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Augusto Esteves

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Augusto Esteves
Augusto Esteves
Nascimento Augusto Esteves
16 de outubro de 1891
São José da Boa Vista
Morte 3 de fevereiro de 1966 (74 anos)
São Paulo
Cidadania Brasil
Ocupação pintor

Augusto Esteves (São José da Boa Vista, 16 de outubro de 1891São Paulo, 3 de fevereiro de 1966)[1] foi um pintor, ceroplasta e ilustrador brasileiro.

Quarto filho de Domingos José Esteves Júnior e de Geraldina Gomes de Oliveira, mudou-se com os pais para o município paulista de Avaré[1] com poucos meses de idade. Um de seus irmãos foi o padre Lindolfo Esteves (1887-1943), conhecido literato católico.[2]

Além de tudo, também assinava suas poesias como Mané Coivara.[3] Trabalhou como desenhista e ceroplasta no Instituto Butantã[1] e em institutos de dermatologia e medicina legal da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).[1] Lá, produziu obras em cera que reproduziam doenças dermatológicas e ferimentos infligidos por animais ou acidentes com instrumentos de trabalho.[4] Suas obras foram usadas para fins científicos e didáticos.

Início da Vida[editar | editar código-fonte]

Augusto Esteves nasceu em 1891, em São José da Boa Vista, no Paraná. Quando tinha apenas meses de vida, em 1892, seus pais mudaram-se para Avaré,[1] em São Paulo.

Foi para a capital com treze anos, acompanhado de seu irmão Lindolfo, que decidira ser padre.[2] Trabalhou em uma firma de armarinhos chamada Martins Costa & Cia.[1] Também dividia seu tempo entre visitar as obras do Museu Paulista e outras mostras de arte que aconteciam esporadicamente por São Paulo.[1]

Desde pequeno mostrava aptidão para o desenho. Em uma carta com suas memórias, divulgadas pelo próprio artista em 1960, e depois transformada em painel na exposição "A Pele Enferma", do Museu Histórico da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP, declarou:

Museu Histórico - Retrato a pico de pena de Augusto Esteves
"[...]Quando ainda criança, não sei porque desejei ser escultor, embora nada soubesse o que era essa arte. Tratava-se porém, de uma impressão muito viva sobre o que era uma estátua, porque ouvi de Henrique Orsini certa vez, quando em seu salão de barbeiro a descrição que ele fazia de um monumento erguido na Itália para perpetuar o heroísmo de determinado personagem, quando ateava fogo a um barril de pólvora a fim de destruir a passagem de tropas inimigas. Tratava-se da guerra da Independência da Itália, Henrique Orsini dramatizava de tal maneira a atitude do patriota com uma descrição cheia de entusiasmo [...] Pois bem, creio ter sido a palavra que ouvi como menino curioso, que despertou em mim esse desejo, embora vago, o de ser escultor. Passei a interessar-me no assunto, até que consegui mais clareza sobre o tal trabalho, inteirando-me de que as estátuas eram feitas de pedra ou bronze e representavam pessoas em atitudes espetaculares. Recordei-me que quando na escola do Sr. Amorim, na geografia de Arthur Tiré, fixei na memória a gravura da estátua de José Bonifácio, o moço, existente no largo de São Francisco, em frente á igreja do mesmo nome. Essa figura não me saía da imaginação, eu desejava ver uma estátua!"

Aos 17 anos, inscreveu dois trabalhos (um desenho feito a lápis e uma tela em aquarela) na Exposição do Centenário da Abertura dos Portos, no Rio de Janeiro. Ficou em segundo lugar e ganhou uma medalha de prata apesar de nunca ter feito curso nenhum que o instruísse a pintar.[5] Decidiu se dedicar integralmente à escultura, decidiu então abandonar seu emprego anterior para estudar com o italiano Pietro Strina, professor famoso que ministrou aulas no ateliê de George Fischer Elpons,[5] um dos maiores do início do século, que teve como alunos Cimbelino Freitas e Gastão Formenti.

