte superior.[15] As pétalas têm feitio obovado e são ligeramente soldadas à base, apresentando uma coloração amarelada.[16] A corola é pouco maior do que o cálice.[15]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

Portulaca oleracea foi descrita por Carlos Linneo e publicada na obra Species Plantarum em 1753.[17]

Sinonímia[editar | editar código-fonte]

  • Portulaca consanguinea Schltdl.
  • Portulaca intermedia Link ex Schltdl.
  • Portulaca marginata Kunth
  • Portulaca mundula I.M.Johnst.
  • Portulaca neglecta Mack. & Bush
  • Portulaca pusilla Kunth
  • Portulaca retusa Engelm.
  • Portulaca consanguinea Schltdl.
  • Portulaca fosbergii Poelln.
  • Portulaca hortensis Rupr.
  • Portulaca latifolia Hornem.
  • Portulaca officinarum Crantz
  • Portulaca olitoria Pall.
  • Portulaca parvifolia Haw.
  • Portulaca sativa Haw.
  • Portulaca suffruticosa Thwaites
  • Portulaca sylvestris Montandon[18]

Subespécies[editar | editar código-fonte]

História[editar | editar código-fonte]

Originariamente espontânea da Grécia à China, a beldroega é hoje uma erva infestante, especialmente a subespécie granulatostellulata, propagada em grande parte do Mundo.[5]

Beldroega no Brasil[editar | editar código-fonte]

A Beldroega é uma espécie nativa no Brasil, todavia não é considerada endêmica. Tem distribuição geográfica em todos os estados do país, inclusive no Distrito Federal. Num âmbito global, destaca-se que é extremamente difundida na Europa, sendo que boa parte do seu consumo acontece por lá.

No que se refere à distribuição no Brasil, esta ocorre comumente nos seguintes biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. É considerada uma planta anual que se reproduz exclusivamente por meio de sementes, não havendo enraizamento a partir dos ramos em contato com o solo.

A grande variabilidade existente na beldroega demonstra a viabilidade e a oportunidade de realizar um trabalho de melhoramento genético dessa espécie, seja de forma sistematizada, por uma instituição de pesquisa e desenvolvimento, seja de forma empírica, por agricultores ou organizações de agricultores em nível local.

Acredita-se que com um esforço relativamente pequeno de seleção será fácil selecionar plantas com características agronômicas desejadas, elevado vigor, folhas mais graúdas e alta produtividade, o que pode facilitar sua comercialização.

Usos[editar | editar código-fonte]

Culinária[editar | editar código-fonte]

Salada grega

Desde a antiguidade que a Portulaca oleracea tem sido usada na alimentação humana em saladas ou cozida, especialmente tendo em conta que todas as partes da planta são comestíveis. As folhas grossas e suculentas podem ser preparadas em conservas.[19]

No Egito e Sudão é cultivada comercialmente para o consumo.[20]

A Portulaca oleracea é um dos ingredientes da sopa francesa soupe bonne femme, sendo por igual usad na confecção de saladas.[21]

No Oriente, em geral é consumida cozida. No Oriente Médio aparece na receita da fatuche.

Culinária portuguesa[editar | editar código-fonte]

A beldroega assume particular relevo na culinária portuguesa, particularmente a alentejana.[22] Com efeito, as beldroegas, enquanto produto de recoleção, medram espontaneamente nas hortas, pelo que, historicamente, constituíram um recurso alimentício inestimável, para as famílias mais carenciadas. [22]

Subsequentemente, foi nesse contexto que tiveram origem receitas históricas e típicas do Sul do país, como a sopa de beldroegas,[23][24] a sopa montanheira[25], a açorda de beldroegas.[26]

Medicinais e farmacológicos[editar | editar código-fonte]

Popularmente constitui como medicamento contra afecções do fígado, da bexiga e dos rins, além de combater o escorbuto. Quando cozido é diurético e aumenta a secreção de leite materno, o suco da planta é usada para afecções dos olhos e as sementes contra parasitas intestinais. [27] É antioxidante por ser uma fonte de vitamina C,[28] anti-inflamatória, antifúngica e analgésica.[29] Folhas suculentas da beldroega têm mais ácidos graxos ômega-3 do que em alguns dos óleos de peixe. [30]

Pode ser uma ótima fonte de vitamina C e Ferro e de acordo com suas folhas suculentas podem ser fontes de ômega-3.[31] Além do uso alimentício, a espécie possui propriedades medicinais[32]. Estudos demonstraram que as folhas de P. oleracea contém, entre outros compostos, ácido linolênico, β-caroteno[33] e alcalóides.

Estudos farmacológicos demonstraram que a espécie apresenta potencial uso como antioxidante[34], e que pode ser utilizada no combate a infecções nos mais diversos órgãos do corpo humano, como por exemplo rins, fígado, olhos e bexiga, e no controle de diabetes Mellitus[35]. Inclusive, pode ter efeito diurético quando cozido.

