Quiropraxia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Daniel David Palmer, criador da quiropraxia.

Quiropraxia ou quiroprática[1] é uma forma pseudocientífica[2] de medicina alternativa baseada no diagnóstico e tratamento de condições do sistema músculo-esquelético, principalmente da coluna vertebral.[3][4] Os proponentes alegam que essas condições afetam o estado geral de saúde através do sistema nervoso.[4]

Revisões sistemáticas de estudos clínicos controlados de tratamentos quiropráticos não encontraram evidência de eficácia para qualquer condição médica, com a possível exceção do tratamento para dor nas costas.[5]

As técnicas de tratamento mais comuns consistem em terapias manuais, principalmente em manipulação vertebral, manipulação de outras articulações e manipulação de tecidos moles.[6] Os fundamentos da quiropraxia incluem conceitos pseudocientíficos como "subluxação vertebral" e a "inteligência inata".[5][7][8][9][10]

Uso na Medicina[editar | editar código-fonte]

Têm sido realizados numerosos estudos clínicos controlados sobre os tratamentos usados por quiropráticos, com resultados contraditórios entre si.[5] As revisões sistemáticas da literatura não encontraram evidências de que a manipulação quiroprática seja eficaz, exceto talvez do tratamento para a lombalgia.[5] Uma avaliação crítica da literatura verificou que, no seu conjunto, a manipulação vertebral não era eficaz no tratamento de qualquer condição.[11] Desconhece-se a eficácia e relação custo–eficácia dos cuidados quiropráticos.[12] Embora a manipulação vertebral possa ter uma boa relação custo-eficácia para a lombalgia sub-aguda ou crónica, os resultados para lombalgia aguda são ainda insuficientes.[13] Alguns alegam que não há dados suficientes que permitam determinar a segurança das manipulações quiropráticas.[14] Estas manipulações estão frequentemente associadas com efeitos adversos ligeiros a moderados, sendo raros os casos de complicações graves ou fatais.[15] No entanto, existe alguma controvérsia sobre o grau de risco de dissecção da artéria vertebral por manipulação quiroprática, o que pode causar AVC e morte.[16] Têm sido associados a esta técnica vários casos de morte[15] e tem sido sugerido que a relação é causal,[17][18] embora essa causalidade seja contestada por vários quiropráticos.[18]

Epidemiologia[editar | editar código-fonte]

A quiropraxia é uma prática com significativa implantação em alguns países desenvolvidos e muitas vezes no contexto de outras técnicas manuais de terapia, como massagens, osteopatia e fisioterapia.[19] A maior parte da procura por tratamentos quiropráticos deve-se a dorsalgia.[20] Os quiropráticos afirmam ser especialistas no tratamento de dores nas costas e do pescoço, embora muitos quiropráticos se proponham tratar outras condições para além do sistema músculo-esquelético.[5] Muitos quiropráticos descrevem-se a si mesmos como prestadores de cuidados de saúde primários,[5][21] embora a formação de quiropraxia não contemple as exigências de tal classificação,[4] pelo que o seu papel é limitado e contestado.[4][21] Os quiropráticos dividem-se em dois grandes grupos: os que dão ênfase ao vitalismo, à "inteligência inata" e que consideram as subluxações vertebrais a causa de todas as doenças, atualmente em minoria; e os que estão abertos a práticas de medicina convencional, como exercício físico, massagem ou terapia de gelo.[22]

História[editar | editar código-fonte]

