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Sítio arqueológico Petybon

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Selo da Fábrica Santa Catharina

O sítio arqueológico Petybon é um sítio arqueológico brasileiro que se localiza na cidade de São Paulo, mais precisamente no bairro da Lapa, região da Água Branca/Vila Romana. O acervo foi resultado da pesquisa da empresa de salvamento Zanettini Arqueologia em 2003 e cerca de 30 mil fragmentos além de peças inteiras foram encontrados no local. Estes fragmentos e peças estão relacionados às atividades da Fábrica de Louças Santa Catharina, posteriormente Fábrica de Louças da Água Branca, que ali funcionaram entre 1913 e 1937, sendo seu proprietário original o italiano Romeo Ranzini e posteriormente o Grupo Matarazzo.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Inaugurada em 1913, a Fábrica de Louças Santa Catharina foi a primeira a produzir, em moldes industriais, louças brancas do Brasil,[2] também mencionadas como louças de faiança fina.[3] Os sócios eram a família Fagundes, da aristocracia cafeeira, e o imigrante italiano Romeo Ranzini, um químico especializado em produção cerâmica. Para trabalhar na fábrica e especializar os trabalhadores brasileiros, Ranzini trouxe um corpo de técnicos em decoração da Itália, a maior parte proveniente da região milanesa e de centros oleiros como Laveno-Mombello.[3]

Forno da Fábrica Santa Catharina

Com a morte do sócio majoritário Euclydes Fagundes, sua esposa vende-a à família Matarazzo[3] em 1927 e ficou em atividade até 1937.[2] Fazendo parte da IRFM (Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo) ficou conhecida como Fábrica da Água Branca e Ranzini ainda permaneceu na fábrica. Em 1932, Ranzini firma contrato para treinar o novo técnico responsável, engenheiro Pari de Marchezi.[3]

Importância[editar | editar código-fonte]

A importância do sítio arqueológico deve-se não somente ao contexto da arqueologia urbana no Brasil, mas também por representar os primórdios da industrialização do país na produção de louça nacional. Essa indústria empregou milhares de funcionários e até exportou sua produção para a América do Norte. As peças dessa fábrica são difíceis de encontrar até mesmo com os colecionadores e o registro arqueológico do sítio Petybon permite visualizar o conhecimento daquela época em não somente copiar, mas também criar peças decorando com motivos brasileiros.[2]

Acervo[editar | editar código-fonte]

As peças da fábrica Santa Catharina/ IRFM possuem decorações próprias caracterizadas por pinceladas grossas e aquareladas, utilização de diversas tonalidades de cores e a distribuição da decoração na superfície do suporte diferente da fabricação inglesa do século XIX. Nestas peças se observa um misto entre o tradicional europeu e a fabricação brasileira. No sítio arqueológico também foram encontrados exemplares de fabricação nacional porém seguindo padrões estrangeiros como o 'Trigal' (padrões decorativos feitos em alto-relevo, normalmente motivos trigais).[3]

As peças encontradas também permitiram identificar a mudança nos hábitos da população, apresentando uma queda na utilização das tigelas, resultado da transição da cultura rural para o estilo de vida urbano. Já sob o comando dos Matarazzo, as tigelas são descontinuadas por não terem mais saída de mercado.[3]

Também é possível identificar no acervo estudado, as características de decoração mais artesanais nas tigelas, associados à temas mais bucólicos e do campo, contrapondo com os pratos, cuja decoração é mais padronizada e industrializada, fruto dos avanços nas técnicas de produção de louças brancas.[3]

Referências

  1. Souza, Rafael de Abreu e (2006). «O Sítio Arqueológico Petybon e a Arqueologia Histórica da Louça Nacional em Faiança Fina – Lapa, São Paulo/SP, Século XX» (PDF). Unicamp. Consultado em 22 de março de 2021 
  2. a b c Tega, Glória (julho de 2013). «Fábricas contam sua história». Ciência e Cultura (3): 12–13. ISSN 0009-6725. doi:10.21800/S0009-67252013000300005. Consultado em 22 de março de 2021 
  3. a b c d e f g Souza, Rafael de Abreu e (2012). «Tigela, café e xícara: diversidade formal e dinâmicas de consumo na produção das louças brancas da cidade de São Paulo no começo do século XX» (PDF). USP - Anais do Museu Paulista. Consultado em 22 de março de 2021