Sinagoga de Satanás

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Sinagoga de Satanás (em grego: συναγωγή τὸν Σατανᾶς, transliterado para: synagoge tou satana) é uma expressão presente no livro de Apocalipse, nas cartas às igrejas cristãs primitivas de Esmirna e Filadélfia.

O versículo tem sido usado com frequência para justificar o ódio contra todos os judeus ou subconjuntos específicos de judeus modernos,[1][2] o que os estudiosos acadêmicos geralmente consideram uma ignorância do contexto bíblico, com base no fato de que o suposto autor do Apocalipse provavelmente era judeu. [3]

Usos da expressão no Apocalipse[editar | editar código-fonte]

A primeira passagem na qual a expressão é utilizada no livro de Apocalipse é direcionada à igreja em Esmirna e está relacionada com uma disputa interna entre grupos da Judeia que debatiam a forma como judeus deveriam relacionar com Roma durante o reinado de Domiciano; nesta disputa um grupo acusa o outro de não ser realmente judeu.[4]

Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto e tornou a viver: Sei a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a calúnia daqueles que se dizem ser judeus, e não o são, mas são sinagoga de Satanás. —  Apocalipse 2:8-9

A segunda passagem, de acordo com os teólogos Robert Jamieson, Andrew Robert Fausset e David Brown, trazem à igreja da Filadélfia uma promessa maior do que à de Esmirna. Para Esmirna, a promessa era de que "a sinagoga de Satanás" não prevaleceria contra os fiéis nela: para Filadélfia, que ela deveria até mesmo conquistar alguns da "sinagoga de Satanás" para que caíssem sobre seus rostos e confessassem que Deus está nela de fato.[5]

Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Isto diz o Santo, o Verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém fechará, o que fecha e ninguém abre: Sei as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, e guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. Eis que farei que alguns da sinagoga de Satanás, que dizem ser judeus, e não o são, mas mentem, eis que farei que venham prostrar-se aos teus pés e conheçam que eu te amei. Apocalipse 3:7-9

Outros usos da expressão[editar | editar código-fonte]

O pastor estadunidense Billy Graham usou a frase "sinagoga de Satanás" para se referir a judeus em uma conversa privada na Casa Branca com o Presidente Richard Nixon em 1973. Quando as gravações da conversa foram divulgadas muitos anos depois, Graham se desculpou pelo que muitos consideraram ser comentários antissemitas.[6]

Em 1653, as quakers Elizabeth Williams e Mary Fisher atacaram membros do Sidney Sussex College em Cambridge como "Anticristos" e chamaram seu colégio de "uma gaiola de aves impuras e uma sinagoga de Satanás". Por isso, foram publicamente castigadas.[7]

A encíclica Etsi Multa luctuosa, escrita pelo Papa Pio IX em 1873, refere-se à Maçonaria como "a sinagoga de Satanás".[8][9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Kaplan, Jeffrey (1997). Radical religion in America: millenarian movements from the far right to the children of Noah. Col: Religion and politics (em inglês) 1st ed ed. Syracuse, N.Y: Syracuse University Press 
  2. Barkun, Michael (1997). Religion and the Racist Right: The Origins of the Christian Identity Movement (em inglês). [S.l.]: UNC Press Books. pp. 149–150, 191, 206 
  3. Resseguie, James L. (2009). The Revelation of John: A Narrative Commentary (em inglês). Baker Academic. ISBN 9781441210005.
  4. Bredin, Mark R. J. (novembro de 1998). «The Synagogue of Satan Accusation in Revelation 2:9». Biblical Theology Bulletin: Journal of Bible and Culture (em inglês) (4): 160–164. ISSN 0146-1079. doi:10.1177/014610799902800405. Consultado em 8 de maio de 2024 
  5. «Revelation 3 Jamieson-Fausset-Brown Bible Commentary». biblehub.com (em inglês). Consultado em 8 de maio de 2024 
  6. Press, The Associated (3 de março de 2002). «Billy Graham Apologizes to Jews For His Remarks on Nixon Tapes». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 8 de maio de 2024 
  7. Hiscock, Andrew; Wilcox, Helen, eds. (10 de agosto de 2017). «The Oxford Handbook of Early Modern English Literature and Religion». Oxford Handbooks Online (em inglês). doi:10.1093/oxfordhb/9780199672806.001.0001. Consultado em 8 de maio de 2024 
  8. Benimeli, José A. Ferrer (1 de janeiro de 2014). «Freemasonry and the Catholic Church». BRILL (em inglês): 137–154. ISBN 978-90-04-21833-8. Consultado em 8 de maio de 2024 
  9. «Enciclica Etsi multa». www.vatican.va (em italiano). 21 de novembro de 1873. Consultado em 8 de maio de 2024