A quiropraxia foi fundada na década de 1890 por Daniel David Palmer,[23] alegando que a tinha recebido de "outro mundo".[24] Palmer era um magnetoterapeuta, que acreditava que a manipulação da coluna vertebral seria capaz de curar doenças.[25] A prática foi desenvolvida pelo seu filho, Bartlett Joshua Palmer, no início do século XX.[23] Ao longo da sua história, a prática foi sempre controversa.[26][27] Apesar das evidências incontestáveis de que a vacinação é uma intervenção eficaz de saúde pública, existem entre os quiropráticos divergências significativas sobre o tópico,[28] o que contribui de forma negativa tanto para a saúde pública como para a aceitação dos quiropráticos pela comunidade médica.[29] Em 1966, a Associação Médica Americana classificou a quiropraxia como um "culto não científico".[30][21] No entanto, a quiropraxia possui membros organizados politicamente que têm lutado ativamente em prol da sua aceitação pública. Em décadas recentes, a prática tem obtido alguma aceitação entre médicos convencionais e entre seguradoras nos Estados Unidos.[21]

Sua organização e fundação foi realizada por Daniel David Palmer, em Davenport, Iowa nos Estados Unidos da América no ano de 1895,[31]

No ano de 2005 houve um encontro entre quiropraxistas e outros profissionais da saúde promovido pela OMS na província da Lombardia, Itália, a fim de formar um documento que preconiza a prática da profissão, onde nasceu o WHO guidelines on basic training and safety in Chiropractic, servindo como base para regulamentação da profissão em países membros da OMS, como é o caso do Brasil.[32]

Técnicas[editar | editar código-fonte]

A atuação do quiropraxista está no sistema neuro-músculo-esquelético. Os principais acometimentos tratados pela Quiropraxia são:[33]

No Brasil[editar | editar código-fonte]

No Brasil, a quiropraxia é reconhecida como ocupação pelo Ministério do Trabalho.[34] A Classificação Brasileira de Ocupações reconhece 3 tipos de profissionais:

  • Técnicos em quiropraxia desde 2008 (anteriormente denominados "Quiropatas", em 1994; e "Quiropraxistas" em 2002);[35]
  • Fisioterapeutas Quiropraxistas desde 2008;[36] e
  • Quiropraxistas (com formação de nível superior) desde 2013.[37]

Em Portugal[editar | editar código-fonte]

Em Portugal a quiropraxia está enquadrada no ordenamento jurídico como profissão da área da saúde através da portaria nº 2017-D/2014 de 8 de outubro, não existindo, no entanto, nenhuma formação na área no país.[38]

