Rota dos Tropeiros

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Monumento arquitetônico com o símbolo da Rota dos Tropeiros, em Telêmaco Borba, no Paraná.
Monumento aos tropeiros, na cidade da Lapa, no Paraná.

A Rota dos Tropeiros é uma rota turística no Estado do Paraná, no Sul do Brasil.[1] A rota é proveniente de uma antiga rota do Caminho das Tropas, pela consequência do Tropeirismo no Paraná.[2] Aonde os tropeiros se abrigavam de um dia para o outro, foram se transformando em núcleos, que deram origem as vilas, sendo que muitos desses lugares hoje são cidades.[3] A rota ganhou essa denominação dentro do Paraná, com objetivo de reunir cultura, tradições e história entre os municípios paranaenses, promovendo principalmente o turismo e a integração da região.[4][5][6]

História[editar | editar código-fonte]

Região dos Campos Gerais do Paraná, em 1827.
Tropeiros na cidade da Lapa, Paraná.
Museu do Tropeiro, na cidade de Castro.

Com o surgimento do Tropeirismo no Brasil, por volta do ano de 1730, florescia a comercialização de animais no sul do país. O movimento iniciado nos primórdios do século XVIII, permaneceu até a década de 1930, quando encerrou-se o ciclo.

Vindo do Rio Grande do Sul, as tropas, no Paraná se deparavam com condições privilegiadas, fartura em campos de pastagens, podendo permanecer até um período de seis meses. O destino final da comercialização de tropas de animais era Sorocaba, o percurso entre o sul e sudeste brasileiro ficou conhecido como Caminho das Tropas, Caminho de Viamão, Estrada do Sul ou ainda Estrada da Mata, mais tarde no Paraná designou-se ‘’’Rota dos Tropeiros’’’, localizada grandemente na região do Campos Gerais do Paraná.[3][6]

Com o passar do anos, o fato de ocorrer as paradas das tropas, que era de grande necessidade, fez que nesses locais estratégicos, surgissem com o passar do tempo, pequenos núcleos populacionais, que iam se desenvolvendo, crescendo, ganhando força, surgindo assim muitas cidades.[3] Embora o ciclo econômico do tropeirismo tenha dado como encerrado, ainda existe esse comércio e meios de negociações de tropas de animais, principalmente no interior.

Projeto turístico[editar | editar código-fonte]

Em 1985, o Paraná participou de um "Protocolo de Intenções” entre o Ministério da Cultura, através da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN/Pró-Memória - e organismos oficiais encarregados da preservação do patrimônio de quatro estados do Sul/Sudeste do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.[6] O principal objetivo era o desenvolvimento de uma ação conjunta para “identificar, preservar e revitalizar o patrimônio cultural dos Caminhos das Tropas”.[6]

Típica sede de fazenda ainda preservada em Carambeí.
Casarão da Fazenda Velha, antiga sede da fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba.
Estrada rural em Sengés.

Em 1986, a Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, elaborou junto aos técnicos de diferentes áreas do conhecimento – arquitetos, historiadores e antropólogos, um plano de trabalho que pretendia resgatar elementos, materiais e imateriais do patrimônio cultural paranaense, relativos ao “tropeirismo”.[6] O estudo foi dividido em 5 módulos, compreendendo: Arquitetura de Fazendas dos Campos Gerais - análise de fazendas ainda existentes ao longo do antigo Caminho das Tropas. Memória e Cotidiano - identificar as formas do viver cotidiano, elementos culturais que, mesmo transformados, indicassem alguma relação com hábitos e costumes próprios ao tropeirismo. Evolução Urbana - análise da evolução da ocupação urbana das cidades paranaenses, originadas ou impulsionadas pelo tropeirismo. Posturas Municipais - busca de legislação e documentos que orientavam e organizavam a configuração espacial das cidades no século XIX, e o modelo de cidade que era então vigente. Depoimentos - resgate da história de vida e a memória de pessoas que tiveram envolvimento com o tropeirismo.[6]

Paisagem do município de Piraí do Sul.
Vista de uma área de lazer em uma propriedade rural de Palmeira.
Paisagem rural ao amanhecer em Campo Largo.

