Supercentenário

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Geert Adriaans Boomgaard
Margaret Ann Neve
À esquerda, Geert Adriaans Boomgaard (1788-1899), o primeiro homem e primeira pessoa a ser verificado supercentenário; à direita, Margaret Ann Neve (1792-1903), a primeira mulher e segunda pessoa verificada supercentenária.

Supercentenário é a designação atribuída a uma pessoa que atinge a faixa de idade a partir de 110 anos de idade.[1] O número de mulheres supercentenárias é significativamente maior do que o de homens supercentenários.

O reconhecimento pelo Guinness World Records de pessoa supercentenária é o reconhecimento mais aceite mundialmente, no entanto existem indivíduos mais velhos e até reconhecidos pelas autoridades, como por exemplo o brasileiro João Coelho de Souza reconhecido pela Agência da Previdência Social (APS) da República Federativa do Brasil como tendo 131 anos, mas o seu caso não foi submetido ao livro do Guinness, portanto não consta como recorde.[2]

O livro do Guinness identifica a pessoa como tendo vivido mais tempo a francesa Jeanne Calment, que faleceu aos 122 anos e 164 dias de idade. Este não é um reconhecimento definitivo pois existem vários relatos documentados (certidões de nascimento e falecimento) que registam pessoas mais velhas, mas que as entradas ainda não foram submetidas ou ainda não foram certificadas pelo Guinness World Records.

Em Portugal continental, a pessoa mais velha reconhecida pelo livro do Guinness foi Maria de Jesus, que viveu 115 anos e 114 dias, tendo sido a decana da humanidade desde 26 de Novembro de 2008 até 2 de Janeiro de 2009. No Brasil a revista reconheceu Maria Gomes Valentim, que viveu 114 anos e 347 dias, foi a decana da humanidade desde 4 de Novembro de 2010 até 21 de Junho de 2011.[3] E em Cabo Verde foi Adelina Domingues, que faleceu aos 114 anos e 183 dias nos Estados Unidos, foi a decana da humanidade desde 28 de maio de 2002 até 21 de agosto de 2002.

Incidência[editar | editar código-fonte]

O Gerontology Research Group mantém uma lista das 30 ou 40 pessoas mais velhas vivas com idade verificada. Os pesquisadores estimam, com base em uma taxa entre 0,15% e 0,25% de sobrevivência de centenários até os 110 anos de idade, que deveriam existir de 300 a 450 supercentenários no mundo.[4][5] Um estudo de 2010 conduzido pelo Instituto Max Planck para Pesquisa Demográfica registrou 663 supercentenários confirmados, vivos e mortos, e mostrou que os países com o maior número - não frequência - de supercentenários eram os Estados Unidos,[6] o Japão, a Inglaterra junto com o País de Gales, a França, e a Itália.[7][8]

O primeiro supercentenário verificado na história da humanidade foi o neerlandês (holandês) Geert Adriaans Boomgaard (1788-1899).[9]

Pesquisa em Gerontologia[editar | editar código-fonte]

Grupo de Pesquisa em Gerontologia[10][11] conduziu pesquisas em supercentenários[12][13] e no envelhecimento.[14] Em 2020, os cientistas reprogramaram pela primeira vez células de uma mulher de 114 anos de idade para células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs).[15]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo significa alguém acima de 110 anos, em comparação com centenário que significa genericamente quem já completou 100 anos.

O termo supercentenário[16][17] e o termo ultracentenário começou a ter uso deste o Séc. XIX quando a admiração de recordes começou a tomar mais atenção do público. Os termos foram popularizados em 1991 por William Strauss e Neil Howe no seu livro Generations, no entanto o termo ultracentenário tinha sido primeiramente usado[18] por Norris McWhirter, editor do livro The Guinness Book of Records, aquando da correspondência com o pesquisador de longevidade A. Ross Eckler Jr.