Referências

  1. Infopédia. «Definição ou significado de quiroprática no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 9 de dezembro de 2018 
  2. Para entender melhor a descrição de quiropraxia como uma pseudociência, veja:
  3. Chapman-Smith DA, Cleveland CS III (2005). «International status, standards, and education of the chiropractic profession». In: Haldeman S, Dagenais S, Budgell B, et al. Principles and Practice of Chiropractic 3rd ed. [S.l.]: McGraw-Hill. pp. 111–34. ISBN 0-07-137534-1 
  4. a b c d Nelson CF, Lawrence DJ, Triano JJ, Bronfort G, Perle SM, Metz RD, Hegetschweiler K, LaBrot T (2005). «Chiropractic as spine care: a model for the profession». Chiropr Osteopat. 13 (1): 9. PMC 1185558Acessível livremente. PMID 16000175. doi:10.1186/1746-1340-13-9. The length, breadth, and depth of chiropractic clinical training do not support the claim of broad diagnostic competency required of a PCP. Studies of chiropractic intern clinical experience provides no evidence that chiropractors are trained to a level of a diagnostic generalist for non-musculoskeletal conditions. For chiropractors to describe themselves as PCP diagnosticians is to invite comparisons to other PC diagnosticians, i.e., family practitioners, pediatricians and internists. Such comparisons will not reflect favorably on chiropractic. PCP: primary care providers 
  5. a b c d e f Ernst E (maio de 2008). «Chiropractic: a critical evaluation». Journal of Pain and Symptom Management. 35 (5): 544–62. ISSN 0885-3924. PMID 18280103. doi:10.1016/j.jpainsymman.2007.07.004 
  6. Mootz RD, Shekelle PG (1997). «Content of practice». In: Cherkin DC, Mootz RD. Chiropractic in the United States: Training, Practice, and Research. Rockville, MD: Agency for Health Care Policy and Research. pp. 67–91. OCLC 39856366  AHCPR Pub No. 98-N002.
  7. Keating JC Jr (2005). «A brief history of the chiropractic profession». In: Haldeman S, Dagenais S, Budgell B, et al. Principles and Practice of Chiropractic 3rd ed. [S.l.]: McGraw-Hill. pp. 23–64. ISBN 0-07-137534-1 
  8. Singh, S; Ernst, E (2008). «The truth about chiropractic therapy». Trick or Treatment: The Undeniable Facts about Alternative Medicine. [S.l.]: W.W. Norton. pp. 145–90. ISBN 978-0-393-06661-6 
  9. «Chiropractic». NHS Choices. 20 de agosto de 2014. Consultado em 19 de setembro de 2016 
  10. Swanson ES (2015). «Pseudoscience». Science and Society: Understanding Scientific Methodology, Energy, Climate, and Sustainability. [S.l.]: Springer. p. 65. ISBN 978-3-319-21987-5 
  11. Posadzki P, Ernst E (2011). «Spinal manipulation: an update of a systematic review of systematic reviews». N Z Med J. 124 (1340): 55–71. PMID 21952385 
  12. Leboeuf-Yde C, Hestbaek L (2008). «Maintenance care in chiropractic – what do we know?». Chiropr Osteopat. 16: 3. PMC 2396648Acessível livremente. PMID 18466623. doi:10.1186/1746-1340-16-3 
  13. Lin CW, Haas M, Maher CG, Machado LA, van Tulder MW (2011). «Cost-effectiveness of guideline-endorsed treatments for low back pain: a systematic review». European Spine Journal. 20 (7): 1024–38. PMC 3176706Acessível livremente. PMID 21229367. doi:10.1007/s00586-010-1676-3 
  14. Gouveia LO, Castanho P, Ferreira JJ (2009). «Safety of chiropractic interventions: a systematic review» (PDF). Spine. 34 (11): E405–13. PMID 19444054. doi:10.1097/BRS.0b013e3181a16d63 
  15. a b Ernst E (2007). «Adverse effects of spinal manipulation: a systematic review». J R Soc Med. 100 (7): 330–38. PMC 1905885Acessível livremente. PMID 17606755. doi:10.1258/jrsm.100.7.330. Arquivado do original em 16 de maio de 2010. Resumo divulgativoMed News Today (2 de julho de 2007) 
  16. Haynes MJ, Vincent K, Fischhoff C, Bremner AP, Lanlo O, Hankey GJ (2012). «Assessing the risk of stroke from neck manipulation: a systematic review». International Journal of Clinical Practice. 66 (10): 940–47. PMC 3506737Acessível livremente. PMID 22994328. doi:10.1111/j.1742-1241.2012.03004.x 
