Gruta de Taforalt

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Taforalt)
Gruta de Taforalt
Gruta dos Pombos
مغارة تافوغالت
Gruta de Taforalt
A gruta em 2017
Localização atual
Gruta de Taforalt está localizado em: Marrocos
Gruta de Taforalt
Localização da gruta de Taforalt em Marrocos
Coordenadas 34° 48' 38" N 2° 24' 30" O
País Marrocos
Região Oriental
Província Berkane
Comuna Tafoughalt
Altitude 720 m
Dados históricos
Fundação anterior a 82 500 ap
Abandono Paleolítico Superior ?
Período/era Paleolítico Médio e Superior
Culturas ateriana, musteriense, ibero-maurisiana
Notas
Escavações 1944-1947, 1950–1955, 1969–1977, 1980, 2003, 2009, etc.
Arqueólogos Jean Roche, Paul Raynal, Abdeljalil Bouzouggar, Nick Barton
Entrada da gruta vista de baixo

A gruta de Taforalt ou de Tafoughalt, também conhecida como gruta dos Pombos (em francês: grotte des Pigeons; em árabe: مغارة تافوغالت), é um importante sítio arqueológico do Paleolítico situado no nordeste de Marrocos. Situa-se 55 km a noroeste de Ujda, no nordeste de Marrocos, perto da pequena aldeia de Taforalt (ou Tafoughalt), no maciço montanhoso dos Beni-Snassen, a 720 metros de altitude a a cerca de 40 km na costa do mar Mediterrâneo.

O sítio arqueológico foi assinalado pela primeira vez em 1908, mas só em 1944-1947 teve escavações relevantes, lideradas por Armand Ruhlmann. A estas seguiram-se as escavações do abade Jean Roche (1950–1955, 1969–1977, 1980 em colaboração com Jean-Paul Raynal). Por fim, foi escavado em 2003 por Abdeljalil Bouzouggar, do Instituto Nacional das Ciências de Arqueologia e do Património de Rabat) e Nick Barton da Universidade de Oxford. Nenhuma das escavações revelou até agora vestígios do Neolítico. Só estão reportadas ocupações paleolíticas, tanto pelos trabalhos mais antigos[1] como pelas investigações mais recentes.[2]

Desde 1995 que o sítio arqueológico é candidato a Património Mundial.[3]

Paleolítico Médio[editar | editar código-fonte]

Segundo as escavações do abade Jean Roche, o ateriano foi precedido pelo musteriense. Mas há poucos dados disponíveis sobre as suas datas (cerca de 30 000 ap) e sobre a localização no jazigo.[4]

As escavações recentes focaram-se na precisão do quadro estratigráfico, cronológico e paleoambiental. Tendo em conta a complexidade da estratigrafia de enchimento, a caverna começou por ser subdividida em diversos setores e seguidamente foi proposta uma interpretação do conjunto do sítio.[5] O Paleolítico Médio é identificado sobretudo nos setores 1 e 2. A caraterística mais importante deste período corresponde a vários níveis aterianos, datando os da base de pelo menos há 82 500 anos. O topo da sequência é ainda difícil de interpretar apesar de terem sido obtidas várias datas, pois os objetos encontrados em níveis seguros apresentam caraterísticas tanto do Paleolítico Médio como do Paleolítico Superior.

Segundo os autores das investigações recentes na gruta dos Pombos em Taforalt, esta revelou o nível ateriano mais antigo de Marrocos, que contém objetos de decoração (Nassarius gibbosulus) ocres considerados como dos mais antigos do mundo, que foram datados por quatro métodos diferentes que indicaram uma idade de 82 500 anos.[5]

Paleolítico Superior[editar | editar código-fonte]

Segundo o abade Jean Roche, o Paleolítico Superior representado na gruta pelo ibero-maurisiano data de 21 900 ap, o que faz do sítio o mais antigo testemunho do Paleolítico Superior juntamente com o jazigo de Tamar Hat na Argélia, que perdurou até cerca de 10 800 ap.[6]

