República de Pastos Bons

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A República dos Pastos Bons foi um Estado não reconhecido instituído nas Regiões Nordeste e Norte do Brasil. Embora tenha sido por mais de três vezes declarado independente em relação ao Império do Brasil, nunca foi reconhecido por nenhuma entidade nacional.

Pela proposta territorial, a República dos Pastos Bons, o posterior projeto estadual, seria constituído dos territórios do sul do Maranhão, sudeste do Grão-Pará, norte do Goiás e sul do Piauí.[1] Com o advento da era republicana no Brasil, reformula-se, clamando pela formação do estado de Pastos Bons.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A região do alto sertão maranhense, onde se localiza a cidade de Pastos Bons foi a primeira a ser colonizada na região sul do Maranhão. Seus primeiros colonizadores foram os bandeirantes que partiam do interior do Ceará, da Bahia e do Pernambuco à procura de índios para servir de mão de obra escrava no litoral, e de terras para o cultivo agropastoril.[1]

Formou-se no povoado de Pastos Bons um destacamento militar – "a tropa de 1ª linha" – que serviria unicamente para "firmar posse [de territórios] e impor submissão aos selvagens"[2]. Dada esta característica, o vilarejo tornou-se importante entreposto, abrigando grande quantidade de colonos em busca de terras.

Apesar de tal importância, a "segunda porção" do território maranhense (alto sertão e zona sul dos cocais) ficou à margem dos grandes ciclos econômicos da província, recebendo pouca ou nenhuma atenção de São Luis (capital maranhense). A situação social agravou-se com os problemas de estiagem, somados à ocupação e exploração desordenada da terra, o que levava a sérios conflitos entre latifundiários e pequenos agricultores. Outro fator relevante diz respeito a comunicação da região com a capital maranhense, que estava geograficamente distante da região.[3] Para os colonos era mais fácil manter contato com Oeiras, a época capital do Piauí, do que com São Luis.[2][3]

Primeira declaração[editar | editar código-fonte]

Esta característica chamou a atenção dos líderes da Confederação do Equador, que após a derrota do referido movimento emancipacionista em 1824, fugiram para o interior nordestino, em busca de um novo local para se esconderem e restabelecerem-se. Foram estes mesmos, os líderes rebeldes que haviam fugido após o debelar da Confederação do Equador, que passaram a residir no vilarejo de Pastos Bons, que idealizaram a pretensa república.[2]

Seguindo a mesma linha de pensamento da Confederação do Equador, pretendiam a formar no Alto Sertão uma república baseada na constituição da Colômbia. Pelo plano original, a república de 1828 se estenderia desde rio Gurgueia, até a foz do Araguaia, com o rio Tocantins sendo o limite sul. Planejavam fazer uma revolução em Pastos Bons, e para isto, semearam entre a população os ideais republicanos.[2][3]

Ao longo do ano de 1828 o movimento pela república de Pastos Bons ganhou força e apoio. Entretanto acontecia paralelamente no sertão pernambucano, diversas ações de cunho republicano, principalmente nas cidades de Afogados e Santo Antão. Em fevereiro de 1828 foi proclamada a República Pernambucana. Este fato obrigou o império a tomar medidas enérgicas: foi decretado o estado de sítio da região em setembro de 1828; prisão de todos os líderes republicanos; e imposição de censura na região. Dado este acontecimento, e temendo a mesma represália em Pastos Bons, a sedição que se formava cessou.[1]

Declaração de Grajaú[editar | editar código-fonte]

Após a declaração de 1828, o governo provincial maranhense transfere a comarca de Pastos Bons para Grajaú, para assim enfraquecer politicamente o movimento emancipatório desenvolvido na primeira. Entretanto esta atitude fez fortalecer ainda mais o movimento, pois concentrou a massa crítica da região em Grajaú.[3]

Em 1835, Militão Bandeira de Barros, Juiz de Paz da Chapada do Bonfim (atual Grajaú), admirador dos conceitos de liberdades constitucionais republicanas, propagou entre a população e os políticos da região, estes ideais. Conseguindo o apoio que desejava junto aos sertanejos do sul do Maranhão, proclamou a República dos Pastos Bons. A declaração de 1835 formulou uma república nacional e democrática, mas não passou de idealização abstrata.[4][1]

A revolta e o suplício de 1840[editar | editar código-fonte]

Diante da crise do algodão, que assolou o Maranhão entre as décadas de 1830 e 1840, levando inúmeros sertanejos pobres, escravos e prisioneiros a viver em situação de extrema miséria e abandono, explode a maior revolta popular já acontecida em terras maranhenses e piauienses, a Balaiada.

