Segunda Arbitragem de Viena

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Hungria e os seus territórios recuperados no período entre-guerras e durante a Segunda Guerra Mundial:
  Transilvânia Setentrional recuperada
Romênia, em 1940, com a Transilvânia Setentrional destacada em amarelo

A Segunda Arbitragem de Viena consistiu em um acordo territorial, alcançado através da mediação e pressão da Alemanha nazista e da Itália fascista, processado em 30 de agosto de 1940 entre a Hungria e a Romênia, que reassegurou a posse do território do norte da Transilvânia (incluindo Maramureş inteira e parte de Crişana) da Romênia para a Hungria, como resultado do Tratado de Trianon no pós-Primeira Guerra Mundial sancionado em 1920, e que despojou a Hungria de cerca de 70% do seu território.[carece de fontes?]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Aproveitando-se da campanha alemã na França, Josef Stalin decidiu estabelecer seu controle sobre os países bálticos e partes dos Bálcãs, considerados esfera de influência soviética.[carece de fontes?]

Em 17 de junho de 1940, no mesmo dia em que a França solicitava o armistício, o ministro das Relações Exteriores soviético Viatcheslav Molotov informou o embaixador alemão Friedrich Werner von der Schulenburg que a União Soviética mandara "enviados especiais" para as repúblicas do Báltico para "acabar com as intrigas anglo-francesas que tentavam semear discórdia entre a Alemanha e a União Soviética nos Estados Bálticos".[1]

No dia 14, a Lituânia recebeu um severo ultimato que, apesar de aceito, não impediu a ocupação do país pelos soviéticos no dia 15. Entre os dias 16 e 17, a Estônia e a Letônia seguiram o mesmo destino.[carece de fontes?]

Molotov, ministro das Relações Exteriores soviético, apresentou um ultimato a Romênia que obrigava esta a ceder a Bessarábia e o norte da Bucovina diante da falta de apoio alemão.

Depois de acabar com a liberdade de imprensa, dissolver todos os partidos exceto os comunistas e prender os principais líderes políticos, algumas "eleições" em 14 de julho de 1940 produziram os parlamentos que solicitaram a entrada dos três países na União Soviética, concedida a princípios de agosto.[2]

Um dia após a capitulação francesa em Compiègne (22 de junho de 1940), mais uma vez Molotov convocou o embaixador alemão para informá-lo que não podia esperar mais para resolver a disputa sobre a Bessarábia e estava disposto a usar a força caso a Romênia não concordasse com uma solução pacífica.[2] Além disso, esclareceu que a União Soviética também reivindicava a Bucovina. A primeira se encontrava, de acordo com o Pacto Ribbentrop-Molotov na área soviética, mas não a segunda. Isso causou um alarme em Berlim, já que dado ao bloqueio marítimo britânico, a Romênia era a principal fonte do petróleo da Alemanha e um importante fornecedor de alimentos e forragem.

Em 26 de junho de 1940, os soviéticos apresentaram um ultimato à Romênia exigindo a entrega das duas províncias mencionadas, concedendo um dia para receber resposta. Os alemães aconselharam o governo romeno a aceitação, que foi anunciada no dia 27. No dia 28, tropas soviéticas ocuparam os territórios cedidos.[3]

A Alemanha tinha conseguido manter seus suprimentos vitais romenos em troca de ceder temporariamente à ameaça soviética. A Romênia rescindiu a garantia territorial que foi concedida pela Grã-Bretanha e solicitou a Adolf Hitler o envio tropas e a concessão de uma garantia alternativa, pedidos que foram rejeitados na época pelo líder alemão.[4]

Enquanto isso, a Hungria, tendo em vista o sucesso soviético na Romênia alcançado através da pressão militar, estava se preparando para fazer o mesmo a fim de recuperar a Transilvânia, perdida após a Primeira Guerra Mundial. Hitler havia se recusado na mediação entre os dois países e sugeriu negociações diretas entre as duas nações, que começaram oficialmente em Drobeta-Turnu Severin em 16 de agosto 1940.[5] A demora deveu-se à tentativa romena de evitar concessões graças ao apoio alemão, que não foi concedido.[6]

A delegação romena propôs uma transferência mínima de território com uma troca de população, o que era inaceitável para a delegação húngara, que pedia o retorno de dois terços da Transilvânia.[5] Paralisadas as negociações desde 19 de agosto, os representantes retornaram às suas capitais para consultar seus respectivos governos, ambos solicitando novamente a mediação alemã, que foi novamente negada.[5] Ao retomar as conversações no dia 24 do mesmo mês e constatar-se que nenhuma das partes havia mudado sua posição, a delegação húngara finalizou-as.[7]

A possibilidade de uma guerra húngaro-romena preocupou Hitler pelas consequências que isso teria sobre o fornecimento de petróleo para a Alemanha e a ocupação soviética susceptível de desencadear. Em 28 de agosto de 1940, diante a direção que a situação estava tomando, cada vez mais tensa com o fracasso das negociações bilaterais que haviam fomentado os alemães,[4] Hitler ordenou que várias divisões fossem preparadas para ocupar os campos petrolíferos romenos em 1 de setembro. No mesmo dia, são enviados os ministros das Relações Exteriores alemão e italiano para se reunirem em Viena com os seus colegas húngaros e romenos para tentarem acabar com a crise e evitar a guerra.[8]

O acordo[editar | editar código-fonte]

Ciano, ministro das Relações Exteriores da Itália, tradicional partidário da revisão dos tratados de paz e aliado da Hungria.

