Tomás da Fonseca

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Tomás da Fonseca
Tomás da Fonseca
Nome completo José Tomás da Fonseca
Outros nomes José Tomaz da Fonseca, Tomaz da Fonseca
Nascimento 10 de março de 1877
Mortágua
Morte 12 de fevereiro de 1968 (90 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal Portuguesa
Ocupação Poeta, escritor, historiógrafo, jornalista e professor
Magnum opus Na cova dos leões

José Tomás da Fonseca (Mortágua, 10 de Março de 1877Lisboa, 12 de Fevereiro de 1968) foi um agricultor, ex-seminarista, poeta, escritor, historiógrafo, jornalista, professor, político e militante republicano de cariz ateu e anticlerical português. Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática, à Maçonaria e ao Partido Comunista Português.

Por causa de seu ateísmo militante,[1][2] sua verve polemista, das ideias republicanas, laicistas e ateias, das críticas às aparições em Fátima e à igreja católica[3] Tomás foi perseguido pela PIDE, preso diversas vezes e 14 de seus livros foram censurados e banidos durante as ditaduras sidonista e salazarista.[4][5][6][7]

A perseguição a Tomás da Fonseca o afastou das atividades docentes que ele desenvolvia no Conselho Superior de Instrução Pública, da direção da Escola Normal de Lisboa e de Coimbra e da Universidade Livre de Coimbra, que ele ajudou a fundar.[8]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Tomás da Fonseca com Clotilde e os filhos António e Tomás. (Coimbra, cerca de 1923)[9]

Tomás da Fonseca nasceu em Portugal a 10 de Março de 1877, no povoado de Laceiras, próximo da Serra do Caramulo, em Mortágua, Distrito de Viseu. Foi segundo dos oito filhos de Adelino José Thomaz e Rosa Maria da Conceição.[10]

Frequentou teologia no Seminário de Coimbra, que acabou por abandonar em 1903.[11] Era casado com Clotilde Madeira Branquinho da Fonseca (Mortágua, 6 de maio de 1885 - 25 de maio de 1963) e com ela teve dois filhos: o escritor Branquinho da Fonseca e o engenheiro Tomás Branquinho da Fonseca.[9]

Evidenciou-se desde jovem na propaganda republicana e foi uma das figuras mais relevantes da campanha que precedeu a implantação da República em 1910. Durante os primeiros tempos desta, colaborou em reformas no campo de ensino, desde o básico ao universitário. Foi chefe de gabinete do primeiro Presidente do Ministério Republicano, Teófilo Braga, e em 1916 eleito senador pelo distrito de Viseu.[carece de fontes?]

Feroz opositor dos regimes ditatoriais, foi perseguido pelas suas ideias políticas e os seus livros alvo de censura e proibição. Em 1918, por se opor à ditadura de Sidónio Pais, é preso durante dois meses. Volta a ser preso em 30 de Novembro de 1928, em Coimbra, por ter participado no movimento revolucionário de 20 de Julho. Em várias ocasiões os seus livros foram confiscados pela PIDE. Os seus movimentos eram constantemente vigiados, assim como os das pessoas com quem convivia. Denunciou as condições prisionais do regime, o que lhe valeu a prisão a 8 de Maio de 1947, por ter protestado contra a existência do Campo de concentração do Tarrafal, nas ilhas de Cabo Verde.[carece de fontes?]

Como escritor literário, Tomás da Fonseca escreveu dezenas de volumes entre os quais se contam livros de versos, arqueologia e belas artes, doutrina democrática e polêmica religiosa. Anticlerical convicto, publicou vários livros críticos da Igreja e da Religião. Nos livros Evangelho de um Seminarista (1903), Memórias dum Chefe de Gabinete (1949) e Memórias do Cárcere (1919) e nas diversas versões de Na Cova dos Leões encontramos testemunhos da sua vivência.[carece de fontes?]

No Jornalismo destacou-se como fundador e diretor do jornal A republica portugueza (1910-1911) juntamente com Ribeiro de Carvalho (1880-1942).[12] Ele colaborou com artigos ou opiniões em diversas publicações periódicas como: Revista nova (1901-1902),[13] Serões (1901-1911),[14] Arte e vida (1904-1906),[15] Luz e Vida (1905),[16] Amanhã (1909),[17], boletim da Universidade Livre [18] (1914-1916), Renovação (1925-1926) [19] e outros, nomeadamente: Mundo, Pátria, Vanguarda, Voz Pública, Norte, República, Povo, Lanterna (Brasil), Espanha Nova, Alma Nacional, Diabo, Prometeu, Arquivo Democrático, de qual foi diretor, Defesa da Beira e na revista Livre Pensamento.[carece de fontes?]

Foi também um professor, com uma prolongada ligação ao ensino, sendo vogal do Conselho Superior de Instrução Pública, diretor das Escolas Normais de Lisboa, da Universidade Livre de Coimbra e presidente do Conselho de Arte e Arqueologia desta mesma cidade. Como deputado da Parlamento até 1917, colaborou na reforma do Ensino Primário e Normal. Em 1922 publicou o livro História da Civilização, que foi adotado como livro didático a pedido do Ministro da Instrução Pública. Sempre atento e preocupado com a formação dos cidadãos, realizou inúmeras visitas de estudo a escolas, museus e bibliotecas em países como França, Bélgica e Inglaterra.[carece de fontes?]

