Usuário:Acscosta/Testes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, situado no Cabo Espichel, na freguesia do Castelo do concelho de Sesimbra, é integrado pela Ermida da Memória, Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel, Hospedarias, Terreiro, Cruzeiro, Casa da Ópera, Aqueduto, Casa da Água e Hortas dos Peregrinos.

Outras denominações[editar | editar código-fonte]

O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel também é conhecido por Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua.

Esta denominação tem a sua origem ...

História[editar | editar código-fonte]

Em meados do século XIV, foi construída uma ermida para guardar uma imagem da virgem, venerada há muito em cima do rochedo onde foi encontrada. À sua volta foram crescendo modestas casas para receber os peregrinos que aqui a demandavam, dando mais tarde (1715) lugar à construção das hospedarias.

Ao Santuário da Senhora do Cabo afluíram, desde a Idade Média, vários e numerosos círios.

Ermida da Memória[editar | editar código-fonte]

A ermida da Memória é o elemento mais antigo do Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel.

Foi construída na escarpa sul da Baía dos Lagosteiros, no local onde, segundo a tradição, terá sido encontrada, em 1410, uma imagem de Nossa Senhora.

É um pequeno templo, de planta quadrangular e paredes pouco elevadas, coroado por uma cúpula contracurvada, em forma de bolbo, terminada por um pináculo boleado (mas cuja bola terminal desapareceu nos anos 90 do século XX).[1]

Os painéis de azulejo do exterior[editar | editar código-fonte]

No exterior, de cada lado da porta, encontra-se um painel de azulejos.

Um dos painéis, o da fachada lateral esquerda, tem a inscrição "A sceculo non est auditum qui / Joan Cap. 9:32".[nota 1][2][3]

Painéis de azulejo do interior[editar | editar código-fonte]

No interior tem dez painéis de azulejos que ilustram a história da aparição e da edificação do santuário. Em cada painel está, dentro de uma cartela[nota 2], a respetiva legenda:

  • "Sonham dous venturosos velhos / que apparecia a Senhora / n'este mesmo logar"
XXXX
  • "Põem-se a caminho para se certificarem da verdade, onde se encontram, e comunicam entre si os sonhos"
  • "Chegando a este sitio, vem / com admiração subir a / Senhora pela rocha"
  • "Publicada por elas a maravilha, vem outras em sua companhia para admirarem o prodígio"
  • "Edificou-se esta ermida para os primeiros cultos"
  • "Com a concorrência das gentes se fabrica outra, no logar onde hoje se vê a majestosa egreja"
  • "Fórma do arraial d'aquelles primeiros tempos"
  • "Dá-se o principio à majestosa egreja, em 1707"
  • "Faz-se o novo arraial"
  • "Entrada de festeiros no novo arraial"

A pintura é azul e de cerca de 1740.[4]

Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel[editar | editar código-fonte]

Igreja

A construção[editar | editar código-fonte]

A edificação do templo, «sóbrio e chão» e com elementos barrocos, teve início em 1701 sendo possível que estivesse concluída em 1707, mas as campanhas decorativas do interior prolongaram-se ao longo das décadas seguintes.[1]

A fachada principal[editar | editar código-fonte]

A fachada principal é ladeada por torres, abrindo-se ao exterior através de três portais a que correspondem, ao nível do coro, outras tantas janelas (de características tardo-maneiristas), sendo encimada por frontão triangular com elementos barrocos e uma imagem da padroeira no nicho central.

O interior[editar | editar código-fonte]

O interior, de uma só nave coberta por abóbada de canhão, parece confirmar a hipótese de ser João Antunes o autor da traça da igreja, «pela utilização de mármores brancos e negros» que enquadram 10 altares de talha vulgar (1718-1722), acima dos quais se dispõem pinturas anónimas relativas a episódios da Vida da Virgem.

A tribuna real é uma obra de 1770.