Paralela a esta revolta e a todo caos econômico vivido nas baixadas maranhenses, em Oeiras e em São Luis, o alto sertão maranhense vivia uma situação de maior penúria. A região dependia quase que exclusivamente da economia do algodão, e ao ver as regiões produtoras em profunda crise, automaticamente entrou em crise.[2]

O clima de insatisfação popular se agravou e em 1840, ainda durante os acontecimentos da Balaiada, explode no alto sertão – nas cidades de Grajaú, Barra do Corda, Carolina e Pastos Bons– a revolta de 1840. Os sertanejos se levantaram contra a Guarda Nacional e atacaram os presídios, libertando os prisioneiros. Em seguida, saques e depredações aos diversos edifícios públicos aconteceram.[2]

Grupos oligarcas de ideologia liberal-republicana, se beneficiando do caos popular, espalharam a proposta separatista republicana. Em junho de 1840 a região sul do Maranhão e sul do Piauí, se declarou independente do império do Brasil, estabelecendo a capital da república de Pastos Bons em Grajaú. Os revoltosos receberam apoio de uma das facções da balaiada, os "vaqueiros", com cerca de 4.000 sertanejos comandados por Raimundo Gomes, o Cara Preta.[5]

O império como resposta, enviou tropas da Guarda Nacional vindas do Grão-Pará, da Bahia e de Goiás para sufocar a rebelião de Grajaú. Grandes embates foram registrados em Grajaú e Pastos Bons. Mal preparados e praticamente desarmados, os revoltosos foram totalmente derrotados e seus líderes presos e torturados.[2]

Com as cadeias destruídas, e não havendo local adequado para acomodar a grande quantidade de rebeldes capturados, coronel Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias) ordenou que se ateasse fogo nos locais de prisão para eliminar de uma só vez todos os prisioneiros.[2] Este ato infame foi feito nas prisões de Pastos Bons e Grajaú, e ficou conhecido como "o suplicio dos prisioneiros".[6][1]

Proposta de Taunay[editar | editar código-fonte]

Após os conflitos de 1840, o projeto de criação de uma república no alto sertão maranhense findaram. A forte repressão feita pelo império, desmobilizou as correntes político-ideológicas que davam suporte ao projeto.

Entretanto, na década de 1870 Visconde de Taunay, deputado da província de Goiás, propôs a criação de uma província com territórios desmembrados do norte de Goiás e do sul do Maranhão, com capital em Boa Vista do Tocantins ou Carolina. O projeto foi protocolado por duas vezes junto ao congresso estadual, mas nunca chegou ao plenário.

As revoltas em Boa Vista[editar | editar código-fonte]

A partir da década de 1880, ressurgem em Grajaú e Carolina lutas entre grupos oligarcas pelo domínio da região. Os grupos liberais, que apoiavam a causa republicana, liderados pelas famílias Leitão e Leda travaram intensas batalhas com os grupos conservadores maranhenses, ligados ao império. Os liberais tentaram por diversas vezes a proclamação da república de Pastos Bons, mas os conservadores com o apoio da igreja Católica conseguiu os expulsar da região, expropriando suas propriedades e excomungando-os, sendo obrigados a estabelecerem-se em Boa Vista do Tocantins, no norte de Goiás.[7]

Os primeiros liberais maranhenses que mudaram para o norte de Goiás foi o grupo liderado por Carlos Leitão. Trazendo os ideais consigo, dissemina-o em Boa Vista. Rapidamente Leitão conseguiu mobilizar a parte da população em torno da proposta republicana (República de Pastos Bons). Entretanto, com a proclamação da república brasileira em 1889, é obrigado a reformular sua proposta, apelando somente para a criação de um ente federativo, o estado de Boa Vista, que seria formado a partir do desmembramento de territórios paraense e goiano.[8]

