Positivismo lógico

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Positivismo lógico é um modelo filosófico geral, também denominada empirismo lógico ou neopositivismo, desenvolvida por membros do Círculo de Viena com base no pensamento empírico tradicional e no desenvolvimento da lógica moderna.

O positivismo lógico restringiu o conhecimento à ciência e utilizou o verificacionismo para rejeitar a Metafísica não como falsa, mas como destituída de significado. A importância da ciência levou positivistas lógicos proeminentes a estudar o método científico e explorar a lógica da teoria da confirmação.

O positivismo lógico hoje em dia é desconsiderado pela maioria dos filósofos. Mas, as correntes filosóficas desdobradas de Kuhn (que estabelece o caráter paradigmático da ciência) e Paul Feyerabend (demonstrando que na prática científica a ciência não evolui segundo normas pré-estabelecidas) geraram graves problematizações de suas idéias.

História

O positivismo lógico surgiu no início do século XX com o Círculo de Viena. Em princípio, o Círculo de Viena, liderado por Moritz Schlick, era um grupo de discussão constituído por cientistas e filósofos com o objetivo de criar uma nova filosofia da ciência com uma rigorosa demarcação do científico e do não-científico. [1] Teve influências de Ernst Mach, Percy Bridgman e Ludwig Wittgenstein, sendo este último autor do Tractatus Logico-Philosophicus, que os membros do Círculo se inspiraram expressamente neste livro para a construção das suas doutrinas. [2] A partir de 1929, o positivismo lógico começou a ter reconhecimento internacional e já possuía vários defensores, entre eles estavam filósofos e cientistas escandinavos, polacos, britânicos, alemães e norte-americanos. Um grupo que se destacou foi o Círculo de Berlim, liderado por Hans Reichenbach, em resposta à metafísica hegeliana. [1]

No fim dos anos 30, os membros do Círculo de Viena se dispersaram devido a morte de Schlick e na Alemanha o grupo também se desfez devido aos avanços do nazismo. Enquanto isso, o positivismo lógico estava sendo difundido por Alfred Jules Ayer na Inglaterra. [3]

Após a II Guerra Mundial, as doutrinas do positivismo lógico eram cada vez mais atacadas por pensadores como Willard Van Orman Quine, Karl Popper, Thomas Kuhn, Peter Strawson e Hilary Putnam, chegando a sua total decadência por volta dos anos 60. [3]

Principais Temas

Como um movimento em reação à filosofia idealista que rondava as Universidades alemãs da época, o positivismo lógico teve como características marcantes a busca por uma ciência unificada, a anti-metafísica, através do verificacionismo, e a definição de conhecimentos analítico e sintético.

Verificacionismo

Para definir se uma asserção era significativa ou não, os positivistas lógicos se utilizaram do critério de verificacionismo para fazer a demarcação entre o que era científico e o que não era. Assim, uma asserção somente era "cognitivamente significativa" se existisse um procedimento finito para determinar conclusivamente sua verdade. Uma consequência disso, é que afirmações metafísicas, teológicas e da ética falhavam nesse ponto, então eram considerados como "pseudo-problemas".[3] [4]

Mas o problema de saber realmente o que era empiricamente verificável fez surgir algumas vertentes entre os positivistas lógicos. As mais importantes foram o verificacionismo forte e o verificacionismo fraco.

  • Verificacionismo forte: Afirmava que uma asserção é verificável somente se a sua verdade podia ser conclusivamente estabelecida pelo experimento. Mas essa vertente foi bastante criticada porque era muito restritiva. Principalmente porque não verificava asserções negativas ou universais. Schlick era o maior defensor deste tipo de verificacionismo.
  • Verificacionismo fraco: Em resposta ao verificacionismo forte, Ayer propôs uma versão mais fraca. Afirmava que uma asserção era verificável se era possível a experiência para torná-la provável. Mas também recebeu críticas por ser abrangente demais. [1]

Conhecimento analítico e sintético

Utilizando como base a concepção de verificacionismo, os positivistas lógicos consideravam que apenas dois tipos de proposições tinham significado: as proposições analíticas e as proposições sintéticas.

