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O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, situado no Cabo Espichel, na freguesia do Castelo do concelho de Sesimbra, é integrado pela Ermida da Memória, Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel, Hospedarias, Terreiro, Cruzeiro, Casa da Ópera, Aqueduto, Casa da Água e Hortas dos Peregrinos.
Outras denominações[editar | editar código-fonte]
O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel também é conhecido por Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua.
Esta denominação tem a sua origem ...
História[editar | editar código-fonte]
Em meados do século XIV, foi construída uma ermida para guardar uma imagem da virgem, venerada há muito em cima do rochedo onde foi encontrada. À sua volta foram crescendo modestas casas para receber os peregrinos que aqui a demandavam, dando mais tarde (1715) lugar à construção das hospedarias.
Ao Santuário da Senhora do Cabo afluíram, desde a Idade Média, vários e numerosos círios.
Ermida da Memória[editar | editar código-fonte]
A ermida da Memória é o elemento mais antigo do Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel.
Foi construída na escarpa sul da Baía dos Lagosteiros, no local onde, segundo a tradição, terá sido encontrada, em 1410, uma imagem de Nossa Senhora.
É um pequeno templo, de planta quadrangular e paredes pouco elevadas, coroado por uma cúpula contracurvada, em forma de bolbo, terminada por um pináculo boleado (mas cuja bola terminal desapareceu nos anos 90 do século XX).[1]
Os painéis de azulejo do exterior[editar | editar código-fonte]
No exterior, de cada lado da porta, encontra-se um painel de azulejos.
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Painel do lado esquerdo
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Painel do lado direito
Um dos painéis, o da fachada lateral esquerda, tem a inscrição "A sceculo non est auditum qui / Joan Cap. 9:32".[nota 1][2][3]
Painéis de azulejo do interior[editar | editar código-fonte]
No interior tem dez painéis de azulejos que ilustram a história da aparição e da edificação do santuário. Em cada painel está, dentro de uma cartela[nota 2], a respetiva legenda:
- "Sonham dous venturosos velhos / que apparecia a Senhora / n'este mesmo logar"
- XXXX
- "Põem-se a caminho para se certificarem da verdade, onde se encontram, e comunicam entre si os sonhos"
- "Chegando a este sitio, vem / com admiração subir a / Senhora pela rocha"
- "Publicada por elas a maravilha, vem outras em sua companhia para admirarem o prodígio"
- "Edificou-se esta ermida para os primeiros cultos"
- "Com a concorrência das gentes se fabrica outra, no logar onde hoje se vê a majestosa egreja"
- "Fórma do arraial d'aquelles primeiros tempos"
- "Dá-se o principio à majestosa egreja, em 1707"
- "Faz-se o novo arraial"
- "Entrada de festeiros no novo arraial"
A pintura é azul e de cerca de 1740.[4]
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Com a concorrência das gentes se fabrica outra, no logar onde hoje se vê a majestosa egreja
Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel[editar | editar código-fonte]
A construção[editar | editar código-fonte]
A edificação do templo, «sóbrio e chão» e com elementos barrocos, teve início em 1701 sendo possível que estivesse concluída em 1707, mas as campanhas decorativas do interior prolongaram-se ao longo das décadas seguintes.[1]
A fachada principal[editar | editar código-fonte]
A fachada principal é ladeada por torres, abrindo-se ao exterior através de três portais a que correspondem, ao nível do coro, outras tantas janelas (de características tardo-maneiristas), sendo encimada por frontão triangular com elementos barrocos e uma imagem da padroeira no nicho central.
O interior[editar | editar código-fonte]
O interior, de uma só nave coberta por abóbada de canhão, parece confirmar a hipótese de ser João Antunes o autor da traça da igreja, «pela utilização de mármores brancos e negros» que enquadram 10 altares de talha vulgar (1718-1722), acima dos quais se dispõem pinturas anónimas relativas a episódios da Vida da Virgem.
A tribuna real é uma obra de 1770.