Sob forte oposição Leitão ainda declara a criação do estado autônomo. Os grupos conservadores de Goiás, sob a liderança de frei Gil de Villa Nova e Marciel Perna, fazem uma forte campanha contrária, derrotando Leitão, e desmobilizando o processo emancipatório. Leitão é obrigado a mudar-se para o Grão-Pará.[8]

Da mesma forma que Leitão, o grupo liderado por Leão Leda é expulso do Maranhão por incitar insurreições contra o governo maranhense, e disseminar ideias separatistas. Leão Leda fixa-se em Boa Vista e retoma a proposta de Leitão – de formar um estado com territórios do Goiás e do Grão-Pará – acrescentando também os territórios maranhenses.[7]

Leão Leda consegue o apoio que desejava para declarar o estado autônomo de Pastos Bons, mas os grupos opositores mobilizam-se, e inicia-se uma das mais sangrentas guerrilhas do meio-norte do Brasil. As lutas são travadas nos três estados que perderiam territórios.[8]

Após ser derrotado no Maranhão e no Goiás, foge para o Grão-Pará, onde chuega a proclamar a criação do estado de Pastos Bons. Com forte oposição das dioceses do Goiás e do Maranhão, Leda é derrotado, sendo morto em 1909 após uma emboscada planejada por Dom Carrerot.[8]

Desmobilização e fragmentação[editar | editar código-fonte]

Após a morte de Leda, o movimento pela criação do estado de Pastos Bons é desmobilizado. Alguns líderes do movimento são presos e outros obrigados a fugir para estados vizinhos.

Duarante a era Vargas, Lysias Rodrigues tenta criar um estado com os territórios desmembrados do Pará, Maranhão e Goiás, sob o nome de estado do Tocantins. Embora tenha a mesma configuração territorial, não parte da proposta de Pastos Bons.

Após as revoluções de Boa Vista, a proposta do estado de Pastos Bons é abandonada. Entretanto ressurge em quatro outros movimentos:

  1. Tocantins, que se fortalece como movimento, e em 1989 é emancipado. O único a lograr sucesso desde então; [8]
  2. Carajás, que incicialmente surge com o nome de estado do Itacaiunas em 1910, nasce ideológicamente no seio das propostas de Pastos Bons;
  3. Maranhão do Sul, que embora tenha sido a base da proposta de Pastos Bons, é desmobilizado após a década de 1900. Ressurge na década de 1970 e é o principal herdeiro da República dos Pastos Bons;[9]
  4. Gurgueia, que fez parte da proposta republicana inicial, foi desmobilizado ainda no século XIX, somente ressurgindo na década de 1950.

Referências

  1. a b c d e CARDOSO, Clodoaldo. «Municípios Maranhenses: Pastos Bons» (PDF). IBGE 
  2. a b c d e f g h CARVALHO, Carlota. (1924). O Sertão: Subsídios para a História e a Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: Empresa Editora de Obras Scientíficas e Literárias. 30 páginas 
  3. a b c d CABRAL, Maria do Socorro Coelho. «Ideais e Manifestações Republicanas no Sertão Maranhense» (PDF). PPPG UFMA 
  4. «Grajaú (Maranhão)». Portal Maranhão do Sul [ligação inativa]
  5. «Revoltas no Norte: Cabanagem, Balaiada e Sabinada». Empresa Municipal de Multimeios Ltda. – MultiRio 
  6. «O Brasil Monárquico». Cola da web 
  7. a b FERREIRA, Antônio José de Araújo. «O Estado do Maranhão do Sul: velha idéia e realidade?» (PDF). Núcleo humanidades – UFMA [ligação inativa]
  8. a b c d e MARTINS, Mário Ribeiro. «Tolstoi e o Padre João: Quem foi Leão Leda?». Usina de Letras 
  9. OLIVEIRA, Fátima. «Fátima Oliveira: O sonho da Sibéria maranhense». Vi o Mundo 

Ver também[editar | editar código-fonte]