A capela-mor[editar | editar código-fonte]

Na capela-mor as paredes são forradas com um pequeno alizar de azulejos, datados de cerca de 1730, pintados a azul sobre branco, com dois painéis ornamentais. No centro dos painéis estão emblemas referentes a Nossa Senhora com as legendas QVASI OLIVA[nota 3] e QVASI PALMA.[nota 4] [2]

O teto[editar | editar código-fonte]

A nave é coberta por uma abóbada pintada com frescos por Lourenço da Cunha (1740), mostrando pinturas arquitetónicas em perspetivas ilusionísticas.[5] No interior da igreja salienta-se o teto, em trompe-l'oeil, da autoria de Lourenço da Cunha, datado de 1740. Trata-se de «um dos melhores trabalhos de ilusionismo perspético que subsiste do Portugal Joanino», sendo o único deste artista em todo o País (os restantes não sobreviveram ao terremoto de 1755).[6]

O teto

A capela-mor[editar | editar código-fonte]

O retábulo da capela-mor, em estilo nacional, acolhe a imagem de Nossa Senhora do Cabo, cuja descoberta no promontório (presumivelmente em 1410) terá estado na base de um culto popular que se estendeu a ambas as margens do Tejo. Este culto encontra-se, no entanto, documentalmente registado desde data anterior, 1366, numa carta régia de D. Pedro I.[1][7]

A sacristia[editar | editar código-fonte]

Na sacristia encontram-se duas pinturas atribuídas ao Mestre da Lourinhã: uma tábua representando Santo António e outra Santiago Menor.[1]

O órgão de tubos[editar | editar código-fonte]

No interior da igreja encontra-se um órgão de tubos com características de finais do séc. XVIII, princípios do séc. XIX, que é atribuído por um especialista, embora com reservas, à oficina de Joaquim António Peres Fontanes.[nota 5]

O órgão foi objeto de restauro. [8] [9]



A construção da igreja de Nossa Senhora do Cabo foi iniciada em 1701, tendo sido sagrada em 1707

O interior da igreja é decorado com mármores coloridos e um tecto pintado em arquitectura perspectivada, da autoria de Lourenço da Cunha (1740).

Hospedarias[editar | editar código-fonte]

Foi ao designado Círio Saloio (iniciado em 1430 e constituído por 30 freguesias da zona a norte de Lisboa, reduzidas a 26 no séc. XVIII) que coube a construção de grande parte das hospedarias, conforme se pode ler numa lápide na parede norte das hospedarias:

Casas de N. Sra. de Cabo feitas por conta do Sírio dos Saloios no ano de 1757 p. acomodação dos mordomos que vierem dar bodo

Terreiro[editar | editar código-fonte]

Terreiro

Cruzeiro[editar | editar código-fonte]

Cruzeiro

Casa da Ópera[editar | editar código-fonte]

Casa da Ópera

A Casa da Ópera foi edificada em 1770, tendo como objetivo promover a animação cultural entre os romeiros.

Foi utilizada em espetáculos promovidos pela família real, que se mantinha no Santuário durante o período da romaria.

Nela atuaram artistas e grupos teatrais da Europa, em especial italianos. A Casa da Ópera tinha instalações de apoio que asseguravam a presença desses artistas e grupos durante as romarias.


Aqueduto[editar | editar código-fonte]

O aqueduto que conduza água ao santuário tem cerca de 2,5 km de extensão e início na Azóia, a povoação mais próxima.

O aqueduto abastece a fonte da Casa da Água e dois tanques para uso agrícola e animal, um no interior e outro no exterior da horta dos peregrinos.

Casa da Água[editar | editar código-fonte]

A casa da água, mandada construir por D. José, em 1770, é um pequeno edifício, de planta octogonal, coberto por uma abóbada rematada por um lanternim, e antecedida por uma escadaria.

Casa da Água

No interior tem uma fonte rocaille, de tipo berniniano, em mármore.

As paredes estão revestidas de azulejos azuis e brancos, da fábrica de Belém, com cenas de caça e da chegada dos peregrinos e figuras de convite.[nota 6][10][1][11][12]

Horta dos peregrinos[editar | editar código-fonte]

A horta dos peregrinos é uma horta murada, situada junto à Casa da Água.

O Círio Saloio[editar | editar código-fonte]

Na segunda metade do século XV, foi fundada uma confraria que visava promover o culto de Nossa Senhora do Cabo vulgarmente conhecida como o Círio Saloio.

A memória mais antiga do Círio Saloio consta da chancelaria do rei D. Pedro I.

A partir de 1430 tem-se a certeza de um círio organizado que envolvia, na região norte de Lisboa (a região saloia) , cerca de 30 paróquias.