A gruta dos Pombos foi também usada como necrópole durante um período do Paleolítico Superior. As escavações do abade Jean Roche puseram a descoberto mais de 180 esqueletos[7] que foram estudados detalhadamente por Denise Ferembach.[8] No nível da necrópole foi também exumado um esqueleto cujo crânio apresenta vestígios de trepanação, considerada a mais antiga do mundo. As radiografias mostraram a presença de um processo de cicratização, o que indica que o individuo sobreviveu à operação.[9]

As fases recentes do Paleolítico Superior na gruta são claras e pouco diferem do que foi descrito pelo abade Jean Roche,[7] mas as fases antigas são muito difíceis de interpretar e correspondem a um dos períodos mais antigos do ibero-maurisiano no Norte de África.[10]

A identificação dos carvões vegetais (antracologia) mostra a presença de cedro na base do ibero-maurisiano e no topo da sequência da gruta.[11]

Permamecem sem resposta várias questões acerca do musteriense, a sua relação com o ateriano e o fim deste último. Só as investigações que prosseguem na gruta podem fornecer novos elementos.

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Taforalt», especificamente desta versão.
  1. Roche 1953, 1963, 1967, 1969, 1976
  2. Bouzouggar et al. 2006; Bouzouggar et al. 2007; Barton at al. 2007
  3. Gruta de Taforalt. UNESCO World Heritage Centre - Tentative Lists (whc.unesco.org). Em inglês ; em francês. Páginas visitadas em 31 de maio de 2013.
  4. Roche 1953, 1967, 1969
  5. a b Bouzouggar et al. 2007
  6. Saxon et al. 1974
  7. a b Roche 1963
  8. Ferembach et al. 1962
  9. Ferembach 1962
  10. Barton at al. 2007
  11. Ward 2007