  17. Ernst E (2010). «Vascular accidents after neck manipulation: cause or coincidence?». Int J Clin Pract. 64 (6): 673–77. PMID 20518945. doi:10.1111/j.1742-1241.2009.02237.x 
  18. a b Ernst E (2010). «Deaths after chiropractic: a review of published cases». Int J Clinical Practice. 64 (8): 1162–65. PMID 20642715. doi:10.1111/j.1742-1241.2010.02352.x 
  19. Norris P (2001). «How 'we' are different from 'them': occupational boundary maintenance in the treatment of musculo-skeletal problems». Sociol Health Illn. 23 (1): 24–43. doi:10.1111/1467-9566.00239 
  20. Hurwitz EL, Chiang LM (2006). «A comparative analysis of chiropractic and general practitioner patients in North America: findings from the joint Canada/United States Survey of Health, 2002-03». BMC Health Serv Res. 6: 49. PMC 1458338Acessível livremente. PMID 16600038. doi:10.1186/1472-6963-6-49 
  21. a b c d Cooper RA, McKee HJ (2003). «Chiropractic in the United States: trends and issues». Milbank Q. 81 (1): 107–38, table of contents. PMC 2690192Acessível livremente. PMID 12669653. doi:10.1111/1468-0009.00040 
  22. Kaptchuk TJ, Eisenberg DM (novembro de 1998). «Chiropractic: origins, controversies, and contributions». Arch. Intern. Med. 158 (20): 2215–24. PMID 9818801. doi:10.1001/archinte.158.20.2215 
  23. a b Martin SC (outubro de 1993). «Chiropractic and the social context of medical technology, 1895-1925». Technol Cult. 34 (4): 808–34. JSTOR 3106416. PMID 11623404. doi:10.2307/3106416 
  24. «D.D. Palmer's Religion of Chiropractic» (PDF). Letter from D.D. Palmer to P.W. Johnson, D.C., May 4, 1911. 
  25. Baer, Hans A. (1 de junho de 1987). «Divergence and Convergence in Two Systems of Manual Medicine: Osteopathy and Chiropractic in the United States». AnthroSource. Medical Anthropology Quarterly. 1: 176-193. doi:10.1525/maq.1987.1.2.02a00030. Consultado em 12 de novembro de 2021 
  26. DeVocht JW (2006). «History and overview of theories and methods of chiropractic: a counterpoint». Clin Orthop Relat Res. 444: 243–49. PMID 16523145. doi:10.1097/01.blo.0000203460.89887.8d 
  27. Homola S (2006). «Chiropractic: history and overview of theories and methods». Clin Orthop Relat Res. 444: 236–42. PMID 16446588. doi:10.1097/01.blo.0000200258.95865.87 
  28. Busse JW, Morgan L, Campbell JB (2005). «Chiropractic antivaccination arguments». J Manipulative Physiol Ther. 28 (5): 367–73. PMID 15965414. doi:10.1016/j.jmpt.2005.04.011 
  29. Campbell JB, Busse JW, Injeyan HS (2000). «Chiropractors and vaccination: a historical perspective». Pediatrics. 105 (4): e43. PMID 10742364. doi:10.1542/peds.105.4.e43 
  30. Johnson C, Baird R, Dougherty PE, Globe G, Green BN, Haneline M, Hawk C, Injeyan HS, Killinger L, Kopansky-Giles D, Lisi AJ, Mior SA, Smith M (2008). «Chiropractic and public health: current state and future vision». J Manipulative Physiol Ther. 31 (6): 397–410. PMID 18722194. doi:10.1016/j.jmpt.2008.07.001 
  31. GATTERMAM, M.I. Foundations of Chiropractic - Subluxation, 1995, Ed. Mosby, St. Louis, EUA
  32. World Health Organization. "WHO guidelines on basic training and safety in Chiropractic" Arquivado em 10 de julho de 2012, no Wayback Machine.. Chiropractic Guidelines: preprint.
  33. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUIROPRAXIA,. "Quais os principais problemas tratados com Quiropraxia?". Associação Brasileira de Quiropraxia preprint.
  34. «Regulamentação da profissão de quiropraxista divide opiniões em audiência». Agência Câmara de Notícias. Consultado em 4 de agosto de 2023 
  35. «CBO 322115 - Tecnico em quiropraxia - CBO - Classificação Brasileira de Ocupações». cbo.tellesecosta.com.br. Consultado em 28 de janeiro de 2019 
  36. «CBO». www.coffito.gov.br. Consultado em 28 de janeiro de 2019 
  37. «Associação Brasileira de Quiropraxia». www.quiropraxia.org.br. Consultado em 28 de janeiro de 2019 
  38. Santos, Carolina; Santos, Carolina. «Fisioterapia ou quiroprática? Eis a questão de um corpo dorido». Observador. Consultado em 9 de dezembro de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]