Scaphoideus titanus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaScaphoideus titanus
Scaphoideus titanus (50x).
Scaphoideus titanus (50x).
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Hemiptera
Superfamília: Membracoidea
Família: Cicadellidae
Género: Scaphoideus
Espécie: S. titanus
Nome binomial
Scaphoideus titanus
Ball, 1932

Scaphoideus titanus Ball, 1932 é um insecto fitófago sugador hemíptero, pertencente à família Cicadellidae (cigarrinhas), de importância económica por ser o vector da doença fitoplasmática da videira conhecida por flavescência dourada. A espécie é originária da região temperada da América do Norte e vive unicamente sobre espécimes do género Vitis, estando assinalada na Europa desde a década de 1950, infestando actualmente a maioria das regiões vitícolas daquele continente.

Origem e distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

A espécie é originária da América do Norte, onde tem distribuição natural nas regiões temperadas entre os paralelos 30º e 50º N, em áreas onde existam espécies do género Vitis. A sua presença foi assinalada pela primeira vez na Europa em vinhedos de França na década de 1950,[1] embora provavelmente já estivesse presente nas regiões vinhateiras europeias desde o século XIX em resultado da importação em massa de porta-enxertos norte-americanos resistentes à filoxera que se verificou a partir da década de 1870. Em Itália a espécie foi assinalada pela primeira vez em 1963 na Ligúria,[2] de onde se difundiu pelas regiões centrais e setentrionais do país e sucessivamente para a Suíça, Eslovénia, Croácia, Portugal, Espanha e Sérvia.[3]

Durante algum tempo considerou-se que Scaphoideus titanus apenas poderia naturalizar-se em regiões europeias a norte do paralelo 45º, mas em 2002 foi encontrado na Basilicata, bem abaixo do paralelo 40º N.[4]

Em toda a sua área de distribuição conhecida a espécie Scaphoideus titanus vive unicamente sobre espécies do género Vitis, atacando, para além da vide europeia (Vitis vinifera) algumas espécies de videiras americanas, nomeadamente Vitis cordifolia e Vitis rupestris.[5],[6]

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Os ovos são reniformes, lateralmente comprimidos, transparentes e com cerca de 1 mm de comprimento. Apresentam inicialmente um brilho perláceo, mas amarelecem com o desenvolvimento embrionário, especialmente quando os olhos do embrião, de coloração avermelhada, se tornam visíveis através do córion. Os ovos são em geral depositados sob o ritidoma das videiras, próximo do solo, sendo muito difíceis de localizar no campo.

O desenvolvimento dos juvenis apresenta 5 estádios, morfologicamente semelhantes, agrupados em dois estádios de neânida desprovidos de esboços alares, e três de ninfa com esboços alares presentes. Os primeiros três estádios apresentam coloração branca cremosa, enquanto as ninfas apresentam a partir do estádio IV as características zone acastanhadas sobre o abdómen. As ninfas do estádio V são facilmente reconhecíveis graças às amplas zonas de coloração ocre sobre os urotergitos e a coloração acastanhada das estruturas alares. Em todos os estádios, o último urito apresenta duas manchas negras romboidais, característica que diferencia as formas juvenis de Scaphoideus titanus em relação às espécies afins.

O insecto adulto mede 5–6 mm de comprimento, sendo as fêmeas ligeiramente maiores que os machos. Ambos os sexos apresentam coloração acastanhada com laivos amarelados ou ocres. Sobre a parte frontal da cabeça, tanto no adulto como nas formas juvenis, estão presentes 2–4 faixas transversais mais escuras, de forma triangular, e uma mancha transversa, de forma triangular situada em posição dorsal entre os olhos compostos. As pernas são de coloração creme a acinzentada, excepto as metatorácicas que apresentam a parte distal e o segundo tarsómero escuros, e o primeiro e segundo tarsómero esbranquiçado. As asas metatorácicas são acastanhadas com venações mais escuras e as asas dianteiras apresentam aréolas brancas. A fêmea apresenta um robusto ovipositor de coloração acastanhada ou dourada que lhe permite depositar os ovos sob a casca dos troncos e ramos da videira. O oviducto, colocado na extremidade do abdómen, é precedida por um anel negro no segmento pré-genital.

Biologia[editar | editar código-fonte]

Scaphoideus titanus apresenta uma única geração em cada ano (é uma espécie monovoltina), invernando como ovos inseridos nos ramos de 2 anos ou, mais raramente, nos ramos lenhificados do ano ou no ritidoma do tronco mais velho da vide, a sua única planta hospedeira.

Cada fêmea põe 24 ovos isolados ou, mais raramente, dispostos em duas séries de 12 elementos. Entre a segunda quinzena de Maio e as primeiras semanas de Julho, nascem as larvas, com um pico no final de maio e início de Junho. As larvas neonatas, na forma de neânidas, colonizam prevalentemente a página inferior das folhas na parte basal da planta. Nesta fase, as larvas apesar de pouco móveis podem saltar rapidamente se disturbadas.

