Tricuríase

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Tricuríase
Tricuríase
Ciclo de vida do Trichuris trichiura
Sinônimos Infecção do verme do chicote
Especialidade Infectologia
Sintomas Dor abdominal, cansaço, diarreia[1]
Complicações Anemia, desenvolvimento intelectual e físico atrasados[1][2]
Causas Ingestão de comida contendo ovos do Trichuris trichiura[2]
Método de diagnóstico Análise das fezes em microscópio[3]
Prevenção Melhoria sanitária, lavar as maõs, tratamento coletivo[4][5]
Medicação Albendazole, mebendazole, ivermectin[6]
Frequência 464 milhões (2015)[7]
Classificação e recursos externos
CID-10 B79
CID-9 127.3
CID-11 422746556
DiseasesDB 31146
MedlinePlus 001364
eMedicine 788570
MeSH D014257
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A Tricuríase, também conhecida como infecção do verme do chicote, é uma infecção pelo verme parasita Trichuris trichiura (verme do chicote).[2] Se a infecção é apenas com alguns vermes, frequentemente não há sintomas. Aqueles que estão infectados com muitos vermes, pode haver dor abdominal, cansaço e diarreia. A diarreia, às vezes, contém sangue. Infecções em crianças podem prejudicar o desenvolvimento intelectual e físico.[1] Pode ocorrer anemia devido à perda de sangue.[2]

A doença geralmente é transmitida quando as pessoas comem alimentos ou bebem água que contém os ovos destes vermes.[1] Isto pode ocorrer quando vegetais contaminados não são totalmente limpos ou cozidos.[1] Muitas vezes, esses ovos estão no solo em áreas onde as pessoas defecam ao ar livre e onde fezes humanas fezes não tratadas são utilizadas como fertilizante.[2] Estes ovos se originam das fezes de pessoas infectadas. Crianças brincando nestes locais e colocando a mão na boca também podem ser facilmente infectadas.[1] Os vermes vivem no intestino grosso e têm cerca de quatro centímetros de comprimento.[2] O diagnóstico é pela observação dos ovos quando examinando as fezes com um microscópio.[3] Os ovos são em forma de barril.[8] A tricuríase pertence ao grupo de helmintíases transmitidas pelo solo.[9]


A prevenção é pelo preparo correto do alimento e lavar as mãos antes de cozinhar.[5] Outras medidas incluem a melhoria do acesso ao saneamento , tais como garantir a utilização funcional e limpa de banheiros[5] e o acesso à água potável.[10] Em áreas do mundo onde as infecções são comuns, muitas vezes, grupos inteiros de pessoas serão tratadas de uma só vez e em uma base regular.[4] O tratamento é feito com três dias de medicação: albendazol, mebendazol ou ivermectin.[6] Muitas vezes, as pessoas são infectadas novamente após o tratamento.[11]

Estima-se que o verme do chicote tenha afetado cerca de 464 milhões em 2015.[7] É mais comum em países tropicais e em países em desenvolvimento, as pessoas infectadas muitas vezes também tem infecções de ancilóstomo e ascaridíase.[4] A doença têm um grande efeito sobre a economia de muitos países.[12] O trabalho para desenvolver uma vacina contra a doença, que está classificada como doença negligenciada, está em andamento.[9][4]

Causa[editar | editar código-fonte]

Ovo de T.trichiura

O Trichuris trichiura é um verme fusiforme nematoide, e como todos, tem sistema digestivo completo. Boca na extremidade anterior, abertura simples — sem lábios, seguido do esôfago bastante longo e delgado — 2/3 do comprimento. Na parte posterior, que é alargada, está o sistema reprodutor simples e o intestino. Os vermes adultos são dioicos, com dimorfismo sexual: os machos tem em torno de 2,5 a 4 cm, as fêmeas são maiores que os machos, em torno de 4 a 5 cm. Os ovos têm forma de limões ou barril, cerca de 45 a 65 micrómetros de comprimento por 20 a 25 micrómetros de largura, e massa mucoide transparente nas duas extremidades (opérculos polares).

Ciclo de vida[editar | editar código-fonte]

Os ovos são expelidos com as fezes e permanecem viáveis durante vários meses ou anos em solo úmido e quente, e são infecciosos assim que se desenvolve a larva no seu interior, o que demora algumas semanas. Se ingeridas, as larvas saem dos ovos no lúmen do intestino, migram para o ceco e penetram na mucosa intestinal. Aí se desenvolvem, maturando em formas adultas depois de alguns meses, que permanecem com a cauda no lúmen do intestino e a cabeça penetrando a mucosa. Se houver um macho e uma fêmea, pelo menos, no mesmo indivíduo, acasalam e a fêmea põe mais de 2000 ovos por dia, excretados nas fezes. As formas adultas podem sobreviver durante vários anos. Alimentam-se do bolo intestinal mas também de sangue. São semelhante ao Ascaris lumbricoides. Os vermes podem viver de um a cinco anos dentro do intestino humano sem nunca causar sintomas.[13]

Epidemiologia[editar | editar código-fonte]

No Brasil havia 5 a 10 casos por cada 10 mil habitantes (100 a 200 mil casos) por ano.