As aulas com Pedro foram pagas com as poucas economias de Esteves. Quando essa reserva acabou, o professor, reconhecendo o talento do aluno, e em troca da limpeza do ateliê, o convidou para continuar os estudos, recebendo uma pequena quantia por isso.[1]

Conviveu nessa época com artistas como Lourenço Petrucci e o fotógrafo Giovanni Sarracino e foi através deste último que Esteves conheceu o Instituto Butantan e seu fundador, Vital Brazil. Em março de 1912, Vital o convidou para ilustrar a edição francesa do livro "A defesa Contra o Ofidismo". O teste de aptidão era desenhar uma cascavel usando como referência uma imagem do animal e escamas verdadeiras.[1]

Instituto Butantan[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Instituto Butantan

Em 1912, Augusto foi apresentado ao médico sanitarista Vital Brazil, responsável pela criação do soro antiofídico e dedicado a combater a febre amarela e a peste bubônica no estado de São Paulo.[6] Neste mesmo ano conseguiu seu emprego no Instituto Butantan.[1] Lá, retratava serpentes e, de acordo com Osvaldo Augusto Sant'anna, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Toxinas e pesquisador do Laboratório de Imunoquímica do Butantan,[7] inovou com seu modo de retratar os animais:

Carta de Vital Brazil a Augusto Esteves, 30/10/1925

“Os principais centros especializados em soros antiofídicos do mundo eram o Instituto Pasteur, na França, e o comandado por Vital Brazil aqui em São Paulo. Vi os desenhos em bico de pena dos desenhistas franceses e não achei nada parecido com o que Esteves fazia aqui.”[8]

Começa, então, a trabalhar como desenhista, retratando serpentes;[9] e como ceroplasta, modelando em cera peças anatômicas que reproduziam as mordidas sofridas pelos humanos expostas junto aos modelos das cobras.[1] Também eram feitos moldes de lesões provocadas por picadas de aranha. Esteves também produziu cartazes de educação sanitária para as escolas primárias, secundárias e diversas repartições estaduais de São Paulo.[1]

Vital Brazil, insatisfeito com os modelos anatômicos alemães (de acordo com ele, eram frágeis de mais e nada parecidos com os reais),[10] delegou a Esteves a tarefa de produzi-los. Não existem mais vestígios das representações feitas em cera pelo artista, mas, uma carta enviada por Vital confirma que sim, o trabalho de Augusto englobada a ceroplastia.[10]

Hoje, no acervo do Instituto Butantan não há mais nenhuma peça remanescente da produção inicial de Augusto Esteves.[10]

Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo[editar | editar código-fonte]

Depois de contribuir para o acervo do Instituto Butantan, Augusto fez suas primeiras modelagens de lesões para a Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo em 1914.[11] Sua primeira peça representava a "úlcera de Bauru", mais conhecida como Leishmaniose Tegumentar.[11]

Mais tarde, pela quantidade e qualidade de suas produções, foi nomeado “desenhista-ceroplasta” do Instituto Butantan.[11] Em um congresso que tomou o fim de setembro de 1917 e o começo de 1918 e no qual foram expostas vinte peças do artista que representavam diferentes tipos de úlcera.[11]

Contudo, a contratação de Augusto Esteves pela Faculdade de Medicina de São Paulo se deu apenas em 1934.[12] Atuou no Instituto Oscar Freire sob a supervisão de Flamínio Fávero. Entre 1943 e 1959, foi auxiliar técnico da Clínica Dermatológica da Universidade de São Paulo. Nesse interim, se dedicou à moulage dermatológica, produzindo aproximadamente 259 peças[13]

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Em 1919 Augusto, ainda solteiro, se mudou para Niterói para que Vital Brazil pudesse realizar sua vontade: fundar um instituto que levasse seu nome, cujo objetivo era pesquisar e produzir "produtos biológicos, veterinários e farmacêuticos". Ao conhecer Vital, Augusto também conheceu sua família e se apaixonou por Alvarina, segunda filha de seu patrão e colega. Os dois se casaram no dia 11 de novembro de 1920[2] no Rio de Janeiro. O casal teve 6 filhas nascidas em Niterói (RJ): Maria, Lygia, Jacy, Gláucia, Flávia e Itaé.[2]

