Socialismo ou Barbárie (grupo político)

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Alguns exemplares da revista Socialisme ou Barbarie

Socialismo ou Barbárie (em francês Socialisme ou barbarie; S ou B) foi um grupo socialista libertário radical francês do período pós-guerra, criado à volta da revista com o mesmo nome. Seu nome vem de uma frase de Rosa Luxemburgo usada em um ensaio de 1916, The Junius Pamphlet. O grupo existiu de 1948 até 1965. A personalidade que o animava era Cornelius Castoriadis, também conhecido como Pierre Chaulieu ou Paul Cardan.[1]

História[editar | editar código-fonte]

O grupo se originou na trotskista Quarta Internacional, onde Castoriadis e Claude Lefort constituíram a chamada Tendência Chaulieu-Montal no Partido Comunista Internacionalista francês, em 1946. Em 1948, eles experimentaram o seu "desencanto final com o trotskismo",[2] levando-os a romperem com os trotskistas para formar o Socialismo ou Barbárie, cujo jornal começou a aparecer em março de 1949. Castoriadis mais tarde disse a respeito desse período

"... a principal audiência do grupo e do jornal era formada por grupos da antiga esquerda radical: Bordigistas, comunistas de conselho, alguns anarquistas e alguns órfãos da "esquerda" alemã dos anos 1920"[3]

Eles foram vinculados à Tendência Johnson-Forest,[4] que se desenvolveu como um corpo de ideias dentro das organizações trotskistas americanas. Uma facção desse grupo formou mais tarde o grupo Facing Reality. Os primeiros tempos também trouxeram debates com Anton Pannekoek[5] e um influxo de ex-bordiguistas[6] para o grupo.

O grupo era composto tanto de intelectuais quanto de trabalhadores e concordavam com a ideia de que os principais inimigos da sociedade eram as burocracias que governavam o capitalismo moderno. eles documentaram e analisaram a luta contra a burocracia no jornal do grupo. A edição de número 13 (janeiro-março de 1954), por exemplo, era dedicada à Revolta de 1953 na Alemanha Oriental e às greves que pipocaram em vários setores de trabalhadores franceses naquele verão. Seguindo a crença de que o que a luta diária que a classe trabalhadora encarava era o conteúdo real do socialismo, os intelectuais encorajavam os trabalhadores no grupo a relatarem cada aspecto de suas vidas no trabalho.

O Socialismo ou Barbárie era crítico do leninismo, colocando ênfase nos conselhos de trabalhadores e rejeitando a ideia de que a consciência revolucionária teria que ser levada de fora para os trabalhadores. No entanto, não rompeu totalmente com a ideia da necessidade de um partido revolucionário, tendo isso sido foco de constantes polémicas dentro da organização: Castoriadis defendia que Socialismo ou Barbárie deveria desempenhar o papel de partido revolucionário, que deveria liderar e coordenar as lutas operárias; por seu lado, Lefort rejeitava essa ideia, tendo abandonado o grupo durante algum tempo no princípio dos anos 50.[7]

Enquanto alguns membros partiram para formarem outros grupos, aqueles que permaneceram se tornaram mais e mais críticos do marxismo ao longo do tempo. Jean Laplanche, um dos membros-fundadores do grupo, recorda os primeiros dias da organização:

...a atmosfera logo se tornou impossível. Castoriadis exercia hegemonia sobre o jornal (ele escrevia os principais artigos) e sua idéia central em meados dos anos 1950 era a de que uma terceira guerra mundial era inevitável. Isso era muito difícil para outras pessoas no grupo suportarem: continuar nossas vidas, ao mesmo tempo em que pensavam que o mundo seria destruído por uma explosão atômica em alguns anos. Era uma visão apocalíptica.[8]

A Revolução Húngara de 1956 e outros eventos da década de 1950 levou à afluência de mais membros ao grupo. Nessa época, eles propunham o ponto fundamental como

...a necessidade do capitalismo de, por um lado, reduzir os trabalhadores a simples executores de tarefas e, por outro, a sua impossibilidade de continuar funcionando se for bem sucedido nesse ínterim. O capitalismo precisa atingir objetivos mutuamente incompatíveis: a participação e a exclusão do trabalhador na produção - como todos os cidadãos em relação à política.[9]

Isso ficou caracterizado como a distinção entre o dirigeant (dirigente) e o exécutant (executor) em francês. Essa perspectiva permitiu o grupo expandir seu entendimento às novas formas de conflito social que emergiam fora da esfera da produção.