Entretanto apareceu o termo semi-supercentenário para indivíduos com idades entre 105 e 109 anos.[19]

Historia[editar | editar código-fonte]

Alegações de longevidade extrema tem persistido ao longo da história, pelo menos mais de 1500 existiram,[20] no entanto a maioria não teve documentação suficiente para validar afirmação feita. Isto está gradualmente mudando devido à standardização dos registros de nascimento e maior acesso aos registros existentes.

O primeiro supercentenário a ser reconhecido pelo Guinness World Records foi o holandês Thomas Peters (1745–1857). No entanto historiadores como o francês Jean-Marie Robine, consideram que Geert Adriaans Boomgaard (que alcançou 110 anos em 1898), ser somente o primeiro holandês com documentação verificável. Isto mostra que a determinação do recorde de supercentenário é muito variável visto o Guinness não ser a única entidade promover esta identificação.

Outro caso é o do inglês William Hiseland que alcançou 112 anos (1620–1733) mas que a sua documentação não atende aos padrões do Guinness. Esta disputa acontece mesmo com registros precisos como os da Igreja Norueguesa (Johannes Torpe (1549–1664) e Knud Erlandson Etun (1659–1770) ou por exemplo o caso de João Coelho de Souza que foi reconhecido recentemente pela República Federativa do Brasil como tendo oficialmente 131 anos (com perícias forenses e judiciais que confirmaram).

Mortalidade[editar | editar código-fonte]

Pesquisas no campo da mortalidade e longevidade descobriram que os supercentenários permaneceram livres de doenças crónicas até ao fim da vida, morrendo por deficiências químicas que levaram ao fim da Homeostase biológica.[19] Cerca de 10% dos supercentenários sobrevive até aos últimos 3 meses de vida sem doenças relacionadas com a idade, um valor alto comparado com os 4% dos semi-supercentenários e 3% dos centenários.[19]

Medindo as características biológicas das células dos supercentenários, os pesquisadores foram capazes de identificar as partes mais protegidas do decaimento celular originado pela idade. De acordo com o estudo, feito em 30 partes do corpo de uma supercentenárias de 112 anos, o cerebelo é protegido de envelhecer tanto. Isto foi verificado através de um marcador epigenético chamado relógio epigenético — a medição mostrava uma idade 15 anos menor do que o esperado.[21] Esta descoberta pode explicar porque o cerebelo exibe menores marcas de demência derivada da idade, comparado com outras regiões do cérebro.

Recordes registados[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Decano da Humanidade

Na tabela seguinte indica-se o número de pessoas supercentenárias reconhecidas pelo Guinness World Records e Gerontology Research Group que atingiram cada idade comprovadamente acima dos 110 anos de vida:

Idade Número
122 1 (Jeanne Calment)[22]
121
120
119 3 (J. Calment e Sarah Knauss, e Kane Tanaka)[22]
118 4 (J. Calment e Sarah Knauss, Kane Tanaka, e Lucile Randon)[22]
117 Mais de 8 pessoas[22]
116 Mais de 20 pessoas[22]
115 Mais de 40 pessoas[22]
114 Mais de 110 pessoas[22]
113 Mais de ...
112 Mais de ...
111 Mais de ...
110 Mais de 600 pessoas[22][23]

Listas de supercentenários[editar | editar código-fonte]

Existem outros registros mais abrangentes que incluem os registros do Guinness e também registros reconhecidos por autoridades como por exemplo pela República Federativa do Brasil ou pela República Portuguesa que figuram como supercentenários (alguns até com mais idade) como se pode ver nas listas abaixo:

