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Nei Kung
Informação geral
Foco Filosofia, Auto-controle, Não violência, Defesa pessoal
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Nei Kung é uma arte marcial fundada por Michel Echenique Isasa e é baseada na sabedoria milenar de antigas tradições, mas que se mantém sempre atual já que trata de aspectos fundamentais da vida do homem e da natureza. Sua estrutura é bastante ampla e integra uma série de sistemas, desde defesa pessoal e técnicas de combate, incluindo sistemas de respiração, Chi Kung, concentração, controle da ansiedade, domínio do medo, entre outros.[1][2]

Fundamenta-se nos hexagramas do I-Ching e cada técnica representa uma idéia profunda que, através de uma vivência prática, leva o indivíduo a conhecer-se e a desenvolver seus potenciais latentes.[1][2]

O Nei Kung promove a não violência e tem por objetivo manter vivos os princípios essenciais que dão um sentido maior à existência humana.[1][2]

Instituto Bodhidarma[editar | editar código-fonte]

O Nei Kung é praticado no Instituto de Artes Marciais Filosóficas Bodhidharma. Nesse estilo a filosofia alia-se ao aspecto marcial na busca de valores atemporais como justiça, ética e sabedoria. Mais do que um conjunto de técnicas e práticas físicas, o Nei Kung propõe um caminho de valor e de harmonização do homem com a sua própria vida e com o meio.O Instituto Bodhidharma faz parte da Organização Internacional Nova Acrópole, presente em mais de cinquenta países, onde realiza um importante trabalho de resgate da cultura e do humanismo.[1]

Fundamentos[editar | editar código-fonte]

As Artes Marciais na História[editar | editar código-fonte]

Do ponto de vista histórico, pelo método do estudo comparado, as artes marciais se manifestam através de quatro ciclos bem definidos:[1][3]

  • O ciclo mítico ou da origem: um período onde os clãs guerreiros participam de um período mágico em contato com forças de caráter divino e com grandes mestres que criam estruturas de caráter iniciático-mágica. Aqui, a guerra é mágica, ou seja, entre forças celestes e telúrica. E os clãs representam magicamente essas forças. O bem e o mal não existem ainda, pois tudo corresponde a uma necessidade relativa ao plano divino, que guarda relação com a dinâmica evolutiva humana através de genealogias raciais.
  • O ciclo das grandes guerras: é o período da saga dos grandes guerreiros, que tem sido preparados para consolidar seus ideais e gerar uma grande expansão territorial. A guerra é considerada como um fim em si, é o que os japoneses definem através do conceito do "bugei"
  • O ciclo de escolas de Artes Marciais: após as guerras, os chefes dos clãs transmitem seus segredos através das escolas de artes marciais
  • O ciclo filosófico ou de retorno a origem: trata-se do período em que se enfrenta a decadência das artes marciais promovendo uma luta para o retorno as origens.

Fundamentos do Nei Kung[editar | editar código-fonte]

A arte marcial Nei Kung baseia-se na filosofia dos hexagramas do I Ching. Suas técnicas representam idéias profundas que favorecem o auto-conhecimento e o despertar dos potenciais latentes. Segundo os princípio desta arte, através das Artes Marciais, o ser humano pode aprender a dominar-se e melhorar sua vida em diversos aspectos. Integra uma série de sistemas de defesa pessoal e técnicas de combate, incluindo treinamentos de respiração, formas de Chi Kung, e práticas de meditação.[1][2]

O Nei Kung corresponde historicamente a uma Escola de Artes Marciais Filosóficas e Interna, que existiu na China até o século III e que a partir daí desapareceu publicamente, sem deixar rastros nem sucessão. Mas, como toda escola interna, seu espírito e conhecimento continuou em desenvolvimento até os nossos dias, por uma via não pública, mas restringida a um número reduzido de instrutores e discípulos.[1][2]

O Nei Kung consiste em uma técnica marcial ampla que integra muitos sistemas e que têm um caráter simbólico, ou seja, cada técnica, movimento, treinamento, entre outros, e representa algo mais profundo da natureza do homem e do Universo.[1][2]

Sua proposta consiste na descoberta e desenvolvimento de uma via interior que leve o discípulo à Sabedoria. Seus objetivos são:

  • Superação do medo através da técnica;
  • Superação da dor através do conhecimento da força interior;
  • Superação da ignorância através do espírito da Sabedoria do Poder Interno.

