Reinata Sadimba
Reinata Sadimba | |
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A ceramista moçambicana Reinata Sadimba no seu estúdio de Maputo em 2017 | |
Nascimento | 1945 (79 anos) Mueda (África Oriental Portuguesa) |
Cidadania | Moçambique |
Ocupação | ceramista |
Reinata Sadimba ComIH (Mueda, 1945) é uma ceramista moçambicana que tem exposto o seu trabalho em várias instituições de arte ao redor do mundo.[1]
Percurso[editar | editar código-fonte]
Reinata recebeu uma educação tradicional da etnia Makonde que incluía a fabricação de objectos utilitários em barro. Aprendeu a arte de ceramista com a sua mãe, primeiro para alimentar a sua família depois de perder o seu pai muito jovem e mais tarde porque a argila lhe permitia 'dizer coisas que não sabia contar de outra maneira'.[1][2][3][4]
O trabalho de Reinata é muito determinado pelas suas experiências pessoais. Casada jovem e divorciada duas vezes, teve oito filhos, sendo que apenas um sobreviveu. [1][3][5] Tem a cara tatuada, segundo as tradições makondes.[3]
Enquanto criava, fazia parte da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), uma luta armada contra o governo colonial português que começou em 1964, pela libertação do país, que possibilitou a sua independência em 1974.[1]
Em 1975, depois de se divorciar e sair de uma relação considerada abusiva, Reinata revolucionou o seu trabalho e passou a acrescentar enfeites próprios às suas obras.[5]
No anos 80 do século passado, colaborou num projecto rural com um casal de suíços, que se haviam instalado perto de Mueda, onde residia. Esta colaboração trouxe mais visibilidade à sua arte. No entanto, na sequência da Guerra Civil (1976-1992), emigrou com o seu único filho para Dar-es-Salaam, na Tanzânia, onde viveu com a sua irmã Josefina.[1] Aqui começou a expor em pequenas salas de arte e mercados artesanais.
O continuado apoio do casal de amigos suíços permitiu-lhe alcançar estabilidade económica para criar segundo a sua própria estética e imaginário. Este apoio à criação impulsionou a sua arte, permitindo-lhe desenvolver novas técnicas e modos de cozedura. A sua estadia na Tanzânia ajudou-a a desenvolver uma estética e representação do corpo humano, criando formas vivas e penetrantes, até criar o seu próprio universo.[1][4]
Em 1992 regressa a Moçambique e instala-se em Maputo. Aqui, recebe bastante apoio de Augusto Cabral, o então Director do Museu de História Natural de Moçambique, e estabelece o seu estúdio dentro do próprio museu. Em 1998 realizou-se no museu uma semana de ensino sobre cerâmica tradicional, na qual o trabalho de Reinata foi destacado. [5][3][4]
Nas suas peças, Reinata usa argila, pela sua maleabilidade, e calcário branco e grafite, que lhe conferem uma cor verde característica da sua obra. Cria jarras, potes e panelas e outro tipo de peças com formas antropomórficas, com corpo e rosto e com escarificações ou marcas culturais da etnia Makonde. As suas peças têm várias mensagens subjacentes: "dois jarros emergem de um jarro, num vaso a cobra ou nyoka recria a vida e a morte que envolvem uma pessoa, as panelas têm várias bocas e pernas e as figuras que geralmente aparecem sem sexo estão a defecar".[1] As figuras que cria estão ligadas aos contos e lendas da sua província. [1][3]
Obra[editar | editar código-fonte]
As peças de Reinata inspiram-se em desenhos e espíritos da etnia Makonde e representam aspectos como a feminilidade, a maternidade ou o parto. Reinata é conhecida por fabricar peças muito rapidamente[5]:
- 2007
Studio Brescia, Ospitaletto (Itália)
- 2006
Castel dell’Ovo, Nápoles (Itália)
- 2004
Basileia (Suíça)
Mais a Sul Culturgest, Lisboa (Portugal)
Da Convergência dos Rios, Perve Galeria, Lisboa (Portugal)
Fragile Terra di Mozambico Botteghe della Solidarietà, Milão (Itália)
Perve Galeria, Lisboa (Portugal)
- 2003
Acervo 02 / Mostra de Arte Contemporânea Perve Galeria e Parque da Saúde, Lisboa (Portugal)
Porto Arte 2ª Feira de Arte Contemporânea do Porto (Portugal)
Latitudes 2003 Hôtel de Ville de Paris, Paris (França)
- 2002
Galeria Perve Acervo / Ed. Banco de Portugal, Leiria (Portugal)
Sulcos (roxos) do olhar – lusofonia no feminino Perve Galeria, Lisboa (Portugal)
Arte Contemporânea de Moçambique Galeria de Arte da Cervejaria Trindade, Lisboa (Portugal)
- 2001
Regine d’Africa Rocca di Umbertide, Perugia (Itália)
Maninguemente Ser Perve Galeria, Lisboa (Portugal)
Sur-Sensus Perve Galeria, Lisboa (Portugal)
- 2000
Olhos do Mundo Perve Galeria, Lisboa (Portugal)
Progress of the World’s Women exposição comissionada por UNIFEM, Nova Iorque (EUA)
- 1998
Museu de arte Nacional, Maputo (Moçambique)
- 1997
Museu de Arte Nacional, Maputo (Moçambique) e Lisboa (Portugal)
- 1996
Museu de Arte Nacional, Maputo (Moçambique) e Dinamarca
- 1995
Bienal de Joanesburgo, Joanesburgo (África do Sul)
Bienal da TDM, Maputo (Moçambique)
- 1992-4
Museu de Arte Nacional, Maputo (Moçambique)
Reconhecimento[editar | editar código-fonte]
Reinata já expôs em várias partes do mundo, principalmente em Itália e Portugal e tem os seus trabalhos representados em várias instituições de arte, entre elas o Museu Nacional de Arte de Maputo, o Museu Nacional de Etnologia (Lisboa) e a Colecção de Arte Moderna da Culturgest, além de numerosas coleções privadas.[2]
Em 2014 foi convidada pela Vista Alegre para desenvolver uma peça, intitulada Nhoca Makonde, para a sua coleção Evoq.[6]
A 19 de março de 2022, foi agraciada com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal.[7][8]
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ a b c d e f g h PAÍS, EL (29 de outubro de 2013). «Reinata Sadimba, palabras de barro». Madrid. El País (em espanhol). ISSN 1134-6582
- ↑ a b «Biografia»
- ↑ a b c d e Welle (www.dw.com), Deutsche. «As mãos seletivas de Reinata Sadimba | DW | 31.07.2012»
- ↑ a b c «Reinata Sadimba» (em inglês)
- ↑ a b c d «Reinata Sadimba - Embondeira.org - Centro de Recursos para Praticantes de Desenvolvimento»
- ↑ «Vista Alegre presents a sculpture by Reinata Sadimba» (em inglês)
- ↑ Lusa. «Marcelo condecora escultora Reinata Sadimba e escritor João Paulo Borges Coelho». PÚBLICO. Consultado em 20 de março de 2022
- ↑ «Entidades Estrangeiras Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Reinata Sadimba". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 22 de abril de 2022