A Rota dos Tropeiros foi lançada finalmente em 2002 com o objetivo de alavancar o desenvolvimento econômico da região por meio do turismo.[6] O então projeto se apropriava de um dos principais fatores históricos do Paraná, o tropeirismo. Com base nesta temática, o projeto foi idealizado em uma abordagem cultural, buscando resgatar elementos e reunir as diferentes representações sociais de interesse turístico. Na sua implantação e desenvolvimento, o projeto reuniu uma equipe com diversos profissionais, como agentes de instituições públicas e privadas e empreendedores. Assim foi pensado e discutido como melhor construir o roteiro e atingir os principais alvos.[6]

Neste sentido, foram desenvolvidas iniciativas que promoveram as transformações de bens culturais, que passaram da condição de apenas bens históricos para atrações turísticas, promovendo assim mudanças na percepção do patrimônio regional através de uma política de equipamentos culturais e turísticos em um território.[6] O objetivo da rota é delimitar esse território que reunisse os municípios que abordassem a mesma temática do produto turístico (tropeirismo). No processo de caracterização desta área, buscou-se nos municípios da região dos Campos Gerais e ao sul da região metropolitana de Curitiba encontrar essa herança cultural, que pudessem juntos trabalhar uma mesma identidade regional, com mais enfoque no turismo rural do que no turismo urbano.[6]

Um dos maiores desafios era em reunir os municípios que, por ora, possuíam diferentes vocações econômicas e uma diversificada influência cultural.[6] Algumas cidades já tradicionalmente destacam mais as influências históricas e culturais de imigrantes, por exemplo, alemães, poloneses ou holandeses,[7] que ajudaram a colonizar a região.[6] Sendo assim, ainda é possível observar uma resistência de certos municípios em pertencerem a rota turística, embora possuem inúmeros vestígios, mesmo que fragmentados ou superficiais, relacionados ao tropeirismo. Contudo, cabe salientar que nem todos os municípios compreendidos pelo projeto Rota dos Tropeiros elegem o tema “tropeirismo” como “marca” de sua identidade.[6]

Somente em 2004 foi lançado o “Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil”, iniciativa federal com a finalidade de melhor estruturar, organizar, ampliar, diversificar e qualificar a oferta turística de forma regionalizada, através da estruturação de roteiros integrados entre municípios.[6]

Municípios[editar | editar código-fonte]

Monumento arquitetônico não oficial com o símbolo da Rota dos Tropeiros, em Tibagi, no Paraná.

A Rota dos Tropeiros envolve dezesseis municípios localizados na Região Metropolitana de Curitiba e Campos Gerais, que são ligados por mais de oitocentos quilômetros e 21 rodovias.[1] Conforme previsto no projeto, na entrada principal de cada cidade foi implantado um monumento arquitetônico para produzir um “pórtico de identificação” com o símbolo da rota. Ao percorrer a rota, o roteiro pode ser iniciado em Rio Negro, passando por paisagens de Campo do Tenente, Lapa, Porto Amazonas, Balsa Nova, Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa, Carambeí, Castro, Tibagi, Telêmaco Borba, Piraí do Sul, Arapoti, Jaguariaíva e concluindo em Sengés.[1] Mais de 100 municípios paranaenses possuem algum tipo de ligação com o tropeirismo.[6] No entanto, para caracterizar geograficamente a rota, foram selecionados os municípios com maior ligação histórica para então viabilizar este produto turístico:[6]

Regulamentação[editar | editar código-fonte]

Propriedade rural na localidade do Guartelá, em Tibagi.
Paisagem de uma propriedade rural em Castro.