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Gerontology Research Group - Grupo de Pesquisas em Gerontologia.
  2. Euler de França Belém (13 janeiro 2016). «Homem mais velho do mundo é encontrado no Acre. Teria 131 anos.». Jornal Opção. Jornal Opção. Consultado em 3 de janeiro de 2022 
  3. Guiness confirma Maria Gomes Valentim como a mais velha do Mundo
  4. Gerontology Research Group. «GRG World Supercentenarian Rankings List (note 2 at bottom of page)». grg.org. Consultado em 24 de dezembro de 2020 
  5. Gerontology Research Group (21 de abril de 2017). «Table E: Current Validated Living Supercentenarians». supercentenarian-research-foundation.org. Consultado em 24 de abril de 2017 
  6. Rosenwaike, Ira; Stone, Leslie F. (2003). «Verification of the Ages of Supercentenarians in the United States: Results of a Matching Study». Demography. 40 (4). pp. 727–739. JSTOR 1515205. doi:10.1353/dem.2003.0038 
  7. Maier, H.; Gampe, J.; Jeune, B.; Robine, J.-M.; Vaupel, J. W., eds. (2010). Supercentenarians. Col: Demographic Research Monographs. [S.l.]: Springer. ISBN 978-3-642-11519-6. doi:10.1007/978-3-642-11520-2. Consultado em 13 de abril de 2017 
  8. CSMonitor Staff (10 de agosto de 2010). «Supercentenarians around the world». The Christian Science Monitor. Consultado em 13 de abril de 2017 
  9. Medina, Jennifer (30 de janeiro de 2007). «In Connecticut, World's Oldest Woman Dies at 114.». New York Times. Consultado em 29 de dezembro de 2014 
  10. Zaslow, Jeffrey (28 de fevereiro de 2005). «Gerontology sleuths search for 'supercentenarians'». Pittsburgh Post-Gazette. Wall Street Journal. Consultado em 29 de dezembro de 2014 
  11. Inouye, Emily (9 de junho de 2004). «Research group tracks oldest-living people». Daily Bruin. Consultado em 29 de dezembro de 2014 
  12. O'Brien, Dennis (31 de dezembro de 2006). «Researchers look for secrets of living to 100 and beyond». Baltimore Sun. Consultado em 29 de dezembro de 2014 
  13. Wilson, Duff (15 de abril de 2007). «Aging: Disease or Business Opportunity?». New York Times. Consultado em 20 de dezembro de 2014 
  14. «Scientists reprogrammed cells from a 114-year-old woman» (em inglês). 21 de março de 2020 
  15. «Death of a Super-centenarian». The Tralee Chronicle and Killarney Echo. 15 de novembro de 1870. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  16. «The Doctors and the Microbes». The Inter Ocean. 10 de outubro de 1897. Consultado em 5 de fevereiro de 2015 
  17. Gibb, G. (1876). «Ultra-Centenarian Longevity». Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland. The Journal of the Anthropological Institute of Great Britain and Ireland. 5: 82–101. JSTOR 2841365. doi:10.2307/2841365 
  18. a b c Anderson, Stacy L.; Sebastiani, Paola; Dworkis, Daniel A.; Feldman, Lori; Perls, Thomas T. (2012). «Health Span Approximates Life Span Among Many Supercentenarians: Compression of Morbidity at the Approximate Limit of Life Span». The Journals of Gerontology: Series A. 67A (4): 395–405. PMC 3309876Acessível livremente. PMID 22219514. doi:10.1093/gerona/glr223. Consultado em 28 de fevereiro de 2014 
  19. Gerontology Research Group: Verified Supercentenarians (Ranked By Age) as of January 1, 2014
  20. Horvath S, Mah V, Lu AT, Woo JS, Choi OW, Jasinska AJ, Riancho JA, Tung S, Coles NS, Braun J, Vinters HV, Coles LS (2015). «The cerebellum ages slowly according to the epigenetic clock.» (PDF). Age (Albany US). 7 (5): 294–306. PMC 4468311Acessível livremente. PMID 26000617. doi:10.18632/aging.100742 
  21. a b c d e f g h GRG. «GRG World Supercentenarian Rankings List» 
  22. The Guardian - The oldest people who have ever lived – in data

Ligações externas[editar | editar código-fonte]