Esta Confraria conheceu, pelo menos, dois momentos importantes: o da fundação e uma reforma, nos finais do século XVII. No final do século XIX, a confraria cessou a sua atividade, tendo-a retomado em 2019.[13][14]


Classificação e proteção[editar | editar código-fonte]

O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 37 728, de 5 de janeiro de 1950.[15]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Evangelho segundo São João, capítulo 9, versículo 32: «A saeculo non est auditum quia aperuit quis oculos caeci nati». Texto de acordo com a nova vulgata.
  2. Uma cartela é uma ornamentação baseada na representação de uma superfície lisa, emoldurada e aplicada sobre um fundo, destinada a receber uma inscrição, um monograma, uma decoração. Pode apresentar a forma de uma pele seca de animal cujas margens surgem enroladas sobre si, dobradas, arredondadas ou cortadas. Cf. Glossário do Museu Nacional Machado de Castro.
  3. Eclesiástico capítulo 24, versículo 19: «Quasi oliva speciosa in campis, et quasi platanus exaltata sum iuxta aquam in plateis». Texto de acordo com a nova vulgata.
  4. Eclesiástico capítulo 24, versículo 18: «Quasi palma exaltata sum in Engaddi, et quasi plantatio rosae in Iericho». Texto de acordo com a nova vulgata.
  5. Sobre os Fontanes ver TUDELA, Ana Paula. Os Organeiros Fontanes em Portugal (séculos XVIII e XIX), 2014.
  6. Uma figura de convite é um painel de azulejos representando figuras à escala natural - lacaios, alabardeiros, damas ou guerreiros -, em atitude de receber, colocadas em átrios, escadas e jardins. Estão normalmente associadas a um SILHAR de azulejos figurativos ou de padrão de que se destacam, sendo a parte superior do corpo feita com azulejos recortados. Foram produzidos nos séculos XVIII e XIX. Cf. Glossário do Museu Nacional Machado de Castro.

Referências

  1. a b c d e CARVALHO, Rosário. Conjunto da Igreja de Nossa Senhora do Cabo, casa dos círios e terreiro in Direção-Geral do Património Cultural.
  2. a b SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 376.
  3. NOÉ, Paula, Santuário de Nossa Senhora do Cabo in Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, 2013.
  4. VASCONCELOS, Joaquim. «Cerâmica portuguesa : subsídios históricos» in Revista da Sociedade de Instrucção do Porto, vol. 3, n.º 5, 1 de maio de 1883, pp. 222-224.
  5. SERRÃO, Vitor. «Uma obra prima do pintor barroco Lourenço da Cunha. A pintura em perspetiva ilusionística do teto da igreja do cabo Espichel (1740)» in Sesimbra Cultural, n.º 1, dezembro de 1991, pp. 21-22.
  6. SERRÃO, Vítor. História da Arte em Portugal : o Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003. ISBN 972-23-3017-9, pág. 256.
  7. Diocese de Setúbal. Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel
  8. «600 Anos do Cabo Espichel - Sesimbra. Assinado protocolo para recuperar órgão de tubos da Igreja do Cabo» in Rostos.pt, de 16 de abril de 2010.
  9. SIMÕES, António. Órgão de tubos da Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel
  10. ALMEIDA, José António Ferreira de (or. e coord.). Tesouros artísticos de Portugal. Lisboa : Seleções do Readers Digest, 1976, sv Sesimbra : Aqueduto, p. 518.
  11. POMBO, Armindo. «Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel: breves notas sobre a obra de restauro da Casa da Água», in https://www.sesimbra.pt/viver/arquivo/publicacoes?folders_list_88_folder_id=2792 Akra Barbarion : Sesimbra, cultura e património], n.º 3, pp. 213-244, ISSN 2183-5756
  12. PATO, Heitor Baptista. «Casa da Água e Cercado da Horta: o locus amoenus do Espichel», in Akra Barbarion : Sesimbra, cultura e património, n.º 3, pp. 201-212, ISSN 2183-5756.
  13. Cf. Círio Saloio na página do Patriarcado de Lisboa.
  14. Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel.
  15. Cf. o artigo 2.º do Decreto n.º 37 728, de 5 de janeiro de 1950.