Um estudo de 2007 comprovou a atividade hepatoprotetiva do extrato de Portulaca oleracea contra a Rifampicina, uma droga antituberculose que é nociva ao fígado, os níveis AST e ALT aumentados pela droga foram reduzidos significativamente pelo extrato após 48 horas.[36]

Portulaca oleracea constitui um ingrediente efetivo para tratamento contra o Líquen plano oral.[37]

Em um estudo de 2012, a Portulaca oleracea remove eficientemente o bisfenol A, um disruptor endócrino, a partir de uma solução hidropônica, porém, ainda não se sabe como isso acontece.[38]

Seus constituintes ativos incluem: noradrenalina, sais de cálcio, dopamina, ácido málico, ácido cítrico, ácido glutâmico, ácido aspárgico, ácido nicotínico, alanina, glucose, fructose e sucrose.[39]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f «Portulaca oleracea | Flora-On | Flora de Portugal». flora-on.pt. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  2. a b c d Carapeto, André (2021). Guia da Flora de Portugal Continental, tomo III. Lisboa: Imprensa Nacional. p. 320. 339 páginas. ISBN 9789722728805 
  3. a b c d e f «Jardim Botânico UTAD | Espécie Portulaca oleracea». Jardim Botânico UTAD. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  4. S.A, Priberam Informática. «BELDROEGA-PEQUENA». Dicionário Priberam. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  5. a b c d Borralho da Graça, J. A. (1993). Segredos e virtudes das plantas medicinais. Lisboa: Reader's Digest. p. 381. 732 páginas. ISBN 9726090164 
  6. S.A, Priberam Informática. «VERDOEGA». Dicionário Priberam. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  7. «portŭlāca| ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  8. «ŏlĕrācĕus | ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  9. «portŭlāca| ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  10. a b Bárbolo Alves, António (9 de dezembro de 2010). «Yerbas i árboles de la Tierra de Miranda - Beldroega». Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro. Revista de Letras. 1 (9): 22. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  11. «Verdolaga| Diccionário de la Lengua Española| Real Academia Española» 
  12. «verdoega». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  13. Bárbolo Alves, António (9 de dezembro de 2010). «Yerbas i árboles de la Tierra de Miranda - Beldroega». Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro. Revista de Letras. 1 (9): 22. Consultado em 15 de setembro de 2023 
  14. «Portulaca olearacea | Flora-On Açores | Flora de Portugal». acores.flora-on.pt. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  15. a b c d Pereira Coutinho, António Xavier (1913). Flora de Portugal (Plantas Vasculares): Disposta em Chaves Dicotómicas. Lisboa: Aliud. p. 252. 766 páginas 
  16. a b c d e «Flora Vascular - Toda la información detallada sobre la Flora Vascular | - Especie: Portulaca oleracea | BioScripts.net». www.floravascular.com. Consultado em 16 de setembro de 2023 
  17. «Portulaca oleracea». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Consultado em 8 de Outubro de 2009 
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  19. STOBART, Tom. Ervas, temperos e condimentos: de A a Z, pg. 85 e 86. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro (2009)
  20. D. K. Salunkhe; S. S. Kadam. Handbook of Vegetable Science and Technology: Production, Compostion, Storage, and Processing. CRC Press; ISBN 978-1-4200-5926-7. p. 559.
  21. Gil Felippe. Entre o jardim e a horta: as flores que vão para a mesa. Senac; 2003. ISBN 978-85-7359-319-8. p. 54–55.
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  23. Fernandes, Daniel. «Produtos Tradicionais Portugueses». Produtos Tradicionais Portugueses. Consultado em 16 de setembro de 2023 
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  25. Modesto, Maria de Lourdes (2012). Cozinha Tradicional Portuguesa (em Portuguese). Lisboa: Verbo. p. 271. 342 páginas. ISBN 9789722230896 
  26. Chaves, Luís (2013). Receitas e sabores dos territórios rurais. Lisboa: MINHA TERRA – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local. p. 238. 270 páginas. ISBN 9789899881303 
  27. Ademir Barbosa Júnior. Guia Prática de Plantas Medicinais. Universo dos Livros Editora; 2005. ISBN 978-85-99187-11-1. p. 24.
  28. Elsie Belcheff. A Medical Intuitive Reveals the Wonders of Purslane. Polished Publishing Group; 2012. ISBN 978-0-9878127-0-4. p. 39.
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  35. Li, Fenglin; Li, Qingwang; Gao, Dawei; Peng, Yong; Feng, Caining (28 de fevereiro de 2009). «Preparation and antidiabetic activity of polysaccharide from Portulaca oleracea L.». African Journal of Biotechnology (em english) (4): 569–573. ISSN 1684-5315. doi:10.5897/AJB2009.000-9095. Consultado em 3 de julho de 2023 
  36. Index Copernicus. The Pharmacist. Index Copernicus; 2007. p. 1–5. vol.II, no. 2
  37. Agha-Hosseini F, Borhan-Mojabi K, Monsef-Esfahani HR, Mirzaii-Dizgah I, Etemad-Moghadam S, Karagah A (2010). «Efficacy of purslane in the treatment of oral lichen planus». Phytother Res. 24 (2): 240–4. PMID 19585472. doi:10.1002/ptr.2919 
  38. Watanabe I. Harada K. Matsui T. Miyasaka H. Okuhata H. Tanaka S. Nakayama H. Kato K. Bamba T. Hirata K."Characterization of bisphenol A metabolites produced by Portulaca oleracea cv. by liquid chromatography coupled with tandem mass spectrometry." , Biotechnology & Biochemistry. 76(5):1015-7, 2012.
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Ligações externas[editar | editar código-fonte]