Em 27 de setembro de 2017 o governo do Paraná regulamentou por meio da Lei 19.141 a atividade de turismo rural como atividade rural na Rota dos Tropeiros.[8][9] A iniciativa firmou diretrizes aos estabelecimentos que compõe a rota para serem considerados turismo rural, oferecendo mais segurança aos empreendedores.[9]

Na Rota dos Tropeiros a atividade de turismo rural podem ser vinculada ou não à exploração de atividade agropecuária.[9] As atividades são classificadas em: administração de hospedagem em meio rural;[9] fornecimento de alimentação e bebidas em restaurantes e meios de hospedagem rurais;[9] organização e promoção de visitas a propriedades rurais produtivas ou propriedades rurais inativas de importância histórica;[9] exploração de vivência de práticas do meio rural;[9] exploração de manifestações artísticas ou religiosas no meio rural.[9][10][11][12][13]

Turismo[editar | editar código-fonte]

O turismo na região embora seja diversificado e muito apreciado, é ainda pouco explorado e divulgado.[6] A temática tropeira como forma de produto turístico ainda é recente e se sobrepõe com outros segmentos turísticos consolidados ou em ascensão na região como: turismo gastronômico, turismo rural, turismo de negócios e eventos, turismo técnico científico, turismo industrial, ecoturismo.[2][14][15][16][6]

Paisagem típica da rota turística, em Castro, no Paraná.

Atrativos culturais[editar | editar código-fonte]

Conjunto arquitetônico localizado na antiga rua das tropas, na cidade da Lapa.

Grande é a herança cultural nas regiões que os tropeiros passaram no Paraná. Criou-se uma língua de entendimento, novos hábitos de alimentação, de vestir, de musicalidade, de religiosidade, folclore, práticas de medicina, organização social como as conquistas que mudaram o sul do país.[2] No Paraná, ficou instituída pela Lei n° 14356 de 2004 a primeira semana do mês de outubro como sendo a “Semana do Tropeiro” e, o dia 5 de outubro, o “Dia do Tropeiro”.[6]

Atrativos religiosos[editar | editar código-fonte]

Santuário de Nossa Senhora das Brotas, padroeira de Piraí do Sul, do Caminho das Tropas e da Rota dos Tropeiros.

A crença é uma das características mais marcantes na rota, fazendo que com a fé seja também uma herança dos tropeiros. A religiosidade rural e campeira do interior do Paraná herdou traços tradicionais com base na formação católica apostólica romana. A maioria dos tropeiros eram cristãos católicos e ajudaram a formar diversas edificações religiosas, igrejas, cerimônias, festas, eventos religiosos e atrações.[2] Em 2004, Nossa Senhora das Brotas foi conclamada padroeira da Rota dos Tropeiros.[17] Os principais atrativos religiosos da rota são:

Atrativos gastronômicos[editar | editar código-fonte]

Prato servido com entrevero de pinhão.

Ao anoitecer os tropeiros se reuniam para comer e esperar a noite passar, descansando junto ao fogo, tomando bebidas quente, contando os “causos”, histórias e lendas, acomodando-se para repousar.[2] A gastronomia tropeira está presente em muitos municípios, até mesmo aqueles que nem pertence a Rota dos Tropeiros, mas por uma razão ou outra, também sofreu influências.[15][16]

