Síndrome de Estocolmo

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 Nota: Para o filme com Ethan Hawke, veja Stockholm (2018).
Kreditbanken em Norrmalmstorg, Estocolmo

Síndrome de Estocolmo ou síndroma de Estocolomo (Stockholmssyndromet em sueco) é uma condição ou teoria proposta que tenta explicar por que, às vezes, reféns desenvolvem um vínculo psicológico com seus captores.[1][2] Supõe-se que resulte de um conjunto bastante específico de circunstâncias, ou seja, os desequilíbrios de poder contidos em situações de reféns, sequestros e relacionamentos abusivos. Portanto, é difícil encontrar um grande número de pessoas que experimentam a síndrome de Estocolmo para conduzir estudos com qualquer tipo de validade ou tamanho de amostra útil. Isso dificulta determinar tendências no desenvolvimento e nos efeitos da condição[3] e na verdade é uma "doença contestada" devido a dúvidas sobre a legitimidade da condição.[4]

Os laços emocionais podem possivelmente se formar entre captores e cativos, durante o tempo íntimo juntos, mas esses são considerados irracionais por alguns à luz do perigo ou risco enfrentado pelas vítimas. A síndrome de Estocolmo nunca foi incluída no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), a ferramenta padrão para o diagnóstico de doenças e transtornos psiquiátricos nos Estados Unidos, principalmente devido à falta de um corpo consistente de pesquisa acadêmica.[4] A síndrome é rara: de acordo com dados do FBI, cerca de 8% das vítimas de sequestro mostram evidências da síndrome de Estocolmo.[5]

A síndrome de Estocolmo é paradoxal porque os sentimentos simpáticos que os cativos sentem em relação aos seus captores são o oposto do medo e desdém que um observador pode sentir em relação aos captores.

Existem quatro componentes-chave que caracterizam a síndrome de Estocolmo:[6]

  • O desenvolvimento de sentimentos positivos por parte do refém em relação ao captor
  • Nenhuma relação prévia entre refém e captor
  • Recusa dos reféns em cooperar com a polícia e outras autoridades governamentais
  • A crença do refém na humanidade do captor, deixando de percebê-lo como uma ameaça, quando a vítima compartilha dos mesmos valores do agressor.

A síndrome de Estocolmo é uma "doença contestada" devido à dúvida sobre a legitimidade da condição.[4] Também descreve as reações de algumas vítimas de abuso além do contexto de sequestros ou tomada de reféns. Ações e atitudes semelhantes às que sofrem da síndrome de estocolmo também foram encontradas em vítimas de abuso sexual, tráfico humano, terror e opressão política e religiosa.[7]

Nome[editar | editar código-fonte]

Essa síndrome recebe seu nome em referência ao famoso assalto de Norrmalmstorg[8] do Kreditbanken em Norrmalmstorg, Estocolmo que durou de 23 a 28 de agosto de 1973. Nesse acontecimento, as vítimas continuavam a defender seus raptores mesmo depois dos seis dias de prisão física terem terminado e mostraram um comportamento reticente nos processos judiciais que se seguiram. O termo foi cunhado pelo criminólogo e psicólogo Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o assalto, e se referiu à síndrome durante uma reportagem. Ele foi então adotado por muitos psicólogos no mundo todo.

Explicação[editar | editar código-fonte]

A síndrome é relacionada à captura da noiva e tópicos semelhantes na antropologia cultural.

A princípio, as vítimas passam a se identificar emocionalmente com os sequestradores por meio de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos raptores são frequentemente amplificados porque o refém não consegue ter uma visão clara da realidade e do perigo em tais circunstâncias. Por esse motivo, as tentativas de libertação são tidas como ameaça. É importante notar que os sintomas são consequência de um stress físico e emocional extremo. O complexo e dúbio comportamento de afetividade e ódio simultâneo junto aos raptores é considerado uma estratégia de sobrevivência por parte das vítimas.

Observa-se que o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso. A mente fabrica uma estratégia ilusória para proteger a psique da vítima. A identificação afetiva e emocional com o sequestrador acontece para proporcionar afastamento emocional da realidade perigosa e violenta a qual a pessoa está sendo submetida. Entretanto, a vítima não se torna totalmente alheia à sua própria situação, parte de sua mente conserva-se alerta ao perigo e é isso que faz com que a maioria das vítimas tente escapar do sequestrador em algum momento, mesmo em casos de cativeiro prolongado. Não são todas as vítimas que desenvolvem traumas após o fim da situação.

É importante notar que a síndrome de Estocolmo não é um diagnóstico psicológico, não existindo consenso entre os especialistas se esta condição realmente existe.[9]

História[editar | editar código-fonte]

O caso mais famoso e mais característico do quadro da doença é o de Patty Hearst, que desenvolveu a síndrome em 1974, após ser sequestrada durante um assalto a banco realizado pelo grupo de extrema-esquerda (o Exército Simbionês de Libertação). Depois de libertada do cativeiro, Patty juntou-se aos seus raptores, indo viver com eles e sendo cúmplice em assalto a bancos.[4]

A síndrome pode se desenvolver em vítimas de sequestro, em cenários de guerra, sobreviventes de campos de concentração, pessoas que são submetidas a prisão domiciliar por familiares e também em vítimas de abusos pessoais, como pessoas submetidas a violência doméstica e familiar. É comum também no caso de violência doméstica e familiar em que a vítima é agredida pelo cônjuge e continua a amá-lo e defendê-lo como se as agressões fossem normais.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. King, David (2020). Six Days in August: The Story of Stockholm Syndrome (em inglês). [S.l.]: W.W. Norton. ISBN 978-0-393-63508-9 
  2. Jameson C (2010). «The Short Step From Love to Hypnosis: A Reconsideration of the Stockholm Syndrome». Journal for Cultural Research. 14 (4): 337–355. doi:10.1080/14797581003765309 
  3. Demarest, Rebecca A. (2009). «The Relationship Between Stockholm Syndrome and Post-Traumatic Stress Disorder in Battered Women». Inquiries Journal. 1 (11) 
  4. a b c d Adorjan, Michael; Christensen, Tony; Kelly, Benjamin; Pawluch, Dorothy (2012). «Stockholm Syndrome As Vernacular Resource». The Sociological Quarterly. 53 (3): 454–74. ISSN 0038-0253. JSTOR 41679728. doi:10.1111/j.1533-8525.2012.01241.x 
  5. Fuselier, G. Dwayne (Julho de 1999). «Placing the Stockholm Syndrome in Perspective» (PDF). FBI Law Enforcement Bulletin. 68 (7): 22–25. Cópia arquivada (PDF) em 27 de junho de 2004 
  6. Sundaram CS (2013). «Stockholm Syndrome». Salem Press Encyclopedia – via Research Starters 
  7. deFabrique, N.; Romano, S.; Vecchi, G.; Hasselt, Vincent Van (1 de janeiro de 2007). «Understanding Stockholm Syndrome». FBI Law Enforcement Bulletin. 76: 10–15 
  8. Sherwood, Jody (5 de maio de 2006). «'Stockholm Syndrome' robber turned away by police». The Local (em inglês). Consultado em 25 de abril de 2013. Arquivado do original em 31 de julho de 2013 
  9. Joanna Thompson. «What Is Stockholm Syndrome?» (em inglês). Webmd.com. Consultado em 24 de fevereiro de 2024 
  10. See What You Made Me Do: Power, Control and Domestic Abuse, chapter 2, "The Underground", por Jess Hill; publicado em 24 de junho de 2019 pela Black Inc.