  • O conhecimento analítico é tautológico (pode ser explicado por ele mesmo), e portanto pode ser validado a priori. Exemplos disso são a matemática pura e a própria lógica. Para entender melhor, pode-se dizer: "Todo homem solteiro é não-casado". Esta frase é verdadeira, e pode-se comprovar isso apenas analisando os elementos da frase.
  • O conhecimento sintético são afirmações sobre o mundo real, e de acordo com os positivistas só pode ser validado a posteriori, ou seja, pela observação. Um exemplo disso é a frase: "Hoje está um dia frio", que é verdadeira somente se tem uma comprovação experimental, que nesse caso, seria o próprio locutor da frase sentindo frio naquele dia. [3]

Ciência Unificada

Uma outra característica dos positivistas lógicos era que buscavam uma "teoria unificada da ciência", que pudessem usar para defender a ciência e diferenciá-la do que fosse metafísico e religioso, considerado por eles como bobagem não-científica. Eles buscavam o desenvolvimento de uma linguagem comum em que todas as afirmações científicas pudessem ser expressas.

Essa ciência unificada era caracterizada pelo reducionismo, onde se acreditava que tudo podia ser reduzido pelas explicações científicas, criando uma ciência mais fundamental. Alguns positivistas lógicos afirmavam que o desenvolvimento dessa ciência e seus métodos de maneira satisfatória seria aquela que mais correspondesse à física exemplar. [5]

Críticas ao Positivismo Lógico

As primeiras críticas ao positivismo lógico surgiram quando alguns filósofos afirmaram que seus princípios fundamentais não podiam ser formulados de forma consistente. O próprio critério de verificabilidade não era verificável e, assim, não era consistente. [1] Havia também problemas com as afirmações universais. Por exemplo, a frase "Todos os homens são mortais." não é possível ser verificada, mas é verdade de fato. E isso levou a um enfraquecimento do movimento.[6]

Percebendo o problema, Karl Popper afirmou que o critério de verificabilidade era um termo muito forte para a ciência, e substituiu pelo critério de falseabilidade. [4] Porém, Popper acreditava que o fato de simplesmente substituir o critério de demarcação utilizado pelos positivistas lógicos não era suficiente para manter o movimento, pois o mesmo já estava "morto", devido a muitos outros enganos fundamentais na filosofia positivista.[6]

Outros filósofos também atacaram o positivismo lógico com críticas, como Willard Van Orman Quine, que criticou a distinção entre conhecimentos analítico e sintético e definiu como "dois dogmas do empirismo" [7], e também Thomas Kuhn, que criticou o fato dos positivistas lógicos não darem atenção suficiente para a História da Ciência. [4]

Estado atual dentro da Filosofia

Após receber várias críticas de alguns filósofos, o positivismo lógico foi cada vez mais "abandonado" pelos seus defensores. Ao final dos anos 60, o movimento já tinha praticamente seu fim. No fim dos anos 70, um de seus principais defensores, Ayer, disse em uma entrevista: "Acho que o mais importante defeito dele... era que quase tudo nele era falso.".[8] Mas esse movimento mantém um lugar importante na história da filosofia da ciência como antecedente de filosofias contemporâneas, como o neopositivismo.

Veja também

Pessoas

Alfred Jules Ayer Alfred Tarski Carl Gustav Hempel
David Rynin Ernest Nagel Friedrich Waismann
Hans Hahn Hans Reichenbach Herbert Feigl
Jan Lukasiewicz Karl Raimund Popper Kazimierz Ajdukiewicz
Kazimierz Twardowski Kurt Grelling Ludwig Wittgenstein
Moritz Schlick Otto Neurath Philipp Frank
Stanislaw Lesniewski Tadeusz Kotarbinski Thomas Kuhn

Referências

  1. a b c d Pedro Galvão (2006). «Positivismo Lógico.» (PDF). Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos. Consultado em 21 de abril de 2013 
  2. BARBOSA FILHO, B. Sobre o positivismo de Wittgenstein - Wittgenstein no Brasil, 2008. Páginas 141 - 162.
  3. a b c d Thomas Uebel (2011). «Vienna Circle». Stanford Encyclopedia of Philosophy. Consultado em 19 de abril de 2013 
  4. a b c MOREIRA, M. A. ; MASSONI, N. T. Epistemologias do Século XX, 2011. Páginas 10 - 12.
  5. CHALMERS, A. A Fabricação da Ciência, 1939. Páginas 14 - 17.
  6. a b POPPER, K. R. Autobiografia Intelectual, 1986. Páginas 95 - 98.
  7. SILVA, E. D.; ALENCAR M. S. D.; MORAIS J. A.; BARBOSA I. S. (2012). «A epistemologia de Willard van Orman Quine e suas contribuições para o ensino de ciências.» (PDF). Revista Amazonense de Ensino de Ciências. Consultado em 26 de abril de 2013 
  8. MAGEE, B. Mens of Ideas: Some Creators of Contemporary Philisophy, 1978. Página 131