Baseia-se no texto das Mutações, conhecido como I Ching, aplicando os 64 hexagramas na sua estrutura marcial. O Nei Kung é uma Arte Marcial que elimina o confronto por meio da aplicação da inteligência. É uma Arte Marcial não violenta, porém de intensa atividade. Isto é possível devido a que no Nei Kung o conceito de luta é interno, ou seja, uma luta interior do discípulo consigo mesmo. Isto significa que tudo o que acontece no exterior, incluindo um possível adversário (ou vários), são reflexos ou efeitos de uma causa que existe no interior, e no Nei Kung se trabalha acima das causas, com o objetivo de corrigir os efeitos. Daremos um exemplo:[1][2]

"Se um adversário manifesta muita violência, isto deve-se a que a violência existe em nós mesmos; se conseguimos eliminá-la dentro de nós, a violência do adversário ficará sem sustentação e, então, é possível canalizá-la num bem comum, ou seja, de ambos".

A Arte Marcial do Nei Kung desenvolve-se filosoficamente através da Doutrina dos Cinco Elementos e da aplicação de cada um desses elementos nas suas técnicas e práticas. Dessa fonte extrai elementos de defesa pessoal, preservação da saúde, controle psicossomático, domínio mental e canalização de energias superiores. Para que o discípulo de Nei Kung atinja esse grau de conhecimento, o Nei Kung lhe reserva uma trilha ética-moral que permite-lhe tornar-se, antes de mais nada, um Cavalheiro ou, no caso de uma discípula, uma Dama.[1][2]

Podemos concluir que esta Arte Marcial propõe a formação de indivíduos melhores que possam melhorar o mundo.[1][2]

Objetivos[editar | editar código-fonte]

O Nei Kung é também conhecido como “Ação de Potencial Inteligente”. Tem como objetivos:

  1. Equilibrar no ser humano os desejos com as tendências vocacionais, de tal forma que aprenda desejar o que na prática faz da melhor maneira;
  1. Desenvolver o potencial do homem forte e corajoso, para o bem, o justo, o belo e o verdadeiro;
  1. Ensinar a lidar com o medo;
  1. Ensinar a viver de acordo com a ciência da estratégia;
  1. Propor soluções de como preservar a saúde e controlar o estresse;
  1. Mostrar como desenvolver a personalidade taticamente;
  1. Mostrar como criar uma técnica que permita que os ideais conduzam a ações práticas em todos os instantes da vida;

O Nei Kung e as Crianças[editar | editar código-fonte]

A criança vive e se desenvolve num universo particular que, constantemente, se alimenta com sua própria fantasia. Neste universo é que encontram seus heróis, seus modelos, suas aventuras e ilusões. Ali tudo é possível. Cada criança é um continente desconhecido que devemos descobri-lo aos poucos.[1]

O Nei kung interpreta as fantasias das crianças e canaliza-as de maneira positiva. Motiva-os, de maneira constante, para evitar que percam o interesse pela alegria de viver. Conduz a uma disciplina, a organizar-se melhor. Aprende sobre o respeito com os demais e com a natureza. A prática do Nei Kung para crianças foi desenvolvida pelo diretor internacional do Instituto de Artes Marciais Filosóficas Talal Husseini.[1]

As práticas são realizadas através de constantes exercícios imitando brincadeiras. O Nei Kung não é simplesmente “defesa e ataque”, ele oferece um leque de possibilidades de crescimento interior, fazendo de seus praticantes, verdadeiros cidadãos do futuro. A criança tem uma vida pela frente para melhorar, então por que apressá-la?[1]

O Nei Kung na arte de lidar com o Medo[4][editar | editar código-fonte]

O que é o Medo?[editar | editar código-fonte]

O medo, como percepção, é uma interrupção súbita do processo de racionalização, ou seja, a mente cessa de funcionar subitamente e perde-se o domínio sobre os atos. Como sensação, é uma parada súbita de todos os processos de motivação, isto é, perde-se a força e o rumo a tomar em dada situação.

Já a conjugação do medo-percepção ao medo-sensação é um bloqueio de todas as funções fisiológicas que nos impede a ação. Podemos concluir, então, que o medo é uma força de auto-conservação, que tem como objetivo evitar perigos de qualquer natureza, funcionando como um sinal que interrompe qualquer ação imprudente.

Em situações de perigo, as pessoas costumam fazer coisas que são justamente aquelas que não deveriam ser feitas. Por que? Porque pensam sem saber o que esta acontecendo. O medo tem a capacidade de evitar que façamos algo mentalmente. Ele cria uma sensação de impasse e pára qualquer processo mental.