Exposições[editar | editar código-fonte]

  • Exposição Comemorativa da Abertura dos Portos (1908 : Rio de Janeiro, RJ)[14]
  • Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes (1911 : São Paulo, SP) Liceu de artes e oficios de São Paulo[15]
  • Obras de Augusto Esteves e Oscar Pereira da Silva (1916 : São Paulo, SP)[16]
  • Obras de Augusto Esteves (1944 - São Paulo, SP) Livraria Brasiliense[17]
  • Obras de Augusto Esteves (1949 - São Paulo, SP) Externato São José (Piracicaba)[18]
  • Salão Paulista de Belas Artes (1949 - São Paulo, SP)[19]
  • Salão Paulista de Belas Artes (1952 - São Paulo, SP)[20]
  • Salão Paulista de Belas Artes(1954 - São Paulo, SP)[21]
  • Salão Paulista de Belas Artes (1956 - São Paulo, SP)[22]
  • Salão de Belas Artes de Piracicaba (1954 : Piracicaba, SP) Externato São José (Piracicaba)[21]
  • Salão Paulista de Belas Artes (1956 - São Paulo, SP)[22]
  • Salão de Belas Artes de Piracicaba(1954 - Piracicaba, SP)[21]
  • "Dezenovevinte: uma virada no século" (1986 São Paulo, SP)Pinacoteca do Estado de São Paulo[23]

Legado e Homenagens[editar | editar código-fonte]

"Serpentes: Arte e Ciência", de Paulo Henrique Moisés Canter[editar | editar código-fonte]

46 anos após a morte de Esteves, foi lançado o livro "Serpentes: Arte e Ciência", de autoria do biólogo e diretor da Divisão Cultural do Instituto Butantan[24] Henrique Moisés Canter. Lançamento do próprio Instituto, o livro contém as obras dos artistas que trilharam sua história. Augusto Esteves, por seu pioneirismo, ganhou o primeiro capítulo do livro.

Exposição "A Pele Enferma: Augusto Esteves e seu museu de cera"[editar | editar código-fonte]

A exposição "A Pele Enferma: Augusto Esteves e seu museu de cera", disponível na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo[25] apresenta uma parte das mais de duzentas obras ceroplásticas produzidas entre as décadas de 1930 e 1950 pelo artista, quando atuou como desenhista e ceroplasta da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Elas formam um dos mais amplos acervos ceroplásticos do mundo.

Museu Ceroplástico Augusto Esteves[editar | editar código-fonte]

O Museu Ceroplástico Augusto Esteves foi inaugurado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Fundado em 1891, o Museu Ceroplástico Augusto Esteves contava com desenhos originais do artistas para o livro "História da Medicina em Portugal", doadas ao Prof. Lacaz.[26] O museu estava vinculado ao Museu Histórico Professor Carlos da Silva Lacaz.

Acompanhava desenhos originais uma série de impressões e reproduções de trabalhos desenvolvidos por Esteves, além de boletins, convites de exposições e reportagens que retratam sua trajetória pessoal e profissional. O acervo, hoje desativado, conta com 284 peças em cera, reproduzindo diversas dermatoses.[26]

Poesia[editar | editar código-fonte]

Além de ilustrador e ceroplasta, Augusto Esteves era poeta. Pouco se vê sobre sua produção literária, porém é possível encontrar este poema encontrado e publicado por sua neta, a socióloga Marta Gil.[27]

As fror de São Juão
É como fogo em penacho
Grudado num cipó.
Dá bastante... purção:
Uma penca em cada nó.
É só chega o friu
Aparece os botão,
Nuns cacho bem grandão
Que abre e frorece
Nos tempo de festejá
Santantonho, São Juão.
Nem marela, nem vermêia:
É a mistura das duas.
De nenhuma tem a sobra...
Cor de miolo de abóbra,
tão lindo de se vê
e alegre como quê...
(...)