A capela-mor[editar | editar código-fonte]
Na capela-mor as paredes são forradas com um pequeno alizar de azulejos, datados de cerca de 1730, pintados a azul sobre branco, com dois painéis ornamentais. No centro dos painéis estão emblemas referentes a Nossa Senhora com as legendas QVASI OLIVA[nota 3] e QVASI PALMA.[nota 4] [2]
O teto[editar | editar código-fonte]
A nave é coberta por uma abóbada pintada com frescos por Lourenço da Cunha (1740), mostrando pinturas arquitetónicas em perspetivas ilusionísticas.[5] No interior da igreja salienta-se o teto, em trompe-l'oeil, da autoria de Lourenço da Cunha, datado de 1740. Trata-se de «um dos melhores trabalhos de ilusionismo perspético que subsiste do Portugal Joanino», sendo o único deste artista em todo o País (os restantes não sobreviveram ao terremoto de 1755).[6]
A capela-mor[editar | editar código-fonte]
O retábulo da capela-mor, em estilo nacional, acolhe a imagem de Nossa Senhora do Cabo, cuja descoberta no promontório (presumivelmente em 1410) terá estado na base de um culto popular que se estendeu a ambas as margens do Tejo. Este culto encontra-se, no entanto, documentalmente registado desde data anterior, 1366, numa carta régia de D. Pedro I.[1][7]
A sacristia[editar | editar código-fonte]
Na sacristia encontram-se duas pinturas atribuídas ao Mestre da Lourinhã: uma tábua representando Santo António e outra Santiago Menor.[1]
O órgão de tubos[editar | editar código-fonte]
No interior da igreja encontra-se um órgão de tubos com características de finais do séc. XVIII, princípios do séc. XIX, que é atribuído por um especialista, embora com reservas, à oficina de Joaquim António Peres Fontanes.[nota 5]
O órgão foi objeto de restauro. [8] [9]
A construção da igreja de Nossa Senhora do Cabo foi iniciada em 1701, tendo sido sagrada em 1707
O interior da igreja é decorado com mármores coloridos e um tecto pintado em arquitectura perspectivada, da autoria de Lourenço da Cunha (1740).
Hospedarias[editar | editar código-fonte]
Foi ao designado Círio Saloio (iniciado em 1430 e constituído por 30 freguesias da zona a norte de Lisboa, reduzidas a 26 no séc. XVIII) que coube a construção de grande parte das hospedarias, conforme se pode ler numa lápide na parede norte das hospedarias:
- Casas de N. Sra. de Cabo feitas por conta do Sírio dos Saloios no ano de 1757 p. acomodação dos mordomos que vierem dar bodo
Terreiro[editar | editar código-fonte]
Cruzeiro[editar | editar código-fonte]
Casa da Ópera[editar | editar código-fonte]
A Casa da Ópera foi edificada em 1770, tendo como objetivo promover a animação cultural entre os romeiros.
Foi utilizada em espetáculos promovidos pela família real, que se mantinha no Santuário durante o período da romaria.
Nela atuaram artistas e grupos teatrais da Europa, em especial italianos. A Casa da Ópera tinha instalações de apoio que asseguravam a presença desses artistas e grupos durante as romarias.
Aqueduto[editar | editar código-fonte]
O aqueduto que conduza água ao santuário tem cerca de 2,5 km de extensão e início na Azóia, a povoação mais próxima.
O aqueduto abastece a fonte da Casa da Água e dois tanques para uso agrícola e animal, um no interior e outro no exterior da horta dos peregrinos.
Casa da Água[editar | editar código-fonte]
A casa da água, mandada construir por D. José, em 1770, é um pequeno edifício, de planta octogonal, coberto por uma abóbada rematada por um lanternim, e antecedida por uma escadaria.
No interior tem uma fonte rocaille, de tipo berniniano, em mármore.
As paredes estão revestidas de azulejos azuis e brancos, da fábrica de Belém, com cenas de caça e da chegada dos peregrinos e figuras de convite.[nota 6][10][1][11][12]
Horta dos peregrinos[editar | editar código-fonte]
A horta dos peregrinos é uma horta murada, situada junto à Casa da Água.
O Círio Saloio[editar | editar código-fonte]
Na segunda metade do século XV, foi fundada uma confraria que visava promover o culto de Nossa Senhora do Cabo vulgarmente conhecida como o Círio Saloio.
A memória mais antiga do Círio Saloio consta da chancelaria do rei D. Pedro I.
A partir de 1430 tem-se a certeza de um círio organizado que envolvia, na região norte de Lisboa (a região saloia) , cerca de 30 paróquias.