Em 1958 desentendimentos quanto ao papel político do grupo levou à saída de membros importantes. Claude Lefort e Henri Simon deixaram o grupo para formar Informations et Liaison Ouvrières.[10]

Em 1960, o grupo tinha crescido para ao redor de 100 membros e conseguido novas ligações intenacionais, primariamente na emergência de uma organização irmã na Grã-Bretanha chamada Solidarity.[11]

No começo dos anos 1960, disputas dentro do grupo sobre a crescente rejeição do marxismo por Castoriadis levou à saída do grupo ao redor do jornal Pouvoir Ouvrier.[12] O principal jornal Socialisme ou barbarie continuou a ser publicado até a edição final em 1965, depois da qual o grupo permaneceu dormente; e dissolvido (ou "suspendido indefinidamente") em 1967.[13][14] Uma tentativa de Castoriadis para reviver o grupo durante os eventos de Maio de 1968 fracassou.

A Internacional Situacionista foi associada ao grupo e influenciada através de Guy Debord, que era membro de ambos.[15][16] O movimento social italiano Autonomia também foi influenciado mas menos diretamente.

Membros[editar | editar código-fonte]

Lista incompleta

Referências

  1. Howard, Dick (1975). «Introduction to Castoriadis» (PDF). Telos (23): 118. doi:10.3817/0375023117. (pede registo (ajuda)) 
  2. Castoriadis 1975, p. 133
  3. Castoriadis 1975, p. 134
  4. van der Linden 1997, p. 5
  5. Haider, Asad; Mohandesi, Salar (25 de outubro de 2011). «Deviations, Part 1: The Castoriadis-Pannekoek Exchange». Viewpoint Magazine (em inglês). Consultado em 2 de janeiro de 2018 
  6. Bourrinet, Philippe. The "Bordigist" Current (PDF) (em inglês). [S.l.: s.n.] p. 332. 478 páginas 
  7. van der Linden 1997, pp. 13-15
  8. John Fletcher and Peter Osborn (2000). «The other within: Rethinking psychoanalysis». Radical Philosophy (em inglês) (102). Consultado em 23 de maio de 2019 
  9. Cardan, Paul (1965). Modern Capitalism and Revolution. London: Solidarity. p. 16 
  10. Simon, Henri (1974). «De la scission avec Socialisme ou Barbarie à la rupture avec Informations et Correspondance Ouvrières : une critique de l'avant-gardisme». Anti-Mythes (em francês). Consultado em 2 de janeiro de 2018 
  11. Goodway, David (2012) [2006]. «Christopher Pallis». Anarchist Seeds Beneath the Snow. Left-libertarian Thought and British Writers from William Morris to Colin Ward (em inglês). [S.l.]: PM Press. p. 291. ISBN 978-1-60486-221-8. LCCN 2011927954. Consultado em 3 de janeiro de 2018. For Solidarity, Socialisme ou Barbarie were «our French co-thinkers» 
  12. van der Linden 1997, p. 28
  13. Castoriadis, Cornelius (1974). L'Expérience du Mouvement Ouvrier (em francês). 2. [S.l.: s.n.] p. 417 
  14. van der Linden 1997, p. 30
  15. Anon, p. xxiv
  16. Blanchard, Daniel. «Debord, in the Resounding Cataract of Time». Not Bored! (em inglês). Consultado em 3 de janeiro de 2018 
  17. a b c d e f g «Socialisme ou Barbarie Table of Contents». Cornelius Castoriadis Agora International Website (em francês e inglês). Consultado em 3 de janeiro de 2018 
  18. a b c d e f g Gottraux 1997, Repères biographiques

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Gottrauz, Philippe (1997). Socialisme ou Barbarie, un engagement politique et intellectuel dans la France de l'après guerre (em francês). [S.l.]: Editions Payot Lausanne 
  • Castoriadis, Cornelius (1975). Traduzido por Grahl, Bart; Pugh, David. «An Interview» (PDF). Telos (23). doi:10.3817/0375023131. (pede registo (ajuda)) 
  • Lefort, Claude (1976). Traduzido por Gehrke, Dorothy; Singer, Brian. «An Interview» (PDF). Telos (30). doi:10.3817/1276030173. (pede registo (ajuda)) 
  • van der Linden, Marcel (1997). «Socialisme ou Barbarie: A French Revolutionary Group (1949-65)». Left History (em inglês): 7-37. Consultado em 30 de dezembro de 2017 
  • A Socialisme ou Barbarie Anthology (PDF). Autonomy, Critique, Revolution in the Age of Bureaucratic Capitalism. [S.l.: s.n.] Consultado em 3 de janeiro de 2018 , traduzido do francês para inglês e editado anonimamente como serviço público (Junho de 2016)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]