O impacto do medo provoca uma sensação de falta de motivação. Mas, em situações de medo, as pessoas podem reagir com depressão ou euforia. Esses dois tipos de movimento relacionam-se com as motivações do indivíduo. O que acontece é que queremos fugir do medo quando ele aparece e, paradoxalmente, nos aproximamos mais dele de forma negativa. Exemplo: se alguém vai de carro, entra numa curva com excesso de velocidade e pensa, a primeira coisa que vai fazer é frear. Ai e que reside o perigo, pois ao frear numa curva em alta velocidade é perigoso. Diante disso, a grande questão é a capacidade que temos de assumir o medo, principalmente para um artista marcial.

Assumir o medo é vê-lo como uma força que tem como objetivo evitar perigos de qualquer natureza e funciona como um sinal que interrompe qualquer ação imprudente. O problema é que a nossa cultura nos ensinou a fugir do medo.

A Arte Marcial Nei Kung constitui num sistema de treinamento para que possamos aprender a reagir de forma lógica ou natural diante de situações de ataque. Se alguém grita quando vai nos atacar, o grito é como um sinal de ataque.

Por que ante o grito teríamos que levar a cabeça para trás? Para olhar de onde está vindo o grito, que tipo de grito é, e o que se pode prever em relação a essa atitude e, uma vez que sabe o que está fazendo, atua. Essa é atitude natural.

Lidar com o medo é aprender a resgatar os reflexos naturais do corpo, que nos levam a adaptação diante de situações de risco, e não a fuga. Se o sujeito A aplica uma força X, o sujeito B tem que aplicar uma força Y. Assim é que pensamos, mas quando quebramos esse condicionamento o sujeito A faz mais força enquanto o sujeito B se encontra relaxado. Esse é o reflexo natural do corpo.

A nossa má relação com o medo tem como origem uma fonte: o condicionamento cultural.

O que é o Pânico nas artes marciais?[editar | editar código-fonte]

Pânico não é sinônimo de medo. O pânico se manifesta pela ignorância de não saber ou de não querer interagir com o medo. A cessação das funções provocada pelo medo aciona um estado de consciência-percepção mais aguda que permite reconhecer o perigo e ativar os mecanismos de sobrevivência. O pânico, ao contrário, gera impotência e a negação de qualquer possibilidade de sobrevivência.

Sendo assim, o medo é algo do qual não devemos fugir, enquanto o pânico deve ser evitado. O medo é, portanto, uma força positiva e o pânico um impulso negativo.

Para interagir com o medo, entretanto, é necessário destituir atitudes compulsórias e preconceitos do medo. As atitudes compulsórias surgem dos preconceitos inibidores e dos preconceitos detonantes e também de distúrbios glandulares e hormonais ou do sistema nervoso.

Os preconceitos inibidores decorrem de uma educação que fragiliza o indivíduo e promove o pânico e, como conseqüência, a impotência. Educar as crianças incutindo nelas apreensões e cuidados em excesso é um exemplo desse tipo de educação.

Os preconceitos detonantes, por sua vez, surgem a partir de uma educação que confunde valor, temeridade e imprudência, e que promove a loucura e, por conseqüência, a destruição, como o machismo e o fanatismo o atestam. Os distúrbios glandulares, hormonais e do sistema nervoso provocam doenças e até a morte em alguns casos, além de reações de histeria que também provocam impotência e loucura. Tais distúrbios já são patológicos e devem ser tratados por médicos.

Esses fatores acima assinalados quebram o ciclo natural de alerta e a ação inteligente para superar o perigo. Qualquer movimento no sentido de fuga ou de negação do medo torna-se verdadeiro perigo para as pessoas. O medo que consegue ser controlado, por outro lado, permite ações que levam a superação de crises, minimização de riscos e eliminação de perigos.

Em situações em que o medo se manifesta devemos tentar inverter os processos de racionalização, motivação e funções fisiológicas. O medo interrompe o funcionamento desses processos, como mecanismo de auto-proteção, mas quando identificamos a causa e o verdadeiro perigo, começa a funcionar o instinto de sobrevivência, invertendo todos esses processos de forma positiva e com uma outra intensidade. Assim, devemos observar as situações para entender o que realmente está acontecendo. É importante manter a calma e a serenidade para encontrar a coragem suficiente que permita manter a presença de ânimo, relaxar o corpo e agir com eficiência além de esperar a oportunidade para agir de forma correta.