Esta Confraria conheceu, pelo menos, dois momentos importantes: o da fundação e uma reforma, nos finais do século XVII. No final do século XIX, a confraria cessou a sua atividade, tendo-a retomado em 2019.[13][14]
Classificação e proteção[editar | editar código-fonte]
O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 37 728, de 5 de janeiro de 1950.[15]
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- ÁLVARO, Alexandre Borges. Santuário da Nossa Senhora do Cabo Espichel. Sentido para um restauro. Tese de mestrado em Arquitetura apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa em 2010.
- CABAÇA, Ana Vanessa Jeremias. Santuário Nossa Senhora do Cabo Espichel : história, simbologia e arquitetura. Tese de doutoramento presente à Universidade Lusíada.
- CARVALHO, Rosário. Conjunto da Igreja de Nossa Senhora do Cabo, casa dos círios e terreiro in Direção-Geral do Património Cultural.
- DIAS, Paulo. Santuário de Nossa Senhora do Cabo : morfologia e rito : fundamentos para um projeto de de recuperação. Tese de mestrado integrado em Arquitetura apresentada, em 2014, à Universidade de Évora.
- DIAS, Paulo. «Santuário de Nossa Senhora do Cabo : evolução morfológica». in P+C : Proyecto y ciudad : revista de temas de arquitectura, vol. 8, 2017, pp. 123-134 ISSN 2172-9220.
- Diocese de Setúbal. Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel.
- FIGUEIREDO, Carlos Veríssimo. «Tradições religiosas do povo de Sesimbra» in Sesimbra Cultural, n.º4, dezembro de 1994, pp. 30-38.
- GOMES, Agostinho. Nossa Senhora do Cabo Espichel. Sesimbra : Câmara Municipal de Sesimbra, 1998.
- GUIMARÃES, J. Ribeiro. «A Lenda e a casa de Nossa Senhora do Cabo» in Summario de varia historia: Narrativas, lendas, biographias, descripcões de templos e monumentos, estadisticas, costumes, civis, politicos e religiosos de outras eras, vol. I. Lisboa : Rolland, 1872, pp. 194-215.
- MARQUES, Luís. O Paraíso “no Fim do Mundo”: o culto de Nossa Senhora do Cabo Lisboa : Sextante, 2007.
- MARTINS, Leandro Filipe Correia. Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel : intervenção e projeto para uma paisagem de finisterra. Tese de mestrado em Arquitetura apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa em março de 2017.
- MELO, Magno Morais. «Falsos espaços e ilusão arquitetónica no teto da nave do Santuário do Cabo Espichel» in Sesimbra Cultural, n.º4, dezembro de 1994, pp. 27-29.
- MELO, Magno Morais de. «Acervo Artístico do Santuário do Cabo Espichel» in Sesimbra Cultural, n.º 6, novembro de 1997, pp. 19-21.
- NOÉ, Paula, Santuário de Nossa Senhora do Cabo in Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, 2013.
- PATO, Heitor Baptista. Nossa Senhora do Cabo, um Santuário nas Terras do Fim. Lisboa: Artemágica, ***.
- PATO, Heitor Baptista. «Casa da Água e Cercado da Horta: o locus amoenus do Espichel», in Akra Barbarion : Sesimbra, cultura e património, n.º 3, pp. 201-212, ISSN 2183-5756
- PEREIRA, Fernando António Baptista. «Pinturas quinhentistas do Santuário do Cabo Espichel» in Sesimbra Cultural, n.º 5, maio de 1996, pp. 27-28.
- POMBO, Armindo. «Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel: breves notas sobre a obra de restauro da Casa da Água», in Akra Barbarion : Sesimbra, cultura e património, n.º 3, pp. 213-244, ISSN 2183-5756
- ROQUE, Maria Isabel; FORTE, Maria João. «Senhora do Cabo : Santuário, culto e turismo : entre a tradição e a transformação», in Gaudium Sciendi, n.º 14, junho de 2018.
- SANTOS, Francisco Ildefonso dos – Memórias sobre a antiguidade das Romarias, e da Romaria ao sítio de Nossa Senhora do Cabo, etc., anónimo, Biblioteca Nacional de Lisboa, manuscrito 98 Colecção Pombalina, (1854/1857)
- SERRÃO, Vítor. História da Arte em Portugal : o Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003. ISBN 972-23-3017-9, pág. 256.
- SERRÃO, Vitor. «Uma obra prima do pintor barroco Lourenço da Cunha. A pintura em perspetiva ilusionística do teto da igreja do cabo Espichel (1740)» in Sesimbra Cultural, n.º 1, dezembro de 1991, pp. 21-22.