Existem milhões de pessoas infectadas em todo o mundo (estima-se que um quarto da humanidade já entrou em contato com o verme), principalmente em países tropicais em locais com condições pouco higiênicas. Quase todas as infecções de adolescentes ou adultos saudáveis não têm sintomas, aparecendo apenas em infecções com um grande número de ovos ou em crianças pequenas.[14]

Esta infecção é comum em todo o mundo e quase sempre sua prevalência segue paralelamente à do Ascaris lumbricoides, devido a serem idênticos os modos de transmissão, e à grande similaridade das duas espécies de nematelmintos, bem como à resistência dos ovos às condições de meio externo e demais características epidemiológicas.

Este parasita também pode afetar cães e gatos.

Progressão e sintomas[editar | editar código-fonte]

Se a carga de parasitas é baixa, a doença é assintomática, porém se for elevada (mais de 200 vermes) pode ocorrer:

  • Evacuação noturna frequente;
  • Diarreia;
  • Prolapso retal (ânus aumentado);
  • Menor crescimento em crianças;
  • Desconforto abdominal.

Complicações possíveis incluem necrose da mucosa intestinal com hemorragias e diarreia sanguinolenta, podendo progredir para anemia por déficit de ferro. Outros sintomas são a dor abdominal, perda de peso em indivíduos já desnutridos, flatulência e fadiga. Em casos incomuns pode ocorrer apendicite (se o verme entrar no apêndice e não conseguir sair) e prolapso rectal com hemorroidas.

Diagnóstico e tratamento[editar | editar código-fonte]

O diagnóstico é feito pela observação ao microscópio dos ovos do parasita em amostras fecais. Fármacos como mebendazol e oxantel matam as formas adultas.

Referências

  1. a b c d e f «Soil-transmitted helminth infections Fact sheet N°366». World Health Organization. Junho de 2013. Consultado em 5 de março de 2014. Cópia arquivada em 21 de fevereiro de 2014 
  2. a b c d e f «Parasites - Trichuriasis (also known as Whipworm Infection)». CDC. 10 de janeiro de 2013. Consultado em 5 de março de 2014. Cópia arquivada em 1 de março de 2014 
  3. a b «Parasites - Trichuriasis (also known as Whipworm Infection) Diagnosis». CDC. 10 de janeiro de 2013. Consultado em 20 de março de 2014. Cópia arquivada em 20 de março de 2014 
  4. a b c d Bethony, J; Brooker, S; Albonico, M; Geiger, SM; Loukas, A; Diemert, D; Hotez, PJ (6 de maio de 2006). «Soil-transmitted helminth infections: ascariasis, trichuriasis, and hookworm.». Lancet. 367 (9521): 1521–32. PMID 16679166. doi:10.1016/S0140-6736(06)68653-4 
  5. a b c «Parasites - Trichuriasis (also known as Whipworm Infection) Prevention & Control». CDC. 10 de janeiro de 2013. Consultado em 20 de março de 2014. Cópia arquivada em 20 de março de 2014 
  6. a b «Parasites - Trichuriasis (also known as Whipworm Infection): Resources for Health Professionals». CDC. 10 de janeiro de 2013. Consultado em 5 de março de 2014. Cópia arquivada em 20 de outubro de 2014 
  7. a b GBD 2015 Disease and Injury Incidence and Prevalence, Collaborators. (8 de outubro de 2016). «Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 310 diseases and injuries, 1990-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015.». Lancet. 388 (10053): 1545–1602. PMC 5055577Acessível livremente. PMID 27733282. doi:10.1016/S0140-6736(16)31678-6 
  8. Duben-Engelkirk, Paul G. Engelkirk, Janet (2008). Laboratory diagnosis of infectious diseases : essentials of diagnostic microbiology. Baltimore: Wolters Kluwer Health/Lippincott Williams & Wilkins. p. 604. ISBN 9780781797016. Cópia arquivada em 8 de setembro de 2017 
  9. a b «Neglected Tropical Diseases». cdc.gov. 6 de junho de 2011. Consultado em 28 de novembro de 2014. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2014 
  10. Ziegelbauer, K; Speich, B; Mäusezahl, D; Bos, R; Keiser, J; Utzinger, J (janeiro de 2012). «Effect of sanitation on soil-transmitted helminth infection: systematic review and meta-analysis.». PLOS Medicine. 9 (1): e1001162. PMC 3265535Acessível livremente. PMID 22291577. doi:10.1371/journal.pmed.1001162 
  11. Jia, TW; Melville, S; Utzinger, J; King, CH; Zhou, XN (2012). «Soil-transmitted helminth reinfection after drug treatment: a systematic review and meta-analysis.». PLoS neglected tropical diseases. 6 (5): e1621. PMC 3348161Acessível livremente. PMID 22590656. doi:10.1371/journal.pntd.0001621 
  12. Jamison, Dean (2006). «Helminth Infections: Soil-transmitted Helminth Infections and Schistosomiasis». Disease control priorities in developing countries 2nd ed. New York: Oxford University Press. p. Chapter 24. ISBN 9780821361801. Cópia arquivada em 10 de outubro de 2016 
  13. http://emedicine.medscape.com/article/788570-overview#a5
  14. http://emedicine.medscape.com/article/788570-overview#a6