Sínodo de Milão

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Sínodo de Milão (ou Concílio) são os sínodos realizados na cidade de Mediolano (atual Milão). Pelo menos três foram realizados na cidade durante o Cristianismo primitivo.

Sínodo de 345 d.C.[editar | editar código-fonte]

Em 353 ou 354 d.C., o Papa Libério aludiu a um concílio realizado em Milão desta forma: "Oito anos atrás, os delegados de Eusébio, Eudóxio e Martírio (que vieram do ocidente com a fórmula em grego: μακρόστικος), recusaram-se a anatemizar a doutrina ariana em Milão.". Assim, este sínodo teria se realizado logo após o Sínodo de Sárdica, em 344 d.C.[1] Nele foi apresentado o quarto credo produzido no Concílio de Antioquia (341), conhecido como Macrostich.[2]

São Maximino participou deste sínodo.[3]

Sínodo de 355 d.C.[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Controvérsia ariana

Os bispos Eusébio de Vercelli e Lúcifer de Cagliari foram os enviados do Papa Libério para solicitar ao imperador Constâncio II a realização de um concílio para lidar com as acusações dos arianos contra Atanásio de Alexandria e a condenação deste no anterior Concílio de Arles, em 353. Atanásio havia se recusado a reconhecer a sua condenação e apelou ao o papa Libério, citando um cânone do Concílio de Sárdica de 342/3. Libério, então, enviou a embaixada com os dois prelados para obterem de Constâncio a convocação de um novo Concílio.

O Concílio foi convocado por Constâncio II e se realizou em Milão (onde o imperador residia na época), em 354 - 355. O tema central era a doutrina ariana e a condenação de Atanásio. O imperador, como residia na cidade, é provável que estivesse presente. O bispo Eusébio de Vercelli, um apoiante de Atanásio, sugeriu que os bispos deveriam ter a oportunidade de assinar a "confissão de Niceia", e o Bispo Dionísio de Milão, havia feito cópias da mesma anteriormente para os Bispos presentes. Esta proposta provocou os ânimos e gerou confrontos com os bispos da ala ariana: Valente de Mursa pegou das mãos de Eusébio a cópia de sua confissão e rasgou-a diante dos assistentes.[4] Por outro lado, a defesa do bispo de Alexandria, promovida por Lúcifer de Cagliari, de um modo profuso e contundente, e às vezes, de maneira bastante violenta, foi, de certo modo, o que provocou ou acirrou os ânimos dos adversários, dando-lhe mais pretextos para ressentimentos e violência e, no final, provocou uma nova condenação de Atanásio.

Em resposta à agitação que se desencadeara, o imperador Constâncio, desacostumado com esta independência por parte dos bispos, levou a reunião do Concílio da Igreja onde estava para o Palácio imperial, onde tomou o próprio a vez de acusador de Atanásio durante as reuniões.

Com a condenação de Atanásio decretada e a confissão de fé a permanecer como estava e como os defensores do bispo Atanásio se recusassem a assinar a condenação de Atanásio, Constâncio respondeu com uma enorme pressão: Ele ameaçou qualquer um que não assinasse a sentença, com as penalidades draconianas. Então decidiram, quase todos os 300 bispos presentes, a firmarem a condenação de Atanásio como um traidor. Só Lúcifer de Cagliari, Dionísio de Milão, Eusébio de Vercelli, Paulino de Trier e os dois legados de Libério se recusaram e, por isso, foram, em seguida, foram banidos.[5] Ambos foram exilados, Lúcifer para Germânica, na Síria (província romana), e depois para a Eleuterópolis, na Palestina. Finalmente, ele acabou na Tebaida.[6] Destino equivalente tiveram os outros prelados.

Sínodo de 389 d.C.[editar | editar código-fonte]

Agostinho de Hipona, em sua obra "Sobre o bom casamento", escreveu contra o que ainda restava da heresia de Joviniano no livro II, cap. 23 (Nuptiis et Conc. Jovinianus). Ele diz que, uns anos antes, os católicos preferiam os maniqueístas que, contra ele, preferiam a virgindade sagrada ao casamento. Esta heresia nasceu de um certo Joviniano, um monge, durante a vida de Agostinho, quando era jovem. Ele também acrescenta que ela logo se extinguiu, por volta de 390 d.C., tendo sido condenada primeiro em Roma e em seguida em Milão. Há cartas do Papa Sirício sobre o assunto para Igreja de Milão, assim como a resposta enviada a ele pelo sínodo ali reunido, presidido por Santo Ambrósio.[7]

Jerônimo também condenou Joviniano, mas foi acusado de tê-lo feito baseando-se na excelência do estado virginal ao invés de sua condenação do casamento[7] .

Em suas homilias, Máximo de Turim discursou sobre um sínodo realizado em Milão no ano de 389 d.C. (Hom. 9) e que condenou Joviniano.[8]

Sínodo de 451 d.C.[editar | editar código-fonte]

Em 451, os bispos da Itália estavam reunidos num sínodo em Milão que recebeu a famosa carta (epistola dogmatica) enviada pelo Papa Leão I, apresentando a doutrina ortodoxa da Encarnação, contra os nestorianos e eutiquianos. Entre os dezenove signatários estava novamente São Máximo de Turim, em oitavo lugar. Como a ordem de assinatura era por idade, Máximo já devia estar com setenta anos de idade[8] .

Sínodo de 860 d.C.[editar | editar código-fonte]

Um sínodo realizado em Milão no ano de 860 d.C. convocou Ingiltrud, esposa do Conde Boso, a depor perante o colegiado de bispos reunidos sobre sua decisão de deixar seu marido por um amante, o que ela falhou em realizar. O Papa Nicolau I, que sempre demonstrou enorme zelo em seus esforços para manter a disciplina eclesiástica, ordenou que os bispos do reino de Carlos, o Audaz a excomungassem caso ela não retornasse ao seu marido.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

Referências

  1. "Council of Sardica" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  2. «Council of Antioch (AD 341)» (em inglês). Fourth century. Consultado em 26 de dezembro de 2011 
  3. "St. Maximinus" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  4. Lúcifer de Calaris, moriendum comer por dei filio 1; 4
  5. Atanásio, historia Arianorum 31-33; 46; 76; apologia da fuga 4
  6. "Lucifer of Cagliari" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  7. a b Sobre o bom casamento. Prefácio (em inglês). [S.l.: s.n.]  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  8. a b "St. Maximus of Turin" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  9. "Pope St. Nicholas I" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Pedro Barceló : Constâncio II e seu tempo. As origens da igreja estatal . Klett-Cotta, Stuttgart 2004, ISBN 3-608-94046-4 , pp 115–117.