- SERRÃO, V. e SERRÃO, Eduardo da Cunha. Sesimbra Monumental e Artística. Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra, 2ª ed., 1997.
- SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 376.
- VASCONCELOS, Joaquim. «Cerâmica portuguesa : subsídios históricos», in Revista da Sociedade de Instrucção do Porto, vol. 3, n.º 5, 1 de maio de 1883, pp. 222-224.
Notas
- ↑ Evangelho segundo São João, capítulo 9, versículo 32: «A saeculo non est auditum quia aperuit quis oculos caeci nati». Texto de acordo com a nova vulgata.
- ↑ Uma cartela é uma ornamentação baseada na representação de uma superfície lisa, emoldurada e aplicada sobre um fundo, destinada a receber uma inscrição, um monograma, uma decoração. Pode apresentar a forma de uma pele seca de animal cujas margens surgem enroladas sobre si, dobradas, arredondadas ou cortadas. Cf. Glossário do Museu Nacional Machado de Castro.
- ↑ Eclesiástico capítulo 24, versículo 19: «Quasi oliva speciosa in campis, et quasi platanus exaltata sum iuxta aquam in plateis». Texto de acordo com a nova vulgata.
- ↑ Eclesiástico capítulo 24, versículo 18: «Quasi palma exaltata sum in Engaddi, et quasi plantatio rosae in Iericho». Texto de acordo com a nova vulgata.
- ↑ Sobre os Fontanes ver TUDELA, Ana Paula. Os Organeiros Fontanes em Portugal (séculos XVIII e XIX), 2014.
- ↑ Uma figura de convite é um painel de azulejos representando figuras à escala natural - lacaios, alabardeiros, damas ou guerreiros -, em atitude de receber, colocadas em átrios, escadas e jardins. Estão normalmente associadas a um SILHAR de azulejos figurativos ou de padrão de que se destacam, sendo a parte superior do corpo feita com azulejos recortados. Foram produzidos nos séculos XVIII e XIX. Cf. Glossário do Museu Nacional Machado de Castro.
Referências
- ↑ a b c d e CARVALHO, Rosário. Conjunto da Igreja de Nossa Senhora do Cabo, casa dos círios e terreiro in Direção-Geral do Património Cultural.
- ↑ a b SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 376.
- ↑ NOÉ, Paula, Santuário de Nossa Senhora do Cabo in Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, 2013.
- ↑ VASCONCELOS, Joaquim. «Cerâmica portuguesa : subsídios históricos» in Revista da Sociedade de Instrucção do Porto, vol. 3, n.º 5, 1 de maio de 1883, pp. 222-224.
- ↑ SERRÃO, Vitor. «Uma obra prima do pintor barroco Lourenço da Cunha. A pintura em perspetiva ilusionística do teto da igreja do cabo Espichel (1740)» in Sesimbra Cultural, n.º 1, dezembro de 1991, pp. 21-22.
- ↑ SERRÃO, Vítor. História da Arte em Portugal : o Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003. ISBN 972-23-3017-9, pág. 256.
- ↑ Diocese de Setúbal. Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel
- ↑ «600 Anos do Cabo Espichel - Sesimbra. Assinado protocolo para recuperar órgão de tubos da Igreja do Cabo» in Rostos.pt, de 16 de abril de 2010.
- ↑ SIMÕES, António. Órgão de tubos da Igreja de Nossa Senhora do Cabo Espichel
- ↑ ALMEIDA, José António Ferreira de (or. e coord.). Tesouros artísticos de Portugal. Lisboa : Seleções do Readers Digest, 1976, sv Sesimbra : Aqueduto, p. 518.
- ↑ POMBO, Armindo. «Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel: breves notas sobre a obra de restauro da Casa da Água», in https://www.sesimbra.pt/viver/arquivo/publicacoes?folders_list_88_folder_id=2792 Akra Barbarion : Sesimbra, cultura e património], n.º 3, pp. 213-244, ISSN 2183-5756
- ↑ PATO, Heitor Baptista. «Casa da Água e Cercado da Horta: o locus amoenus do Espichel», in Akra Barbarion : Sesimbra, cultura e património, n.º 3, pp. 201-212, ISSN 2183-5756.
- ↑ Cf. Círio Saloio na página do Patriarcado de Lisboa.
- ↑ Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel.
- ↑ Cf. o artigo 2.º do Decreto n.º 37 728, de 5 de janeiro de 1950.