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Barton, R.N.E.; Bouzouggar, A.; Bronk-Ramsey, C.; Collcutt, S.N.; Higham, T.F.G.; Humphrey, L.T.; Parfitt, S.; Rhodes, E.J.; Schwenninger, J.L.; Stringer, C.B.; Turner, E.; Ward, S. (2007), Bar-Yosef, O.; Mellars, P., Stringer, C., Boyle, K, eds., «Abrupt climatic change and chronology of the Upper Palaeolithic in northern and eastern Morocco», Cambridge: Research Monographs of the Macdonald Institute, Rethinking the Human Revolution: New Behavioural & Biological Perspectives on the Origins and Dispersal of Modern Humans (em inglês): 177-186 
  • Belcastro, M-G; Condemi, S.; Mariotti, V. (2010), «Funerary practices of the Iberomaurusian population of Taforalt (Tafoughalt; Morocco, 11-12,000 BP): the case of grave XII», Journal of Human Evolution (em inglês) (58/6): 522-532 
  • Ben-Ncer, A. (2004), «Etude de la sépulture ibéromaurusienne 1 d'Ifri n'Baroud (Rif oriental, Maroc)», Antropo (em francês) (7): 177-185 
  • Bonfiglioli, B.; Mariotti, V.; Facchini, F.; Belcastro, M. G.; Condemi, S. (2004), «Masticatory and Non-masticatory Dental modifications in the Epipaleolithic Necropolis of Taforalt (Marocco)», Int. Jour. of Osteoarcheology (em inglês) (14): 448-456 
  • Bouzouggar, A.; Barton, R.N.E.; Collcutt, S.N.; Parfitt, S.; Higham, T.F.G.; Rhodes, E; Gale, R. (2006), Sanchidrián, J-L.; Márquez, A.; Fullola, J.M., eds., «Le Paléolithique Supérieur au Maroc: apport des sites du Nord-Ouest et de l'Oriental», Málaga: IV Simposio de Prehistoria Cueva de Nerja. Fundación Cueva de Nerja, & Málaga UISPP, Com.8, La cuenca mediterránea durante el Paleolítico Superior (38.000 – 10.000 años) (em francês): 138-150 
  • Bouzouggar, A.; Barton, N.; Vanhaeren, M.; d'Errico, F.; Collcutt, S.; Higham, T.; Hodge, E.; Parfitt, S.; Rhodes, E.; Schwenninger, J-L.; Stringer, C.; Turner, C.; Ward, S.; Moutmir, A.; Stambouli, A. (2007), «82,000 year-old shell beads from North Africa and implications for the origins of modern human behavior», Proceedings of the National Academy of Sciences (USA) 104 (24) (em inglês): 9964-9969 
  • Dastugue, J. (1962), Ferembach, D.; Dastugue, J.; Poitrat-Targowla, M.-J., eds., «II. Pathologie osseuse», Edita-Casablanca, Rabat, CNRS, Paris, La Nécropole Épipaléolithique de Taforalt (Maroc oriental). Études des Squelettes Humains (em francês): 135-158 
  • Dutour, O. (1988), «L'homme de Taforalt au Sahara ou le problème de l'extension saharienne des cromagnoïdes du Maghreb», Bull. et Mém. de la Societé d’Anthropologie de Paris 5, série XIV, 4 (em francês): 247-256 
  • Ferembach, D.; Dastugue, J.; Poitrat-Targowla, M.J. (1962), La Nécropole Epipaléolithique de Taforalt (Maroc Oriental): Étude des squelettes humains (em francês), Edita Casablanca, Rabat 
  • Ferembach, D. (1985), «On the Origin of the Iberomaurusians (Upper Palaeolithic : North Africa). A New Hypothesis», Jornal of Human Evolution (14): 393-397 
  • Humphrey, L.T.; Bocaege, E. (2008), «Tooth Evulsion in the Maghreb: Chronological and Geographical Patterns», Af.r Archaeo.l Rev. 25 (em inglês): 109–123, doi:10.1007/s10437-008-9022-4 
  • Humphrey, L.; Bello, S.M.; Turner, E.; Bouzouggar, A.; Barton, N. (2012), «Iberomaurusian funerary behaviour: Evidence from Grotte des Pigeons, Taforalt, Morocco», Journal of Human Evolution (em inglês) (62): 261-273 
  • Irish, J. D. (2000), «The Iberomaurusian enigma: North African progenitor or dead end?», Journal of Human Evolution (em inglês) (39): 393-410 
  • Mariotti, V.; Bonfiglioli, B.; Condemi, S.; Facchini, F.; Belcastro, M.G. (2009), «Funerary practices of the Iberomaurusian population of Taforalt (Tafoghalt) (Morocco, 11-12000 BP): new hypotheses based on a per-grave inventory of the osteological remains and signs of deliberate activity on the human bones», Journal of Human Evolution (em inglês), 56/4 
  • Merriman, J.D. (2003), Fossil children. An exploration of developmental patterns found in subadult skeletons from Epipaleolithic North Africa. Ph.D. Dissertation (em inglês), State University of New York 
  • Raynal, J.-P. (1979–1980), «Taforalt. Mission Préhistorique et paléontologique française au Maroc: rapport d'activité pour l'année», Bulletin d’Archéologie Marocaine (em francês) (12): 69-71 
  • Roche, J. (1953), «La grotte de Taforalt», Anthropologie (em francês) (57): 375-380 
  • Roche, J. (1963), L’Epipaléolithique Marocaine (em francês), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 
  • Roche, J. (1967), «L'Aterian de la grotte de Taforalt (Maroc oriental)», Bulletin d’Archéologie Marocaine (em francês) (7): 11-56 
  • Roche, J. (1969), «Les industries paléolithiques de la grotte de Taforalt (Maroc oriental)», Quaternaria (em francês) (11): 89-100 
  • Roche, J. (1976), «Cadre chronologique de l'Epipaléolithique marocain», Actes du IXè Congrès de l’UISPP : Chronologie et synchronisme dans la préhistoire circum-méditerranéenne (em francês): 153-167 
  • Saxon, E.C.; Close, A.; Cluzel, C.; Morse, V.; Shackleton, N.J. (1974), «Results of recent excavations at Tamar Hat», Libyca (em inglês) (22): 49-91 
  • Ward, S. (2007), «Reconstructing Late Pleistocene Vegetation Dynamics from Archaeological Cave Sites in the Western Mediterranean: Links with Climate and Cultural Changes», University of Oxford, DPhil Doctoral Thesis (em inglês) 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]