Há muitas opções de restaurantes e fazendas localizadas na rota que oferecem cardápios diversificados, baseando-se na tradicional culinária tropeira.[2][15][16] Os principais ingredientes utilizados na culinária tropeira eram oriundos da própria região, como o uso de pinhão.[16] A base da comida tropeira era o arroz, o feijão-preto, a farinha e a carne salgada desfiada, conhecida também como charque, normalmente trazida do Rio Grande do Sul.[2][15][16] Entre os principais pratos que eram preparados estão o virado, o feijão tropeiro, o arroz com carne seca, a paçoca de carne e o entrevero de pinhão.[2][23][24] Já as bebidas mais utilizadas eram o chimarrão e o café tropeiro.[6]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c «Paraná dá início à Rota dos Tropeiros». Tribuna do Paraná. 27 de maio de 2003. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  2. a b c d e f g h i Governo do Paraná (26 de abril de 2019). «História, cavalgada e natureza encantam na Rota dos Tropeiros». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  3. a b c «Você conhece a história da região dos Campos Gerais?». Diário dos Campos. 28 de abril de 2017. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  4. «Palmeira está incluída na Rota dos Tropeiros e na Rota do Vinho». Gazeta de Palmeira. 6 de outubro de 2017. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  5. «A Rota dos Tropeiros no Estado do Paraná oferece histórias, festas religiosas e vistas privilegiadas». Guia do Turismo Brasil. 2019. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  6. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Moara Zuccherelli (2008). «A "Rota dos Tropeiros" - projeto turístico na região dos Campos Gerais: um olhar antropológico.». Universidade Federal do Paraná. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  7. Turismo com sotaque holandês nos Campos Gerais. Tribuna do Paraná, 4 de maio de 2005. Consultado em 15 de julho de 2015
  8. Rasca Rodrigues; Anibelli Neto (2015). «Projeto de Lei nº 857/2015». Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  9. a b c d e f g h «Lei 19.141 - Regulamenta a atividade de turismo rural como atividade rural na Rota dos Tropeiros.». Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. 27 de Setembro de 2017. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  10. «Richa sanciona leis para fomento do turismo rural». Diário dos Campos. 2 de outubro de 2017. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  11. «Turismo nas cidades da Rota dos Tropeiros será fortalecido». Jornal da Manhã. 2 outubro de 2017. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  12. «Governador sanciona leis para fomento do turismo rural». Bem Paraná. 2 de outubro de 2017. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  13. Mariana Ohde (3 de outubro de 2017). «Paraná formaliza rotas do Vinho e dos Tropeiros». Paraná Portal. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  14. Geraldo Gurgel (15 de Julho de 2016). «Atrativos naturais, históricos e culturais na Rota dos Tropeiros do Paraná». Ministério do Turismo. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  15. a b c d e f Viaje Paraná (2019). «Campos Gerais». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  16. a b c d e f Viaje Paraná (2019). «Rotas do Pinhão». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 18 de dezembro de 2019 
  17. «Rota dos Tropeiros» (php). rotadostropeiros.com.br. Consultado em 28 de dezembro de 2010 
  18. Fundação Municipal de Turismo (2019). «Capela Santa Bárbara». Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  19. Viaje Paraná (2019). «Lapa». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  20. «Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana - Santa do Paredão/Serra Velha». Prefeitura Municipal de Jaguariaíva. Consultado em 26 de novembro de 2014 
  21. a b Viaje Paraná (2019). «Jaguariaíva». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  22. «Igreja do Bom Jesus da Pedra Fria». Secretaria de Estado da Cultura. Consultado em 26 de novembro de 2014 
  23. «Aprenda a fazer a versão paranaense do 'Entrevero'». G1. 4 de junho de 2012. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  24. «Turismo Gastronômico na região Campos Gerais do Paraná». Secretaria do Esporte e do Turismo. Consultado em 20 de dezembro de 2019 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • KAISER, Jaksam. (2006), “Aventura no Caminho dos Tropeiros”. Florianópolis, Editora Letras Brasileiras.
  • KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. (2006), “A Lapa e o Tropeirismo”. Curitiba, Total Editora Ltda: IPHAN.
  • MACHADO, Brasil Pinheiro. (1963), “Formação da estrutura agrária tradicional dos Campos Gerais”, in Boletim da Universidade do Paraná, Curitiba, n.3.
  • POLINARI, Marcelo. (1989), “Tropeirismo: um modo de vida”. Cadernos do Patrimônio, Secretaria de Estado da Cultura, Coordenadoria do Patrimônio

Cultural, Curitiba.

  • TRINDADE, Jaelson Bitran. (1992), “Tropeiros”. São Paulo, Editoração Publicações e Comunicações Ltda.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]