Obras[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l Carreta, Jorge. «Entre a arte e a ciência: a trajetória de Augusto Esteves» (PDF). Consultado em 19 de novembro de 2017 
  2. a b c d «Memórias do Instituto Butantan». issuu (em inglês) 
  3. «PORTAL SOLARIS». www.institutosolaris.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2017 
  4. «A ceroplastia e a medicina legal na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1934-1950». História, Ciências, Saúde-Manguinhos. 23 (3): 757–777. Maio de 2016. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/S0104-59702016005000008 
  5. a b Tarasantchi, Ruth Sprung (2002). Pintores paisagistas: São Paulo, 1890 a 1920. [S.l.]: EdUSP. ISBN 9788531405983 
  6. «MÉDICO E CIENTISTA BRASILEIRO - Vital Brasil». UOL Educação. Consultado em 22 de novembro de 2017 
  7. FAPESP. «Osvaldo Augusto Brazil Esteves Sant'Anna - Biblioteca Virtual da FAPESP». www.bv.fapesp.br. Consultado em 22 de novembro de 2017 
  8. «Retratos fidedignos | Revista Pesquisa Fapesp». revistapesquisa.fapesp.br. Consultado em 22 de novembro de 2017 
  9. Carreta, Jorge Augusto. «Entre a arte e a ciência: a trajetória de Augusto Esteves» (PDF). Consultado em 22 de novembro de 2017 
  10. a b c Carreta, Jorge Augusto. «Entre a arte e a ciência: a trajetória de Augusto Esteves» (PDF). Consultado em 21 de novembro de 2017 
  11. a b c d Carreta, Jorge Augusto. «Entre a arte e a ciência: a trajetória de Augusto Esteves» (PDF). Consultado em 22 de novembro de 2017 
  12. CARRETA, JORGE AUGUSTO (1 de janeiro de 2012). «A CEROPLASTIA NA FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO PAULO» (PDF). Consultado em 22 de novembro de 2017 
  13. Carreta, Jorge Augusto (21 de novembro de 2017). «A CEROPLASTIA NA FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO PAULO» (PDF) 
  14. Cultural, Instituto Itaú. «Exposição Comemorativa da Abertura dos Portos (1908 : Rio de Janeiro, RJ) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  15. Cultural, Instituto Itaú. «Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes (1911 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  16. Cultural, Instituto Itaú. «Augusto Esteves e Oscar Pereira da Silva (1916 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  17. Cultural, Instituto Itaú. «Augusto Esteves (1944 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  18. Cultural, Instituto Itaú. «Augusto Esteves (1949 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  19. Cultural, Instituto Itaú. «Salão Paulista de Belas Artes (15 : 1949 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  20. Cultural, Instituto Itaú. «17º Salão Paulista de Belas Artes | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  21. a b c Cultural, Instituto Itaú. «Salão de Belas Artes de Piracicaba (2. : 1954 : Piracicaba, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  22. a b Cultural, Instituto Itaú. «Salão Paulista de Belas Artes (20. : 1956 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  23. Cultural, Instituto Itaú. «Dezenovevinte: uma virada no século (1986 : São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  24. Canter, Henrique Moisés (2009). «Museus de rua: Entrevista com o Prof. Dr. Henrique Moisés Canter, diretor da Divisão de Desenvolvimento Cultural do Instituto Butantan, feita pelos professores Antonio Carlos Gaeta e Waldemar di Giacomo». Temas de Administração Pública. 3 (4). ISSN 1982-4637 
  25. «Exposição "A Pele Enferma" conecta a arte ao mundo científico» 
  26. a b Lacaz, Carlos da Silva (junho de 1993). «Museu ceroplástico Augusto Esteves (1891-1966)». Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 26 (2): 125–126. ISSN 0037-8682. doi:10.1590/S0037-86821993000200009 
  27. «PORTAL SOLARIS». www.institutosolaris.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2017 

Ver também[editar | editar código-fonte]