Teorema da função inversa

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O teorema da função inversa é um importante resultado da análise real que estabelece a existência, ainda que localmente, de um função inversa para uma aplicação continuamente diferenciável. E embora este teorema possua equivalência com o Teorema da função implícita, cujas ideias apereceram inicialmente nos escritos de Isaac Newton, Joseph Louis Lagrange (1736-1813) foi o matemático que apresentou um resultado que essencialmente é uma versão do Teorema da Função Inversa. Além da garantia da inversibilidade de aplicações, podemos utilizar este resultado para demostrar o Teorema fundamental da álgebra e resultados envolvendo superfícies regulares, no ramo da Geometria diferencial. Por outro lado, ainda existem versões generalizadas para este resultado, envolvendo funções holomorfas e aplicações definidas em Espaço de Banach, por exemplo.

Versão na reta[editar | editar código-fonte]

Seja uma função de classe num domínio aberto. Se e então existe um intervalo onde a é injetora e, portanto, sobrejetiva em sua imagem. Ademais, se é a inversa de em sua imagem, temos:

Versões em [editar | editar código-fonte]

  • Seja uma função de classe em um aberto . Se é tal que é invertível então existe uma bola aberta tal que restrição é um difeomorfismo sobre um aberto .[1]
  • Sejam um aberto e de classe tal que, em um ponto é um isomorfismo. Então é um difeomorfismo de classe de uma vizinhança de sobre uma vizinhança de .[2]

Métodos de demonstração[editar | editar código-fonte]

Dentre os diversos métodos de demonstração do Teorema da função inversa, podemos destacar os métodos utlizados para as versões acima.

Na primeira versão, utilizamos fundamentalmente um resultado que garante que o inverso de um homeomorfismo de classe entre abertos é diferenciável de modo que para demonstrar que é difeomorfismo, faz-se necessário mostrar apenas que é aberto, em que B é definido a partir da hipóstese que é invertível e, em particular, é injetiva.

Para segunda versão, podemos considerar a demonstração mais comumente utilizada na literatura, que utiliza-se conceitos advindos da teoria de Espaços Métricos e fundamentam-se no Teorema do ponto fixo de Banach. Nesse sentido, é utilizado o resultado conhecido como perturbação da identidade para garantir que é um homeomorfismo de V em um aberto . Além disso, podemos adequar V de modo que seja invertível, restando mostrar que é diferenciável e é de classe , em que a primeira parte é mostrada por definição e a segunda por indução sobre k.

Exemplo[editar | editar código-fonte]

Consideremos definida por O determinante jacobiano é:

que é não-nulo para todo Concluimos que é um difeomorfismo local de classe

Aplicações[editar | editar código-fonte]

Toda matriz próxima da identidade tem raiz quadrada.[editar | editar código-fonte]

Dadas as matrizes, diz-se que é raiz quadrada de quando . Considerando a aplicação de classe , sua derivada num ponto é a tranformação linear , dada por . Em particular, para tem-se , logo é isomorfismo. Então, do teorema da função inversa, existe um aberto , contendo a matriz identidade, restrita ao qual é um difeomorfismo sobre o aberto . Assim, para toda matriz existe uma única matriz tal que . Além disso, a aplicação é de classe .

Teorema fundamendal da Álgebra.[editar | editar código-fonte]

Seja um polinômio complexo não constante, . Afirmamos que p é sobrejetivo. Em particular, existe tal que .

A demonstração desse teorema utiliza-se inicialmente do conceito de derivada como uma transformação linear para denotar para cada a derivada de 𝑝 no ponto 𝑧 por e definir o conjunto . Uma vez que um polinômio não-nulo possui número finito de raízes, garantimos que o conjunto , assim como , é finito e consequentemente é conexo. A fim de satisfazer as hipóteses do Teorema da Função Inversa, definimos por restrição de uma nova aplicação , garantindo que para cada é um complexo não-nulo e portanto, é um isomorfismo. Deste modo, pelo Teorema da Função Inversa, 𝑃 é uma aplicação aberta, e em particular, a imagem de 𝑃 é um subconjunto aberto de . Mas por outro lado, pode se mostrar que o conjunto de valores de P é um subconjunto fechado de , concluindo que a imagem de 𝑝 é aberta e fechada em , que é conexo. Portanto, P é sobrejetivo em , e como está contido na imagem de , tem-se que é sobrejetivo em , o que conclui a demonstração.

A inversa de aplicações lineares é de classe .[editar | editar código-fonte]

Por simplicidade, ponhamos . Definamos por . Então com . Logo é um isomorfismo, cujo inverso é dado por . Segue do teorema da função inversa que é um difeomorfismo local e como é injetora, segue que é difeomorfismo. Em particular, sua inversa , dada por , é diferenciável. Seja definida por A composta é diferenciável. Mas e, portanto, é um difeomorfismo. De , segue-se por fiferenciação que, para todo e portanto, Segue-se que é de classe

Generalizações[editar | editar código-fonte]

Espaços de Banach[editar | editar código-fonte]

Seja uma vizinhança aberta da origem de e uma função continuamente diferenciável. Suponha que a derivada de Fréchet de no ponto 0 é um isomorfismo linear limitado de X em Y, então existe uma vizinhança aberta de em e uma função continuamente diferenciável tal que . Mais ainda, é a única solução suficientemente pequena x para .[3]

Funções holomorfas[editar | editar código-fonte]

Seja uma função holomorfa definida num aberto em . Se a matriz jacobiana das derivadas complexas é inversível em um ponto , então é uma função inversível na vizinhança de .[4]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Lima, Elon Lages, 1929-. Análise real. Rio de Janeiro: [s.n.] ISBN 9788524400483. OCLC 869851054 
  2. Lima, Elon L. (2000). Análise no espaço Rn. Rio de Janeiro: IMPA. ISBN 8524401893. OCLC 56193152 
  3. Luenberger, David G., 1937- (1998). Optimization by vector space methods. [S.l.]: Wiley. ISBN 047118117X. OCLC 502210349 
  4. Fritzsche, Klaus. (2011). From holomorphic functions to complex manifolds. [S.l.]: Springer. ISBN 9781441929839. OCLC 752481237