Tomás da Fonseca morreu em 12 de Fevereiro de 1968 em Lisboa, após ser acometido por um câncer de próstata. Foi enterrado no dia seguinte no Cemitério Municipal de Mortágua e as pessoas que participaram de seu enterro foram vigiadas de perto pela PIDE. O relato dos agentes presentes no funeral indicou a presença de 800-900 pessoas e uma grande comoção em Mortágua e Laceiras.[5]

Em 1984 o Governo de Portugal concedeu a José Tomaz da Fonseca, o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.[20]

Tomás da Fonseca é homenageado com ruas em Mortágua,[21] Lisboa[6] e São Paulo,[22] além de uma praça em Amadora.[23]

Livros publicados e censurados[editar | editar código-fonte]

Grande parte da obra de Tomás da Fonseca esteve sob censura, foi proibida em Portugal durante as ditaduras sidonista e salazarista.[4][24]

  • Questão romana (1930)

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Abreu, Luís Machado de (2017). «Programa anticlerical de Tomás da Fonseca» (PDF). Revista lusófona de ciência das religiões. 1 (20): 313-332. ISSN 1645-5584 
  2. Fonseca, Tomás da (2009). Na cova dos leões: Fátima. Cartas ao Cardeal Cerejeira. Prefácio de Luís Filipe Torgal. Lisboa: Antígona. pp. 7–15. ISBN 9789726082071 
  3. «Tomás da Fonseca (1877-1968)». Fundação Mário Soares. Consultado em 27 de março de 2017 
  4. a b Hignett, Colin (1988). «The Censorship of Printed Books in Portugal, 1926-1974: A Select Bibliography» (requer pagamento). Bulletin of Hispanic Studies (em inglês). 65 (LXV): 49-59. ISSN 1475-3839. doi:10.3828/bhs.65.1.49. Consultado em 26 de março de 2017 
  5. a b Torgal 2016a.
  6. a b Domingues, Nuno; Alves, Fernando (10 de março de 2017). «140 minutos de leitura para assinalar 140 anos de Tomás da Fonseca». TSF Rádio Notícias. Consultado em 13 de abril de 2017 
  7. Marujo, Miguel (21 de abril de 2012). «Censura - Estado Novo censurou 900 livros». Diário de Notícias (Portugal). Consultado em 14 de abril de 2017 
  8. «As Mãos da Escrita | Tomás da Fonseca». Biblioteca Nacional de Portugal. 2007. Consultado em 14 de abril de 2017 
  9. a b Cristina, Pacheco; Henriques, João Miguel (2012). Branquinho da Fonseca: um escritor na biblioteca (PDF). Cascais: Câmara Municipal de Cascais. pp. 12–15. ISBN 9789726372479. OCLC 823207213. Cópia arquivada (PDF) em 2 de outubro de 2018 
  10. Torgal 2016a, p. 364.
  11. Torgal 2016a, p. 76.
  12. Mesquita, Pedro (2012). «Ficha histórica: A republica portugueza: diario republicano radical da manhan (1910-1911)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 8 de janeiro de 2015 
  13. Pedro Mesquita (25 de Junho de 2013). «Ficha histórica: Revista nova(1901-1902)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 15 de setembro de 2015 
  14. Rita Correia (24 de Abril de 2012). «Ficha histórica: Serões, Revista Mensal Ilustrada (1901-1911)» (pdf). Consultado em 23 de Setembro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  15. Daniel Pires (1996). «Ficha histórica: Arte e Vida: Revista d'arte, crítica e ciência (1904-1906)» (pdf). Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940). Lisboa: Grifo. pp. 71–72. Consultado em 18 de setembro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  16. Correia, Rita (5 de maio de 2015). «Ficha histórica:Luz e Vida: revista mensal de sociologia, arte e crítica (1905)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 16 de maio de 2016 
  17. Pires, Daniel (1996). «Ficha histórica: Amanhã : revista popular de orientação racional (1909)» (pdf). Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940). Lisboa: Grifo. pp. 64–65. Consultado em 8 de Maio de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  18. Rita Correia. «Universidade Livre : boletim mensal (1914-1916) – registo bibliográfico.» (PDF). Consultado em 28 de maio de 2020 
  19. Jorge Mangorrinha (1 de Março de 2016). «Ficha histórica:Renovação : revista quinzenal de artes, litertura e atualidades (1925-1926)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 18 de maio de 2018 
  20. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Presidência da República Portuguesa. Consultado em 14 de abril de 2017 
  21. «Rua Tomás da Fonseca - Mortágua». Portugalio. Consultado em 14 de abril de 2017 
  22. «Rua Tomás da Fonseca, Alto da Mooca - São Paulo SP - CEP 03193-140». www.consultarcep.com.br. Consultado em 14 de abril de 2017 
  23. «Código Postal de Praça Tomás da Fonseca». Código Postal. Consultado em 14 de abril de 2017 
  24. Torgal 2016a, p. 380-381.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]