Podemos concluir, então, que toda situação em que o medo se manifesta produz pensamentos lúcidos, emoções potentes, ações inusitadas e possibilidade de, através da disciplina, vencer adversidades. O medo propõe um caminho de realização superior. Um caminho de realização superior promove o desenvolvimento das faculdades da vontade, do discernimento, da concentração, da imaginação, da atenção e da memória, nos tornando conscientes dos nossos limites e potencialidades.

Lidar com o medo é um processo complexo de conhecimento para o qual técnicas são muito importantes. Contudo, é imprescindível que o discípulo, em tais situações, coloque em funcionamento as suas potencialidades, como a vontade, a prudência, a consciência, o valor, o discernimento e a temperança. Cabe, finalmente, a seguinte pergunta: qual é a causa do medo?

Na entrada de templos tibetanos existem grandes estátuas feíssimas que assustam muitas pessoas, umas afastam-se com medo de entrar, outras impostam-se e entram. Estas, no interior do templo, encontram imagens e estátuas delicadas, doces, que as convidam a permanecer ali. Quando os monges são consultados sobre esse fato, respondem que alguns não entraram no templo por medo, porque não estavam ainda preparados. Segundo essa perspectiva, o medo seria um instrumento de uma lei de seleção natural, que retardaria os que ainda não estariam preparados para passar a outras etapas e promoveria os que, embora com medo, conseguissem superá-lo por sua maior vontade de continuar crescendo.

De acordo com outra perspectiva, o medo estaria ligado ao apego do ser humano à matéria. Desta forma, ela atuaria como elemento purificador que mostraria ao homem o verdadeiro caminho a seguir. Análise similar a essa se encontraria na interpretação de que o medo traria à realidade pessoas que, por desejarem muito, vivem ansiosas, nervosas: o medo se apresentaria como mecanismo de controle do desejo que pode acabar desequilibrando o homem.

A conclusão a que podemos chegar apreciando tais causas atribuídas ao medo é a de que existiria na natureza uma força que levaria as pessoas a viverem situações, a terem experiências fortes que lhes serviriam de lição. Assim, as pessoas que tivessem um bom discernimento, não seriam afetadas por essa força. Tudo indica que o medo é algo necessário por não termos atingido certo grau de sabedoria, pois só esta pode dispensá-lo: a causa do medo é a ignorância e enquanto o ser humano a ela estiver ligado, o medo o protegerá, e também o obrigará a ser, em algum momento, mais sábio.

Finalmente, podemos dizer que o medo é uma das muitas formas que a vida assume para conduzir as criaturas à evolução, ao mistério.

Se o medo é simplesmente uma maneira de a natureza se manifestar, devemos aprender a conviver com ele sem que nos cause grandes problemas pois, assim, poderemos dele resgatar tudo aquilo que almejamos para sermos mais justos, bons e belos.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ECHENIQUE, Michel; HUSSEINI, Talal; CAMILO, Fabiano "Nei Kung - A trilha iniciática das Artes Marciais", Ed. Nova Acrópole, 2010.
  • ECHENIQUE, Michel "A Filosofia das Artes Marciais", Ed. Nova Acópole, 1995.
  • ECHENIQUE, Michel "A Arte do Poder Interno", Ed. Nova Acrópole, 1990.
  • ECHENIQUE, Michel "Cumes e Vales - Velhos contos de mestres e discipulos esquecidos", Ed. Nova Acrópole, 1991.
  • ECHENIQUE, Michel "As Duas Pontas", Ed. Nova Acrópole, 1995.
  • ECHENIQUE, Michel "Estrategia do Pensamento e Projeto de Vida", Ed. Nova Acrópole, 1996.
  • ECHENIQUE, Michel "Reflexões sobre Mundos, Homens e Mistérios", Ed. Nova Acrópole, 1997.
  • ECHENIQUE, Michel "Como Lidar com o Medo", Ed. Nova Acrópole, 2000.
  • ECHENIQUE, Michel "As Raízes da Violência - Conhecer para Evitar", Ed. Nova Acrópole, 2000.
  • ECHENIQUE, Michel "Como controlar a ansiedade", Ed. Nova Acrópole, 2002.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n bodhidharma.com.br
  2. a b c d e f g h i ECHENIQUE, Michel "Nei Kung - A trilha iniciática das Artes Marciais", Ed. Nova Acrópole, 2007.
  3. ECHENIQUE, Michel "A Arte do Poder Interno", Ed. Nova Acrópole, 2007.
  4. ECHENIQUE, Michel "A Filosofia das Artes Marciais", Ed. Nova Acópole, 1995.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]