As neânidas alimentam-se principalmente sobre as nervuras secundárias das folhas, enquanto as ninfas e os adultos podem sugar também a nervura principal, os pecíolos foliares e os ramos verdes. Após 30 a 50 dias, as formas juvenis, depois de terem atravessado dois estádios de neândida e três de ninfa, atingem o estado adulto, em geral entre a segunda semana de Julho e meados de Agosto, permanecendo activos durante cerca de um mês.

Nas primeiras semanas de Agosto ocorre o pico de densidade populacional de adultos, os quais após atingirem a maturidade acasalam e após 2 a 3 dias iniciam a ovoposição, a qual em geral se estende de fins de Julho a fins de Setembro[7].

A estratégia de acasalamento assenta na comunicação vibracional através do intercâmbio de sinais entre machos e fêmeas através do substrato. O macho corteja a fêmea produzindo uma espécie de canção feita de vibrações (ditas impulsos) com frequência compreendida entre os 100 e os 900 Hz. A fêmea, por sua vez, responde inserindo na "canção" do macho alguns impulsos próprios, seguindo ritmos bem precisos, o que leva o par a produzir um preciso dueto vibracional.

O voo é prevalentemente crepuscular e limitado à copa das videiras[8].

Scaphoideus titanus é considerado um vector permanente do fitoplasma causador da flavescência dourada pois uma vez infectado pelo fitoplasma, esto multiplica-se no insecto, o qual o transmite durante toda a sua vida, podendo infestar um elevado número de plantas. Contudo, o fitoplasma não se trasmite às novas gerações através dos ovos, razão pela qual em cada geração a infecção inicia-se quando o insecto suga seiva de uma planta infestada.

Notas

  1. Bonfilis, J.; Schvester,D. (1960). «Les Cicadelles (Homoptera Auchenorrhyncha) dans leur rapports avec la vigne dans le Sud-Ouest del la France». Annales Epiphyties. 11: 325-336 
  2. Vidano, Carlo (1964). «. Scoperta in Italia dello Scaphoideus littoralis Ball cicalina americana collegata alla "Flavescence dorée" della Vite». L'Italia agricola. 101: 1031-1049 
  3. Alma, Alberto (2004). The genus Scaphoideus in the world. The diffusion of S. titanus in Europe. Alma A., 2004. The genus Scaphoideus in the world. The diffusion of S. titanus in Europe. Third European Hemiptera Congress, St. Petersburg, Rússia. pp. 3–5 
  4. Viggiani, G. (2002). «Il vettore della flavescenza dorata trovato in Basilicata». L'informatore Agrario. 58 (36): 59 
  5. Maixner, M.; et al. (1993). «Scaphoideus titanus, a possible vector of grapevie yellows in New York» (PDF). Plant Disease (em inglês). 77 (4): 408 - 413. doi:10.1094/PD-77-0408. Consultado em 5 de novembro de 2010 
  6. Beanland, L; et al. (2006). «Spatial and temporal distribution of North America grapevine yellows and disease and of potential vectors of tha causal phytoplasmas in Virginia». Environmental Entomology (em inglês). 35 (2): 332-344. doi:10.1603/0046-225X-35.2.332 
  7. Lessio, Federico; Alma Alberto (2004). «Seasonal and dailymovement of Scaphoideus titanus Ball (Homoptera Cicadellidae)». Environmental Entomology (em inglês). 33 (6): 1689-1694. doi:10.1603/0046-225X-33.6.1689 
  8. Mazzoni, Valerio; Presern J, Lucchi A & Virant-Doberlet M (2009). «Reproductive strategy of the Nearctic leafhopper Scaphoideus titanus Ball (Hemiptera: Cicadellidae)». Bulletin of Entomological Research (em inglês). 99 (4): 401-413 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Masutti, Luigi; Sergio Zangheri (2001). Entomologia generale e applicata. Padova: CEDAM. ISBN 88-13-23135-0 
  • Ferrari, Mario; Elena Marcon; Andrea Menta (2000). Fitopatologia, Entomologia agraria e biologia applicata. Terza edizione. Bologna: Calderini Edagricole. ISBN 88-206-4159-3 
  • Benuzzi, Massimo; Vincenzo Vacante. Difesa fitosanitaria in agricoltura biologica. Bologna: Il Sole 24 ORE Edagricole. p. 298. ISBN 88-506-4996-7 
  • Ponti, Ivan; Aldo Pollini; Franco Laffi (2003). Avversità e difesa - vite. Terza edizione. Verona: Informatore Agrario. ISBN 88-7220-180-2 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ícone de esboço Este artigo sobre insetos, integrado no Projeto Artrópodes é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.