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Guilherme Joaquim de Moniz Barreto

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Guilherme Joaquim de Moniz Barreto
Nascimento 1863
Goa
Morte 1896
Paris
Cidadania Reino de Portugal
Ocupação escritor

Guilherme Joaquim de Moniz Barreto (Goa, Índia Portuguesa, 1863Paris, 1896), mais conhecido por Moniz Barreto, foi um jornalista e crítico literário que se destacou por ser dos poucos ensaístas portugueses que tentou uma via científica na crítica literária e uma abordagem positivista ao estudo da literatura portuguesa. Apesar de ter falecido precocemente, com apenas 33 anos de idade, foi um dos críticos literários mais argutos e interessantes de finais do século XIX, observador atento do panorama cultural e da literatura portuguesa do seu tempo e dos decénios precedentes, introduzindo na lusofonia a crítica literária objectiva (científica), na linha de Emile Hennequin ( La Critique Scientifique, 1888; tr.Port. 1910) e do determinismo positivista de Hippolyte Taine.

Analista arguto, foi talvez, apesar dos seus curtos anos de vida, quem melhor compreendeu o alcance e os intentos dos homens da chamada Geração de 70, que bem caracterizou em alguns dos seus escritos.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Moniz Barreto nasceu no seio de uma família goesa de ascendência açoriana, tendo realizado os seus estudos liceais em Goa, cidade onde estudou a língua e cultura inglesas, sendo por isso um dos poucos intelectuais portugueses da época a escapar à influência francófona.

Com apenas 17 anos de idade, terminados os estudos liceais, mudou-se em 1880 de Goa para Lisboa, cidade onde frequentou o Curso Superior de Letras. Foi então aluno, entre outros, de Teófilo Braga, Jaime Moniz, Manuel António Ferreira Deusdado e Adolfo Coelho, personalidades que o marcaram e que depois evocou nos seus ensaios. O seu pensar foi fortemente influenciado pelo positivismo de Teófilo Braga, tendência filosófica que depois perpassa pela sua obra, associado à tendência para o materialismo não dialéctico corrente entre a intelectualidade portuguesa de finais do século XIX.

Colabora na Revista de Estudos Livres [1] (1883-1886) dirigida pelo último.

Ainda estudante já fazia jornalismo e dava explicações, meios para complementar as suas magras posses. Entretanto, inseriu-se entre a intelectualidade literária de Lisboa, convivendo, entre outros, com Guerra Junqueiro, Gomes Leal e João de Deus.

Terminado o curso, iniciou uma intensa actividade como crítico literário e publicista colaborando em vários periódicos, entre os quais o Jornal de Comércio, a Província, O Repórter, a Democracia Portuguesa e a Revista de Portugal. Foi no primeiro número deste último periódico, dirigido por Eça de Queirós, que em 1889 Moniz Barreto publicou A Literatura Portuguesa Contemporânea, ensaio em que a abordagem do positivismo está já bem patente e que o lançou nos círculos intelectuais como um autor de valia.

Entretanto, empregara-se como bibliotecário na Câmara Municipal de Lisboa, sendo obrigado a conciliar o seu trabalho essencialmente burocrático com a actividade de publicista, o que não lhe permitia desenvolver a actividade científica regular que gostaria.

Nos primeiros anos da década de 1890, desiludido com o desfecho de um concurso para um lugar de docente de História no Colégio Militar, do qual se considerou injustamente excluído, partiu para o Brasil, onde tentou uma carreira de jornalista. Não tendo também ali sucesso, em 1894 fixou-se em Paris como colaborador permanente do Jornal do Comércio do Rio de Janeiro.

Apesar dos sucessivos insucessos, cedo foi reconhecido como um autor a considerar, o que levou Silva Gaio a dedicar-lhe parte da sua obra Os Novos (1894).

Em Paris, convive com os intelectuais portugueses que ali viviam, entre os quais Eça de Queirós e António Nobre, e frequentou como auditor diversas cadeiras da Universidade de Paris. Apesar disso, as desilusões anteriores, os problemas de saúde e a escassez de meios de subsistências[2] levaram-no a um progressivo isolamento, com uma produção literária pontual e dispersa. Em textos carregados de convicção, Moniz Barreto estudou autores portugueses e estrangeiros, entre os quais Hippolyte Taine e Ferdinand Brunetière, as suas maiores influências teóricas. Foi também leitor atento dos teóricos do romantismo alemão.

Faleceu em Paris no ano de 1896, praticamente só e com apenas 33 anos de idade. A sua obra dispersa foi coligida em antologias por Vitorino Nemésio (Ensaios de Crítica, 1944) e por José Adjuto Castelo-Branco Chaves (Estudos dispersos, 1963).

Principais obras[editar | editar código-fonte]

Para além de obra dispersa por diversos periódicos, é autor de:

  • Oliveira Martins, 1887 (ensaio) -- edição de 1892 (eBook);
  • A Literatura Portuguesa no século XIX, 1940
  • Ensaios Críticos, 1944 (ensaios, edição póstuma organizada por Vitorino Nemésio);
  • Novos Ensaios, s/d (ensaios, edição póstuma organizada por José Tengarrinha);
  • Estudos Dispersos, 1963 (ensaios, edição póstuma organizada por Castelo Branco Chaves).
  • Moniz Barreto: sel.e pref. de Manuel de Seabra (Lisboa, Panorama, 1963).

Notas

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fernando Castelo Branco - "Subsídios para o estudo da vida e da obra de Moniz Barreto", em "Memorias Acad. Ciências Lisboa, Classe de Letras, 23, 1983.
  • António Salgado Júnior, "Barreto, Guilherme Moniz" in Jacinto Prado Coelho (direcção), Dicionário de Literatura, volume 1, pp. 178. Porto: Mário Figueirinhas Editor, 1997 (4ª ed.).
  • António Braz Teixeira, "Barreto (Guilherme Moniz)" in Enciclopédia Logos. Lisboa/São Paulo: Verbo, 1989 (reimpressa em 1997).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]