Vênus de Urbino

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Vênus de Urbino
Vênus de Urbino
Autor Ticiano
Data 1538
Técnica óleo sobre tela
Dimensões 119 × 165 
Localização Galleria degli Uffizi, Florença

A Vênus de Urbino ou Vénus de Urbino (1538) é um óleo sobre tela de Ticiano. Exibe o nu de uma jovem identificada como Vênus, deitada numa espécie de cama suntuosa. A obra se encontra na Galleria degli Uffizi em Florença. A pose é baseada na Vênus Adormecida (c. 1510) de Giorgione, que Ticiano completou e que por sua vez está no Pinacoteca dos Mestres Antigos, em Dresden.

A pintura foi financiada por Guidubaldo II, duque de Urbino.

Venus de Urbino inspirou designadamente a pintura Olympia de Édouard Manet.

Descrição e história[editar | editar código-fonte]

No seu quadro, Ticiano domesticou Vénus ao colocá-la num cenário interior, envolvendo-a com o espectador e tornando explícita a sua sensualidade. Desprovida como está de quaisquer elementos clássicos ou alegóricos – Vénus não apresenta nenhum dos atributos da deusa que supostamente representa – a pintura apresenta sem qualquer dúvida um carácter erótico.

A Vénus olha directamente para o/a espectador/a despreocupada com a sua nudez. É uma variante do tipo da Vénus pudica. Com a sua mão direita segura um ramo de rosas enquanto a outra mão repousa sobre o seu órgão genital. Junto a ela, um pouco recuado e dormente, está um cão, que é frequentemente um símbolo de fidelidade.

As criadas ao fundo estão a mexer numa arca, aparentemente na procura das vestes de Vénus. Ticiano faz o contraste entre as linhas rectas da arquitetura com as curvas do elemento feminino, e a tela por detrás de Vénus divide o quadro, uma sala ampla cuja dimensão é mitigada por elementos unificadores como o uso da cor e o padrão floral do tecido do sofá, das arcas cassoni e dos tapetes na parede ao fundo.

Vénus Adormecida (1510)
de Giorgione e Ticiano

A pintura foi encomendada, ou adquirida já em obra, por Guidobaldo II Della Rovere, o Duque de Urbino, possivelmente para celebrar o seu casamento com Júlia de Varano em 1534. Teria originalmente decorado uma cassone (arca nupcial), uma arca que era dada tradicionalmente em Itália como presente de casamento.

Curiosamente, dado o seu conteudo explicitamente erótico, a pintura poderia ter tido intuitos instrutivos como "modelo" para a noiva do duque que era muito jovem, com onze anos apenas. O argumento para o didatismo da pintura foi apresentado pela historiadora Rona Goffen em estudo publicado em 1997.[1]

Tem sido aceite que o modelo para a pintura foi Angela del Moro, uma cortesã de Veneza muito bem paga pelo seu serviço e que era uma conhecida companhia à mesa de Ticiano.[2]

Enquadramento[editar | editar código-fonte]

Detalhe do segundo plano

A pesada cortina verde que separa a alcova do resto do quarto está entreaberta e mostra um interior renascentista, com um recinto de pavimento reenquadrado, no qual duas serviçais estão mexendo num baú as roupas para vestir a deusa.[3] Uma está ajoelhada a remexer e a outra, com um vestido vermelho e elegante penteado, tem já um elegante vestido sobre as costas.

Candelabros dourados decoram as paredes, enquanto os baús têm girali à antiga com elementos antropomórficos, sinal de um mobiliário actualizado às tendências mais recentes da época. A luz, mais que da frente, entra da janela sobre o fundo, dotada de colunas ao centro e da qual se vê, além da murta no vaso, um céu iluminado da luz dourada e um arbusto, que alude à existência de um jardim. Também a iluminação no recinto provém da esquerda e lança uma sombra da empregada de pé sobre a parede à sua frente.

Inspirações[editar | editar código-fonte]

Olympia
Édouard Manet, 1863

A Vénus de Urbino de Ticiano foi uma das inspirações de Édouard Manet para a sua Olympia de 1863 em que a figura de Vénus é substituída pela modelo Victorine Meurent.[4]

No seu livro de viagens de 1880 A Tramp Abroad,[5] Mark Twain considerou a Vénus de Urbino como "a imagem mais suja, mais vil, mais obscena que o mundo tem".[nota 1] Sugeriu que "foi pintada para um bagnio (bordel), e que foi provavelmente recusada porque era uma bagatela demasiado forte", acrescentando humoristicamente que "na verdade, é uma bagatela demasiado forte para qualquer sítio que não uma Galeria de Arte pública".[nota 2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. the foulest, the vilest, the obscenest picture the world possesses
  2. in truth, it is a trifle too strong for any place but a public Art Gallery

Referências

  1. Rona Goffen (1997), “Sex, Space, and Social History in Titian’s Venus of Urbino" em Titian's Venus of Urbino, Rona Goffen ed., Cambridge University Press.
  2. Hale, Sheila, "Titian: His Life", citada na página 64 de The Economist de 28 de Julho de 2012
  3. Uffizi, cit., pp. 184187.
  4. Honour, Hugh e Fleming, J. (2009) A World History of Art. 7ª ed. Londres: Laurence King Publishing, p. 709. ISBN 9781856695848
  5. Mark Twain, A Tramp Abroad, Capítulo L, Ticiano Bom e Ticiano Mau, American Publishing Company, 1880, em Project Gutenberg: http://www.gutenberg.org/files/119/119-h/119-h.htm

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Berrson, Robert. Responding to Art. Boston: McGraw Hill. ISBN 0-697-25819-X 
  • Rosand, David (1978). Titian. Library of Great Painters. New York: Harry N. Abrams; pp. 112–13. ISBN 0-8109-1654-1

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Análise crítica da obra Venus of Urbino na página da SUNY ONEONTA School of Arts and Humanities: [1]
  • Vénus de Urbino de Ticiano na Khan Academy: [2]