Ribbentrop e Ciano conseguiram sem muito esforço alcançar um acordo entre os representantes húngaros e romenos (30 de agosto de 1940), no Palácio Belvedere. O ministro romeno desmaiou durante a exibição do mapa das novas fronteiras e teve que ser reanimado para que pudesse assinar o compromisso. A Hungria recebeu quase metade da Transilvânia (43 492 km quadrados, dois quintos do território perdido pelo Tratado de Trianon[9]), a zona norte, onde estavam concentrados a maioria dos habitantes húngaros. Ainda assim, também um grande número de romenos foram transferidos para a Hungria com a modificação das fronteiras (estima-se que dos 2,5 milhões de pessoas que passaram a ter cidadania húngara, cerca de um milhão eram romenos [10]). A população estava tão mesclada que mesmo após o acordo, quase meio milhão de húngaros permaneceram na parte romena.[9]

As regiões mais importantes economicamente permaneceram em território romeno, enquanto que a Hungria assumiu o controle dos portos dos Cárpatos.[carece de fontes?]

A Romênia recebeu uma garantia dos alemães e italianos sobre o resto do seu território (exceto Dobruja).[4]

População na Transilvânia cedida à Hungria [9]
"Nacionalidade" Censo romeno de 1930 Censo húngaro de 1941
Magiares 911 550 1 347 012
Romenos 1 176 433 1 066 353
Outros 307 164 163 926


População na Transilvânia que permaneceu na Romênia [11]
"Nacionalidade" Censo romeno de 1941 Censo húngaro de 1910
Magiares 363 206 533 004
Romenos 2 274 561 1 895 505
Outros 695 131 618 634

Consequências[editar | editar código-fonte]

O ministro húngaro das Relações Exteriores rubricando o documento da arbitragem.
O Rei Carol II da Romênia, que teve que abdicar diante do resultado da arbitragem, que selou o fracasso de sua política de neutralidade na rivalidade entre as grandes potências.

A União Soviética não aceitou de bom grado o acordo, do qual foi excluída e houve duras trocas diplomáticas entre alemães e soviéticos.[12] Tanto a arbitragem como a garantia territorial para a Romênia e, o posterior envio de tropas violavam o artigo terceiro do pacto entre as duas potências.[13]

Na Hungria, onde o espírito revisionista foi estendido, aumentou o prestígio do regente Miklós Horthy, dificultando a chegada ao poder dos fascistas de Ferenc Szálasi até o final da guerra, com o país já ocupado pelos alemães. No entanto, também levou à concessão de contrapartidas importantes pelo apoio alemão a devolução de parte da Transilvânia: o líder fascista Szálasi foi libertado, foi elaborada uma nova legislação contra os judeus, foram concedidos grandes direitos à minoria alemã (controlada pelos nazistas),[14] aumentou-se a cooperação econômica e permitiu a transferência de tropas alemãs para a Romênia, onde ficaram alojadas para proteger os campos de petróleo, a pedido do governo romeno.[4] Também assinou o Pacto Tripartite (20 de novembro de 1940).[4]

Na Romênia, a perda territorial precipitou a abdicação do Rei Carol (6 de setembro de 1940) para seu filho Miguel e a chegada ao poder do filo-fascista Ion Antonescu.[14]

Enquanto isso, a Alemanha assegurou o fornecimento de petróleo de Ploieşti, objetivo principal do acordo, logo após o envio de uma missão militar para proteger e controlar as zonas petrolíferas (8 de outubro de 1940).[13]

O acordo, no entanto, não satisfez nenhuma das duas partes,[14] mantendo a rivalidade pela posse da Transilvânia durante a guerra.[carece de fontes?]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

Referências

  1. Shirer (1990), pp. 793-794
  2. a b Shirer (1990), p. 794
  3. Shirer (1990), p. 795
  4. a b c d e N. F. Dreisziger: Hungary's way to World War II. Hungarian Helicon Society (1968). ISBN: B0000EBEMU
  5. a b c Haynes (2000), p. 151
  6. Haynes (2000), p. 148
  7. Haynes (2000), p. 152
  8. Shirer (1990), p. 800
  9. a b c Rothschild, Joseph.East Central Europe Between the Two World Wars : A History of East Central Europe. University of Washington Press. p. 183 ISBN 978-0-295-95357-1
  10. Nekrich, Aleksandr M. (1997). Pariahs, Partners, Predators : German-Soviet Relations, 1922-1941. ISBN 978-0-231-10676-4
  11. Rothschild, Joseph.East Central Europe Between the Two World Wars : A History of East Central Europe. University of Washington Press. p. 184 ISBN 978-0-295-95357-1
  12. Shirer (1990), p. 801
  13. a b Presseisen (1960), p. 361
  14. a b c Presseisen (1960), p. 360

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Haynes, Rebecca (2000). Romanian policy towards Germany, 1936-40 (em inglês). [S.l.]: Palgrave Macmillan. ISBN 9780312232603 
  • Presseisen, Ernst L. (1960). «Prelude to "Barbarossa: Germany and the Balkans, 1940–1941». Journal of Modern History. 32 (4). pp. 359–370 
  • Shirer, William L. (1990). The Rise and Fall of the Third Reich : A History of Nazi Germany (em inglês). [S.l.]: 1st Touchstone. ISBN 9780671728687 
  • Vágo, Béla (1971). «Le Second Diktat de Vienne: Le Partage de la Transylvanie». East European Quarterly. 5 (1). pp. 47–73